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Neste estudo foi possível observar uma associação positiva entre a ingestão adequada de potássio e uma boa adesão à DM, tanto em homens como em mulheres, idosos. Estes resultados corroboram com os de um estudo realizado em França e que incluiu 1595 indivíduos idosos, com o objetivo de descrever a associação entre uma boa adesão DM e a ingestão de energia, macronutrientes e micronutrientes. Verificou, que o consumo de potássio aumentou com uma boa adesão à DM em homens e mulheres (35). A associação negativa entre uma boa adesão à DM e a ocorrência de HTA, também foi descrita por Verde, et al, 2018, que estudou uma amostra de 1937 adultos. Os resultados deste estudo indicaram que uma boa adesão à DM, foi inversamente associada à HTA, no entanto, esta associação não permaneceu significativa após o ajuste para a ingestão de sódio e de potássio. O facto de neste último estudo os resultados não incluírem a ingestão de potássio, não terem sido estratificados por idade e os indivíduos acima de 64 anos representarem apenas 23,3% do total da amostra, limita a comparação com o presente estudo (55, 56).

A DM é considerada um padrão alimentar completo e equilibrado, que se traduz em inúmeros benefícios para a saúde, tendo em conta a sua riqueza em fibras, ácidos gordos mono e polinsaturados, vitaminas e minerais, dos quais se destaca o potássio (34, 42). Caracteriza-se por privilegiar o uso do azeite como principal gordura; o consumo abundante de alimentos de origem vegetal (fruta, produtos hortícolas, leguminosas e frutos gordos, como as nozes e amêndoas); o consumo diário e generoso de batatas e de cereais e derivados, como arroz, pão e massa; consumo de alimentos pouco processados, frescos e de época; consumo moderado de produtos lácteos com baixo teor de gordura; consumo moderado de peixe e ovos; menor consumo de carne vermelha (preferência pelas carnes magras); consumo moderado de vinho (geralmente às refeições), integrados num estilo de vida saudável (34, 42, 29).

Diversos trabalhos científicos têm consistentemente sugerido que a DM está associada a um menor risco cardiovascular (34, 57). Entre os principais fatores de risco, o menor peso corporal parece associar-se à adesão à DM, e por sua vez, melhoria da saúde metabólica, aumentando assim a longevidade e a qualidade de vida (32-34). Numa meta-análise recente com ensaios em ambiente controlado, randomizados com o objetivo de avaliar o efeito dos diferentes padrões alimentares na

redução da HTA, concluiu-se que um padrão como a DM era eficaz na redução da pressão arterial (36).

O potássio está presente em todos os alimentos de origem natural, destacando-se, raízes e tubérculos amiláceos, hortícolas, leguminosas e frutas (17). Segundo o estudo de McDonough, et al, de 2017, o potássio é um mineral crítico na regulação da pressão arterial, porque atenua os efeitos negativos da ingestão de sódio em excesso através da redução da pressão sanguínea, diminuindo assim o risco cardiovascular (12).

O estudo PREDIMED foi desenvolvido em Espanha e teve duração de 4 anos, com o objetivo de testar a eficácia da DM na prevenção primária da doença cardiovascular (31, 58). Este estudo piloto observou um efeito positivo a longo prazo em participantes com elevado risco cardiovascular, durante um acompanhamento de 3 meses (31), e relatou que o PREDIMED se trata de uma ferramenta válida para avaliar a adesão ao padrão alimentar mediterrânico na população (37). No presente estudo, a adesão à DM foi avaliada pela ferramenta PREDIMED, a qual se revelou efetivamente interessante para indicar a adequação (indiretamente) da ingestão de potássio. Embora, esta ferramenta não tenha sido validada para a população portuguesa.

A excreção de potássio foi utilizada na caracterização da ingestão alimentar de potássio através do método urina 24h. A quantidade da excreção de potássio neste

estudo, encontra-se abaixo do valor mínimo recomendado pela OMS (≥3510 mg/dia,

para adultos) (16). O mesmo se verificou em sub-grupos da população portuguesa de outras faixas etárias, como numa amostra de 250 adolescentes portugueses entre os 13 e 18 anos, em que a excreção urinária média de potássio foi de 2237 mg/dia para os rapazes e 1904mg/dia nas raparigas. Os autores discutem que a baixa ingestão pode ser explicada pela baixa adesão à dieta tradicional mediterrânica e ao alto consumo de alimentos processados e ao baixo consumo de hortícolas nestes indivíduos (42), embora não tenha sido avaliada a adesão à DM nesta amostra de adolescentes.

Os indivíduos mais novos de ambos os sexos apresentaram maior prevalência de adequação da excreção urinária de potássio. Embora neste estudo não se tenha avaliado a ingestão energética, a diferença entre os indivíduos idosos mais novos e os mais velhos, pode ser explicado pela menor ingestão energética com o envelhecimento (59). As necessidades energéticas (taxa metabólica de repouso, termogénese e atividade física) diminuem e consequentemente a ingestão alimentar e

deste micronutriente pode estar comprometida, uma vez que, pode estar positivamente correlacionado com a ingestão energética total (60).

Os homens casados apresentam uma maior prevalência de adequação na ingestão de potássio, já a prevalência de indivíduos classificados com boa adesão à DM foi superior nos indivíduos casados de ambos os sexos. Por outro lado, especula-se que indivíduos divorciados, separados ou viúvos possam apresentar uma alimentação nutricionalmente mais pobre, consumindo refeições mais industriais e ingerir menos refeições preparadas em casa ricas em hortofrutícolas, como sopas e saladas (61, 62), o que pode explicar a sua menor adequação na ingestão de potássio e uma menor adesão à DM. Pelo contrário, a adequada ingestão de potássio aliada a uma boa adesão à DM em indivíduos casados, pode refletir escolhas alimentares saudáveis e refeições preparadas em família (63, 64).

Conclui-se também que os indivíduos do sexo masculino residentes nos arquipélagos da Madeira e Açores obtinham uma maior adequação na ingestão de potássio e os residentes no Alentejo e Algarve uma boa adesão à DM. O clima, características

geomorfológicas, história, cultura e tradições alimentares, marcadamente

mediterrânicas, são os principais responsáveis nesta análise (65). Pela sua posição geográfica, o Alentejo e o Algarve, apresentam um clima temperado, com mais de 3000 horas de sol por ano e baixa pluviosidade anual. Apresenta características morfológicas e geológicas próprias que permitem a produção de produtos agrícolas, assim como uma agricultura mais intensiva, como a horticultura e a produção de citrinos. Nesta zona podemos ainda encontrar o cultivo de cereais como o trigo e a cevada, e de leguminosas. A cozinha tradicional algarvia e a cozinha alentejana apresentam similitudes, na medida em que, ambas se caracterizam pela frugalidade e parcimónia, nomeadamente no que concerne ao consumo de alimentos de origem animal, que nunca representam o elemento principal na alimentação quotidiana. É uma cozinha familiar, de carácter rural, que faz uso dos recursos alimentares locais, os quais rentabiliza com criatividade, respeitando a sazonalidade e a biodiversidade, proporcionando uma alimentação saudável e nutricionalmente adequada. Muitos destes alimentos e formas de os combinar estão intimamente ligados às várias civilizações, a maioria oriundas de países mediterrânicos, que se fixaram no Algarve e no Alentejo. As raízes mediterrânicas da cozinha algarvia e Alentejana estão evidentes nos seus elementos fundamentais, dos quais se salientam o pão, o azeite, as leguminosas, os produtos hortícolas, os frutos, o alho, o peixe, as ervas aromáticas

condimentares e o vinho (64, 65). Assim sendo, é explicável a boa adesão à DM nestas regiões.

Relativamente à escolaridade, homens com um nível de instrução superior, apresentaram maior prevalência de boa adesão à DM. Estudos publicados anteriormente, indicam que um nível de ensino superior se traduz numa maior literacia nutricional associada a maior poder de compra que facilitam a adesão à DM (66).

Considerando a ingestão inadequada de potássio e a baixa adesão à DM no presente estudo, considera-se pertinente a implementação de estratégias no sentido de aumentara ingestão de potássio através da promoção da adesão à DM, como uma prioridade na população idosa portuguesa, dada a elevada prevalência de HTA nesta população. A ingestão inadequada de potássio tem efetivamente sido associada a uma maior prevalência de HTA e DCV (67), existindo evidências científicas sobre o papel de uma ingestão adequada de potássio na diminuição do risco cardiovascular (7) e na redução da pressão arterial em hipertensos.

Assegurar a recomendação da OMS para o consumo de pelo menos 400 g de hortofrutícolas por dia é uma das estratégias cruciais para aumentar a ingestão de potássio, uma vez que diversos hortícolas apresentam quantidades apreciáveis deste mineral. Segundo Santos, et al, 2018, a presença da sopa nas duas refeições principais permite assegurar cerca de 79% da recomendação diária para a ingestão de potássio (2756 mg). A presença de leguminosas como feijão, numa das sopas também contribui de forma relevante para o aumento do seu teor de potássio. O consumo de 3 porções de fruta por dia, permite assegurar cerca de 30% da recomendação diária para a ingestão de potássio (1046 mg). Deste modo, cumprir as recomendações para a ingestão diária de pelo menos 400 g de hortofrutícolas, por exemplo, através do consumo de duas sopas e três peças de fruta por dia pode ser uma estratégia para conseguir atingir as recomendações para a ingestão de potássio (20).

No entanto, nesta faixa etária as restrições económicas podem ser uma barreira, considerando que a adoção a padrões alimentares com alta densidade nutricional e baixa densidade energética, nomeadamente no caso da DM, poderá acarretar custos económicos mais elevados (68). Desta forma, incentivos a uma política de preços que permita aumentar a acessibilidade a estes alimentos, poderão facilitar uma maior adesão à DM e consequentemente uma maior ingestão de potássio.

Campanhas de sensibilização com mensagens direcionadas aos consumidores, sobre o impacto deste mineral na saúde e os benefícios deste padrão alimentar deverão ser implementadas, com foco não só em crianças e adultos, mas também para idosos.

Apesar das forças deste trabalho, devem também ser tidas em conta algumas limitações. O estudo Nutrition UP 65 é um estudo transversal e, portanto, nenhuma associação causal entre a excreção urinária de potássio e adesão à DM pode ser inferida. Além disso, o estudo inclui uma única recolha de urina 24h por participante, podendo não abranger a variabilidade biológica da excreção de potássio em 24h, o que pode não representar o comportamento alimentar habitual dos indivíduos. No entanto, o método utilizado também pode ser considerado como uma força do estudo, já que a excreção urinária de 24h é considerado o método gold standard para a avaliar a distribuição e o consumo médio de potássio numa população (41).

Os recursos disponíveis e o cronograma do projeto Nutrition UP 65 não permitiram a inclusão da avaliação da ingestão alimentar dos participantes, o que impede a estimativa das fontes alimentares de potássio, que seriam úteis na definição de estratégias para melhorar a sua ingestão nas populações mais velhas.

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