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Capítulo II – Direito ou Dever da Ingerência Humanitária

6. Direitos Humanos

Os direitos humanos adotados proclamados ao final da segunda Guerra Mundial, precisamente no dia 10 de Dezembro de 1948 e em 1950, o dia 10 de Dezembro foi estabelecido pela ONU como o dia Internacional dos Direitos Humanos, dão primazia da dignidade da pessoa humana. Condiz com o que os aliados na Segunda Guerra Mundial adotaram, as quatro liberdades: liberdade da palavra e da livre expressão, liberdade de religião, liberdade por necessidades e liberdade de viver livre do medo. De facto, o primeiro artigo desta declaração diz-nos que a liberdade e a igualdade são direitos que não podem ser alienados, não se vendem e nem se compram, estes direitos pelo facto de nascer são inatos. Nascemos com estes direitos e ninguém pode

tirar-nos estes direitos. Isto vem em apelo aquilo que significou a segunda guerra mundial e que de algum modo já fizemos referência atrás, que com as várias teorias que foram construídas tentou-se dizer e convencer a humanidade que algumas raças eram superioras a outras e por via disso davam-se direito de dizimar as outras. Basta lembrar a repercussão em torno da teoria de Hegel sobre o Espírito absoluto que repousava, de um modo frequente, em determinado povo. O que fez com que Hitler cometesse as atrocidades que cometeu, de modo particular, contra os judeus. Sem colocar de lado a teoria de evolucionismo de Darwin que de um modo sonante vem dizer que existe espécies mais fortes que as outras. Os Direitos Humanos é uma tentativa de resgatar aquilo que há de mais nobre no ser humano que é a dignidade, melhor dito, dignidade da pessoa humana. A propósito Immanuel Kant afirma que a dignidade da pessoa humana é algo de intrínseco, isto é, faz parte do ser humano. Garcia e Zago sintetizando o pensamento de Kant dizem que:

“O homem, e, duma maneira geral todo o ser racional, existe como um fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas ações, tanto que nas se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre que ser considerado simultaneamente como um fim”(Garcia e Zago, 2008, p. 325).

São do próprio Kant as palavras a seguir, tiradas do seu livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes:

“No reino dos fins tudo um preço ou a dignidade. Quando tem preço pode pôr-se em vez dela qualquer outra coisa como equivalente, mas quando uma coisa está acima de todo preço, e portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade”(KANT, 1980, p.140). A dignidade é algo que não se pode alienar. É algo de nobre no ser humano que não se vende. Lembremos que, etimologicamente, o termo dignidade provém do latim dignitas significando aquilo que tem valor, de dignus como algo de valioso, de digno e adequado. Na verdade, antologicamente dignidade é compatibilidade entre o vestuário e o interior que trazemos. Quando se trata de dignidade ou se é ou não se é. É algo que pertence ao homem. Não se adquire e nem se compra. Pelo que se não se adquire e nem se compra, então, também não se vende e nem se aliena, como dissemos acima. Remete-nos a “inatividade” da dignidade da

pessoa humana. E é tendo em conta a dignidade da pessoa humana que os direitos humanos englobam todos os aspetos que visam proporcionar ao homem a sua vivência estável e sem perturbações.

É elucidativo o preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos ao dar ênfase a questão da dignidade humana como se pode aferir a seguir: “Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo….” (UNITED NATIONS (ONU), 2001, p.25 ). Mostra claramente que a dignidade da pessoa humana é basilar e esta Declaração Universal dos Direitos Humanos só pode entendido se coloca o ser humano no centro. Aliás, lembremos que a ideia dos direitos humanos tem origem no conceito filosófico de direitos naturais que seriam atribuídos por Deus. Existe uma discursão envolta da diferença dos direitos naturais e divinos. O ponto é que seja qual for o discurso se são naturais ou divinos é perceber que todos somos iguais como reza o primeiro artigo da Declaração Universal dos Direito s Humanos. Se o prossuposto é este então todos devemos ter as mesmas oportunidades e gozar do mesmo respeito. Eticamente essenciais à dignidade: o direito à vida, à igualdade, à liberdade psíquica (liberdade de expressão do pensamento e das opiniões, de escolha religiosa, sexual, política, profissional, etc.), à liberdade física, à integridade física e à psíquica (que dependem do direito à segurança), à propriedade, apenas não-degradantes, à qualidade (não se tolera a fome, à negligência do Estado em matéria de educação, o abandono). Os direitos humanos não fogem nada desses direitos essenciais a dignidade, como se pode constatar estes tiveram em conta na sua elaboração, duma maneira genérica, três tipos de Direito: Direitos Civis e políticos; Direitos económicos, sociais e culturais e Direitos Difusos e coletivos. Esta classificação mereceu vários estudos, tanto que numa Conferência do Instituto de Direitos Humanos em 1979, o jurista Tcheco- Francês Karel Vasak propôs uma classificação dos direitos humanos em três gerações inspirados no lema da revolução francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), a saber:

Primeira geração: direitos de liberdade que compreende os direitos civis, políticos e as liberades clássicas;

Segunda geração: direitos de igualidade que comprende os direitos económicos, sociais e culturais

Terceira geração: Direitos de Fraternidade que compreendem o direito do meio ambiente equilibarado, uma qualidade de vida saudável, progresso, paz, auto- determinação dos povos e outros direitos difusos.

Não tardou que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura propusesse com os avanços da tecnologia e com a Declaração dos Direitos do homem e do Genoma Humano estabeleceram a quarta geração de direitos como sendo os Direitos Tecnológicos, tais como o direito de Informação e o biodireito.

Outrossim, há quem defenda (Paulo Boavides) que o Direito à Paz que por si, só, deveria ser um direito da quinta geração ao invés de ser da terceira geração, para permitir uma maior visibilidade.

As Nações Unidas ressalvam que estes direitos não podem ser exercidos contrariarmente aos fins e aos princípios da nações Unidas ou com a intenção de destruir os direitos enunciados na Declaração (artigos 29 e 30) que afirmam o cumprimento destes artigos e que nenhum Estado ou grupo de pessoas pode ousar distruir estes artigos. Na verdade esta parte enquadra-se bem na nossa temática de Ingerência e Responsabilidade de proteger. Pois, as Nações Unidas criaram dispositivos que ajudam a monitorar o cumprimentos destes artigos, os chamados Protocolos facultativos e adicionais, como se diz a seguir:

“O primeiro Protocolo Facultativo referente ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos permite ao Comité dos Direi- tos do Homem receber e tomar em consideração comunicações apre-sentadas por particulares que se considerem vítimas da violação de qualquer dos direitos enunciados no Pacto.

O segundo Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos com vista à abolição da pena de morte, foi adoptado pela Assembleia Geral por intermédio da sua resolução 44/128, de 15 de Dezembro de 1989. Nos termos do seu artigo pri-meiro, ninguém que se encontre

sujeito à jurisdição de um Estado Parte neste Protocolo poderá ser executado” (UNITED NATIONS (ONU), 2001, p.15-16).

Estes protocolos tanto o facultativo como o adicional permite com que os seres os humanos, pertencentes aos Estados que ratificaram esta Declaração possam reagir e até processar os Estados que violam esta Declaração Universal dos Direitos Humanos atravéz do Comité criado para o efeito. Todavia, fica assente, também, que o terceiro artigo da Delaração é basilar no sentido que proclama o direito a vida. E este sobre este direito e responsabilidade de proteger esta vida que foi chamada esta colação dos Direitos Humanos, pois, dá enfase ao nosso tema. A seguir tratamos da da segunda vertente da proteção Internacional dos direitos da pessoa humana que é o Direito Humanitário.