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Capítulo 3 – O Plano Nacional de Educação na arena do jogo

4.1 Discursos e argumentos em campo

A ofensiva de lideranças religiosas e setores conservadores na educação brasileira através da temática de gênero e orientação sexual, como exposto neste trabalho, mobilizou inúmeros segmentos sociais e afetou o imaginário social através das “ameaças” que a presença destes temas na escola representaria para as famílias, para as crianças e para nossa sociedade. Em grande medida, as bases para o impacto frente a estes segmentos e para o desenrolar no campo político e no de produção das políticas educacionais, estiveram diretamente vinculadas a retórica e aos discursos produzidos por agentes e lideranças de diferentes campos na última década.

Por conseguinte, entendo ser fundamental para este estudo identificar quais foram os principais argumentos utilizados por estes agentes para sustentar estes discursos e suscitar o pânico moral em diversos segmentos sociais. Neste sentido, é importante detectar estes fundamentos nas falas apresentadas, bem como caracteriza-las, buscando construir um quadro que nos permita realizar uma análise mais profunda acerca da natureza dos argumentos, o propósito e o fim de cada um deles.

No que se refere às alegações construídas e expostas na tramitação e aprovação do PNE, destaca-se inicialmente a ideia de que a escola ao abrir espaço para a discussão destes

temas estaria incentivando a desconstrução de uma suposta ordem natural tanto para os papéis a serem desempenhados por homens e mulheres quanto no exercício de suas sexualidades. Desta forma, a escola também estaria impondo aos educandos o que a coalizão conservadora chamou de “ideologia de gênero”, expressão cuja origem remete os anos 1990 – como tratado no capítulo anterior- e em resposta ao crescimento do feminismo e do movimento LGBT.

De acordo com seus defensores a identidade do sujeito é definida a partir do nascimento no sexo masculino ou feminino. Ou seja, não existe para este grupo a ideia de construção social dos papéis de gênero. O sexo biológico determinaria necessariamente a identidade de gênero. Para sustentar esta noção os agentes religiosos utilizaram prioritariamente como referência “especialistas” e profissionais da área da saúde, como o Dr. Christian Schnake, médico chileno e especialista em Bioética que diz:

A ideologia de gênero é uma tentativa de afirmar para todas as pessoas que não existe uma identidade biológica em relação à sexualidade. Quer dizer que o sujeito, quando nasce, não é homem nem mulher, não possui um sexo masculino ou feminino definido, pois, segundo os ideólogos do gênero, isto é uma construção social (SCHNAKE, 2015).

Apoiando-se na legitimidade dos estudos científicos, a utilização destes discursos médicos por parte dos segmentos religiosos e conservadores tem como objetivo fortalecer um caráter “natural” do argumento apresentado. Vale lembrar que até o século XVIII, o discurso dominante na ciência construiu os corpos masculino e feminino como versões hierárquicas e verticalmente ordenadas de um único sexo.

O pensamento filosófico e médico da Europa acreditava na existência de um só sexo, o masculino. A mulher era o seu representante inferior, sendo descrita como um homem invertido. Somente no século XIX a medicina, por meio de seus saberes particulares ou auxiliares, a exemplo da anatomia, da biologia e da psiquiatria, começou a fornecer os argumentos necessários à transposição para o mundo da corporalidade de demarcações morais justificatórias de novas hierarquizações dos seres humanos (FERNANDES, 2009).

Conforme se verifica, há na perspectiva apresentada por esta coalizão conservadora a ideia de uma distribuição das qualidades físicas e morais baseada no gênero e uma impressão deste em sistemas e órgãos. A esse respeito, Fernandes (2009) afirma que esse modelo apresentado já fora defendido anteriormente em nossa história. Ou seja, a associação de uma anatomia particular servindo para justificar comportamentos morais legitimados tanto pelo discurso médico, quanto religioso e político não é algo inovador.

Portanto, o que os agentes religiosos e conservadores que vem atuando em defesa da chamada “ideologia de gênero” vêm fazendo é o resgate do discurso científico / médico que

prevaleceu até o século XIX, qual seja o do determinismo biológico. Isso implica na negação da categoria gênero e da ideia de desconstrução de relações sociais hierárquicas baseadas pelo sexo biológico:

A “ideologia de gênero” ensina que os papéis naturais desempenhados pelos homens e mulheres são, na verdade. Criações da sociedade. Assim, meninos podem se vestir como meninas e vice-versa. A “ideologia de gênero” estimula essas experiências. (CORTÊS, 2014)

Destaca-se nesta noção apresentada a identidade sendo definida a partir do nascimento no sexo masculino ou feminino e com o uso de referências médicas e bioéticas para sustentar este primeiro argumento. Neste sentido, alegam que as “imposições culturais” é que estariam levando a este novo “comportamento” de escolha entre ser homem, mulher, bissexual ou homossexual, e que coloca a identidade biofísico-sexual como algo ultrapassado:

Quando a criança nasce, não deve ser considerada do sexo masculino ou sexo feminino; depois ela fará essa escolha. Essa é a chamada ‘Identidade de gênero’ ou ‘Ideologia de gênero’. A identidade sexual resulta do modo que a criança foi educada, por isso, às vezes, é diferente da sexualidade biológica. Um dos objetivos dessa ideologia é eliminar as diferenças sexuais entre o masculino e feminino, que são determinadas por diferenças biológicas entre homem e mulher. Inclusive, já existem escolas para crianças na Suécia e na Holanda, onde não se pode chamar o aluno de menino ou menina, chama-os apenas de crianças, porque eles devem decidir quando crescerem se serão homens ou mulheres, o que é antinatural (COELHO, 2015).

Aliada a questão da identidade de gênero como algo inato, os conservadores também tratam da sexualidade como fruto da natureza humana, ou seja, não existiria orientação sexual, mas determinação a partir do gênero masculino ou feminino. Portanto, a ordem natural para este grupo é a heterossexualidade. De acordo com os preceitos defendidos por estes agentes homens e mulheres são complementares:

Percebe-se que nada disso está presente na conjunção carnal entre dois homens ou entre duas mulheres. Falta a dualidade, a complementaridade e a fecundidade próprias do verdadeiro ato sexual. Os atos de homossexualismo são uma grosseiríssima caricatura da união conjugal, tal como foi querida por Deus e inscrita na natureza. A ideologia de gênero pretende, porém, obrigar as crianças a aceitar com naturalidade aquilo que é antinatural. (CRUZ, 2014).

Nota-se também, no que se refere à sexualidade, que para estes segmentos conservadores é fundamental o vínculo com a ideia desta como sendo fruto da natureza humana e de instinto. Portanto, as “tentativas” de desconstrução do que seria o “sexo natural” são entendidas por este grupo como ataques à ordem instituída e natural da vida humana. Assim, os partidários da chamada “ideologia de gênero” reafirmam noções baseadas em determinismo biológico, tanto para gênero quanto para sexualidade, e utilizam para isto discursos médicos e religiosos e suas fundamentações, como o do professor Hermes Rodrigues Nery, especialista em Bioética (pela PUC-RJ), coordenador da Comissão

Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté, e Diretor da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família que afirma que há uma utilização da ideologia de gênero como ferramenta política para minar a família e para a desconstrução da heteronormatividade.

Outro elemento fulcral apresentado por este grupo é o da centralidade da preservação da família. Para os agentes religiosos, em especial, a defesa do modelo nuclear de família é matriz e organizador de suas posições:

Gênero, orientação sexual e identidade de gênero são palavras que você, certamente, já escutou onde esperaria encontrar o termo masculino e feminino. Mas cuidado, porque novos termos no linguajar social podem tentar esconder uma ideologia que visa desconstruir o modelo de família e sociedade como a conhecemos hoje. (CANÇÃO NOVA, 2014)

Cumpre mencionar que estes argumentos estão relacionados ao que grande parte dos setores religiosos cristãos entendem por marxismo cultural, ou seja, um conjunto de ideias que buscam trazer abaixo a cultura ocidental. O objetivo, na realidade, segundo estes agentes, seria a destruição da família, já que para o pensamento marxista a família representaria uma instituição burguesa que vai de encontro aos ideais revolucionários.

A referência veemente à defesa da família por estes agentes reforça também a ideia de que a equiparação das uniões homoafetivas à condição de família seria um desvirtuamento do que a Igreja católica, por exemplo, considera como a base da sociedade. A fala do Bispo Henrique Soares, Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju, de que a Igreja não tem “nada contra os homossexuais, mas tudo contra ao fato de que isso seja considerado família e que venha, a partir daí adoção de filhos e, assim, o conceito familiar seja tão dilatado”, ajuda a entender como tais argumentos são apresentados.

Em suma, para estes segmentos, Deus criou o homem e a mulher para a procriação e este deve ser o sentido da formação de uma família. Neste âmbito, a ideia de família a partir de laços afetivos e de arranjos é totalmente desprezada, e a chamada “ideologia de gênero” seria responsável por ensinar algo que destruiria o ser humano em sua integralidade e, por conseguinte, a sociedade, cuja célula-mãe é a família”. (SOARES, 2013).

A máxima cristã de que Deus criou homem e a mulher para “crescer e multiplicar” foi amplamente reforçada neste processo de enfrentamento ao “perigo” trazido pelas “feministas de gênero”55

e pelos “ideólogos de gênero”56 no que tange a preservação deste pilar de

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Expressão cunhada por determinadas lideranças católicas em seus textos e discursos em referência a setores do feminismo que defendem o aborto, a desconstrução dos papéis sociais e a livre orientação sexual. O termo

sustentação do cristianismo, a instituição família. Tal defesa foi feita por diversos setores cristãos, com destaque para a atuação das lideranças e membros do alto clero da Igreja Católica. O Papa Francisco, por exemplo, em entrevista conferida em 2015, ao referir-se a “ideologia de gênero” afirmou que esta seria contrária ao plano de Deus, um erro da mente humana que provocaria muita confusão e atacaria a família.

Nessa mesma entrevista o Pontífice afirmou que a Doutrina Católica não poderia ficar indiferente diante de uma ideologia que tem como objetivo atacar a família, o matrimônio, a maternidade, a paternidade, a moral na vida sexual e a vida pré-natal. Segundo esta doutrina mencionada, Deus criou o homem e a mulher, as duas sexualidades distintas, instituiu o matrimônio e a família, bem como as leis que regulam a moral. Portanto, os cristãos deveriam defender a cultura que enfatiza e respeita as diferenças entre homens e mulheres e o valor da família.

Neste mesmo discurso o pontífice lamentou “a prática ocidental de impor uma agenda de gênero a outras nações por meio de ajuda externa”, chamando isso de “colonização ideológica” e comparando-a a máquina de propaganda nazista. Para explicar tal comparação ele apresentou um exemplo de 1995 quando, disse ele, uma ministra da educação de uma região pobre foi informada de que ela poderia ter um empréstimo para construir escolas, contanto que estas utilizassem livros que ensinavam a “ideologia de gênero”, o que configuraria um caso de “colonização ideológica”, ou seja, “coloniza-se as pessoas com uma ideia que quer mudar uma mentalidade ou uma estrutura”.

Os primeiros comentários do Papa Francisco da mesma natureza foram feitos ainda em uma entrevista de outubro de 2014 publicada no livro Papa Francesco: questa economia

uccide. Nele o Papa fala dos “Herodes” modernos que “destroem, que tramam projetos de

morte, que desfiguram a face do homem e da mulher, destruindo a criação”. Ao dar exemplos, ele disse:

Pensemos nas armas nucleares, na possibilidade de aniquilar em alguns instantes um número muito elevado de seres humanos. Pensemos também na manipulação genética, na manipulação da vida, ou na ideologia de gênero, que não reconhece a ordem da criação. Com essa atitude, o homem comete um novo pecado, aquele pecado contra Deus Criador… Deus colocou o homem e a mulher no topo da criação e confiou a eles a terra… O projeto do Criador está escrito na natureza. (TORNIELLI; GALEAZZI, 2015)

estabelece uma distinção entre feministas que defendem a igualdade de direitos, as quais estas lideranças religiosas respeitam e consideram a luta, e segmentos que visam destruir com a família.

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Expressão cunhada por determinadas lideranças católicas em seus textos e discursos em referência aos pesquisadores/as, especialistas, teóricos/as e indivíduos que são referências nos estudos de gênero.

Importante resgatar que as condenações do Papa Francisco à “ideologia de gênero” seguiram os passos do Papa Bento XVI, que abordou o tema a partir da ideia de “profunda falsidade” desta ideologia e da “revolução antropológica contida nela”. Em dezembro de 2012, Bento XVI referiu-se, num discurso à cúria romana, ao uso do termo gênero como um pressuposto de uma “nova filosofia da sexualidade”, onde as pessoas se oporiam à ideia de que elas têm uma natureza, dada por sua identidade corporal, que serviria como um elemento definidor do ser humano.

No Brasil, as falas e posicionamentos destes agentes da cúpula católica repercutiram de sobremaneira, assumindo um vulto considerável e conquistando no Movimento Canção Nova ambiente propício e apto para a organização de uma retórica em torno desta temática. Os Bispos católicos do Estado de São Paulo declararam que “as consequências da introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas contradizem frontalmente a configuração antropológica de família, transmitida há milênios em todas as culturas”. Isso significaria submeter, para eles, as crianças e os jovens a um processo de esvaziamento de valores cultivados na família, fundamento insubstituível para a construção da sociedade.

Verifica-se, portanto, nos pronunciamentos e no arcabouço teórico defendido por segmentos católicos a heteronormatividade e a noção de família nuclear como pilares de sustentação da fé cristã. Propostas e segmentos que visem a desconstrução destas noções são entendidas como tentativas de desarticulação do cristianismo. Esta abarcaria desde a defesa de políticas de inseminação artificial, venda de embriões, a liberação da pílula do dia seguinte abortiva, “camisinhas” nas escolas, barriga de aluguel, células embrionárias, transitando pela liberdade da expressão artística, o mal que fazem as novelas, o perigo de alguns movimentos sociais, chegando até a ideia de cristofobia, ou seja, a perseguição aos cristãos, o laicismo e a expulsão de Deus da sociedade.

Cumpre destacar o papel precursor da Igreja Católica na batalha encampada contra o

“gênero” e sua articulação com as políticas públicas. Neste sentido, diversas instituições,

governos, partidos, movimentos e lideranças tornaram-se alvo de ataques de parcela da instituição católica como sendo responsáveis pelo risco que a existência das famílias estaria correndo. Alguns agentes, como Felipe Aquino57, chegaram a acusar organizações como a

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Doutor em engenharia mecânica pela UNESP e Mestre na área pela UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá). Possui um programa na Rádio Canção Nova, “No Coração da Igreja”, e dois programas na TV Canção Nova, “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”. É professor de História da Igreja do Instituto de Teologia Bento XVI na Diocese de Lorena. Escreve artigos e publica notícias no Portal Canção Nova e no site da Editora Cléofas.

ONU de quererem destruir a família natural, constituída por um pai, uma mãe e seus filhos (AQUINO, 2012).

Nesse contexto, tais acusações foram expressas também em referência a militância do partido dos trabalhadores e parte de suas lideranças políticas, as feministas, aos movimentos LGBT, aos segmentos das Universidades que pesquisam a temática de gênero etc. No que se refere ao PNE os ataques foram proferidos aos grupos mencionados, ampliando-se para todos que defendessem a diversidade na educação. Para estes setores religiosos e conservadores esse modelo de educação representaria na prática o que eles compreendem como “ditadura do relativismo”, ou seja, a possibilidade de múltiplas identidades de gênero, de modelos de família e de orientação sexual, combatidas por eles.

Isto significaria, segundo estes agentes, que todas as escolas, inclusive as confessionais, estariam obrigadas a ensinar seus alunos/as que o sexo masculino e feminino seriam “imposições culturais”, e que, na verdade, se poderia escolher entre ser homem, mulher, bissexual ou homossexual, sendo a identidade biofísico-sexual algo ultrapassado:

“Nesse modelo inovador de sociedade, não existiria mais homem e mulher distintos segundo a natureza, mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro ou indefinido que a sociedade – e não o próprio sujeito – faria ser homem ou mulher, segundo as funções que lhe oferecer” (DOM ANTÔNIO AUGUSTO DUARTE apud TEMPESTA, 2014).

Tais segmentos chegaram a disseminar a falsa afirmação de que a instituição que ensinasse a criança ou o jovem que existem apenas dois sexos (masculino e feminino – macho ou fêmea) poderia incorrer em crime de discriminação e preconceito: “A ideologia do gênero possui várias ferramentas para manipular a linguagem e para desinformar as pessoas, uma dessas ferramentas, e muito utilizada na cultura atual, é a palavra discriminação”, ressaltou o Bispo Antônio.

Também é importante destacar a atuação dos agentes evangélicos na constituição dessa retórica conservadora e contrária a “ideologia de gênero”. Marisa Lobo58

, uma das agentes mais atuantes desta coalizão conservadora afirmou, por exemplo, que: "A vitória da ideologia de gênero significaria a permissão de toda perversão sexual (incluindo o incesto e a pedofilia), a incriminação de qualquer oposição ao homossexualismo (crime de 'homofobia'), a perda do controle dos pais sobre a educação dos filhos, a extinção da família e a

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Psicóloga clínica brasileira, cristã, especialista em sexualidade humana com pós-graduação em saúde mental. Marisa Lobo é também colunista do Gospel+, um site de notícias evangélico. Em 2013, Marisa filiou-se ao Partido Social Cristão do Paraná (PSC).

transformação da sociedade em uma massa informe, apta a ser dominada por regimes totalitários". E acrescentou:

Muitos brasileiros ainda não entenderam o perigo da ideologia de gênero. Políticos querendo ser politicamente corretos em época de eleição estão condenando o Brasil a uma farsa que vai promover a maior guerra de gerações jamais vista. E aqui chamo a atenção também das lideranças religiosas, que tem um papel fundamental de alerta e esclarecimentos de seus membros e se fecham em suas igrejas de forma egoísta. Líderes que se alienam por vontade ou por omissão e não querem discutir o assunto, colocando em risco a própria igreja, pois não preparam os membros para conviver sem se contaminar com essas ideologias farsantes (LOBO apud MARTINS, 2014) Se os católicos iniciam os ataques a categoria gênero, ainda na década de 1990, e cunham a expressão “ideologia de gênero”, os evangélicos – através de algumas denominações e uma parcela significativa de agentes – não ficaram para trás. O crescimento demográfico e político exponencial experimentado por algumas denominações nas últimas décadas, vem sendo acompanhado de enfrentamentos públicos aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e a perseguição a população LGBT. Nessas pautas tem se estabelecido uma unidade de ação com os católicos - a despeito da disputa por fiéis no campo religioso – o que vem garantindo, por meio da junção de capitais destes segmentos, o fortalecimento da coalizão conservadora no Congresso Nacional. O quadro citado reflete como se constituiu a relação desses agentes no episódio do PNE.

Cumpre mais uma vez sublinhar a atuação destes agentes através das redes sociais. Diversas lideranças religiosas e figuras que pertencem a este círculo tiveram uma atuação preponderante em seus canais de TV, na internet e em suas colunas, contribuindo de sobremaneira para a disseminação da retórica conservadora e para vitória destes segmentos na disputa em curso naquele momento. Um dessas figuras foi o pastor Silas Malafaia:

Tem algumas feministas que se assustam quando a gente fala que a autoridade pertence ao homem e elas não sabem definir o que significa autoridade (...) E agora querem destruir as figuras da família, a desconstrução da heteronormatividade e a desconstrução dessa família nuclear. E nós vamos ver o que vai acontecer nas gerações futuras, o desarranjo social (KOREN, 2015).

No Congresso Nacional, especialmente na Câmara dos Deputados, os evangélicos protagonizaram com discursos inflamados na tribuna a empreitada contra o “risco” da “ideologia de gênero”. A unidade constituída entre estes e os católicos configurou-se de forma que agentes de ambos os segmentos atuavam na mobilização nas redes sociais, líderes católicos do alto clero pressionam as lideranças de partidos políticos e bancadas - com uma atuação de bastidores e daqueles que ao longo de toda história do país circularam pelo