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Neste trabalho, oito derivados sintéticos foram testados em relação a capacidade de inibição de cinco atividades tóxicas in vitro (proteolítica, hemolítica, coagulante) e in vivo (hemorrágica e edematogênica) do veneno de L. muta e B.

jararaca. Em cada atividade, os derivados foram capazes de inibir tais ações tóxicas,

entretanto com potências diferentes.

Na maioria dos estudos com moléculas com potencial antiveneno, o desenho experimental consiste na incubação destes com o veneno da serpente por um período de tempo, e em seguida a atividade tóxica é realizada. Inclusive, o teste de potência dos soros também é realizado desta forma. E, tal protocolo não simula uma situação real de envenenamento, que a serpente defere seu bote, injeta o veneno na vítima, e em seguida, o vitimado se desloca até um hospital que tenha estrutura e os antivenenos, e dessa forma recebe o soro. Desta forma, nesta tese desenvolvemos um protocolo designado de “tratamento”, com objetivo de simular de forma mais fidedigna uma situação de envenenamento, e o realizamos na atividade hemorrágica e edematogênica. Com isso, foi possível observar a eficácia dos derivados sintéticos quando injetados nos animais depois de receber a injeção do veneno.

Os derivados sintéticos avaliados neste estudo neutralizaram todas as atividades tóxicas dos venenos de L. muta e B. jararaca. Contra o veneno de L.

muta, na atividade coagulante, o derivado TRI 17 foi o mais ativo, prolongando o

tempo de coagulação do veneno até 300 segundos, tempo esse cinco vezes maior em relação ao controle. A enzima diretamente envolvida da coagulação sanguínea é da classe das serinoproteases, que por não ativar o fator XIII da cascata de coagulação, não possibilita a estabilidade do coágulo; além dessa enzima gerar outros microcoágulos através da clivagem de outras proteínas da cascata de coagulação (Oliveira, 2011). E, para a atividade hemolítica com veneno de L. muta, os derivados TRI 18 foram mais ativos, pois inibiram a ação do veneno em 60%, o TRI 17 neutralizou 55% e o TRI 16, 40%. Na hemorragia causada pelo veneno de L.

muta, o TRI 07 reverteu em 60% a atividade do veneno, e o TRI 17 em 40%. O TRI

08 inibiu 30% a atividade edematogênica do veneno de L. muta. De Paula (2009) ressaltou que as fosfolipases A2 estão envolvidas diretamente em diversos efeitos observados no envenenamento, como hemólise, indução de edema e hemorragia.

72 No tratamento da atividade hemorrágica no tempo de 30 minutos, o derivado mais ativo foi o TRI 07, que neutralizou 50% esta atividade tóxica causada pelo veneno de

L. muta, enquanto que no tempo de 45 minutos, os derivados inibiram entre 30% e

60% a hemorragia. Além do protocolo “tratamento”, decidimos investigar uma outra abordagem metodológica, que consistiu na injeção dos derivados, e em seguida a injeção do veneno. Este protocolo foi denominado “prevenção”. E, sua importância reside no fato de para alguns trabalhadores seria uma vantagem fazer uso de alguma molécula que pudesse proteger contra ações tóxicas do veneno e/ou diminuíssem os efeitos deletérios do veneno, caso houvesse um envenenamento. Os resultados neste protocolo mostraram que, quando os derivados foram injetados 30 minutos antes do veneno, houve uma inibição de 20 a 40%, e no tempo de 45 minutos, a redução na hemorragia foi de 50% no tempo de 30 minutos. O último protocolo realizado foi, gavagem. No tempo de 30 minutos, a hemorragia foi inibida entre 20 a 30%, e no tempo de 45 minutos, foi cerca de 40% a neutralização da hemorragia causada pelo veneno de L. muta. Das atividades realizadas com o veneno de B. jararaca, o derivado TRI inibiu 80% a atividade proteolítica do veneno. Na atividade coagulante, o derivado TRI 16 prolongou o tempo de coagulação em 500 segundos, o TRI 07 em 400 segundos, e os derivados TRI 08 e TRI 09 prolongaram em 300 segundos. Na atividade hemolítica causada pelo veneno de B.

jararaca, todos os derivados atingiram quase 100% de inibição. Na hemorragia

causada pelo veneno de B. jararaca, o derivado TRI 07 foi bem promissor, inibindo 70% a atividade, e o TRI 08 e TRI 09 inibiram esta atividade em cerca de 50%. O TRI 18 reverteu 30% do edema causado pelo veneno de B. jararaca. No protocolo tratamento no tempo de 30 min, o derivado TRI 07 inibiu 20% a hemorragia do veneno de B. jararaca, e 60% no tempo de 45 minutos. Pereira Junior (2018) reproduziu o experimento para atividade hemorrágica (protocolo tratamento) com extratos brutos de espécies de restinga e obteve inibição de 100% contra o veneno da serpente B. jararacussu, porém, cabe ressaltar que já que não foi isolado nenhum componente desses extratos, não se sabe ao certo qual elemento foi responsável por essa inibição. Já no protocolo prevenção no tempo de 30 min, o TRI 09 inibiu 80% a hemorragia pelo veneno de B. jararaca, e o derivado TRI 09 inibiu 80% desta atividade no tempo de 45 min. Com o protocolo gavagem (atividade hemorrágica) foi

73 obtida no tempo de 30 minutos uma inibição de até 50% da atividade, enquanto que no tempo de 45 minutos, a hemorragia foi inibida em cerca de 40%. Rodrigues, (2016) investigou a ação de polissacarídeos de algas marinhas contra a hemorragia causada pelo veneno de B. jararaca (protocolo gavagem), protocolo semelhante ao deste trabalho, e obteve inibição de 20% a 50%. Com base nestes resultados, podemos estudar a possibilidade de fazer sinergismo entre os derivados sintéticos deste trabalho com a finalidade de atingir 100% de inibição em todas as atividades tóxicas causadas pelo veneno de L. muta e B. jararaca, pois os venenos de serpentes são bem complexos e atuam em diversos sistemas fisiológicos, e desta forma, seria difícil inibir a ação destas moléculas do veneno com apenas uma estrutura química. Além disso, uma mistura dos derivados (moléculas sintéticas) e polissacarídeos de algas marinhas (moléculas naturais) poderia ser explorada esta possibilidade, a fim de preparamos um coquetel com as moléculas mais promissoras.

Este estudo desdobrou no desenvolvimento racional de moléculas com potencial antiveneno, e por isso, os estudos de modelagem molecular são de extrema relevância, pois através da substituição (inserção/deleção) de alguns radicais dos derivados por outros considerados mais ativos, a fim de aumentar a potência na inibição das atividades tóxicas dos venenos. Também é possível a realização de outras pesquisas envolvendo a aplicação de biomarcadores de proteínas (fosfolipase A2). Gonçalves (2014) descreveu que o método de monitoramento enzimático permite a visualização da proteína, além de ser capaz de realizar a triagem dos derivados capazes de neutralizar algumas proteínas do veneno.

Oukkache (2014) ressalta a importância de se obter uma padronização de protocolos para certas atividades tóxicas dos venenos realizadas. Isto se dá dentre outras coisas, pelo veneno por vezes apresentar algumas alterações de composição de acordo com algumas características, tais como: as estações do ano, localidade da incidência da serpente, sexualidade, hábitos, etc. Ainda há diversos protocolos a serem implantados nesse estudo para que se possam explorar todas as possíveis ações dos derivados sintéticos em diferentes atividades tóxicas do veneno das serpentes L. muta e B. jararaca.

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