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A história de um jornal se mistura à história de outros jornais, de acordo com a evolução dos meios de comunicação em dada sociedade. Mas cada jornal é único e adquire sua identidade através dos conteúdos de suas páginas, do recorte temático e do tratamento dado à notícia, elementos fundamentais na relação entre o jornal e seu público leitor. A história do jornalismo em Minas Gerais caracterizou-se pela quantidade de jornais que “surgiram e

desapareceram rapidamente e também pela inexistência de grandes jornais e de um jornalismo vigoroso” (FRANÇA, 1998, p. 101).

3.2.1. Estado de Minas

Criado em 1928, num contexto em que a leitura de jornais era pouco sustentada, o jornal Estado de Minas foi aos poucos ganhando importância. De acordo com França (1998), sobreviveu à concorrência e com um grande índice de preferência com relação aos outros jornais, ganhou o renome de ser “o

grande jornal dos mineiros”. Sua história começa com a fundação do jornal

Diário da Manhã, em 1927. No ano seguinte, Pedro Aleixo, Álvaro Mendes

Pimentel e Juscelino Barbosa compram o patrimônio do Diário da Manhã e fundam a sociedade O Estado de Minas & Cia. Ltda. Em 7 de março de 1928 nasceu O Estado de Minas. Em 1929, mudou de dono. O comprador, ou sócio- majoritário da sociedade recém-formada, era Assis Chateaubriand (FRANÇA, 1998), que se transformaria num dos maiores nomes da comunicação no país.

Nesse mesmo ano, o jornal promoveu uma assembléia para se transformar em Sociedade Anônima e se integrar aos Diários Associados. A questão da propriedade do Estado de Minas é bastante complexa. Segundo França (1998), em 1959, nove anos antes de sua morte, Chateaubriand transformou seu imenso “império” em um “condomínio” e escolheu 22 jornalistas de seu staff para a empreitada: 83% do conjunto de jornais, estações de rádios e emissoras de televisão pertenciam ao condomínio e 17% a sócios anônimos. Após a morte de Chateaubriand e com as mudanças no cenário da imprensa no Brasil, o império diminuiu, mas ainda conta em Minas Gerais, com dois jornais e duas emissoras de rádio e tevê. A permanência do condomínio foi “questionada pelos herdeiros, mas a ação foi julgada

improcedente pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 1996, e o condomínio permanece” (FRANÇA, 1998, p. 102-107).

Conforme França (1998), as críticas difundidas sobre o jornal e sobre a prática política de Chateaubriand na condução de seu império jornalístico vão muito além de manobras estratégicas feitas de alianças e separações, atendendo a seus interesses. Um trabalho de análise das posições adotadas pelo Estado de Minas ao longo dos grandes momentos da vida política nacional e estadual feita por Carrato39 (1998, p. 9), citado por França (1998, p. 109),

“aponta o alinhamento sistemático e ostensivo do jornal ao lado das forças no poder” (FRANÇA, 1998, p. 109).

A análise traça evidências do tratamento privilegiado dedicado aos candidatos a cargos políticos, apresentados ou apoiados pelo Governo durante campanhas eleitorais. Esses candidatos recebiam maior espaço nas páginas do jornal que os seus rivais. A autora destaca que os comentários políticos

39

CARRATO. Imprensa e poder político: o jornalismo no processo de transformação social. p. 9, citado em França (1998, p. 110).

também foram reduzidos ou extintos com o Golpe de 1964. Em 1968, em conseqüência da doença e do afastamento do presidente Costa e Silva, o vice- presidente, Pedro Aleixo – o mesmo que foi também fundador e presidente do jornal – se viu impedido de assumir a presidência da República.

O Estado de Minas apenas ‘noticia’ o fato, silenciando sobre suas implicações. Em nome dos ‘interesses dos mineiros’, ele passa a defender os seus interesses, selecionando para publicar apenas os fatos que não colidam com esses interesses. Agindo assim, o Estado de Minas, na prática, inaugura a censura e sua redação antes mesmo dela ser implantada no país (CARRATO,

1998, citado por FRANÇA, 1998).

O trabalho desenvolvido por Antunes40 sobre jornalismo político em Minas Gerais, ressalta a “íntima convivência entre os jornalistas políticos e o

Governo e a partilha dos cargos de assessor de imprensa nas instituições públicas entre os jornalistas mais influentes”. De acordo com essa “divisão de

influência”, o cargo de assessor de imprensa do governador cabia sempre aos jornalistas do Estado de Minas, com duas exceções: no Governo Tancredo Neves, e no de Newton Cardoso, “o único momento da história do jornal em

que houve ruptura total do jornal com o governo estadual” (FRANÇA, 1998, p.

110).

Muitas vezes foi atribuída ao jornal a prática de um “jornalismo institucional” e de colaboração com as fontes. Indiferente a essas críticas, o

Estado de Minas reafirma sua “independência e compromisso com valores de sua fundação”, como foi mencionado no editorial comemorativo dos 60 anos do

jornal: “No compromisso que assumiu consigo mesmo há 60 anos, o Estado de

Minas faz uma daquelas opções essenciais à existência de um jornal: a da honestidade, a da firme e intransigente defesa dos interesses da coletividade”

(FRANÇA, 1998, p. 111).

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3.2.2. Folha de Ponte Nova

A Folha de Ponte Nova foi fundada em 1988, pelo jornalista José Carlos Itaborahy Filho, pelo professor João Batista Xavier e pelo empresário Francisco da Cruz de Carvalho. O jornal tem atualmente, uma tiragem de 3.000 cópias semanais, que circula às sextas-feiras, e é vendido em bancas e postos de venda nos bairros, além das assinaturas em Ponte Nova e região, em algumas regiões de Minas e do Brasil, e das assinaturas no exterior41.

A missão do semanário, conforme Itaborahy, é informar com “dinamismo e credibilidade”, fomentando o debate para a formação de opinião com “equilíbrio, qualidade, ética e responsabilidade social, com respeito às

demandas da cidadania”. Ainda segundo o editor, a Folha de Ponte Nova tem

como missão destacar-se como “fonte segura ao investigar e esclarecer fatos

que envolvam a consciência cívica e a luta pela preservação dos interesses e direitos coletivos”, empenhando-se “na satisfação dos clientes - assinantes, leitores avulsos e anunciantes”. Para isso, segundo o jornalista, o jornal atua na

prestação de serviços, preza pelo “desenvolvimento de Ponte Nova e do Vale

do Rio Piranga, para ser o melhor e mais conceituado semanário da região”42. O jornal tem assinantes em Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, municípios que foram afetados pela UHE Candonga.

3.2.3. Hoje em Dia

O Hoje em Dia é um jornal diário da Central Record de Comunicação, de propriedade do Bispo Edir Macedo43. Fundado em 1988, com o intuito de contrapor ao Estado de Minas, que se apresentava como o principal jornal do estado, foi implantado pelo então governador Newton Cardoso, brigado com a direção do Estado de Minas, que não lhe publicava o nome. Para fazer frente ao concorrente, o Estado de Minas promoveu uma reforma no jornal e publicou uma série de reportagens sobre as fazendas de Newton Cardoso, conseguindo

41

Estas informações sobre o semanário Folha de Ponte Nova foram adquiridas através do diretor do jornal, José Carlos Itaborahy, em entrevista via e-mail para esta pesquisa, em 30 de novembro de 2007.

42

Idem.

43

Sobre o império de comunicação construído pelo bispo Edir Macedo, ver Tavolaro, Douglas. O bispo: a história revelada de Edir Macedo. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007.

desanimar o novo empresário de comunicação. Newton Cardoso vendeu seu diário ao bispo Edir Macedo, pouco depois de deixar o governo.

O bispo Edir Macedo, que no início da década de 1990, iniciava a construção de um império de comunicação, passou a investir também em Minas Gerais. Divulgar suas idéias por meio de veículos de comunicação de massa era estratégia antiga do bispo, efetivado desde a década de 1970, quando tinha um programa na TV Tupi. De lá para os dias atuais, a evolução é notória, o que segundo os estudiosos na área, é uma das razões para seu avanço44.

Numa avaliação do jornalista Gabriel Priolli45, especialista em televisão no Brasil, as igrejas evangélicas têm “uma clara percepção do papel da

comunicação, sobretudo a eletrônica, na formação das mentalidades e na mobilização social, razão pela qual investem maciçamente nesse segmento”.

Entretanto, para Priolli, na visão do bispo, seus veículos almejam “a liderança

em seus mercados, a influência política, a solidez comercial e a prestação de múltiplos serviços como cabe aos grandes grupos de mídia”46.