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Não que os seus inimigos Estivessem lutando Contra as nações terror Que o comunismo urdia Mas por vãos interesses De poder e dinheiro Quase sempre por menos Quase nunca por mais Os comunistas guardavam sonhos

Os comunistas! Os comunistas!

(Caetano Veloso, Um comunista)

No dia 12 de junho de 2012 o Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação civil pública contra a intervenção da Polícia Militar na cracolândia, classificada como uma ação que “feriu os direitos humanos e não apresentou resultados efetivos quanto à recuperação dos usuários de drogas e ao combate ao tráfico11”. No dia 31 do mesmo mês, esta ação foi acatada pela justiça que proibiu a Polícia Militar de impedir que os usuários de drogas circulem livremente pela região da cracolândia. Os promotores defendem que é “dever do Estado em prover, por meio do Sistema Único de Saúde, os cuidados aos dependentes químicos”, “sem que se avente em contradita qualquer violação ao direito de ir e vir do portador de transtorno mental ou com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas12”.

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(Felipe Tau – O Estado de S.Paulo - (http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,justica-proibe-pm-de-expulsar- usuarios-da-cracolandia,908742,0.htm). Acesso em agosto de 2012

12 Idem

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No dia seguinte à proibição do Ministério Público de São Paulo o governo estadual declarou que a liminar da justiça não interfere em nada na ação policial. “Se forem necessárias abordagens policiais diante de atitudes suspeitas, a polícia não tem como se furtar dessa atitude. Então não muda a atitude da Polícia Militar” afirmou a então secretária de Estado da Justiça13.

A discussão dos problemas envolvendo usuários de drogas a partir da ótica dos direitos universais e humanos vem ganhando cada vez mais espaço e pertinência. Ao mesmo tempo, os direitos universais estão em sério risco no mundo atual, uma vez que os sinais de desgaste das políticas de bem estar social começam a alcançar dimensões críticas. Observamos surgir no berço desta tradição um conjunto de medidas que definem limites para as políticas de proteção social historicamente conquistadas.

No pequeno livro Indignai-vos, Stéfane Hessel (2011), um dos formuladores da

Declaração Universal dos Direitos Humanos, nos convoca a uma atitude de indignação que

nos levou a pensar um sentido forte para a noção de direitos universais.

Hoje em dia, ousam nos dizer que o Estado não pode mais garantir o custo destas medidas cidadãs. Mas, como é possível que falte dinheiro para manter e prolongar as conquistas quando a produção de riquezas aumentou consideravelmente, desde a Libertação, período em que a Europa estava arruinada? Só se for porque o poder do dinheiro, combatido pela Resistência, nunca foi tão grande, insolente e egoísta para com seus próprios servidores, até mesmo nas mais altas esferas do Estado. Os bancos, doravante privatizados, mostram-se antes de tudo preocupados com seus dividendos e com os altíssimos salários dos seus dirigentes, não com o interesse geral. A distância entre os mais ricos e os mais pobres nunca foi tão grande, a competição nunca foi tão incentivada. (Hessel, 2011, pp.15-16).

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O tema do direito universal à saúde garantido constitucionalmente desde 1988 coloca a saúde brasileira como um componente da história moderna por lutas e garantias de direitos universais que dignificam a vida. Por mais que o Brasil nunca tenha figurado entre os ditos Estados de Bem-Estar-Social, as bases universais da nossa constituição apontam para a definição de bases legais que fundam a intenção de assim sê-lo. Na contramaré da onda neoliberal, o SUS se constituiu enquanto um projeto utópico que cria bases concretas para efetivação de alguns sonhos. A saúde se encontra ao lado da previdência e da assistência social como o conjunto de políticas que compõe as seguridades sociais e, portanto, como dever do Estado e direito de todos os cidadãos brasileiros.

O parágrafo da Constituição destinado à saúde define que: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Art. 196). Entretanto, estamos imersos numa realidade política e econômica que define sérias restrições à plena efetivação dos direitos universais e no, caso da saúde brasileira, isso não é diferente. Diversos autores destacam os desafios macropolíticos de sustentação do projeto universal do SUS dentro das restrições impostas pela lógica economicista neoliberal. O conflito entre direitos universais e ordem econômica implica em limites crescentes para o ideário animado pela Reforma Sanitária brasileira. Segundo Santos e Odorico de Andrade (2009), o que orientou a organização do SUS ao longo destes anos “foi muito mais o financiamento do que os ditames das leis que o regulamentam, os resultados pretendidos ou as necessidades do sistema” (pp.27). A essa citação se somariam muitas outras que tratam não só do aspecto economicista que na maioria das vezes determina o modo de alocação de recursos na construção de um sistema de saúde subfinanciado com sérias consequências para a

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execução de seu ideário civilizatório e universal. Além disso, podemos agregar as interferências partidárias/eleitoreiras e corporativas sobre o modo de distribuição dos escassos recursos da saúde e a crescente interferência do setor privado sobre o sistema público. (Campos, 2007; Bahia, 2008; Paim 2008; Fleury, 2009; Cohn 2009; Santos 2009 e Silva 2009).

Entretanto, quando saímos dos aspectos macroeconômicos que interferem sobre a gestão da saúde pública e nos deslocamos para objetos mais específicos, podemos ver que existem outros fatores, não menos importantes que determinam o modo de construção de políticas de saúde que interferem sobre o direito ao acesso e ao cuidado. Os sinais de crise do conceito de universalidade podem ser abordados tanto em relação às condições materiais de efetivação de direitos universais (o universal submetido a fatores econômicos), quanto na sua utilização enquanto conceito (o universal submetido a diferentes sentidos e usos). Os fatores econômicos impõem limites e desafios para todos os problemas de saúde, inclusive para a construção de uma rede de atenção aos usuários de drogas. Isso não pode ser desconsiderado. Mas, associado a este fenômeno, queremos destacar as diferentes racionalidades que operacionalizam o conceito de universalidade, para nos aproximar mais do objeto “drogas” e extrair consequências mais precisas ao problema. O tema das drogas nos possibilita pensar os desafios da universalidade do acesso por dois motivos centrais: primeiro porque a experiência com as drogas é uma prática social estigmatizada: os preconceitos, a discriminação e a criminalização criam verdadeiras barreiras ao acesso. (Tedesco e Souza, 2009) O uso de drogas diz respeito a um campo de experiências muito diversas, múltiplas e singulares e o acesso universal se depara com um campo de diversidades de escolhas, desejos e modos de vida que não se enquadram nas normas morais da sociedade.

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É comum diferentes autores debaterem sobre diversos princípios e diretrizes do SUS destacando os diversos sentidos que eles podem assumir como os sentidos de integralidade, de equidade, de participação social, etc. No entanto, universalidade comparece como uma “pedra fundamental” prenhe de sentido.

Este capítulo tinha o objetivo inicial de pensar os conceitos de redução de danos e abstinência à luz do princípio de universalidade. Assim traçaríamos pontos de aproximação e afastamento entre a universalidade e as duas diretrizes que disputam sobre o modo de atenção aos usuários de drogas (redução de danos e abstinência). Partindo da universalidade como pilar inabalável, apontaríamos qual das duas diretrizes (redução de danos e abstinência) corresponde mais ao ideário que rege a Constituição brasileira. Entretanto ao fazer esta pesquisa descobrimos que os princípios do SUS não são tão unívocos assim. Na verdade veremos que essa suposta univocidade de sentido corresponde a uma faceta bem controvertida do princípio da universalidade. Ao confrontar as noções de abstinência e redução de danos aos princípios do SUS, foram estes que também foram equivocados.

Os sentidos e as direções atribuídos à universalidade podem variar e servir a diferentes interesses. Mas até que ponto estes interesses são contrários e impeditivos à universalidade e até que ponto eles se apoiam na própria noção de universalidade? Será que o conceito de universalidade só se presta ao direito universal, ou ao lado desta garantia legal podemos ver se erguer outras noções de universalidade que normatizam e restringem a vida?

Jullien, (2010), ao fazer uma genealogia do conceito de universalidade, nos conduz a caminhos instigantes para se pensar a diversidade de sentidos que o conceito de universalidade possui. Veremos a partir da história do conceito de universalidade como o sentido defendido pelo SUS encontra-se lado a lado com outros sentidos não menos fortes

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para a nossa organização social. Atentar para os diferentes sentidos é um modo de evidenciar que as tecnologias concretas de governo podem investir em diferentes modos de se operar a noção de universalidade.

A contraface do conceito de universalidade, e pela qual devemos pô-lo a prova, é operacionalizada por noções como singularidade, diferença e alteridade. É na relação com o outro, com o singular e com o que se difere que devemos testar a noção de universalidade. Assim poderemos verificar que sentidos de universalidade se operam nas redes de saúde, nas portas de entrada ao sistema de saúde e nos modos de gerir e cuidar. É a partir do seu oposto que poderemos distinguir os sentidos de universalidade que estão em prática.

3.1) Universalidade: uma breve genealogia de um conceito em crise

Uma pesquisa sobre o universal enquanto conceito filosófico e princípio legal que fundou os chamados direitos universais, dentre eles e que para nós ganha um lugar de destaque, o direito universal à saúde, nos conduz a uma trajetória que vai da sua formulação filosófica ao seu uso político nas sociedades atuais. É evidente que isso em si já constituiria um amplo campo de pesquisa o que nos obriga a definir alguns pontos relevantes desta história que nos permitam pensar o caso do acesso (como direito universal) aos usuários de drogas no Brasil.

Uma possibilidade para se pensar os sentidos de universalidade foi aberta pelo eminente filósofo François Jullien (2010) através de estudos em que se arvora a uma árdua genealogia do conceito de universalidade. Sem pretender esgotar a temática, o autor indica três bases constitutivas dos sentidos de universalidade: a filosofia, a política e a religião. Segundo o autor estes três sentidos são frutos de “três impulsos” da história humana que não têm uma relação intrínseca entre si e que, portanto, carregam consigo matérias díspares.

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A matéria da filosofia é o conhecimento, sendo sua tarefa a definição de conceitos universais que conduzem ao conhecimento verdadeiro. A matéria da política é a cidadania, sendo sua tarefa a definição legal de direitos universais. E por último, a matéria da religião é a fé, sendo sua tarefa levar à salvação universal.

Uma genealogia não busca identificar uma relação de filiação entre estes três terrenos sob a qual se traçaria uma linearidade do conceito. Trata-se de um percurso nebuloso, feito de zigue-zagues, zonas de vizinhança e arestas instransponíveis. Como em toda boa genealogia são destacados momentos em que terrenos com formações históricas distintas são unidas, não por uma natureza do conceito, mas por relações de poder que produzem agenciamentos entre práticas e regimes de verdade.

Três terrenos do universal, cada qual com sua lógica e pressões próprias: o conceito sob as exigências do logos corresponde às exigências próprias da ciência; a constituição da “cidadania universal” corresponde às exigências de expansão do império Romano e a salvação como ponto de ancoragem entre o homem e o universal de Deus. O autor indica que, por estas clivagens, não há mesmo como compor uma “história” do universal, “mas apenas acumulação e concentração de exigências por superposição de camadas e estratificação de impulsos”. Entretanto, estas estratificações, apesar de descontínuas, não deixaram de servir de base sólida para a fundação do universal e sua ampla penetração na formação política e cognitiva do mundo ocidental. Não há porque desconfiar do universal, seja da sua operação para o pensamento, como para o direito, como para a alma. Ele surge como algo pronto e acabado. “Inclusive, apesar de sua composição heterogênea, o universal, vê-se projetado como pedra angular e aspiração única.” (pp. 83). A pretensão de universalização do conhecimento e dos valores pertence ao mundo ocidental, às culturas sob influência da cultura greco-romana cristã.

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O primeiro impulso, que constituiu o conceito de universalidade define uma clivagem entre duas escolas do pensamento: os pré e os pós-socráticos. Jullien (2010) analisa como que na história do pensamento, o universal - ou o conceito de universalidade - comparece como uma totalidade finalizada, pronto desde sempre, como Atenas que surge pronta da cabeça de Zeus. O pensamento grego erigiu não só o universal como condição de acesso à verdade, como o fez de um modo que a aparição deste estivesse descolada de uma produção histórica, como um raio que vem das alturas iluminar o pensamento: um fiat lux. Para a filosofia, a universalidade surge como uma operação lógica – logos - na medida em que o acesso à verdade se dá pela possibilidade de afastamento das experiências como condição de apreensão do todo, de pensar e formular questões “segundo o todo” ou de forma universal. A universalidade convoca um afastamento do caos das sensações como exercício de elevação do pensamento e da razão. A aproximação entre verdade e universal foi a novidade do pensamento grego, mais precisamente a partir de Sócrates, que ao contrário dos seus antecessores, não faz do todo uma determinada coisa (água, ar, infinito), mas uma regra que determina a forma superior do pensamento. Ao ponto do acesso à universalidade ser o próprio exercício de elevação do pensamento, possibilitando ao homem passar da diversidade dos fenômenos para a unidade do conceito.

(...) trata-se da mesma operação – da qual nasce prontamente como “milagre”, a filosofia: o status do universal é incluído na produção mesma do conceito. É ao mesmo tempo sua condição e sua consequência: o universal dá a sua forma lógica ao conceito, e este estabiliza o universal e torna-o operatório para o conhecimento. (Jullien, 2010, p.57).

É como se o conceito de universal não correspondesse a uma página da história do pensamento, mas fosse, ele mesmo, a própria condição do pensamento. O universal, como

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nos atenta o autor, se institui como o conceito fundador do próprio ato de conhecer. Essa operação tira o pensamento da história e, portanto, o torna, na medida em que se afasta da experiência, universal. A universalidade, enquanto operação lógica se constitui a partir do divórcio e distanciamento com as singularidades dos fenômenos.

Para os pré-socráticos, a relação homem-natureza não era mediada por instâncias invariantes. A célebre aporia de Heráclito, de que um homem não entra no mesmo rio duas

vezes, traz de forma muito evidente uma outra relação entre pensamento e natureza. Para

Heráclito não há “o homem”, enquanto categoria universalmente definida, assim como não há “o rio” enquanto natureza fixa. Homem e rio são devires, são processos em transformação. Com Sócrates inaugura-se uma nova etapa da filosofia, que para alguns é definida como o início propriamente dito da filosofia, caracterizando os movimentos anteriores como pré-filosofia. Será esta tradição que irá fundar as bases para a ciência e para as escolas que buscam estruturas e regras invariantes do pensamento e do mundo. Para a tradição socrática conhecemos não quando verificamos que o sol nasce todas as manhãs,

mas quando julgamos que ele nascerá amanhã.(Deleuze, 2009). Enquanto que para a

tradição pré-socrática julgar que o sol nascerá amanhã é uma faceta do conhecimento que não é superior à experiência singular de assistir cada por do sol.

O segundo impulso do universal é creditado não à Grécia, mas à Roma que gozou de ter inserido no seio do universal o concreto da lei e da cidadania. Mediante a lei que determina a cidadania Romana, o império avança. Por esta via o universal se vê descolado dos ditames da filosofia para os ditames da lei, definindo não uma unidade do pensamento, mas uma unidade de status e de condição política. Em Roma se vê pela primeira vez na história a constituição de uma relação de pertencimento a um povo que não se baseia pela natureza étnica, pela tradição e pela identidade territorial. Encarna um espírito de abertura

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que entende ser de bom grado para o desenvolvimento do império a mistura dos povos. Enquanto os gregos se orgulhavam de sua nobre origem nascidos da própria terra, em Roma a mistura entre estrangeiros era um sustentáculo de uma nova sociedade. Com a instituição legal da dupla cidadania, todos os povos de outras cidades eram também considerados romanos, além de preservarem sua cidadania local. “Como consequência dessa casuística, alguém via-se romano ao mesmo tempo em que continuava a pertencer à sua própria pátria (local); e continuava em sua própria pátria quando partia para Roma.” (pp. 67).

A cidadania, enquanto estatuto legal inaugurado por Roma, inseriu no seio do universal uma abertura para as diferenças, as singularidades, as especificidades, uma vez que o signo de pertencimento não é mais da ordem da tradição, do sangue, mas do direito, que funda as bases igualitárias para a convivência entre diferentes. Entretanto, será no mesmo seio de abertura que o universal cristão da salvação irá inserir um novo universal, substituindo a lei pela fé, e “querer derrubar essa universalidade formal, dos cidadãos; e substituí-la por outra universalidade que fosse capaz de alcançar até em seu destino mais singular a vida íntima dos sujeitos” (pp. 69).

O terceiro impulso do universal nos conecta a toda a genealogia feita por Foucault sobre o poder pastoral. Os caminhos percorridos pelos autores se assemelham, e apontam para o universal da salvação que torna todos os homens iguais perante Deus. “Todo homem é eternamente essa mesma forma vazia, que apenas Deus preenche. Ora, essa entidade negativa – oca – varre de imediato as diferenças e torna todos os homens idênticos entre si:

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não há senão o vazio que é idêntico (ao vazio)”. (Jullien, 2010, pp. 78).14

A universalidade da salvação, ao contrário da universalidade da cidadania busca esvaziar politicamente os sujeitos e torná-los idênticos e desprovidos de desejo: como diria Foucault (2009) instaura- se o sujeito da renúncia e da obediência infindável.

Os três terrenos constitutivos do universal fundaram, também, como pudemos verificar, verdades sobre o sujeito: sujeito do conhecimento, sujeito do direito e sujeito da renúncia; todos igualmente modelos universais do homem. Entretanto, em que esta genealogia do universal nos ajuda a entender os problemas relacionados aos usuários de drogas?

Ora, a primeira questão é que não é só o direito à saúde que goza de ser herdeiro direto do sentido de universalidade. O SUS ao abrigar como estatuto jurídico não só os brasileiros, mas todos que aqui estejam, abre-se para um sentido de universal que abarca diferenças e singularidades numa amplitude incondicional. Mas o SUS não é só regulado pelo seu estatuto ético-jurídico. A ciência e a religião também não são igualmente detentoras de sentidos de universalidade, tão ou mais constitutivas da nossa subjetividade? Em que medida a universalidade do direito que se reconcilia com a singularidade é mais forte, do ponto de vista de produção de subjetividade do que a universalidade da verdade da ciência (da medicina) e da religião (de Deus).

Não seria a medicina a herdeira direta de universalizar um saber “científico” sobre os usuários de drogas? Não seriam também as religiões cristãs depositárias de um poder universalmente válido de salvar as almas dos usuários de drogas do pecado e da queda? E por ultimo, não estariam estes sentidos de universalidade igualmente inseridos no Estado,

14 Este mesmo trecho foi utilizado no tópico 2.2 quando fizemos uma genealogia da abstinência. Aqui

retomamos este trecho para aprofundar a relação entre a norma da abstinência e o sentido de universalidade inaugurada pelo cristianismo.

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disputando lado a lado com a universalidade do acesso, sentidos e tecnologias de governo? Não teriam estes sentidos de universalidade sustentação estatal, legal e normativa para interferir nos rumos da universalidade do acesso?

A convergência entre os pensadores nos possibilita extrair consequências mais abrangentes entre governo dos homens e universalidade. O primeiro motivo é porque a partir de Jullien podemos retomar a história do poder pastoral sob a ótica da universalidade e aprofundar o debate acerca das disputas em curso sobre os sentidos de universalidade,