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Direitos do trabalhador no âmbito alargado da actividade laboral

III. Funções desempenhadas pelo Trabalhador

2. A extensão do objecto do contrato de trabalho a passagem da LCT para o Código

2.2. Direitos do trabalhador no âmbito alargado da actividade laboral

As funções afins ou funcionalmente ligadas do núcleo central da actividade contratada integram o objecto do contrato e podem ser exigíveis ao trabalhador, nos mesmos moldes da actividade que corresponde ao núcleo central, desde que respeitem os requisitos acima referidos, quer os subjectivos quer os objectivos.

Contudo existem especificidades no regime da prestação do trabalho, neste âmbito alargado da actividade. São elas o direito do trabalhador à formação profissional, que referimos aquando a abordagem do requisito subjectivo positivo da qualificação e o direito do trabalhador ao tratamento retributivo mais favorável. É de notar, que em relação ao regime da LCT, o direito à retribuição mais elevada mantem-se, mas o mesmo já não acontece com o direito à reclassificação pelos motivos que serão posteriormente enunciados a propósito da transitoriedade das funções afins ou funcionalmente ligadas167.

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Cfr. ANTÓNIO NUNES DE CARVALHO, Mobilidade Funcional, ob. cit., p. 187. 167

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2.2.1. Retribuição mais elevada

Actualmente, assim como o já acontecia no domínio da LCT, o trabalhador quando se sujeita ao desempenho de funções de acordo com o n.º 2 do artigo 118.º, não pode, à partida, sujeitar-se à degradação do seu nível retributivo.

O raciocínio manteve-se o mesmo. Na elaboração do contrato, trabalhador e empregador fixam o montante da retribuição ou definem-na através do acto de classificação na categoria normativa, correspondente às funções maioritariamente desempenhadas e esse montante não pode ser ferido por força do exercício da faculdade do empregador em afectar o trabalhador a tarefas acessórias da actividade contratada.

A afectação do trabalhador a tarefas acessórias da actividade contratada, não pode implicar degradação do padrão retributivo do trabalhador. Contudo, o contrário pode acontecer, isto é, o desempenho das funções acessórias à actividade contratada pode originar um tratamento retributivo mais benéfico para o trabalhador.

Anteriormente, no Código do Trabalho de 2003, esta matéria da retribuição encontrava consagração legal no art. 152.º cuja epígrafe era “efeitos retributivos”. Agora, o Código actual trata desta matéria no art. 267.º sob a epígrafe “retribuição por exercício de funções afins ou funcionalmente ligadas”.

Apesar da alteração sistemática168, o sentido da norma é o mesmo, que na codificação anterior: “a afectação do trabalhador a “funções afins ou funcionalmente ligadas” à actividade acordada determina a percepção da remuneração que lhes corresponda, quando esta for mais elevada do que aquela que é devida pelas tarefas que o trabalhador predominantemente desempenha e que correspondem à actividade para que se encontra contratado. Por outras palavras o recurso ao regime da polivalência pode implicar a classificação do trabalhador numa categoria normativa a que corresponda retribuição mais elevada”169

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A actual inserção sistemática merece crítica por parte de vários Autores, verbi gratia ANTÓNIO NUNES DE CARVALHO, Mobilidade Funcional, ob. cit., p. 188, JOANA NUNES VICENTE, ob. cit., p. 635 ePEDRO MADEIRA DE BRITO, et al., ob. cit., p. 334. 169

Cfr. ANTÓNIO NUNES DE CARVALHO, Mobilidade Funcional, ob. cit., p. 189. O Autor acrescenta que “sendo este o sentido da norma, evidente se torna a incorrecção do enquadramento sistemático que lhe foi dada em 2009. Como é evidente, não está aqui em causa uma prestação a se ou um aditivo ou complemento retributivo. Trata-se, muito pelo contrário de uma regra de determinação do estatuto retributivo e que opera, necessariamente, em conjugação com um parâmetro retributivo empresarial ou definido em instrumento de regulamentação colectiva (tal como sucede, aliás, no âmbito do regime do jus variandi, com o actual nº4 do art. 120º) ”. Cfr. Ainda, neste sentido, JOANA NUNES VICENTE, ob. cit., p. 625, referindo a Autora que “não se vê, pois, que motivo possa ter determinado ou que benefício advenha desta sua nova arrumação sistemática”.

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De acordo com o n.º 1 do artigo 267.º, o trabalhador tem direito a retribuição mais elevada mesmo que apenas exerça as funções do n.º 2 do artigo 118º a título acessório.

Ora, mesmo que o trabalhador não esteja afecto a estas tarefas de um modo predominante, se a elas corresponder retribuição superior, o trabalhador terá direito a essa maior retribuição, (e não somente na proporção do período normal de trabalho que corresponda ao exercício dessas tarefas)170.

Por fim, o n.º 1 do artigo 267.º deixa bem claro que o trabalhador apenas terá direito ao tratamento retributivo mais favorável enquanto este desempenhar as funções acessórias, sendo que, e nas palavras de ANTÓNIO NUNES DE CARVALHO171 a reclassificação do trabalhador na categoria normativa superior é, portanto, “transitória e reversível”. Só não será desta forma no caso de as funções acessórias passarem a corresponder á actividade predominante e estavelmente desempenhada e, por força dos parâmetros que em geral definem a classificação do trabalhador, se considere que deve o trabalhador ser classificado na categoria normativa da actividade predominante e estavelmente desempenhada.

É então aqui abordado, para além do plano estritamente contratual, a ligação entre as funções efectivamente desempenhadas pelo trabalhador (categoria real) e tratamento retributivo.

Assim, como o direito à formação profissional previsto no n.º 4 do artigo 118.º, “o reconhecimento do princípio de que a remuneração é determinada pelas funções efectivas e predominantemente exercidas em cada momento é fortemente temperado pela logica bilateral: o alargamento das tarefas que podem ser exigidas ao trabalhador, de acordo com as conveniências patronais, é feito com contrapartidas”172.

170

Para ANTÓNIO NUNES DE CARVALHO, Mobilidade Funcional, ob. cit., p. 189, "há lugar a uma reclassificação”, já para PEDRO MADEIRA DE BRITO et al., ob. cit., p. 334, trata-se de um “afloramento do princípio da equivalência das prestações: à prestação de maior valor deve corresponder a retribuição mais elevada”.

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Para ANTÓNIO NUNES DE CARVALHO, Mobilidade Funcional, ob. cit., p. 189 172

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