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É necessária a compreensão do padrão mastigatório de forma mais ampla, e, neste sentido, Simões (1979) definiu a mastigação como a somatória de ciclos mastigatórios necessários e suficientes para reduzir o bolo alimentar, sendo que o ciclo é considerado cada golpe que se faz no alimento entre os dentes. Douglas (1998) e Falda et al (1998) complementam com a necessidade do envolvimento e participação coordenada e contrátil dos vários grupos musculares: mastigatórios, linguais e faciais; além do processo rítmico da mandíbula para a realização do padrão ideal. Os três autores concordaram que, os padrões são aprendidos à medida que os dentes erupcionam, entram em contato, e por meio da própria maturação do indivíduo.

É

diferente da sucção, deglutição e respiração que são reflexos inatos. O padrão ideal mastigatório considerado é o bilateral alternado (Douglas,1998; Franco,1998; Amaral, 2000; Vieira et al 2003). Porém, Douglas (1998) estabeleceu ainda que, pessoas saudáveis com dentadura natural, podem também apresentar o padrão bilateral simultâneo e do tipo unilateral . Dentro dessa concepção de padrão de mastigação, Franco (1998), ainda discutiu o termo normalidade, tão usado para definir o padrão bilateral, que ele pode ser relativo, pois podemos ter outros que fogem do convencional, sendo confortáveis ao indivíduo.

Dentro da comparação do desempenho mastigatório entre adultos e crianças as pesquisas de Julien et al (1996), demonstraram uma redução de 50% de eficiência mastigatória nas crianças, e Pancherz (1980), usando a EMG do MM observou diminuição de atividade nas crianças. Ambos porém, não explicaram de maneira clara estas diferenças. A justificativa comum entretanto, seria mudanças das dentições e efeitos do exercício do MM com a maturação do proprio indivíduo. Poderia-se considerar neste espaço a observação de Pignataro Neto et al (2004) que se refere ao MM como um músculo de potência.

No período da dentição decídua, a mastigação foi avaliada por Vieira et al (2003). Classificaram a redução do alimento como: amassamento, bilateral alternada. Percebe-se nesta experiência a evolução e o aperfeiçoamento gradativos por que passa este processo, pois à medida que avançam na idade, mesmo ainda em fase de dentição decídua, por volta de quatro a cinco anos, as crianças vão deixando gradativamente o padrão de amassamento, aproximando-se do padrão do adulto, ou seja, o bilateral alternado.

Esta evolução foi comprovada também por Motta et al (2000), Silva et al (2003), Freitas et al (2003) e Agostini, Santana (2003), com crianças em fase de dentição mista, ou seja, um pouco mais velhas que da pesquisa anterior, na qual os resultados indicaram um padrão de mastigação maduro: mordida frontal, MBA, movimentos rotatórios da mandíbula, ausência de ruídos e restos de alimento no vestíbulo e pouco amassamento.

O padrão unilateral em crianças foi considerado por Silva et al (2003), frente ao resultado de sua pesquisa com indivíduos na idade entre quatro e nove anos, como parte do processo de maturação do sistema SE portanto, que pode ocorrer durante um longo período de tempo. Vê-se este fenômeno como um processo transitório. Já Amaral (2000) discorda que o padrão unilateral possa ser considerado normal, embora tenha encontrado na grande maioria das crianças de sua pesquisa, sem desvios de oclusão. Para ela é um processo adaptativo, que pode levar a assimetrias faciais se persistir. A individualidade característica entre forma e função deve ser equacionada dentro da avaliação clínica.

Quanto aos métodos de avaliação de padrões mastigatórios, Pancherz (1980) usou como metodologia a EMG dos MM e MT, medindo contração de forma bilateral, acreditando que esta seja eficaz para identificar o lado de preferência mastigatório. Em 2004, Pignataro Neto et al usaram para tanto, dois métodos, o eletromiográfico e o visual, comparando um e outro. O MM foi usado como referência principal porque é um músculo de potência, ao contrário do temporal, considerado como posicionador da mandíbula. Concluíram que, tanto um método quanto outro podem ser usados como parâmetro para este tipo de observação.No método visual o recurso da filmagem foi utilizada nas pesquisas de Santiago Junior (1994); Amaral(2000);Duarte (2001); Motta et al (2002); Vieira et al (2003); Freitas et al (2003) e Agostini,Santana (2003). Pode-se esperar portanto, que a utilização da câmera para gravar os movimentos mastigatórios seja um método indicado com crianças. Ferreira (2004), ainda acrescentou outro que através do ângulo funcional mastigatório pode reconhecer o lado de preferência mastigatória. Talvez a dificuldade do uso deste método seja a manipulação mandibular em crianças muito

pequenas. Há que se considerar, então, que o visual é de fácil aplicação, podendo ser usado em grande escala.

O uso de alimentos para teste de avaliação mastigatória foi na maioria o pão (Motta et al, 2000; Amaral, 2000; Duarte, 2001; Silva et al, 2003; Vieira et al, 2003; Freitas et al, 2003; Agostini, Santana, 2003; Herrmann, Ribeiro, 2003; Ferreira, 2004). A pipoca doce e coco foram usados por Santiago Junior. (1994). A Goma de mascar e amendoim por Ahlgren (1967). Somente goma de mascar por Thilander, Ingervall (1975) e Trawitzki et al (2000). Cenoura, por Pond (1986) e Pignataro Neto et al (2004). Pedaços de queijo por Keeling et al (1991) e, batata por Alarcon et al, (2000). Entretanto Julien et al (1996) usou tablete feito de silicona e, Pignataro Neto et al (2004), parafilme como material teste de movimento mastigatório.Os alimentos de escolha em testes mastigatórios com crianças devem ser de preferência aqueles que fazem parte de seu habitual.

Ainda que, não sendo proposta deste estudo, relacionar a mastigação e dominância cerebral, existiu a curiosidade de investigar a respeito. Herrmann, Ribeiro (2003) observaram a relação entre o lado preferencial de mastigação e a dominância cerebral quanto ao uso das mãos, pés, olhos e orelha. Concluíram que, cada indivíduo tem seu jeito característico próprio, portanto, nenhuma relação foi encontrada. Santiago Junior (1994) também não encontrou nenhuma correlação entre lado de preferência mastigatória e lateralidade de mãos e pés, assim como Tsarapatsani et al (2002) não identificaram qualquer correlação neste sentido e a presença de MCP unilateral.

Um trabalho clássico sobre a relação da forma de movimento mastigatório com vários tipos de má oclusão dos dentes foi realizado por Alhgren (1967). Deve ser considerado não só pela amostragem significativa (290 crianças), como pela quantidade de desenhos que foram executados (1500) sobre forma de movimento mastigatório. A metodologia extremamente trabalhosa identificou sete diferentes formas de movimentos mastigatórios, porém não relacionou padrão mastigatório e tipo má oclusão. Ressaltou, no entanto, que nos casos com MCP houve maior porcentagem de movimentos irregulares. Mais tarde, em 1975, Ingervall, Thilander também identificaram nas crianças com interferências oclusais, chamadas por eles de mordidas forçadas, o mesmo padrão, ou seja, formas irregulares de movimentos e padrão de golpe. A amostra de crianças que apresentaram MCP unilateral foi em numero de 16.

Simões (1985) foi bastante enfática quando determinou que nos pacientes com MCP unilateral o lado de trabalho é o lado cruzado, onde também a DV é mais baixa que do lado de balanceio. Pode haver, para ela, maior atividade do MT posterior do lado cruzado, com deslocamento da mandíbula para este lado; inclusive durante a posição de repouso. Os movimentos de abertura são desviados totalmente para o lado de balanceio. Ingervall, Thilander (1975) encontraram a mesma situação na posição de repouso mandibular, sugerindo que a mandíbula nesta postura é deslocada para o lado da mordida forçada.Os desvios laterais da mandíbula foram encontrados em todos os indivíduos na posição retrusiva e máxima intercuspidação. Com ela e, nesta mesma linha, a proposta de Planas (1988) foi rígida neste sentido e afirmou que, o lado cruzado é o lado funcional, ou seja, o lado preferencial de mastigação. Em concordância estão os resultados de Santiago Junior (1994), com

uma amostra de três crianças com MCP unilateral, que também identificou nelas a mastigação no lado da MC. Oliveira (1997); Oliveira, Passini (2002), justificando a mesma filosofia, acreditaram que na MCP unilateral, a mandíbula desvia para buscar intercuspidação máxima, geralmente para o lado cruzado e então, este passa a ser o lado de preferência de mastigação. Douglas (1998), estudando sobre mastigação unilateral, relaciona como causa entre outras, as interferências oclusais, porém não determinou se nas MC, isto acontece somente do lado cruzado. Ainda neste mesmo grupo, Gribel (1999), baseando-se na lei de mínima DV, acredita que a mandíbula seja desviada para o lado da MC, pela contração dos feixes oblíquos e posterior do MT e pterigóideo medial e lateral do lado não cruzado, onde passa a ficar mais próximo do crânio, e por isso passa a ser o lado de predominância mastigatória.

Mandetta (1994) considerou, de forma determinante, que o padrão de mastigação unilateral e restrito é de conveniência, ou seja, de adaptação à dor, perda de dentes e desarmonias oclusais, e a mastigação, nestes casos, vai ser realizada do lado mais confortável. Assim como para Bianchini (1999), a mastigação unilateral é um mecanismo adaptativo para assegurar o mínimo trauma aos tecidos de suporte. Da mesma opinião foram também Ferreira (2004) e Simões (1985). Somaram ainda às causas anteriores citadas, o uso de alimentos de textura branda, que pode levar à mastigação unilateral pela falta de desgastes dentários fisiológicos e, como conseqüência a instalação de MCP, alterando a morfologia da face. Já Pond et al (1986), ao contrário, consideram que sensibilidade dental, mobilidade, DTM, dores musculares e articulares não estão correlacionadas com o lado de preferência mastigatório. Na prática diária, porém, principalmente nas sensações

dolorosas, observa-se a escolha do lado de mastigação, exatamente ao oposto do lado sensível.

Percebe-se muitas variáveis entre os autores, quanto à influência da MCP e a atividade da musculatura mastigatória. Usando a EMG como parâmetro de medição, Ferrario et al (1999), identificaram que os MM e temporal anterior contraíram com modelos assimétricos e alterados nos sujeitos portadores de MCP nos dois lados, porém foi maior no lado da MC, sugerindo que esse fato pode levar a problemas de dor e fadiga muscular no futuro. Este estudo está em concordância com a pesquisa de Ingervall , Thilander (1975), apenas com relação ao MT e não com o MM, pois não houve diferença para esse músculo na sua pesquisa. Entretanto, é discordante dos resultados de Alarcon et al (2000), e Trawitzki et al (2000) no qual o MM se apresentou simétrico para ambos os grupos, ou seja, os sujeitos com MCP e os de oclusão normal. Este fato fez com que eles acreditassem que o padrão mastigatório fosse bilateral, para ambos os grupos. Já Mello et al (2000), consideraram que não há relação entre sintomatologia da musculatura mastigatória e MCP. Trawizki et al (2000), ainda observaram que as diferenças encontradas para a atividade muscular quanto ao lado de trabalho em ambos os grupos foi maior nos pacientes que exibiam uma dieta alimentar mais consistente. Assim também Bianchini (1998), obsevou maior potência nos MM, temporal e bucinador do lado de trabalho.

Quanto ao lado de preferência mastigatória e MCP unilateral, tanto Martin et al (2000),como Trawitzki et al (2000) não observaram relação entre o lado de mastigação e o da MC nas suas pesquisas. Duarte (2001) encontrou nos seis casos analisados os três tipos de padrões, com prevalência de MBA. Keeling et al (1991)

foram da mesma opinião, quando concluíram nos seus trabalhos, que pacientes portadores de MCP unilateral mastigaram tanto do lado cruzado, quanto do lado não cruzado. A própria autora reconhece a escassez da casuística e recomendou outros estudos sobre o assunto.

Com relação a MCP e o comportamento da mandíbula e das ATMs, ainda que não objetivo central do estudo, mas, por influência de repercussões nos deslocamentos mandibulares nestes desvios de oclusão, faz-se necessária a abrangência de trabalhos. Os resultados de Silva Filho et al (1992), utilizando-se de radiografias transcranianas da ATM direita e esquerda, levaram a afirmações de que as interferências oclusais ocorrentes nas MCP unilaterais modificam a relação côndilo fossa articular. Da mesma forma Maruo et al (2003), através de radiografias panorâmicas, também registraram assimetria condilar. Gribel (1999) observou anteriorização do côndilo, nos pacientes com MCP. E´ de se esperar que em pacientes portadores de MCP unilateral funcional com desvio de linha mediana haja modificações nas posições condilares.Lam et al. (1999), complementam esta idéia de que, devido ao lado funcional, a mandíbula era desviada para o lado cruzado e o ponto gônio do lado da MCP foi desviado para trás, promovendo, conseqüentemente, a relação molar em Classe II (de Angle) com subdivisão, três vezes mais no lado cruzado que no não cruzado. Procaci, Saturnino (2002) foram tambem concordantes, neste sentido.Além disso, não se pode deixar de salientar a presença de hipertrofia no sentido póstero-anterior do ramo mandibular, no lado oposto ao da MCP, como reflexo da mastigação unilateral no lado cruzado, sugerida por Planas, (1988).

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