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Direitos e Deveres do Cidadão – Uma Questão de Cidadania

2. CIDADANIA E IGUALDADE – DOIS CONCEITOS LADO A LADO

2.3. Direitos e Deveres do Cidadão – Uma Questão de Cidadania

A CRP é um marco do Estado Democrático, sendo um documento constitucional que retrata os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, estabelecendo os princípios considerados cruciais numa da democracia, assegurando assim, o primado do Estado de Direito Democrático. A primeira CRP de Estado Social e Democrático de Direito surgiu em 1976, depois de ter sido posto um fim ao regime político ditatorial de Salazar que esteve em vigor até então, para dar lugar a um regime político democrático. Desde então, foi alvo de dez revisões constitucionais, sendo que a última foi aprovada pela Revisão constitucional de 2010.

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Desta forma, a CRP consagra na primeira parte os direitos e os deveres fundamentais dos cidadãos e como princípios gerais destacam-se o princípio da universalidade88 e o

princípio da igualdade89.

No que diz respeito aos direitos, liberdades e garantias do cidadão, estes podem ser divididos em:

 direitos, liberdades e garantias pessoais90. Como exemplo, destacam-se o direito

à vida, à integridade pessoal, à liberdade e segurança, família, liberdade de expressão e informação, de culto e religião, de criação cultural, de aprender e ensinar, entre outros;

 direitos, liberdades e garantias de participação política91, entre os quais se

encontram a participação na vida pública, o direito de sufrágio e de acesso a cargos públicos;

 direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores92, como a segurança no

emprego e a liberdade sindical.

Face aos direitos e deveres dos cidadãos, a CRP divide estes direitos e deveres em:  direitos e deveres económicos93, como o direito ao trabalho e os direitos dos

trabalhadores, defendendo também os consumidores;

 direitos e deveres sociais94, que remetem para o direito à segurança social e à

solidariedade, o direito à saúde e à habitação e foca ainda os direitos dos idosos, das crianças e jovens, bem como de cidadãos portadores de deficiência;

 direitos e deveres culturais do cidadão95, como o direito à educação, cultura e

ciência, ao ensino, à participação democrática, à fruição e criação cultural.

CASTLES96 afirma que os direitos do cidadão são fundamentais para a cidadania e

apresenta como direitos do cidadão os direitos civis, políticos, sociais, culturais e de género. Os primeiros, correspondem à liberdade pessoal, de expressão, religiosa, 88 Cf. artigo 12.º da CRP. 89 Cf. artigo 14.º da CRP. 90 Do artigo 24.º ao artigo 47.º, da CRP. 91 Do artigo 48.º ao artigo 52.º, da CRP. 92 Do artigo 53.º ao artigo 57.º, da CRP. 93 Do artigo 58.º ao artigo 62.º, da CRP. 94 Do artigo 63.º ao artigo 72.º, da CRP. 95 Do artigo 73.º ao artigo 79.º, da CRP.

96 CASTLES, Stephen. (2000). Underclass or Excludion: Docial Citizenship for the Ethnic Minorities. In Vasta, E. (Org.), Citizenship, Community and Democracy (pp. 22-44). London: Macmillan Press.

igualdade perante a lei, proibição de discriminação com base no género, raça ou origem e, os direitos políticos traduzem-se no direito de voto, de ser eleito, liberdade de associação e de informação.

Os direitos sociais englobam o direito ao trabalho, à igualdade de opotunidades, direito a serviços de saúde, assistência social e serviços sociais e direito à educação por sua vez, os direitos culturais correspondem ao direito de acesso à língua da sociedade maioritária, direito a preservar a língua e cultura das comunidades migrantes, direitos a formas culturais específicas, direito à educação, à comunicação intercultural e internacional. Por fim, os direitos de género consistem em direitos específicos para as mulheres migrantes que reconheçam a forma como a sua opressão e exclusão da cidadania têm sido historicamente construídas.

Os direitos e os deveres do cidadão devem ser protegidos pela cidadania e são também eles que permitem que a cidadania se realize efetivamente. CARLIER97 aponta que o

tempo fez evoluir as categorias de pessoas abrangidas pelos direitos, explicando que cidadania deve ser “por um lado, a identificação aberta e mútua; por outro, participação ativa na salvaguarda dos direitos fundamentais”98. É através dos direitos fundamentais

que as diferenças individuais são anuladas, pois “ao consistir em direitos e deveres, a cidadania (...) transforma os sujeitos em unidades iguais (...) essa igualdade é profundamente seletiva e deixa intocadas diferenças, sobretudo as da propriedade, mas também as da raça e do sexo...”99.

Os direitos humanos surgem da inspiração do homem e procuram consciencializar a Humanidade de que todo o ser humano é livre e deve ser respeitado, no entanto, ainda hoje ouvimos falar, por exemplo, de exploração do trabalho infantil, bem como de outros acontecimentos que não respeitam a pessoa, nem a sua dignidade. Desta forma,

“falar de direitos humanos hoje é lidar com um assunto do quotidiano, cujas implicações atingem as mais diversas partes do mundo. Reinvindicar direitos é a reação mais comum especialmente quando se sofre algum tipo de opressão. Eis o motivo do surgimento desses direitos: a proteção da dignidade humana, qualidade moral intrínseca a todos os homens e mulheres”.100

97 CARLIER, Jean-Yves (1998). Vers une Citoyenneté Européenne Ouverte. Annales d’Études Européennes de l’Université Catholique de Louvain, 2, pp. 119-134.

98 Ibidem, p. 129.

99 SANTOS, Boaventura de Sousa (1994). Pela mão de Alice – O Social e o Político na Pós- modernidade. Porto: Edições Afrontamento, p. 207.

100 PIACENTINI, Dulce (2007). Direitos Humanos e Interculturalismo: Análise da Prática Cultural da Mutilação Genital Feminina. Dissertação de Mestrado em Direito. Brasil: Universidade Federal de Santa Catarina, p. 11.

A noção e a formulação jurídica dos direitos humanos é algo recente e surge associada à luta internacional do período pós Segunda Guerra Mundial, devido ao combate e à luta contra situações aterrorizadoras cometidas pelos nazis. O fundamento destes direitos é o princípio de dignidade inerente à condição humana, independentemente do sexo, raça, cor, língua, nacionalidade, idade, convicções sociais, políticas ou religiosas.

Os direitos humanos decorrem do reconhecimento da dignidade da pessoa e dos direitos de que todo o ser humano tem direito a usufruir, sendo eles o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. São direitos fundamentais, inalienáveis, protegidos por um regime de direito, não nos esquecendo de que “nos últimos anos, presencia-se o esforço desenvolvido por setores governamentais e não governamentais para disseminar a informação, o debate e a prática dos direitos humanos nas organizações”101.