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2.2 Linguagem na Educação Infantil: o que dizem a legislação e os documentos oficiais

2.2.4 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

As DCNEI/2009, instituídas por meio da resolução nº 5 de 17 de dezembro de 2009, de caráter mandatório, foram aprovadaa pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 11 de novembro de 2009 (BRASIL, 2009a), por meio do parecer nº 20/2009 (BRASIL, 2009). Foram elaboradas com a participação de educadores, movimentos sociais, pesquisadores e professores universitários.

O mencionado parecer apresenta aspectos importantes da história do atendimento à criança pequena em nosso país, a estrutura legal e institucional da Educação Infantil, a função sociopolítica e pedagógica, bem como tece considerações acerca da organização curricular, de modo que ela garanta às crianças pequenas uma educação de boa qualidade.

Nesse sentido, explicita princípios e orientações para os sistemas de ensino na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de propostas pedagógicas.

Conforme este documento, uma das funções sociopolítica e pedagógica da Educação Infantil é tornar os espaços de creches e pré-escolas em espaços privilegiados de convivência, troca de experiências, construção de identidade e de diferentes conhecimentos e saberes para todas as crianças de nosso país.

Outra função importante é oferecer melhores condições para que as crianças desfrutem de seus direitos civis, sociais e humanos. E, ainda, que as crianças de creches e pré-

escolas possam se manifestar e ser respeitadas em sua subjetividade, de forma que não haja nenhuma forma de dominação, por exemplo: de gênero, etária, regional, étnico-racial, socioeconômica, religiosa e linguística, ainda muito presentes em nossa sociedade.

Assim sendo, as instituições educacionais necessitam ver a criança como um sujeito de direitos e precisam assumir o compromisso com o desenvolvimento de um trabalho pedagógico que garanta a igualdade de oportunidade de aprendizagem para todas as crianças; empenhado com a edificação de novas formas de sociabilidade e subjetividade comprometido com a democracia e a cidadania (BRASIL, 2009).

As DCNEI/2009 estão organizadas em 13 artigos, que definem a concepção de currículo, de criança, de Educação Infantil, os princípios que a proposta pedagógica precisa respeitar, seu objetivo e o que ela deve garantir para que cumpra sua função sociopolítica e pedagógica. Define, ainda, procedimentos para o acompanhamento do trabalho pedagógico e do desenvolvimento das crianças (BRASIL, 2009a).

Em relação ao conceito de currículo presente nas diretrizes, que entre outros fatores é fundamental para orientar o planejamento de um trabalho pedagógico intencional de boa qualidade, ele é concebido como:

(...) um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2009a, p. 1).

Entende-se que tais práticas, pensadas e planejadas pelos professores, deverão considerar todas as dimensões da criança: motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural. Todas integradas, desenvolvidas a partir das interações com diferentes parceiros e pautadas em uma proposta curricular que assegure à criança a interação com diversas linguagens, partindo do conhecimento que já possuem e possibilitando a construção de novos conhecimentos, conforme seus interesses e necessidades.

Para orientar a construção da proposta curricular da Educação Infantil em seu Art. 9º, as DCNEI/2009 deliberam que as interações e as brincadeiras devem ser os eixos norteadores de experiências de aprendizagem que:

I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;

III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos;

IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço-temporais;

V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas;

VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;

VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade;

VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza;

IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;

X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais;

XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras;

XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos (BRASIL, 2009a, p. 4). Os modos de integração dessas experiências serão estabelecidos pelas instituições de Educação Infantil, segundo suas características, identidade, escolhas coletivas e peculiaridades pedagógicas (BRASIL, 2009a).

Vale ressaltar que todas as experiências de aprendizagens descritas nos dozes incisos do art. 9 das diretrizes elucidam diversas linguagens e, ao mesmo tempo, sua inter- relação, por isso o professor não pode trabalhá-las de modo isolado, e sim integrado. Assim sendo, faz-se presente nas experiências propostas no art. 9º a linguagem da expressão, do movimento, do corpo, do afeto, da arte, da cultura; a linguagem oral, a escrita, a matemática, a virtual, enfim, a linguagem do olhar, do gesto, do toque. Todas importantes e, ao mesmo tempo, necessárias para o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, vista aqui como a protagonista desse processo.

Desse modo, as propostas curriculares de creches e pré-escolas devem garantir às crianças experiências de aprendizagem envolvendo diversas linguagens, uma vez que o mundo no qual estão inseridas é vastamente caracterizado por diferentes formas de representação: imagens, sons, falas e escritas. Portanto, necessitam possibilitar a criação e a comunicação por meio de distintas formas de expressão, como, por exemplo, por meio de

canções e música, teatro, dança e movimento, como também por meio da língua escrita6, falada e da língua de sinais (BRASIL, 2009).