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Capítulo IV Resultados e Discussã o

4.4 Discussã o geral

Num primeiro momento, analisam-se as respostas globais dos diferentes grupos chineses, seguindo depois para a discussã o relativa à s respostas globais do grupo de controlo.

Em relaç ã o aos resultados dos grupos chineses, em primeiro lugar, verifica-se que, no que diz respeito à resposta com objeto nulo, a taxa de omissã o do objeto é mais elevada do que a do grupo de controlo, como era de prever. A taxa de produç ã o de objetos nulos relativa aos trê s grupos chineses é de 35,8% nas respostas globais. Portanto, de forma geral, os participantes chineses recorrem com frequê ncia à omissã o do objeto, embora a sua taxa nã o seja superior a 50%. Importa ainda realç ar que os aprendentes de nível elementar sã o os que mostram tipicamente preferê ncia pelo objeto nulo em qualquer uma das condiç õ es testadas.

7 7 .8 0 % 0 .0 0 % 2 2 .2 0 % 6 4 .4 0 % 0 .0 0 % 3 3 .3 0 % 3 7 .8 0 % 8 .9 0 % 5 3 .3 0 % 3 3 .3 0 % 6 .7 0 % 5 7 .8 0 % 8 .9 0 % 3 3 .3 0 % 5 7 .8 0 % 1 3 .3 0 % 3 7 .8 0 % 48 .9 0 % 1 1 .1 0 % 4 8 .9 0 % 3 7 .8 0 % 8 .9 0 % 3 7 .8 0 % 5 3 .3 0 % N U L O C L ÍT I C O S N N U L O C L ÍT I C O S N R E S P O S T A S R E S P O S T A S C O N D I ÇÃO C C O N D I ÇÃO D

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Alé m disso, este estudo contrasta com o estudo de Fié is e Madeira (2016), no qual o grupo de chinê s L1 demonstra uma preferê ncia significativa pela construç ã o de objeto nulo em contexto de frases simples, evidenciando uma taxa de 55,9%. Já no estudo realizado por Gu (2019), no qual se testa o uso de clíticos por falantes chineses de PL2, estes apresentam uma taxa de produç ã o de objetos nulos de 10%, valor bastante reduzido no que concerne os resultados globais.

Some-se a isto que, embora a construç ã o de objeto nulo nã o seja a resposta preferida pelos aprendentes chineses de PL2, é uma opç ã o a que recorrem com bastante frequê ncia no processo da aquisiç ã o de PL2. No entanto, aqueles que possuem um nível linguístico mais baixo tê m uma maior tendê ncia a aplicar com mais frequê ncia o objeto nulo no seu discurso.

Ainda em relaç ã o aos grupos de falantes chineses, verifica-se que nã o demonstra uma preferê ncia pela produç ã o de pronomes clíticos, cuja taxa total é de 12,8%, sendo significativamente mais baixa do que a apresentada no estudo de Fié is e Madeira (2016), que apresenta uma taxa de 26,9% relativa à produç ã o de clíticos em contexto de frases simples. Estes resultados contrastam com os do estudo de Gu (2019), que apresentam uma taxa aproximada de 2%.29 Alé m disso, é de notar que o grupo elementar de falantes chineses nã o produz pronomes clíticos.

Relativamente à variaç ã o individual quanto à produç ã o de pronomes clíticos nos grupos chineses, constata-se que ela se concentra, de modo geral, em alguns participantes, quer do grupo intermé dio quer do grupo avanç ado, enquanto os restantes ou manifestam tipicamente a preferê ncia pelo SN pleno, ou nã o sobressai qualquer preferê ncia nas respostas. Talvez a produç ã o reduzida de clíticos em alguns participantes nã o se deva à má compreensã o do uso dos clíticos, visto que, de acordo com o estudo de Fié is e Madeira (2016), os participantes chineses de nível intermé dio mostram uma boa compreensã o dos clíticos sob contexto das frases simples, apresentando na tarefa da compreensã o uma taxa de acerto de 96,6%.

Por outro lado, segundo o trabalho de Fié is e Madeira (2016), os grupos de inglê s L1 e o de espanhol L1 preferem significativamente a produç ã o de clíticos nos seus discursos. Isso contrasta claramente com o que se observa no presente estudo quanto à realizaç ã o dos pronomes clíticos.

Entretanto, confirma-se que a produç ã o de pronomes clíticos é aquela que provavelmente apresenta menor frequê ncia na expressã o oral, no que diz respeito aos aprendentes chineses de PL2. Portanto, isto

29 É de notar que, no estudo de Gu (2019), a produç ã o do pronome nã o reflexo é testada sob contexto de oraç õ es simples, de oraç õ es completivas e de

oraç õ es adverbiais. Alé m disso, na realidade, os resultados da produç ã o do pronome nã o reflexo apresentam no grupo 1 a taxa de 1,7% e no grupo 2 de 2,8%.

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evidenciaria indiretamente a dificuldade da aquisiç ã o completa dos clíticos, uma vez que alguns dos falantes de nível avanç ado avaliados ainda nã o produzem de forma autó noma e inconsciente os clíticos em contextos em que os falantes nativos tendem a usá -los.

Em terceiro lugar, verifica-se, ainda, a preferê ncia dos trê s grupos chineses de PL2 pelo uso do SN, com uma taxa total de produç ã o de 50,7%, isto é , considerando o conjunto de todas as condiç õ es. Em particular, o grupo com nível linguístico mais avanç ado exibe uma taxa de 61,5%. Nã o se verifica uma preferê ncia marcada pelo SN em aprendentes de PL2 que possuem outra L1 diferente do chinê s, em conformidade com os estudos de Fié is e Madeira (2016) e Madeira e Xavier (2009); tal como crianç as de PL1, como as observadas por Costa et al. (2009), nã o manifestam preferê ncia pelo SN. Assim, constata-se que o grupo de língua materna chinesa mostra uma preferê ncia pelo uso de SNs, nã o observada tã o claramente em outros grupos de aprendentes de PE.

Enquanto os aprendentes chineses de nível mais avanç ado aplicam generalizadamente a estraté gia do recurso a SNs nos seus discursos orais, os participantes do grupo elementar preferem, claramente, a opç ã o do objeto nulo nas suas expressõ es. É de notar que, mesmo nã o se verificando uma significativa diferenç a estatística quanto à taxa total de uso do SN entre os trê s grupos chineses, constata-se um grande aumento do uso do SN em relaç ã o à taxa entre o está dio elementar e o intermé dio. Na secç ã o seguinte, discute-se com mais detalhe a evoluç ã o relativa ao uso dos clíticos e ao do objeto nulo, visando revelar a estraté gia de evitaç ã o e/ou a dificuldade de aquisiç ã o dos clíticos.

Como mencionado, a resposta com SN representa de modo generalizado uma opç ã o preferida para os aprendentes chineses de níveis de proficiê ncias mais avanç ados, o que també m é observado no trabalho de Gu (2019). Contudo, esta estraté gia do recurso a SNs nã o é observada em outros estudos de PL2 com aprendentes que tê m outras línguas primeiras, nem em estudos que envolvem crianç as de PL1.

Ademais, a discussã o relativa aos traç os de acessibilidade e animacidade e a sua relevâ ncia para os grupos chineses vai ser apresentada mais adiante.

Relativamente ao grupo de controlo, de modo geral, os participantes monolingues optam bastante pelo recurso ao SN, que apresenta uma taxa de 58,5% no que diz respeito aos resultados totais. Em particular, esperava-se um resultado diferente do observado na condiç ã o B (referente imediatamente acessível e inanimado), em que se previa uma resposta que comportasse um objeto nulo ou um pronome clítico. Contrá rio ao esperado, mais de metade dos falantes nativos avaliados, ou seja, 56,7%, preferem

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a produç ã o de SNs na condiç ã o B. Este resultado inesperado també m é observado nos estudos de Sopata (2016) e Flores, et al. (2020). Sopata (2016) sugere que este resultado se poderia dever ao efeito do teste experimental, uma vez que o teste experimental foi desenvolvido especificamente para crianç as. Notando a natureza mais infantil do teste, sugere-se que os participantes adultos usam mais os SNs de forma a expressar claramente informaç õ es que observam no teste, assumindo inconscientemente um discurso dirigido a crianç as.

Ademais, os falantes nativos recorrem aos pronomes clíticos no discurso, sendo a sua taxa de produç ã o de 34,1% nas respostas totais. Por sua vez, utilizam a opç ã o de objeto nulo em 7% das ocorrê ncias, uma taxa bastante reduzida comparada à s dos outros grupos testados.

Alé m disso, os falantes adultos de PL1 tê m sensibilidade ao traç o [acessibilidade] testado, ou seja, sã o capazes de distinguir facilmente o referente imediatamente acessível do nã o acessível. Quando recorrem à omissã o do objeto direto ou ao uso de pronomes clíticos, referem-se a um antecedente presente no discurso precedente. Tudo isto parece ir ao encontro quer das conclusõ es do estudo de Flores et al. (2020) relativas ao grupo de adultos, quer da teoria da acessibilidade de Ariel (1991), aplicada ao PE.

Por fim, importa ainda realç ar que os falantes monolingues, atravé s da realizaç ã o do objeto nulo, mostram-se, de forma geral, sensíveis à animacidade. Embora eles aceitem també m a omissã o do objeto inanimado ou animado em determinados contextos, nã o se constata a diferenç a estatística ilustrada na ú ltima secç ã o em relaç ã o à sensibilidade ao traç o [humano]. Por este motivo, de forma geral, o traç o [animado], e nã o o [humano], é visto como um fator decisivo na escolha dos falantes pelo objeto nulo. Este fenó meno linguístico é observado neste estudo para os falantes adultos de PL1, no que diz respeito ao uso do objeto nulo e dos clíticos, o que está em linha com hipó tese da hierarquia referencial proposta por Cyrino et al. (2000).