DISC USSÃO - O LEITE COMO FONTE DE FLÚOR - Análise da concentração de íon flúor em leite em pó

O LEITE COMO FONTE DE FLÚOR

2.4 DISC USSÃO

Po r vá rio s mo tivo s, o a le ita me nto ma te rno , q ue d e ve ria se r e xc lusivo a té o s 6 me se s d e id a d e , é o fe re c id o a a p e na s 62% d o s b e b ê s a p ó s o s p rime iro s 15 d ia s (SENA e t a l., 2002), a o s 4 me se s ra ra me nte a lc a nç a índ ic e s sup e rio re s a 30% (VENANC IO e t a l., 2002)

Ao s 3 me se s d e vid a , 32 a 45% d a s c ria nç a s já fo ra m d e sma ma d a s (ASSIS e t a l., 1994; PASSO S e t a l., 2000) e a o s 6 me se s, e ntre 45 e 64% nã o c o nso me m ma is o le ite ma te rno (ASSIS e t a l., 1994; LIMA; O SÓ RIO , 2003; PASSO S e t a l., 2000).

Me smo e ntre fa mília s d e b a ixa re nd a , há p re fe rê nc ia d a mã e p e lo le ite e m p ó e m re la ç ã o a o líq uid o . O c o nsumo d o le ite e m p ó no g rup o d e b a ixa re nd a e stud a d o p o r So a re s e t a l. (2000), e stá re la c io na d o à c re nç a d e q ue e sta é a me lho r o p ç ã o p a ra o b e b ê . As mã e s a p o nta ra m a p re fe rê nc ia p o r um tip o d e le ite e m p ó nã o e sp e c ífic o p a ra b e b ê s p ro d uzid o p e la Ne stlé (Ninho ®).

C o nsid e ra nd o q ue a ing e stã o e xc e ssiva d e flúo r a nte s d o s 9 me se s d e id a d e p o d e p ro vo c a r o d e se nvo lvime nto d e fluo ro se no s d e nte s a nte rio re s d e c íd uo s (TEN C ATE, 2001) e e ntre 15

me se s e 4 a no s d e id a d e no s inc isivo s, c a nino s e p rime iro s p ré - mo la re s p e rma ne nte s (EVANS; SATMM, 1991; EVANS; DARVELL, 1995; ISHII; SUC KLING , 1991), a p re o c up a ç ã o c o m a q ua ntid a d e d e flúo r p re se nte e m a lime nto s infa ntis é justific a d a .

Nã o o b sta nte a g ra nd e va ria ç ã o no s te o re s d e flúo r e m le ite ma te rno e le ite d e va c a in na tura e nc o ntra d o s na

lite ra tura , e sse s a lime nto s nã o o fe re c e m risc o a o d e se nvo lvime nto d e fluo ro se e ste tic a me nte p re o c up a nte s.

Uma c ria nç a d e 1 mê s (4,5 Kg ) q ue p o d e c o nsumir a té 900 ml d e le ite ma te rno p o r d ia (JO NES; KELTS, 1988; VASC O NC ELO S, 1997), e sta ria ing e rind o 0,02 mg F/ Kg p e so / d ia (G rá fic o 1).

0,02

0,06

0,14

0,16

0 0,07

0,14

0,21

mg F/Kg peso/dia

Nan***

Ninho**

leite de vaca**

leite materno

G RÁFIC O 1- Estima tiva d a ing e stã o d iá ria d e flúo r, d e a c o rd o c o m o s tip o s d e le ite , p a ra uma c ria nç a d e um mê s d e vid a .

* d o se má xima d e ing e stã o d iá ria p a ra nã o ha ve r c o mp ro me time nto e sté tic o p o r le sõ e s d e fluo ro se d e ntá ria

** re c o nstituíd o e d iluíd o a 2/ 3 e m á g ua c o nte nd o 0,7 mg F/ L *** re c o nstituíd o e m á g ua c o nte nd o 0,7 mg F/ L

No ta : o s c á lc ulo s fo ra m e fe tua d o s c o nsid e ra nd o a ing e stã o d iá ria d e 900 mL d e le ite .

Pa ra o le ite d e va c a , c o nsid e ra nd o uma c ria nç a d e 24 me se s (13 Kg ), q ue c o nso me c e rc a d e 750 mL p o r d ia (LO PEZ; NÓ BREG A, 1987; WO SKI, 1994), p o d e ria se r ing e rid o a té 0,006 mg F/ Kg p e so / d ia , b e m d ista nte d a fa ixa c o nsid e ra d a se g ura p a ra ing e stã o d iá ria , q ua nto a o d e se nvo lvime nto d e le sõ e s d e fluo ro se e ste tic a me nte ina c e itá ve is, le mb ra nd o q ue e sse c á lc ulo d e sc o nsid e ra o utra s fo nte s d e ing e stã o d e flúo r (G rá fic o 2).

39 0,006 0,05 0,1 0 0,07 0,14 mg F/Kg peso/dia

Ninho + Neston**

Ninho **

leite de vaca

*

G RÁFIC O 2: Estima tiva d a ing e stã o d iá ria d e flúo r, d e a c o rd o c o m o s tip o s d e le ite , p a ra uma c ria nç a d e d o is a no s d e vid a .

* d o se má xima d e ing e stã o d iá ria p a ra nã o ha ve r c o mp ro me time nto e sté tic o p o r le sõ e s d e fluo ro se d e ntá ria

** re c o nstituíd o s e m á g ua c o nte nd o 0,7 mg F/ L

No ta : o s c á lc ulo s fo ra m e fe tua d o s c o nsid e ra nd o a ing e stã o d iá ria d e 750 mL d e le ite .

Ante s d o 6º mê s, o le ite d e va c a d e ve se r d iluíd o e m á g ua a 2/ 3 (FISBERG , 1987; PENNA e t a l., 1978; VASC O NC ELO S, 1997; WO ISKI, 1994). Uma c ria nç a d e 1 mê s, q ue c o nso me a té 900 mL d e le ite d iluíd o p o r d ia , p o d e ria ing e rir 0,06 mg F/ Kg p e so / d ia , se a á g ua utiliza d a tive r 0,7 mg F/ L, d e ntro d o s limite s d iá rio s d e ing e stã o se g uro s q ua nto a o d e se nvo lvime nto d e fluo ro se d e ntá ria mo d e ra d a o u se ve ra (G rá fic o 1).

Pa ra a c o nc e ntra ç ã o d e flúo r d a s fó rmula s infa ntis e le ite e m p ó fo ra m c o nsid e ra d o s o s va lo re s e nc o ntra d o s p o r Buza la f

e t a l. (2001) e m p ro d uto s c o me rc ia liza d o s no Bra sil, e e ntre e le s o s ma is c o nsumid o s: Na n®_{1 (0,1 mg F/ L) e Ninho}®_{(0,01 mg F/ L). Esse}

tra b a lho utilizo u mic ro d ifusã o fa c ilita d a p e lo HMDS (TAVES, 1968) p a ra c o nc e ntra r to d o o flúo r d a a mo stra a nte s d a le itura .

A á g ua utiliza d a no p re p a ro d o p ro d uto ta mb é m p o d e c o ntrib uir p a ra a q ua ntid a d e d e flúo r to ta l d o a lime nto . Bra nd ã o e Va lse c ki Junio r (1998) e nc o ntra ra m me no s d e 0,7 mg F/ L e m 50% d a s á g ua s e ng a rra fa d a s no c o mé rc io d e Ara ra q ua ra e ma is d e 1 mg F/ L e m 6,25% d e la s. Ne m se mp re a s info rma ç õ e s a re sp e ito d o c o nte úd o d e flúo r e stã o c o ntid a s no s ró tulo s (G ARBIN e t a l., 2003). Entre ta nto , a c re d ita -se q ue a ma io ria d o s p a is re c o nstitui o p re p a ra d o e m p ó c o m á g ua p ro ve nie nte d o siste ma p úb lic o d e a b a ste c ime nto . Se g und o d a d o s d o IBG E (2004), c e rc a d e 45,7% d o s munic íp io s b ra sile iro s p o ssue m á g ua d e a b a ste c ime nto p úb lic o fluo re ta d a . A c o nc e ntra ç ã o re c o me nd a d a p o d e va ria r d e 0,5 a 0,7 mg F/ L e m p a íse s d e c lima tro p ic a l (HARG REAVES, 1990), se nd o

q ue no inte rio r d e Sã o Pa ulo , o níve l re c o me nd a d o é e ntre 0,6 a 0,8 mg F/ L (TAVARES; BASTO S, 1999). Na ma io ria d o s munic íp io s b ra sile iro s a q ua ntid a d e d e flúo r é muito b a ixa , va ria nd o d e 0,1 a 0,3 mg F/ L (C URY, 1994 a p ud SILVA, 1997), p o r o utro la d o , há re g iõ e s o nd e o s te o re s ultra p a ssa m e m muito o s va lo re s re c o me nd a d o s. Em e stud o re a liza d o p o r Uc ho a e Sa lib a (1970), na

c id a d e d e Pe re ira Ba rre to -SP, o s níve is d e flúo r na s á g ua s d o s d ife re nte s ma na nc ia is q ue a b a ste c ia m a p o p ula ç ã o va ria va m d e 2,5 a 17,5 mg F/ L.

Uma c ria nç a d e 1 mê s (4,5Kg ) q ue c o nsumisse o s le ite s Na n®_{1 e Ninho}®_{(d iluíd o a 2/ 3), p re p a ra d o s c o m á g ua}

c o nte nd o 0,7 mg F/ L p o d e ria ing e rir re sp e c tiva me nte 0,16 e 0,14 mg F/ Kg p e so / d ia . Assim, e xistiria a p o ssib ilid a d e d e d e se nvo lvime nto d e le sõ e s d e fluo ro se e ste tic a me nte c o mp ro me te d o ra s no s d e nte s d e c íd uo s (G rá fic o 1).

Uma c ria nç a d e 24 me se s (13 Kg ) q ue c o nsumisse d ia ria me nte a té 750 mL d e le ite Ninho®_{p re p a ra d o c o m á g ua a}

0,7 mg F/ L p o d e ria ing e rir 0,05 mg F/ Kg p e so / d ia , q ua ntid a d e a c e itá ve l, a ind a nã o a lc a nç a nd o o s limite s d e ing e stã o d iá rio s e stima d o s c o mo se g uro s, se a s o utra s fo nte s d e ing e stã o d e flúo r fo re m d e sc o nsid e ra d a s. Entre ta nto , se a o le ite fo re m a d ic io na d o s c e re a is c o mo Ne sto n®_{, q ue te m 6 µg F/ g (BUZALAF e t a l., 2002), p o r}

e xe mp lo , e sta c ria nç a p o d e ria ing e rir a té 0,1 mg F/ Kg p e so / d ia , so me nte p e lo le ite , q ua ntid a d e a c ima d o limite má ximo c o nsid e ra d o se g uro q ua nto a o d e se nvo lvime nto d e fluo ro se mo d e ra d a o u se ve ra p a ra o s d e nte s a nte rio re s p e rma ne nte s (G rá fic o 2).

Ap e sa r d a p o ssib ilid a d e d o s c á lc ulo s e sta re m sup e re stima d o s q ua nto à q ua ntid a d e d e flúo r a b so rvid o p o r e sta s c ria nç a s, já q ue a b io d isp o nib ilid a d e d o flúo r p o d e e sta r re d uzid a no s a lime nto s (SC HULMAN; VALLEJO , 1990; SPAK e t a l., 1982), d e ve - se re ssa lta r q ue o utra s fo nte s d e flúo r p o d e m e sta r se nd o ing e rid a s: á g ua , c há s, c e re a is e o utro s a lime nto s ind ustria liza d o s, a ssim c o mo d e ntifríc io s. Po rta nto , e sta s c ria nç a s p o d e m e sta r sub me tid a s a q ua ntid a d e s e xc e ssiva s d e flúo r.

2.5 C O NC LUSÃO

C o m b a se no s a rtig o s c o nsulta d o s, p o d e -se c o nc luir q ue :

• a ing e stã o d e le ite ma te rno o u le ite d e va c a nã o o fe re c e risc o a o d e se nvo lvime nto d e fluo ro se mo d e ra d a o u se ve ra e m c ria nç a s, a ind a q ue o último se ja d iluíd o e m á g ua c o m níve is ó timo s d e flúo r (0,7 mg F/ L).

• a ing e stã o d e fó rmula s infa ntis o u le ite e m p ó (d iluíd o a 2/ 3), c o me rc ia liza d o s no Bra sil, p re p a ra d o s c o m á g ua c o m níve is ó timo s d e flúo r, p o d e c o ntrib uir sig nific a tiva me nte p a ra a q ua ntid a d e d e flúo r ing e rid a d ia ria me nte .

• q ua nto a o s d e nte s p e rma ne nte s, a ing e stã o d e le ite e m p ó , me smo re c o nstituíd o e m á g ua c o m níve is ó timo s d e flúo r, nã o o fe re c e risc o p a ra o d e se nvo lvime nto d e fluo ro se mo d e ra d a o u se ve ra , se e ste a lime nto fo r c o nsid e ra d o c o mo únic a fo nte d e flúo r d a d ie ta . No e nta nto , se a e ste le ite fo r a d ic io na d o um c e re a l, p o r e xe mp lo , a q ua ntid a d e d e flúo r ing e rid o p o d e a lc a nç a r níve is p re o c up a nte s.

• a g ra nd e va ria ç ã o e ntre o s te o re s d e flúo r o b se rva d o s ne ste s p ro d uto s e m d ive rso s tra b a lho s, justific a a re a liza ç ã o

d e ma is inve stig a ç õ e s p a ra a firma r sua re a l c o ntrib uiç ã o na ing e stã o d iá ria d e flúo r p o r c ria nç a s me no re s d e 3 a no s d e id a d e .

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