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2 O DIREITO À PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS: UMA ANÁLISE

2.2 PANORAMA DO MODELO EUROPEU DE PROTEÇÃO DE DADOS

2.2.2 Diretivas 2002/58/CE, 2006/24/CE e 2016/680 do Parlamento

Em julho de 2002 foi aprovado o texto da Diretiva 2002/58/CE, que dispõe a propósito do tratamento de dados pessoais e da proteção à privacidade no setor das comunicações eletrônicas. Composta por 49 Considerandos e 21 Artigos, trata-se de diretiva complementar à Diretiva 95/46/CE (art. 1º, n. 2.), inclusive, prevendo a aplicação de algumas disposições dessa no âmbito das comunicações eletrônicas (art. 15).

A Diretiva trouxe noções como “dados de localização”, “dados de tráfego” e “serviços de valor acrescentado”290, buscando adequar-se a incrementos tecnológicos para os quais as respostas propostas na Diretiva 95/46/CE não eram suficientemente específicas.

Outrossim, a Diretiva 2002/58/CE, em seu Considerando 24, enfrenta expressamente a utilização de mecanismos de rastreamento de atividades do usuário e de armazenamento de informações ocultas, os chamados “«programas- espiões» («spyware»), «gráficos-espiões» («web bugs») e «identificadores ocultos» («hidden identifiers»)”, limitando seu uso apenas a fins legítimos e ao conhecimento do usuário. Ademais, o Considerando 25 trabalha os “testemunhos de conexão («cookies»)” e mecanismos análogos, reconhecendo a legitimidade e utilidade de sua utilização desde que para fins legítimos. Incentiva-se, ainda, a possibilidade de recusa por parte do usuário na utilização de tais mecanismos, ainda que se admita o condicionamento do acesso à determinada página à aceitação do uso de cookies. Veiga e Rodrigues identificam nesses Considerandos, quando lidos conjuntamente

290 “Art. 2 Definições [...]

b) «Dados de tráfego» são quaisquer dados tratados para efeitos do envio de uma comunicação através de uma rede de comunicações electrónicas ou para efeitos da facturação da mesma; c) «Dados de localização» são quaisquer dados tratados numa rede de comunicações electrónicas que indiquem a posição geográfica do equipamento terminal de um utilizador de um serviço de comunicações electrónicas publicamente disponível; [...]

g) «Serviço de valor acrescentado» é qualquer serviço que requeira o tratamento de dados de tráfego ou dados de localização que não sejam dados de tráfego, para além do necessário à transmissão de uma comunicação ou à facturação da mesma; [...].” UNIÃO Europeia. Parlamento Europeu e Conselho. Directiva 2002/58/CE, de 12 de julho de 2002. Relativa ao tratamento de dados pessoais e à protecção da privacidade no sector das comunicações electrónicas (Directiva relativa à privacidade e às comunicações electrónicas). Jornal Oficial das Comunidades Europeias, L 201/37. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32002L0058&from=PT>. Acesso em: 25 jul. 2017.

com o disposto no art. 6º, n. 3291, uma limitação ao uso de dados pessoais para fins estatísticos e para fins de criação de perfis de usuário (profiling), que seriam condicionados por sua finalidade (fim legítimo) e pelo consentimento do usuário titular dos dados292.

Em março de 2006, o Conselho e o Parlamento Europeu aprovaram a Diretiva 2006/24/CE, que altera a Diretiva 2002/58/CE. Uma de suas principais inovações consiste na determinação de conservação de dados por parte do prestador de serviços de comunicações eletrônicas e de redes públicas de comunicação – art. 3º. Em seu art. 5º, a Diretiva especifica as categorias e os dados a serem conservados, a exemplo dos dados necessários à identificação da fonte da comunicação (como o número de telefone de origem e o nome do assinante ou utilizador registrado, os códigos de identificação do usuário de serviços de correio eletrônico e o endereço do protocolo de IP); dos dados necessários à identificação do destino da comunicação (número discado e os dados do registro daquele número e código de identificação do destinatário pretendido no caso de comunicações via internet); e dos dados necessários à identificação da hora, duração e local da comunicação (como a data e o horário de log in e de log off de determinado IP na internet).

A excessividade de dados armazenados, comumente, justificada no jargão “quem não deve, não tem nada a esconder”, é contraposta a uma realidade não tão simplista. Milhares de reclamações anuais foram apresentadas às autoridades de

291

“Artigo 6. Dados de tráfego

3. Para efeitos de comercialização dos serviços de comunicações electrónicas ou para o fornecimento de serviços de valor acrescentado, o prestador de um serviço de comunicações electrónicas publicamente disponível pode tratar os dados referidos no n.º 1 na medida do necessário e pelo tempo necessário para a prestação desses serviços ou dessa comercialização, se o assinante ou utilizador a quem os dados dizem respeito tiver dado o seu consentimento. Será dada a possibilidade aos utilizadores ou assinantes de retirarem a qualquer momento o seu consentimento para o tratamento dos dados de tráfego.” UNIÃO Europeia. Parlamento Europeu e Conselho. Directiva 2002/58/CE, de 12 de julho de 2002. Relativa ao tratamento de dados pessoais e à protecção da privacidade no sector das comunicações electrónicas (Directiva relativa à privacidade e às comunicações electrónicas). Jornal Oficial das Comunidades Europeias, L 201/37. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32002L0058&from=PT>. Acesso em: 25 jul. 2017.

292 VEIGA, Armando; RODRIGUES, Benjamim Silva. A monitorização de dados pessoais de tráfego

nas comunicações eletrônicas. Raízes Jurídicas, Curitiba, v. 2, n. 2, p. 59-110, jul./dez. 2007. Disponível em: <http://ojs.up.com.br/index.php/raizesjuridicas/article/viewFile/168/140>. Acesso em: 22 ago. 2017.

proteção de dados pessoais, diversas delas referindo-se à abusividade do tratamento de informações médicas sensíveis293.

Para além dos tipos de dados armazenados, o tempo de conservação também gera grande controvérsia. Em que pese a proposta de conservação por um período de 6 meses apresentada pela Comissão em setembro de 2005, a pressão do Conselho fez com que o período fixado pela Diretiva fosse de no mínimo 6 meses e de no máximo 24 meses – art. 6º294.

No entanto, estudos realizados pela Faculdade de Direito da Erasmus

Universitat Rotterdam, com base em 65 casos concretos, sugerem que o período de

um ano seria suficiente para a conservação dos dados até mesmo nos casos de crimes mais complexos, sendo que a maioria dos pedidos se dava dentro do período de três meses. Ademais, um estudo apresentado pela Presidência do Reino Unido à União Europeia, em setembro de 2005, apontou que 85% dos casos de solicitação de informações telefônicas se davam em período inferior a seis meses. Apenas em casos mais complexos, sobretudo casos de crimes graves, como homicídios, devido ao maior cuidado dos suspeitos em eliminar vestígios do próprio crime, ou evidências que os liguem ao crime, a solicitação das informações se dava em período maior, variando entre sete e doze meses295.

Também desfavoráveis ao período de conservação pelo prazo de dois anos, o Grupo de Trabalho do Artigo 29 entendia desproporcional a conservação por período superior a seis meses. O mesmo ocorreu com o Comité Econômico e Social e com a Agência Europeia de Proteção de Dados. Ambos acabaram editando pareceres desfavoráveis à conservação dos dados por período superior a um ano296.

293

SCHAAR, Peter. Das Ende der Privatsphäre: der Weg in die Überwachungsegesellschaft. C. Bertelsmann (München), 2007, p. 22, apud RODRIGUEZ, Daniel Piñeiro. O direito fundamental à proteção de dados pessoais: as transformações da privacidade na sociedade de vigilância e a decorrente necessidade de regulação. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Programa de Pós-Graduação em Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

294 VEIGA, Armando; RODRIGUES, Benjamim Silva. A monitorização de dados pessoais de tráfego

nas comunicações eletrônicas. Raízes Jurídicas, Curitiba, v. 2, n. 2, p. 59-110, jul./dez. 2007. Disponível em: <http://ojs.up.com.br/index.php/raizesjuridicas/article/viewFile/168/140>. Acesso em: 22 ago. 2017.

295 Ibid. 296

No contexto das comunicações eletrônicas, as medidas adotadas para fins de segurança são aparadas por discursos que clamam por transparência, que rotulam a proteção de dados pessoais como mecanismos de proteção de criminosos e terroristas. Não obstante, é preciso maior ceticismo com essa falsa impressão de segurança. A partir de uma análise singela, Rodriguez297 põe em xeque essa correlação entre transparência e segurança, denunciando que países com maiores níveis de proteção de dados ostentam menores índices de criminalidade em comparação àqueles países caracterizados por suas políticas de vigilância. Ainda, o autor questiona, com muita propriedade, a proporcionalidade da adoção dessas medidas, bem como a falta de sopesamento entre o potencial lesivo de se permitir a consolidação de um Estado superinformado e a eficiência dessas medidas no combate à criminalidade298.

As indagações acerca da legitimidade da normativa no cenário europeu também foram significativas. Em 8 de abril de 2014 as chamadas sentenças Digital

Rights Ireland Ltda. (C 293/12 e C 594/12) do Tribunal de Justiça da União Europeia

declararam inválida a Diretiva de Retenção de Dados299. Nas decisões, o Tribunal entendeu como abusiva a conservação generalizada dessas informações por tanto tempo, porém deu margem para uma conservação “seletiva” dessas informações a partir de critérios objetivos preestabelecidos300. Porém, isso abre margem para uma

297

Tomando estudos de 2006 e 2007 Rodriguez aponta que Alemanha e Canadá, em que pese sua política de fortalecimento da proteção de dados pessoais, possuíam menores índices de criminalidade quando comparados à Inglaterra e aos Estados Unidos, cuja política de vigilância é marcadamente intrusiva. Nesse sentido, ver: RODRIGUEZ, Daniel Piñeiro. O direito fundamental à proteção de dados pessoais: as transformações da privacidade na sociedade de vigilância e a decorrente necessidade de regulação. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Programa de Pós-Graduação em Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

298 Ibid.

299 CONTE, Julen Fernández; BURGOS, Diego León. Antecedentes y processo de reforma sobre

protección de datos en la Unión Europea. In: PIÑAR MAÑAS, José Luis (Dir.). Reglamento General de Protección de Datos: hacia um nuevo modelo europeo de privacidade. Madrid: Editorial Reus, 2016. p. 35-50.

300 Nesse sentido, ver: Digital Rights Ireland Ltda. (C 293/12 e C 594/12). UNIÃO Europeia. Tribunal

de Justiça (Grande Secção). Comunicações eletrônicas. Diretiva 2006/24/CE – Serviços de comunicações eletrónicas publicamente disponíveis ou de redes públicas de comunicações – Conservação de dados gerados ou tratados no contexto da oferta desses serviços – Validade – Artigos 7.°, 8.° e 11.° da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Acórdão do Tribunal de Justiça, C-293/12 e C-594/12 (processos apensos). Digital Rights Ireland Ltd. contra Minister for Communications, Marine and Natural Resources, Minister for Justice, Equality and Law Reform, Commissioner of the Garda Síochána, Irlanda, The Attorney General, 08 de abr. 2014. Disponível em:

<http://curia.europa.eu/juris/document/document.jsf?text=&docid=150642&pageIndex=0&doclang= PT&mode=lst&dir=&occ=first&part=1&cid=671099>. Acesso em: 15 set. 2017.

discussão mais profunda sobre a legitimidade e a legalidade dos critérios a serem estabelecidos, especialmente em se falando de categorias de risco voltadas para indivíduos301.

Por fim, digna de nota é a Diretiva 2016/680, que vem a ser aplicada concomitantemente com o novo regulamento geral de proteção de dados. Em que pese também ter como objeto o tratamento de dados pessoais, ela destina-se apenas àquele realizado por autoridades para fins de “[...] prevenção, investigação, detenção, ou repressão de infrações penais ou execução de sanções penais, incluindo a salvaguarda e prevenção de ameaças à segurança pública” (art. 1º,

caput). Em se tratando de finalidade distinta, ainda que se trate de autoridade que

atue costumeiramente na seara penal, deve-se aplicar o regulamento (Considerando 12)302.

Composta por 107 Considerandos e 65 Artigos, essa diretiva já se encontra em vigor desde 27 de abril de 2016, tendo como destinatários todos os Estados membros da EU. Trabalhando noções como segurança pública (ou nacional), especialmente no que toca ao combate ao terrorismo, essa Diretiva busca balizar o respeito à proteção de dados pessoais, enquanto um direito fundamental (Considerando 1), independente da nacionalidade do titular dos dados

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É o que se extrai da fala de Alessandra Silveira no VII Encontro Internacional do CONPEDI em Braga/PT no painel Democracia e tecnologias da informação realizado em 07 set. 2017, das 14h30min às 17h, na Universidade do Minho (CEDU), Braga, Portugal. SILVEIRA, Alessandra. Democracia e tecnologias da informação. In: VII ENCONTRO INTERNACIONAL DO CONPEDI, Portugal, Braga, 7 set. 2017.

302

“(12) As funções de polícia ou de outras autoridades de aplicação da lei centram-se principalmente na prevenção, investigação, deteção ou repressão de infrações penais, incluindo as atividades policiais sem conhecimento prévio de que um incidente constitui ou não uma infração penal. Estas funções podem incluir o exercício da autoridade através de medidas coercivas, tais como as atividades da polícia em manifestações, grandes eventos desportivos e distúrbios. Essas funções incluem também a manutenção da ordem pública enquanto atribuição da polícia ou de outras autoridades de aplicação da lei, quando necessárias para a salvaguarda e prevenção de ameaças à segurança pública e aos interesses fundamentais da sociedade protegidos por lei, e à prática de infrações penais. Os Estados-Membros podem atribuir às autoridades competentes outras funções que não sejam necessariamente executadas para efeitos de prevenção, investigação, deteção ou repressão de infrações penais, nomeadamente a salvaguarda e a prevenção de ameaças à segurança pública, de modo que o tratamento dos dados pessoais para esses outros efeitos, na medida em que se insira na esfera do direito da União, seja abrangido pelo âmbito de aplicação do Regulamento (UE) 2016/679.” UNIÃO Europeia. Parlamento Europeu e Conselho. Directiva 2016/680, de 27 de abril de 2016. Relativa à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais pelas autoridades competentes para efeitos de prevenção, investigação, deteção ou repressão de infrações penais ou execução de sanções penais, e à livre circulação desses dados, e que revoga a Decisão-Quadro 2008/977/JAI do Conselho. Jornal Oficial da União Europeia, L 119/89. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016L0680&from=PT>. Acesso em: 1 ago. 2017.

(Considerando 2), e a prevenção, a investigação e a repressão de atividades criminais, inclusive facilitando mecanismos de cooperação judicial penal e policial (Considerando 5).

Percebe-se que há por parte dessa Diretiva uma recepção dos princípios positivados em matéria de proteção de dados na Diretiva 95/46 e no RGPD; porém, com algumas especificidades (principalmente em relação à questão do consentimento303 e à do direito de acesso)304. Como exemplo dessa recepção, destaca-se o dever de informação que se articula juntamente com o princípio da

303 A respeito do consentimento, Rodríguez aponta que “[...] en determinadas ocasiones las

autoridades competentes podrán exigir a las personas físicas que atendam su solicitude de datos de caráter personal como una obligación, de tal forma que su consentimento no será fundamento jurídico necesario para su tratamento [...]. Aun así, los Estados membros podrán estabelecer en su legislación que el interessado acepte o no el tratamiento de sus datos personales a los efectos de la Directiva [...]”. RODRÍGUEZ, Ofelia Tejerina. VII. Interrelación com la directiva sobre protección de datos por autoridades competentes. In: PIÑAR MAÑAS, José Luis. Regulamento General de Protección de Datos: hacia um nuevo modelo europeo de privacidade. Madrid: Editorial Reus, 2016. p. 103.

304 “Artigo 15º Limitações do direito de acesso

1. Os Estados-Membros podem adotar medidas legislativas para limitar, total ou parcialmente, o direito de acesso do titular dos dados, se e enquanto tal limitação, total ou parcial, constituir uma medida necessária e proporcionada numa sociedade democrática, tendo devidamente em conta os direitos fundamentais e os interesses legítimos das pessoas singulares em causa, a fim de: a) Evitar prejudicar os inquéritos, as investigações ou os procedimentos oficiais ou judiciais;

b) Evitar prejudicar a prevenção, deteção, investigação ou repressão de infrações penais ou a execução de sanções penais;

c) Proteger a segurança pública; d) Proteger a segurança nacional;

e) Proteger os direitos e as liberdades de terceiros.

2. Os Estados-Membros podem adotar medidas legislativas a fim de determinar as categorias de tratamento suscetíveis de ser abrangidas, total ou parcialmente, por uma das categorias previstas no nº 1.

3. Nos casos a que se referem os nº 1 e 2, os Estados-Membros preveem que o responsável pelo tratamento informe por escrito o titular dos dados, sem demora injustificada, de todos os casos de recusa ou limitação de acesso, e dos motivos da recusa ou da limitação. Essa informação pode ser omitida caso a sua prestação possa prejudicar uma das finalidades enunciadas no nº 1. Os Estados-Membros preveem que o responsável pelo tratamento informe o titular dos dados do direito que lhe assiste de apresentar reclamação à autoridade de controlo ou de intentar uma ação judicial.

4. Os Estados-Membros preveem que o responsável pelo tratamento detalhe os motivos de facto ou de direito em que a sua decisão se baseou. Essa informação deve ser facultada às autoridades de controlo.” UNIÃO Europeia. Parlamento Europeu e Conselho. Directiva 2016/680, de 27 de abril de 2016. Relativa à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais pelas autoridades competentes para efeitos de prevenção, investigação, deteção ou repressão de infrações penais ou execução de sanções penais, e à livre circulação desses dados, e que revoga a Decisão-Quadro 2008/977/JAI do Conselho. Jornal Oficial da União Europeia, L 119/89. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016L0680&from=PT>. Acesso em: 1 ago. 2017.

finalidade (Considerando 33)305, de forma a possibilitar um controle contra a abusividade no tratamento de dados306.

Em termos de cooperação transnacional, os artigos 35 e seguintes estipulam os requisitos para a transferência de dados pessoais para outras autoridades de outros países. Inclusive, deles destaca-se que, em havendo uma decisão da Comissão reconhecendo um nível de proteção adequado no país destinatário, essa transferência de dados prescinde de autorização específica (art. 36, 1º). Ademais, é possível que essa transferência se dê mesmo sem a aludida decisão, especialmente nos casos de urgência – gerlamente, situações de risco em que se ameasse a segurança nacional de um país – (art. 38, 1º, d)307.

Consoante já referido anteriormente, tal diretiva tem aplicação concomitante ao Regulamento, vez que se restringe a tratamentos de dados cujas finalidades são distintas daquelas reguladas pelo Regulamento. Ou seja, trata-se de normativa complementar ao regulamento, visando à regulamentação de aspectos específicos que justificam um tratamento diferenciado, notadamente a segurança pública e nacional.

305 “(33) Sempre que a presente diretiva se refira ao direito de um Estado-Membro, a um fundamento

jurídico ou a uma medida legislativa, não se trata necessariamente de um ato legislativo adotado por um parlamento, sem prejuízo dos requisitos que decorram da ordem constitucional do Estado- Membro em causa. No entanto, esse direito de um Estado-Membro, esse fundamento jurídico ou essa medida legislativa deverão ser claros e precisos, e a sua aplicação deverá ser previsível para os particulares, como exigido pela jurisprudência do Tribunal de Justiça e pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. O direito dos Estados-Membros que rege o tratamento de dados pessoais no âmbito da presente diretiva deverá especificar, pelo menos, os objetivos, os dados pessoais a tratar, as finalidades do tratamento e os procedimentos destinados a preservar a integridade e a confidencialidade dos dados pessoais, bem como os procedimentos para a destruição dos mesmos, proporcionando assim garantias suficientes contra o risco de abusos e de arbitrariedade.” UNIÃO Europeia. Parlamento Europeu e Conselho. Directiva 2016/680, de 27 de abril de 2016. Relativa à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais pelas autoridades competentes para efeitos de prevenção, investigação, deteção ou repressão de infrações penais ou execução de sanções penais, e à livre circulação desses dados, e que revoga a Decisão-Quadro 2008/977/JAI do Conselho. Jornal Oficial da União Europeia, L 119/89. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016L0680&from=PT>. Acesso em: 1 ago. 2017.

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RODRÍGUEZ, Ofelia Tejerina. Interrelación con la directiva sobre protección de datos por autoridades competentes. In: PIÑAR MAÑAS, José Luis (Dir.). Reglamento General de Protección de Datos: hacia um nuevo modelo europeo de privacidade. Madrid: Editorial Reus, 2016. p. 97-114.

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2.2.3 Novo regulamento europeu de proteção de dados pessoais: