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O caderno “Educação em Direitos Humanos: Diretrizes Nacionais” tem como propósito divulgar e difundir informações sobre a educação em Direitos Humanos, no que tange o Programa Mundial de Direitos Humanos (2005-2014). Ressalta-se que é uma parceria entre a Secretaria de Direitos Humanos, a Organização dos Estados Ibero-americanos e o Ministério da Educação. De tal forma, esse documento objetiva orientar a comunidade escolar e os demais responsáveis pela educação para promover a inclusão, juntamente da prática da educação em Direitos Humanos em todos os níveis de ensino.

As ações incutidas do Caderno de Educação em Direitos Humanos são para garantir as condições necessárias para assegurar as liberdades fundamentais como: a ausência de discriminação; a ausência de miséria e o usufruto de uma vida digna; a liberdade de desenvolver e realizar o potencial humano de cada pessoa; a ausência do medo, traduzida na garantia de segurança pública; a ausência de injustiça e de violações ao Estado de Direito; a liberdade de pensamento e opinião, de participar em processos de tomada de decisão e de formar associações; e ter um trabalho digno.

O caderno proposto é um instrumento orientador e fomentador de ações educativas no âmbito da Educação em Direitos Humanos além de ser norteador na formação de sujeitos de direitos para os seus compromissos sociais. Assim sendo, a Educação em Direitos Humanos, enquanto uma proposta de política, estabeleceu-se por meio da instituição do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos – CNEDH, que mais tarde resultou na elaboração e publicação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – PNEDH em 2003, em conformidade com a exigência da ONU frente às Nações Unidas para a Educação em Direitos Humanos (1995–2004).

Ademais, o caderno tem como premissas atender aos deveres do Brasil com alguns pactos internacionais e ao cumprimento de suas próprias legislações internas, como a Constituição Federal (CF), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH), o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) e o Programa Nacional de Direitos Humanos – 3 (PNDH-3). Para tanto, a utilização deste material é irrefutável, uma vez que o mesmo

esclarece a ideia de como as Nações Unidas orientam suas ações e de como o Brasil tem feito estas recomendações.

Em seguida, as Diretrizes Nacionais foram minuciosamente aprofundadas em suas estruturas metodológicas à Educação em Direitos Humanos para promover a efetiva implementação das diretrizes e disseminá-la aos profissionais da Educação. Tudo para que se chegasse ao produto final, que é a propagação de informação e motivação aos diretores, coordenadores, gestores, professores e demais profissionais da Educação Básica para as mudanças que garantem a proteção e defesa dos Direitos Humanos nos seus ambientes de trabalho e transformação social. Já que a Educação em Direitos Humanos se sustenta em seis princípios diante das Diretrizes Nacionais de Educação em Direitos Humanos:

a) dignidade humana;

b) democracia na educação e no ensino; c) valorização das diversidades;

d) transformação social; e) interdisciplinaridade; f) sustentabilidade.

Cada um desses preceitos se explica como instrumento de disseminação e realização dos Direitos Humanos. Por fim, ao abordar as várias premissas elencadas anteriormente, faz- se necessário promover, ainda, que o documento pretende apresentar a evolução do respeito aos Direitos Humanos e defender a Educação em Direitos Humanos, além de divulgar as Diretrizes Nacionais à Educação em Direitos Humanos no que se referem aos seus princípios, dimensões, estratégias de aplicação e avaliação. O exposto no caderno foi uma interligação entre a Educação, os Direitos Humanos e a Educação em Direitos Humanos, que pôde desenvolver um breve resumo das Diretrizes Nacionais para Educação em Direitos Humanos com a perspectiva de apresentar as propostas do projeto.

Conforme Chicarino (2016): “Conscientização e comprometimento do aluno para a construção de um mundo melhor dentro e fora dos muros da escola é uma das premissas fundamentais das Diretrizes. Aqui, torna-se apropriado citar os princípios da educação em Direitos Humanos” (p. 90).

A dignidade humana ligada a uma concepção humana baseada em direitos assume diferentes sentidos, dependendo da circunstância histórica, cultural, social e política. Sendo assim, é um princípio no qual deve-se considerar o intercâmbio cultural para o real fomento dos direitos que assegurem a todos a vivência de acordo com os requisitos de dignidade.

A democracia na educação e no ensino, tem em vista que os Direitos Humanos e a democracia são fundadas nos mesmos princípios, a liberdade, a igualdade e a solidariedade, são manifestados em direitos civis, sociais, políticos, econômicos, ambientais e culturais. Além disso, não existe democracia sem observância dos Direitos Humanos e é a democracia que assegura os mesmos direitos, portanto, tais direitos se exteriorizam através de atuação. Na educação a democracia demanda o envolvimento de todos os que estão comprometidos com o processo educativo.

A valorização das diversidades é um princípio que está relacionado aos preconceitos e desigualdades, voltado a assegurar que as diferenças não virem desigualdades. Aqui, o princípio jurídico-liberal de igualdade de direitos dos cidadãos precisa ser incorporado aos princípios de Direitos Humanos, da preservação da disparidade dos indivíduos, bem como da coletividade. Portanto, igualdade e diferença são preceitos inseparáveis a fim de estimular a isonomia social.

A laicidade do Estado pressupõe a liberdade de crença reconhecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, bem como pela CF de 1988, não só acatando todas as religiões como também, respeitando as não crenças, esse princípio assegura que o Estado permaneça de fora do campo religioso e das crenças, exceto se atentarem contra os direitos fundamentais da pessoa humana, efetivando a soberania popular no que tange a política e a cultura.

Em relação a transversalidade, vivência e globalidade, deve-se atentar que os Direitos Humanos tem natureza transversal, desta forma precisam ser manejados de modo interdisciplinar. Por tratar de valores éticos, a educação em Direitos Humanos é principalmente prática, para tanto se faz necessária a aplicação de técnicas que priorizem a criação para a real efetivação destes preceitos.

Quanto a sustentabilidade, destaca-se o respeito ao espaço público como bem coletivo e de uso de todos, sendo uma das prioridades da educação em Direitos Humanos, já que o convívio em áreas públicas é uma maneira de educação para a cidadania, avançando para a dimensão política da educação e ao zelo pelo meio ambiente, seja ele local, regional ou, até mesmo, global.

5 CONTEXTO HISTÓRICO

Para contextualizar teoricamente a proposta investigativa, efetuar-se-ão nesta seção apontamentos sobre as escolhas teóricas por meio de uma concisa apresentação destes referenciais a serem alargados nas fases seguintes desta investigação e em elaborações futuras.

No panorama político e histórico brasileiro subsecutivo à Constituição Federal de 1988 se analisam, especialmente, as disputas e reivindicações por direitos e salvaguardas estatais que lhe precederam, evidenciando que as políticas públicas brasileiras apresentariam novos ordenamentos socioculturais (TEIXEIRA, 1968, SILVA, 2000; TAVARES, 2006; CANDAU, 2012; FERNANDES, PALUDETO e SACAVINO, 2006). Em contrapartida, a escola e a formação conseguida nela ainda permanecem engessadas em um arquétipo suplantado, excludente e descontextualizado às realidades pluralizadas, e acaba por avigorar índices de evasão escolar, distorção idade-série (TAVARES, 2006).

Com estes novos ordenamentos, inúmeros estudiosos têm buscado analisar e, mesmo frente às distinções teórico-metodológicas, interpretar a decadência da institucionalidade da escola, demonstrando a emergência de transformações substanciais em seus afazeres políticos, culturais e pedagógicos (DUBET, 2003, 2007). Novas políticas, conjecturas curriculares e métodos pedagógicos emergem com o apoio estatal (SILVA, 2000; SILVA, 2007) e visam a “reconstrução dos sentidos sociais” por meio das políticas de escolarização (DEWEY, 2001).

Considerada parte do direito humano à educação, a educação em Direitos Humanos é um corpo de atividades em prol da criação de uma cultura universalizada no campo dos Direitos Humanos por meio da difusão de conhecimentos, da instrução e da (re)formulação de atitudes, e esta embasada em uma tríade, a saber: a do conhecimento; a dos valores, atitudes e comportamentos; e a da adoção de medidas de promoção dos Direitos Humanos (BRASIL, 2002).

Em consonância, a prática educativa deve estar fundamentada no reconhecimento, no amparo, respeito e agenciamento dos Direitos Humanos, e deve desenvolver nos sujeitos e nos coletivos sociais as máximas capacidades enquanto sujeitos de direitos e propiciar-lhes os instrumentos e subsídios para fazê-los efetivos (SACAVINO, 2006). Educar o sujeito de direitos para que opere em conformidade com uma cultura de respeito ao outro, baseada nos princípios e valores que dignificam o ser humano, ou seja, aprimorar condutas para criação de práticas sociais que acompanhem o novo contexto societário é necessário. Segundo Piovesan (2006), é preciso fazeres que proporcionem o entendimento de que todo indivíduo deve ser considerado pela dignidade que lhe é inerente, processo de formação permanente e articulado com a realidade cotidiana e social e neste contexto, os processos educacionais são fundamentais.

A educação integral proposta atualmente (BRASIL, 2008; 2009) objetiva discutir e construir valores de cidadania e ética e colaborar para valorização e fortalecimento das múltiplas identidades, valores estes essenciais para a construção de uma sociedade baseada na justiça social. A educação integral carece agenciar: “a cidadania pautada na democracia, na igualdade, na equidade e na participação ativa de todos os membros da sociedade nas decisões sobre seus rumos” (ARAÚJO e KLEIN, 2006, p. 70). Uma vez que a participação de diversos âmbitos da sociedade acena, para as tomadas decisões, como um direito afirmado para a educação e para os demais aspectos alusivos à cidadania.

A educação integral deve ser produto de debates entre o poder público, a comunidade escolar e a sociedade civil, para que se assegure o pacto de todos com o plano educativo e com que este se baseie no respeito aos Direitos Humanos, no exercício da cidadania e na pluralidade de identidades e saberes.

Segundo Teixeira (1959), a Educação Integral só contribuirá para a transformação social se for construída sob preceitos democráticos, e respeitar as particularidades dos alunos, preconizar o ensino homogêneo e uniforme, ou seja, uma escola única, obrigatória para todos, que contemple todos os espaços de atuação da sociedade, para proporcionar a justiça, a igualdade e uma educação intelectual, ativa em valores. Essa educação deve preparar os

homens para indagar e deliberar por si sobre suas dificuldades, assim, com base na autonomia, o aluno deve aprender a lidar com questões sociais e individuais, situações da vida e suas complexidades. É por meio de um ambiente democrático, que o aluno será capaz de expressar os sentidos individuais e coletivos de respeito, de solidariedade, e ativos socialmente (TEIXEIRA, 1959).

De tal modo, acredita-se que certificar a qualidade da educação básica denota ponderar sobre o procedimento educativo em sua completude de nuances e focalizar primeiramente a afinidade da aprendizagem dos educandos com a sua vida e com a vida em sociedade (BRASIL, 2009; COELHO e CAVALIERE, 2002). Nesta conjuntura, comprova- se a precisão de romper com a escola que fragmenta os conhecimentos e, por consequência, os distancia da realidade dos educandos e cria, no ambiente escolar, a aparência de que a vida do aluno e a escola ficam remotas no tempo e no espaço e faz dos conhecimentos escolarizados sem sentido para o aproveitamento cotidiano (COELHO, 2009).

Entende-se que, assim como a Educação em Direitos Humanos, a educação para uma formação integral também corresponde ao direito à educação e assegura o desenvolvimento humano, comportamental e educacional das sociedades. Assim, na seção que segue, explicitar-se-á teoricamente cada categoria a ser abordada nesta pesquisa.