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Discriminação positiva, negativa ou ambas, dentro ou fora das redações

No documento Tese de Mestrado Liliana Pêgo (páginas 88-92)

5. Análise e discussão de dados

5.5. Discriminação positiva, negativa ou ambas, dentro ou fora das redações

Apesar de, uma forma geral, as jornalistas que foram entrevistadas para este estudo não terem sofrido qualquer tipo de discriminação evidente ao integrar a redacção, poderá ter ocorrido algum tipo de evento que as tenha marcado pela negativa ou pela positiva, dentro ou fora do local de trabalho.

Ana Carolina Sequeira nunca se sentiu discriminada, mas sente que por vezes tem mais a provar:

“Muitas vezes, temos mais a provar por sermos

mulheres. Quem nos ouve, vê, está sempre de pé atrás, vendo que é uma mulher. Aquela teoria de que uma mulher bonita e toda jeitosa não percebe nada do que está a fazer ou a dizer”.

A jornalista revela que por vezes se sente incomodada com esta situação e sente que

tem que se “esforçar se calhar o dobro ou o triplo, para provar que não somos apenas

uma cara bonita. Que percebemos do que estamos a fazer e o que estamos a dizer”.

Cátia Colaço nunca notou qualquer situação “de discriminação, nem positiva nem

negativa”. No entanto, contou-nos uma história curiosa:

“Quando vim estagiar, vim com um colega rapaz.

Entrámos os dois no mesmo dia, estagiámos três meses, terminámos no mesmo dia e por acaso tive a sorte de depois ser chamada e ele não. Não creio que tenha sido discriminada pela positiva,

‘naquela’ de dar a hipótese à mulher. É só uma

curiosidade”.

Para Cláudia Lopes, “ao fim destes anos todos, nós continuamos a ser alvo de

sorriso de uma mulher, se pedirmos com educação, ajuda mais a ‘acalmar a coisa’”, especificou a jornalista. Na opinião de Cláudia Lopes, este é um meio de homens:

“É um meio de homens, onde os homens estão

habituados a trabalhar as mulheres que os rodeiam de uma forma pouco abonatória, e portanto eles têm uma relação com as mulheres um bocadinho de objetos e se não nos soubermos dar ao respeito, podemos correr riscos, se é que me faço entender, e o nosso nome, a nossa reputação é aquilo que nós temos”.

Cláudia Marques também nunca sentiu qualquer tipo de discriminação no posto de trabalho, mas considera que as reservas vêm da parte dos leitores:

“O mercado não está preparado para ter mulheres a escrever sobre futebol. (…) Eu acho que se calhar

há algumas reservas quanto ao facto de haver mulheres a escrever sobre futebol. Acredito que isso venha da parte dos leitores, mas não há dúvida que tem de partir dos jornais o primeiro passo. Mas infelizmente, ainda há algumas reservas em relação a essa área, sobretudo, que é a área mais

importante do jornal”.

Cláudia Martins nunca sentiu discriminação dentro da redação, mas sim desconfiança por parte de colegas mais velhos. No entanto, conta-nos passagens de discriminação no desempenho de funções por parte do público nos estádios:

“Nem sempre as pessoas pensam com a razão toda

quando estamos a falar do seu clube, do seu amor. Aí sim, senti discriminação. Mandarem-me ir lavar a louça, dizerem que não percebia nada de bola, ou para ir para casa tomar conta dos filhos, eram coisas que no início ouvia muito. Hoje, ouço menos porque também já são alguns anos e as

pessoas já me reconhecem, de alguma forma”.

A jornalista da Antena 1 já notoutambém que, por ser mulher, as respostas às suas

Para Inês Mota Antunes, a discriminação “existe, mas é inconsciente por parte das pessoas que mandam”. Recorda como ato discriminatório o facto de ter sido colocada na

secção cor-de-rosa do jornal, assim que integrou a redacção, “uma secção

completamente feminina”.

Inês Gonçalves não tem histórias em concreto, mas considera que por vezes há

discriminação positiva: “Às vezes tem a ver com o cuidado com que os colegas nos

tratam”.

Mariana Cabral nunca foi alvo de discriminação, mas já lhe aconteceram situações caricatas:

“Os homens riem-se sempre quando me veem

chegar, porque ainda por cima tenho 27 anos, não sou assim muito velha, e quando as pessoas me veem chegar, há sempre aquele sorriso ao perceber que é uma miúda. Há aquela reacção de surpresa, como se fosse muito estranho uma mulher em Portugal saber alguma coisa de futebol ou interessar-se por desporto. Não é assim tão estranho, é uma coisa normal hoje em dia, acho eu. Mas nunca tive nenhuma história má, só esse tipo de reação de surpresa”.

Recorda no entanto um trabalho de 20 páginas que ficou encarregue de fazer, por altura do Mundial de 2010. A editora contou-lhe que um dos diretores da altura

questionou “se uma miúda ia conseguir fazer aquilo sobre futebol. Um preconceito completo”.

Por ser mulher, Neuza Campino Padrão habituou-se desde cedo a ouvir que nunca

“vai haver ninguém a pôr-te a fazer-te desporto, não vai haver ninguém a pôr-te a fazer um relato”. E depois, tem o caso exactamente oposto, já que começou no Desporto na

Hora precisamente porque era mulher, já que “eles queriam uma voz feminina”.

Sara Marques nunca notou nada, “nem favorecimento nem desfavorecimento. Não

sei se é normal, mas eu nunca notei nada disso”.

Algumas das jornalistas que colaboraram nesta investigação revelam situações de discriminação positiva. No entanto, há ainda relatos de situações de discriminação negativa, não só nas redacções, como por parte do público.

Entendem as entrevistadas que os intervenientes desportivos têm mais cuidado a falar com jornalistas mulheres e mostram-se mais disponíveis.

No reverso da medalha, situações relatadas mostram que ainda há desconfiança perante o trabalho desempenhado pelas jornalistas na área.

No documento Tese de Mestrado Liliana Pêgo (páginas 88-92)