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3 ASSOCIAÇÃO ENTRE OS ASPECTOS INTRAPESSOAIS,

4.5 DISCUSSÃO

Os resultados desse estudo mostram que existem múltiplas interações entre os aspectos psicossociais e ambientais para explicar a atividade física de lazer em adultos. Esses resultados reforçam empiricamente os pressupostos da teoria socioecológica da influência de variáveis de múltiplos níveis na atividade física (SALLIS et al., 2008). Foram observadas quatro interações significativas (Figura 11 a-d). De modo geral, as interações suportam que a proporção de indivíduos que atendem às recomendações de AF na caminhada e AFMV é maior entre aqueles com percepção positiva do ambiente e dos aspectos psicossociais para AF. Pode-se verificar duas aplicações desses achados para a promoção da AF: intervenções necessitam focar conjuntamente em mudanças do ambiente comunitário e desenvolver estratégias para aumentar as percepções psicossociais positivas em relação à AF; por outro lado, deve-se considerar que o padrão das interações varia de acordo com o desfecho de AF analisado, assim parece coerente analisar o efeito destas interações em relação ao tipo específico de AF (ex: caminhada, AFMV). Estas recomendações são baseadas nas interações observadas. Assim, a prevalência de indivíduos ativos foi entre 6,9-24,0% mais elevada entre aqueles com percepções favoráveis do ambiente AF (vs. não favoráveis) e percepção psicossocial positiva em relação AF (Figura 11 a-d). Outra interpretação para as interações é de que a associação entre os aspectos do ambiente do bairro e atividade física somente é significativa entre aqueles que apresentam percepções psicossociais maiores em relação à atividade física.

Na análise da caminhada, apenas uma interação foi significativa (Figura 1a). Houve uma maior prevalência (+ 9,9 pontos percentuais) de ativos (≥  150  min./sem.)   na caminhada, entre aqueles com maior acesso a espaços de lazer/recreação e com apoio dos amigos, quando comparado a indivíduos com baixo apoio social e menor acesso a espaços de lazer/recreação. Esses resultados são consistentes com outros estudos que indicam que maior acesso a espaços de lazer/recreação interagem com o apoio social para caminhada (DING et al., 2012). O fato de perceber que existem espaços para atividades físicas próximas à residência tem sido associado com atividade física (WENDEL-VOS et al., 2007), mas parece que o estímulo para fazer com que o indivíduo utilize esses espaços para caminhar é dependente do apoio dos

amigos, que pode representar o significado de realizar a atividade. Em relação à AFMV, foram encontradas quatro interações significativas (Figura 3 b-d). A proporção de ativos em AFMV foi 9,1 pontos percentuais mais elevados em indivíduos que residem em locais com alta densidade residencial e elevada satisfação para AFMV (Figura 1 b). Da mesma forma, indivíduos com percepção positiva em relação à estética do bairro e que possuem apoio social da família foram mais ativos em AFMV, do que aqueles com baixo apoio da família, mas percebem o bairro com a estética desfavorável para AFMV (Figura 11 c). Por fim, a associação entre a segurança relacionada à crimes no bairro foi associada com AFMV, porém apenas entre aqueles com elevada autoeficácia para AFMV (Figura 11 d).

Embora não exista um padrão claro nas interações entre as variáveis analisadas, os resultados indicam um efeito combinado entre variáveis de diferentes níveis na atividade física. Esse efeito combinado pode ter um papel importante no entendimento, na promoção de atividade física (DE GREEF et al., 2010; SALLIS et al., 2008). Essa falta de padrão nas interações também foi observada em outros estudos (DING et al., 2012), e sugerem que as interações são específicas em relação ao domínio e tipo de atividade física e contexto analisado (CARLSON et al., 2011; DING et al., 2012). Nesse estudo, foi observado um maior número de interações com AFMV. Isso pode ser devido à seleção de locais próximos à áreas de lazer/recreação, que pode estimular a atividade física em níveis mais elevados. Promover estratégias de intervenção que englobem vários níveis de influência na atividade física pode contribuir com a maior efetividade dessas intervenções. Um protocolo de intervenção em idosos, baseados em múltiplos níveis de ação e avaliação propõem que atividades como grupos de apoio a atividade física ligações de incentivo, reconhecimento de barreiras pessoais e do ambiente, fazer com que os indivíduos conheçam os espaços disponíveis para atividade física no bairro, podem geram efeito mais prolongado em programas de promoção da atividade física (KERR et al., 2012).

O estudo apresenta pontos fortes. As medidas dos aspectos psicossociais foram realizadas de modo específico para cada desfecho, caminhada e AFMV, utilizando escalas válidas para a população; trata-se de um dos primeiros estudos na América Latina, que incluiu análise de interações com modelos multiníveis, que são mais robustos por considerar as variações entre os clusters selecionados para a amostra; este é um dos poucos estudos que trata do papel de variáveis de diferentes

níveis de influência na atividade física de modo simultâneo, o que pode contribuir com o entendimento da elevada prevalência de inatividade física (GUTHOLD et al., 2008; HALLAL et al., 2003; LEE et al., 2012); a utilização de um método de entrevista face a face e domiciliar é importante para garantir a qualidade das medidas e também a aleatoriedade da amostra. Algumas limitações devem ser consideradas para interpretação dos resultados. Esse estudo apresenta um delineamento transversal, o que não permite estabelecer relação de causa e efeito; a amostragem não é representativa de Curitiba, e os resultados aqui podem não representar toda a cidade, assim, a extrapolação dos resultados para outros locais, deve ser realizada com cautela. Apesar disso, o objetivo foi testar algumas hipóteses e, para tanto, o tamanho da amostra é considerado adequado.

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