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CAPÍTULO II DIREIOS AUTORAIS: NOÇÕES IMPORTANTES

2.6 Direitos autorais no âmbito internacional

somente sobre as retransmissões por outras instituições.75

Os direitos conexos foram regulamentados pela primeira vez em 1961, com a Convenção de Roma. Estão incluídos em nossa legislação autoral (lei 9610/98) entre os artigos 89 e 100.

2.6 Direitos autorais no âmbito internacional

O direito autoral, como diz Otávio Afonso, é territorial,

ou seja, a proteção em virtude de uma lei autoral determinada só é conferida no país onde se aplica a lei. No caso das obras que tenham que ser protegidas fora do país de origem, é necessário que esse país realize acordos bilaterais com os outros onde se utilizam tais obras.76

São vários os acordos e convenções internacionais que regem a matéria dos direitos autorais. Eles não determinam como as legislações internas devem dispor sobre o tema, uma vez que isso pode ferir a soberania dos países signatários. Apenas estabelecem orientações e dispõem princípios comuns a serem seguidos.

Neste tópico, porém, estudaremos os principais tratados, que exercem maior influência sobre a sistemática autoral das legislações internas dos países. É importante que conheçamos a Convenção de Berna, o Acordo TRIPS e o Tratado sobre Direitos Autorais da OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual).

2.6.1 Convenção de Berna

A Convenção de Berna (assim chamada por ter sido realizada na cidade de Berna, na Suíça), regida atualmente pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), um dos organismos da ONU, é o primeiro tratado internacional de proteção aos direitos autorais. Antes dele os países interessados realizavam acordos bilaterais nesta matéria.

75 Cf. MENEZES, Elisângela Dias. Op. Cit., p. 121. 76 AFONSO, Otávio. Op. Cit., p. 136.

Percebeu-se, porém, cada vez mais a necessidade de firmar-se um acordo mais amplo, tendo em vista que o crescente fluxo de informação e conhecimento entre as sociedades revelavam o caráter eminentemente internacional dos direitos autorais.

Era necessário uma uniformização de orientações. A Convenção de Berna é a principal carta de princípios sobre proteção autoral no mundo, servindo de referência básica para a elaboração das legislações nacionais, além de outros tratados internacionais sobre o tema.

O primeiro texto da Convenção de Berna data do ano de 1886. Ao longo dos anos, seu texto foi revisado seis vezes, com o fim de adequar-se às mudanças sociais e econômicas trazidos pelos progressos tecnológicos. Atualmente conta com a adesão de 164 países77. A última revisão foi realizada em Paris, em 1971, sendo este texto internalizado pelo Brasil em 197578.

O objetivo da referida convenção é “proteger de modo tão eficaz e uniforme quanto possível os direitos dos autores sobre as suas obras literárias e artísticas.”79 Ela reconhece ampla proteção autoral, a partir da defesa tanto dos aspectos morais, quanto dos patrimoniais dos direitos do criador, apresentando princípios que servem de referência para a elaboração das legislações nacionais acerca de tais direitos.

Segundo Otávio Afonso, a Convenção de Berna possui três princípios fundamentais, que valem a pena serem ressaltados. Diz ele:

Faz-se necessário mencionar os três princípios fundamentais sobre os quais a Convenção de Berna assenta-se: o primeiro deles é o princípio do tratamento nacional, em virtude do qual as obras criadas num dos Estados-membros devem se beneficiar em qualquer outro Estado-membro da mesma proteção que este último confere às obras dos seus nacionais; o segundo princípio é o da chamada proteção automática, em virtude do qual o tratamento nacional não está subordinado a qualquer formalidade, ou seja, a proteção é acordada automaticamente e não depende de um registro, ou qualquer medida administrativa similar; e o terceiro princípio, chamado independência da proteção, no qual a fruição e o exercício dos direitos conferidos são independentes da existência de uma proteção no país de origem da obra.80

77 Segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI). Disponível em <http://www.wipo.int/treaties/es/ShowResults.jsp?lang=es&treaty_id=15> Acesso em 02/05/2009.

78 Internalizada pelo Decreto nº 75.699, de 06/05/1975. 79 AFONSO, Otávio. Op. Cit., p. 138.

Segundo Elisângela Menezes, a Lei 9610/98, lei de direitos autorais brasileira é bastante influenciada pelos princípios da Convenção de Berna, sendo que em muitos pontos esta legislação limita-se a reproduzir o texto contido em tal tratado.81

Por exemplo, o tempo mínimo de acréscimo para a proteção dos direitos patrimoniais, após o falecimento do autor, é de cinqüenta anos, conforme estabelece a Convenção. Nada impede que os signatários ampliem tal prazo, como é o caso da nossa lei, que impõe setenta anos. Tampouco as legislações internas dos países signatários precisam incluir outros direitos que não fazem parte deste e de outros instrumentos internacionais que hajam acordado.

Conforme Sérgio Vieira Branco, dentre todos os tratados internacionais sobre Direitos Autorais,

ainda que com as constantes adaptações em função das revisões de seu texto, a Convenção de Berna continua, mais de 110 anos após sua elaboração, a servir de matriz para a confecção de leis nacionais (dentre as quais a brasileira) que irão, dentro do âmbito de seus Estados signatários, regular a matéria atinente aos direitos autorais. Inclusive no que diz respeito a obras disponíveis na internet.82

No que se refere às obras disponíveis na internet aí reside um grande problema, pois está cada vez mais difícil a aplicação de todos os princípios da Convenção de Berna. Uma vez que forjados no século XIX, em outro contexto social e tecnológico, talvez seja necessária uma outra revisão, que esteja mais adequada ao ambiente digital e a nova cultura de compartilhamento, da difusão das obras derivadas e do acesso facilitado à conteúdo.

2.6.2 O acordo TRIPS

O acordo TRIPS (Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights) é também conhecido por “Acordo sobre Aspectos dos Direitos De Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio” (ADPIC).

Percebendo-se a importância da exploração comercial dos bens intelectuais para a economia mundial, os países desenvolvidos passaram a debater junto à Organização Mundial

81 Cf. MENEZES, Elisângela Dias. Op. Cit., p 32.

82 BRANCO JUNIOR, Sérgio Vieira. Direitos autorais na internet e o uso de obras alheias. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007. p. 18.

do Comércio (OMC), a regulação do comércio internacional dos bens imateriais, pois com o grande valor da informação que se reconhece hoje em dia, a pretensão de regulação uniforme da propriedade intelectual pode servir como instrumento de negociações para conformação de novos mercados. Complementando tal raciocínio, Otávio Afonso diz:

A razão para tal fato [inclusão dos bens imateriais nos acordos de comércio] vem do grande salto tecnológico ocorrido nas últimas décadas do século XX, tornando os bens intelectuais um ativo de grande relevância nas trocas comerciais e revestido de uma importância estratégica para as políticas públicas de todos os países.83

Enquanto a preocupação maior da Convenção de Berna está na defesa da soberania dos Estados, respeitando o que cada um estabelecer acerca dos direitos autorais, o acordo TRIPS não dispõe assim. Visto que as discussões na OMC sobre os temas da propriedade intelectual são de natureza puramente comercial, enxergam-se os bens intelectuais predominantemente como mercadorias importantes, geradoras de grandes riquezas.

O Tratado em questão entrou em vigor em 1995 e atualmente conta com mais de 150 membros, incluindo o Brasil. Como estratégia para integração e controle dos mercados, impõe-se aos Estados que sua subscrição seja uma das condições necessárias para que componham a OMC. Para maior domínio dos negócios envolvendo tais bens, são previstas ampla gama de obrigações e deveres aos signatários, que podem sofrer sanções e retaliações econômicas, quando descumpridos tais preceitos, no âmbito das relações comerciais entre os contratantes.

Isso gera questionamentos sobre o desrespeito à soberania dos Estados que esta convenção proporciona, pois este tratado abre espaço para que países mais ricos imponham seus interesses aos mais pobres.

Na parte específica deste tratado que versa sobre os direitos autorais, existem relevantes disposições. Além da aplicação dos princípios comerciais no tratamento das criações do espírito, estabeleceu-se uma ampliação ao rol dos objetos passíveis de proteção autoral. A mais relevante novidade é o acréscimo dos programas de computador, que passaram a ser considerados como obras literárias, possuindo um prazo mínimo de proteção de cinqüenta anos. A legislação autoral brasileira legitima tal orientação, havendo inclusive lei

específica de proteção do software, que é a Lei 9609/9884. Igualmente foi prevista a proteção às bases de dados usando-se preceitos da Lei Autoral. É também novidade do acordo TRIPS, que, em nossa legislação pode ser encontrado disposto no art. 87 da lei 9610/98.

2.6.3 Tratado sobre direitos autorais da OMPI

Este tratado da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) está em vigor desde 2002 e conta com 70 participantes85. O Brasil ainda não é membro de tal acordo, mas é importante que façamos referência a ele, pois este é um mecanismo recente que sinaliza na tentativa de proteção autoral no ambiente digital.

Conforme Lazzarini, Trettel e Moncau:

Sua assinatura adveio da necessidade de adaptação do regime global de copyright às mudanças decorrentes da revolução digital. Assim, menciona dois tipos de obras sujeitas a regras de direito autoral, os programas de computadores e as compilações de dados ou outros materiais. Também trata de três direitos exclusivos: direito de distribuição, direito de aferição de lucro e direito de comunicação ao público. Mais adiante, o tratado ampliou o direito de comunicação ao público para cobrir as comunicações interativas via internet. Aos signatários também foi solicitado que providenciassem proteção legal: (1) contra fraudes que afetam medidas tecnológicas utilizadas pelos detentores de direito autoral para proteger suas obras e (2) contra qualquer um que possa induzir, permitir, facilitar ou ocultar a infração de qualquer direito autoral por meios eletrônicos.86

Por ser de muita complexidade a proteção autoral no ambiente digital, este tratado dispõe predominantemente de declarações explicativas, baseadas em outros tratados, como a Convenção de Berna, deixando a cargo de seus signatários o estabelecimento de normas mais concretas de tutela autoral no mundo virtual. Ainda não se sabe o alcance jurídico que tais declarações poderão trazer às novas realidades originadas pelas novas tecnologias dentro das legislações internas em um futuro próximo.

84 O art. 2º da Lei 9609/98 diz: “O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei.”

85 Segundo dados da OMPI. Disponível em

<http://www.wipo.int/treaties/es/ShowResults.jsp?lang=es&treaty_id=16> Acesso em 02/05/09.

86 LAZZARINI, Marilena; TRETTEL, Daniela Batalha; MONCAU, Luiz Fernando Marrey. Propriedade intelectual: perspectivas do consumidor. In: VILLARES, Fábio (org.). Propriedade intelectual – Tensões entre o capital e a sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2007. p. 90.