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Direitos Sociais: construção em movimento

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 59-62)

CAPÍTULO II – DIREITOS SOCIAIS E DIREITOS DE SAÚDE: uma questão de

1. Direitos Sociais: construção em movimento

Os direitos sociais tiveram seu apogeu no final da Segunda Guerra Mundial, mas seu processo de consolidação já vinha sendo fomentado desde o final do Século XVIII, com a Revolução Industrial.

Segundo Couto (2004) e Bobbio (2004), os direitos sociais advêm de uma nova forma de Estado, o Estado Social, pois a efetivação destes direitos repercutiu na ampliação da intervenção do Estado. Os direitos civis e políticos tem como natureza o caráter individual, já os direitos sociais possuem caráter individual e também coletivo.

Este caráter individual e coletivo é mais difícil de ser efetivado, pois segundo Bobbio, “... os direitos sociais exigem, para sua realização prática, para a passagem da declaração puramente verbal à sua proteção efetiva, precisamente o contrário, isto é, ampliação dos poderes do Estado” (BOBBIO, 2004: 87).

Para compreender o movimento de conquista dos direitos, precisamos anteriormente compreender os paradigmas que os norteiam, sendo assim concordamos com Bobbio (2004) quando vem defender a sobreposição dos direitos

históricos (nascidos em certas circunstâncias e de modo gradual, caracterizados

por lutas em defesa de novas liberdades) ao direito jus naturalista (derivado da natureza do homem e impossibilitado de qualquer alteração).

Compreendemos que os direitos sociais, assim como os direitos civis e políticos, são históricos, nascidos em determinadas circunstâncias e frutos de um movimento pelo qual emergem as necessidades e a importância para sua criação, mediante alguns carecimentos. Estas demandas sociais, para se constituírem enquanto direitos, necessitam ser assumidas nas instituições que as configuram, e a partir daí são expressas em códigos, em Constituições enfim, nas diversas leis que

as configuram como direitos, utilizando o termo de Coutinho: “... asseguram uma legalidade positiva” (COUTINHO, 2000: 53).

Este mesmo autor evidencia que antes dessa legalidade positiva os direitos possuem uma intencionalidade e algumas expectativas através das demandas são formuladas em determinados momentos históricos, determinados por classes ou grupos sociais. Verificamos essa realidade através do primeiro capítulo desta dissertação, quando Vargas, tido governo populista, implantava os direitos sociais de viés trabalhista, fruto de reivindicações e demandas da população trabalhadora, bem como estratégia para aumentar a força de trabalho gerando mais lucro à classe dominante.

Desta forma, percebemos que os direitos dos homens desde sua efetivação com os direitos civis, posteriormente com os direitos políticos e no século XX, com os direitos sociais, vêm se modificando, o que possibilita dizer que fatos que não eram concebidos como direitos, passam a ser em outros momentos. Assim, como questões que hoje não são consideradas como direitos, mas poderão ter suas efetivações posteriormente. Este processo pode se dar ao contrário, direitos conquistados anteriormente podem vir a ser rejeitados, ou melhor, ignorados posteriormente como vimos no primeiro capítulo com o período ditatorial ocorrido no Brasil.

O mesmo processo ocorreu com os direitos sociais, que segundo Coutinho (2000), durante muito tempo foram rejeitados sob a alegação de que estimulavam a preguiça e as leis do mercado. Mas, como todo processo histórico, fruto da correlação de forças e interesses existentes, possibilitou que os direitos sociais, após inúmeras reivindicações, alcançassem sua maturidade passando a ser compreendidos enquanto direitos. Desta forma, entendemos:

Os direitos sociais são os que permitem ao cidadão uma participação mínima na riqueza material e espiritual criada pela coletividade (...) não deve ser concebido apenas com base em parâmetros naturais, biológicos, mas deve ser definido, sobretudo, historicamente, como resultado das lutas sociais (COUTINHO, 2000: 62).

Nesta lógica, os direitos sociais, frente a seu caráter histórico passam a ser enfatizados no século XX e consagrados através da Declaração Universal dos Direitos dos Homens (em 1948) pela ONU, quando a compreensão perpassa o acesso universal à educação, saúde, habitação, previdência pública, assistência etc.

A partir dessa consagração, surge uma nova discussão em torno dos direitos sociais – a materialização desses direitos, como enfoca Bobbio:

...a afirmação dos direitos dos homens não é mais uma nobre exigência, mas o ponto de partida para a instituição de um sistema de direitos estritos da palavra, enquanto direitos positivos ou efetivos. O segundo momento da história da Declaração dos Direitos do Homem consiste, portanto, na passagem da teoria à prática,... (BOBBIO, 2004: 49).

Coutinho (2000) contribui trazendo apontamentos acerca dos direitos sociais que tem como tarefa fundamental hoje, não o seu reconhecimento legal, embora sejam fatores preponderantes, mas a sua efetivação. Enfoca que a efetivação advém de um processo de lutas e conquistas, visando à materialização almejada – iniciando o reconhecimento legal e possibilitando conquistas e os avanços à população.

Concordamos com Coutinho (2000), quando complementa que os direitos são resultados de conquistas da classe trabalhadora. Realiza uma crítica à visão simplista que compreende estes apenas como estratégias de manipulação e legitimação do poder frente à manutenção da dominação. “Essa posição, por ser unilateral, é equivocada. Como todos os âmbitos da vida social, também a esfera das políticas sociais é determinada pela luta de classes”. (COUTINHO, 2000: 64).

Esse processo de luta é constante e ininterrupto, pois, mesmo com a legalidade dos direitos e sua efetivação, não implica que estes sejam intocáveis, ou ainda, que não precisem estar constantemente construídos e reconstruídos como forma de sua garantia com vistas à cidadania plena.

Partindo do pressuposto dos direitos enquanto construções históricas, seria contraditório relatar que tais conquistas também estivessem prontas e acabadas. Por serem históricos, esse processo permanece em constante alteração, advindo da dinamicidade do cotidiano e dos sujeitos, frente aos diversos interesses que deles fazem parte.

Na realidade brasileira, vimos que somente a Constituição de 1988 institui o Brasil como um Estado Democrático que tem como pressuposto assegurar o exercício dos direitos políticos, civis e sociais (este último em sua natureza individual e coletiva); a liberdade, a igualdade, a segurança, a justiça, o desenvolvimento, o bem-estar etc, sem preconceitos e em respeito à pluralidade. Não por acaso que esta Constituição foi tida como a “Constituição Cidadã”.

Segundo esta Constituição Federal, os direitos sociais do cidadão brasileiro são: saúde, educação, trabalho, moradia, lazer, segurança, a previdência social, proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados (Constituição Federal – Art. 6º e Emenda Constitucional nº 26/2000).

Dentre os direitos sociais, se incluem os direitos à saúde, com seu reconhecimento universal, fruto de um longo período de maturação, advindo de um processo de lutas e conquistas, que geraram avanços e retrocessos.

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 59-62)