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5.1 AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE RECOLHA DE RESÍDUOS PELOS PORTUGUESES

Em 2016 foram produzidos 2 538 milhões de toneladas de resíduos pelos estados-membros da União Europeia em todos os sectores económicos. Em Portugal, o maior valor foi atribuído ao sector de “outras atividades económicas”, maioritariamente serviços, representando 35% dos resíduos produzidos a nível nacional, seguido dos resíduos domésticos com 33% (Eurostat, 2019). Os dados indicam que Portugal apresenta uma taxa de reciclagem de resíduos municipais de 28,9%, sendo este valor muito inferior ao da média dos países da União Europeia, que se situa nos 47,4% (PORDATA, 2020). Para agravar a situação, a produção de resíduos urbanos per capita, em Portugal, sofreu um aumento de 44% ao longo das últimas duas décadas (Eurostat, 2019).

Em 2018, a quantidade de resíduos urbanos recolhidos, por habitante, foi maior na região do Algarve, seguida das regiões dos Açores, Alentejo, Área Metropolitana de Lisboa, Madeira, Norte e, por último, da região Centro (tabela 5.1) (Direção Regional de Estatística da Madeira, 2019; Instituto Nacional de Estatística 2019, 2019a, 2019b. 2019c, 2020; Serviço Regional de Estatística dos Açores, 2019). A região Centro apresentou o menor valor de resíduos recolhidos por habitante, possuindo também a menor percentagem na recolha de resíduos selecionados. No entanto, detém uma maior percentagem de resíduos urbanos em aterro, em comparação com a Área Metropolitana de Lisboa, que é uma das regiões com menor percentagem de resíduos em aterro, mas com valores de resíduos urbanos recolhidos por habitante superiores (tabela 5.1). Apesar da região Centro produzir menos resíduos por habitante, apresenta uma percentagem baixa de resíduos selecionados e uma percentagem elevada de resíduos que acabam em aterro. Estes dados podem justificar as diferenças de classificação dos sistemas de recolha de resíduos das regiões mais representadas no inquérito. Era de esperar que as maiores regiões tivessem uma avaliação do sistema de recolha de “Suficiente” a “Má”, no entanto 49%

dos respondentes da Área Metropolitana de Lisboa classificou a recolha de resíduos como “Bom” e 50% dos respondentes do Centro classificaram a recolha de resíduos como “Suficiente”.

Tabela 5.1 - Dados de resíduos urbanos recolhidos por habitante (kg), resíduos urbanos selecionados (%), resíduos urbanos em aterro (%) do Anuário Estatístico de 2018 de cada região (Direção Regional de Estatística da Madeira, 2019;

Instituto Nacional de Estatística 2019, 2019a, 2019b. 2019c, 2020; Serviço Regional de Estatística dos Açores, 2019).

Regiões

Resíduos urbanos recolhidos por habitante

(kg)

Resíduos urbanos selecionados (%)

Resíduos urbanos em aterro (%)

Norte 441 15 45,1

Centro 423 13 57,2

Área Metropolitana de Lisboa 516 23 40,4

Alentejo 517 15 62,3

Algarve 881 29 84,8

Açores 585 23 66,3

Madeira 487 27 1,4

De acordo com os Censos de 2011, últimos censos realizados em Portugal, a região Centro e a Área Metropolitana de Lisboa, com um número relativamente próximo de habitantes, apresentaram valores nas despesas da gestão de resíduos de 2018 bastante diferentes (tabela 5.2). As práticas de recolha, transferência e transporte de resíduos, em qualquer parte do mundo, podem ser afetadas pela existência de contentores inadequados nos pontos de separação, pelo mau planeamento nas rotas de recolha, pela falta de informações

21 sobre os horários de recolha (Hazra e Goel, 2009), por estruturas de separação insuficientes (Moghadam et al., 2009), por estradas precárias e pelo número de veículos utilizados na recolha de resíduos (Henry et al., 2006).

Ou seja, o baixo investimento na manutenção da gestão de resíduos e na implementação de pontos de separação pode ser uma razão pela avaliação distinta dos inquiridos destas duas regiões.

Tabela 5.2 - População contabilizada nos Censos de 2011 e dados das despesas na gestão de resíduos no domínio de gestão e proteção do ambiente e do Anuário Estatístico de 2018 de cada região (Direção Regional de Estatística da Madeira, 2019; Instituto Nacional de Estatística 2019, 2019a, 2019b. 2019c, 2020; Serviço Regional de Estatística dos Açores, 2019).

Regiões

População (Censos 2011)

Despesas na Gestão de Resíduos 2018

(milhares de euros)

Norte 3 689 682 113 818

Centro 2 327 755 83 461

Área Metropolitana de Lisboa 2 821 876 143 489

Alentejo 757 302 39 448

Algarve 451 006 27 826

Açores 246 772 9 223

Madeira 267 785 22 909

5.2 O PAPEL DA FAIXA ETÁRIA NA SEPARAÇÃO DE RESÍDUOS

As pessoas possuem um papel de destaque nos processos de produção de resíduos, bem como na separação, armazenamento, recolha, reciclagem e eliminação dos mesmos. A participação dos cidadãos na separação do lixo afeta fortemente o sucesso dos programas de gestão dos resíduos domésticos (Babaei et al., 2015). Em Portugal, a cooperação iniciada em 1996, entre os Ministérios da Educação e do Ambiente, tem permitido a difusão de práticas na realização de projetos de Educação Ambiental, em parcerias entre as escolas, com organizações não-governamentais e com especialistas na área do Ambiente (Agência Portuguesa do Ambiente (APA) 2016). Em 2018, a região com o nível de envelhecimento maior foi o Alentejo seguida da região Centro (tabela 5.3) (Direção Regional de Estatística da Madeira, 2019; Instituto Nacional de Estatística 2019, 2019a, 2019b. 2019c, 2020; Serviço Regional de Estatística dos Açores, 2019; Instituto Nacional de Estatística, 2020;

Serviço Regional de Estatística dos Açores 2019). As regiões com o nível de envelhecimento maior, coincidem com as regiões que apresentam maiores valores de resíduos embalados recolhidos da recolha indiferenciada (Sociedade Ponto Verde 2018b).De facto, a região Centro é aquela que possui o maior número de entidades gestoras ao nível nacional que fazem a retoma de resíduos de embalagens da recolha indiferenciada (Sociedade Ponto Verde 2018b), mas no entanto é a região com a menor percentagem de resíduos urbanos selecionados (tabela 5.4).

Era de esperar que os grupos etários mais novos, em relação a outros grupos etários mais velhos, conseguissem identificar os produtos de espuma como sendo um material que se deposita no contentor dos plásticos tendo em conta que deveriam estar mais sensibilizados para as boas práticas e regras da reciclagem. Na literatura, alguns autores afirmam existir uma relação entre a idade e o comportamento para com a reciclagem (De Feo e De Gisi, 2010), por outro lado, outros autores afirmam que o fator idade não tem significância no comportamento da separação (Miafodzyeva e Brandt, 2013). Neste estudo não se observou uma relação direta entre a idade dos inquiridos e o seu comportamento no momento de separar os resíduos que produzem. Por outro lado, o efeito notado da região de residência dos inquiridos no destino final em que depositam tais resíduos, poderá estar

22 relacionado com a maior disponibilidade de estruturas de separação (Guerrero et al., 2013). O estudo realizado por Sorkun (2018) conclui existir um efeito negativo no comportamento de reciclagem dos cidadãos causado pela distância aos pontos de reciclagem. O aumento de tais estruturas parece ter um efeito educativo e sensibilizador, levando a que um maior número de cidadãos as utilize quando estas são mais numerosas e mais acessíveis (Babaei et al., 2015).

Tabela 5.3 - Dados do índice envelhecimento da população do Anuário Estatístico de 2018 de cada região (Direção Regional de Estatística da Madeira, 2019; Instituto Nacional de Estatística 2019, 2019a, 2019b. 2019c, 2020; Serviço Regional de Estatística dos Açores, 2019).

Regiões Índice de envelhecimento

Norte 137,5

Centro 199,2

Área Metropolitana de Lisboa 137,5

Alentejo 203,1

Algarve 144,3

Açores 93,1

Madeira 123,6

Tabela 5.4 - Dados dos valores de retoma (t) de resíduos de embalagens provenientes da recolha indiferenciada por região, do Anuário Estatístico de 2018 de cada região (Direção Regional de Estatística da Madeira, 2019; Instituto Nacional de Estatística 2019, 2019a, 2019b. 2019c, 2020; Serviço Regional de Estatística dos Açores, 2019).

Regiões Valores de retoma (t) Entidades gestoras com retomas

Norte 1413,7 4

Centro 4350,7 5

Área Metropolitana de Lisboa 1217,7 2

Alentejo 1488,6 4

Algarve 73,3 1

Açores 91,6 4

Madeira 0 0

5.3 COMPORTAMENTO FACE À SEPARAÇÃO DE RESÍDUOS

Embora os indivíduos que habitam o mesmo ambiente possam ter acesso às mesmas infraestruturas de reciclagem, e aos meios de informação utilizados para divulgar os bons comportamentos relacionados com a separação de resíduos, no final eles poderão ter um comportamento oposto (Becker, 2014). Alguns estudos indicam que a produção de resíduos é influenciada pelo tamanho da família, o seu nível de escolaridade e rendimento (Guerrero et al., 2013; Sorkun, 2018). Além disso, outros autores (Oztekin et al., 2017) sugerem que aspetos como o género, a influência dos pares, o tamanho e a localização da residência, bem como a sua ligação a uma organização ambiental explicam o comportamento na separação na separação dos resíduos domésticos. Aliás, são vários os fatores que parecem ser determinantes no comportamento para com a reciclagem. A conveniência, a preocupação ambiental, as normas morais e a informação disponibilizada demonstraram ser as variáveis com um maior efeito no comportamento sobre a reciclagem (Becker, 2014). A conveniência é explicada como sendo a proximidade ao ponto de reciclagem e a disponibilidade de informação sobre como, quando e onde reciclar. É referida quando a presença de estruturas e informação disponível facilita a utilização do sistema de separação (Miafodzyeva e Brandt, 2013). A preocupação ambiental parece ser um

23 fator importante da participação bem-sucedida nos programas de reciclagem, resulta de uma preocupação ao usar e posteriormente descartar os recursos (Becker, 2014). As normas morais são autoimpostas e refletem a atribuição de responsabilidade de um indivíduo por uma atividade. O sentimento de responsabilidade na separação de resíduos parece ser uma força motriz para os indivíduos realizarem a reciclagem (Miafodzyeva e Brandt, 2013). A informação disponibilizada desempenha um papel fundamental, precisa de ser concreta, deve conter instruções práticas como, por exemplo, onde encontrar pontos de reciclagem e o que não reciclar (Miafodzyeva e Brandt, 2013). Outras variáveis, como o papel do governo na relação intenção-comportamento na separação de resíduos e o papel dos influenciadores na comunicação social, podem ser decisivos no envolvimento da sociedade na reciclagem (Sujata et al., 2019).

A literatura sobre o papel das motivações no comportamento pró-social e pró-ambiental concentra-se em dois tipos: motivações intrínsecas e extrínsecas (Gilli et al., 2018). Para as pessoas com motivações intrínsecas, a recompensa vem da própria ação, enquanto que, as pessoas com motivações extrínsecas são movidas pela perspetiva de receber uma recompensa externa pelo seu comportamento (Ryan e Deci, 2000). No entanto, a probabilidade de reciclar é maior para as pessoas com motivações extrínsecas (Gilli et al., 2018).

5.4 UTILIZAÇÃO DAS ESPUMAS PELOS PORTUGUESES

Apesar de ser muito difícil encontrar literatura que mencione em específico os problemas associados à utilização das espumas em produtos alimentares, o caso português pode ser comparado com as preocupações de outros países. A questão das aplicações de espuma em produtos alimentares take-away não se aplica de forma problemática em Portugal como acontece nos EUA (Equinox Project 2017), onde o estado da Califórnia incentivou as câmaras a tomarem iniciativas de redução na utilização do produtos de espuma pelo comércio local.

Pode-se verificar a utilização de produtos de espuma em diversos sectores económicos em Portugal, no entanto, no relatório sobre os países HELCOM (Lassen et al., 2019), as fontes mais prováveis de emissão para ambiente marinho mencionadas não se relacionam na totalidade com a realidade portuguesa. O relatório identifica o isolamento para a construção civil, o seu manuseamento e armazenamento, e a produção de produtos EPS e XPS como as maiores fontes de emissão para o ambiente.

As possíveis fontes de emissão de produtos de espuma para ambiente marinho em Portugal utilizando as fontes identificadas por (Lassen et al., 2019) podem ser: problemas na gestão de resíduos, as falhas no manuseamento durante a produção e transformação do material EPS e XPS, as atividades de pesca e aquacultura e as atividades recreativas com aplicações outdoor.

24 5.5 PERSPETIVAS FUTURAS

A gestão de resíduos é um dos principais problemas que precisa de ser resolvido tanto por países desenvolvidos como por países em desenvolvimento, de forma a que as atividades humanas sejam globalmente sustentáveis (Di Maria et al., 2018). Nas sociedades atuais, a produção industrial assenta maioritariamente num modelo linear, no qual os recursos são extraídos, processados, consumidos e descartados (Merli et al., 2018). Apesar de este modelo de produção estar institucionalizado, existe um crescente interesse por parte dos governos, investigadores e produtores em adotar o modelo de economia circular (Hartley et al., 2020). A economia circular visa manter o valor de produtos, materiais e recursos por o máximo tempo possível, devolvendo-os ao ciclo do produto no seu fim de vida, de modo a minimizar a criação de resíduos (Eurostat, 2019). A estratégia mais recente no domínio da gestão de resíduos é a adoção do plano de ação da União Europeia para a economia circular, uma proposta legislativa que visa reforçar a transição para uma sociedade de economia circular (Gilli et al., 2018). Com o objetivo de reduzir significativamente a criação de resíduos e diminuir para metade a quantidade de resíduos urbanos (não reciclados) até 2030, a Comissão Europeia pretende apoiar financeiramente, incentivar a partilha de informações e boas práticas na reciclagem de resíduos e implementar requisitos para a responsabilidade ampliada do produtor (European Commission, 2020). Para os produtores, a perspetiva do ciclo de vida de um produto, implica uma estratégia no design do produto para que este esteja apto para a reutilização, reciclagem e remanufactura (Hartley et al., 2020). Como parte desta iniciativa legislativa e, quando apropriado através de propostas legislativas complementares, a Comissão irá estabelecer princípios de sustentabilidade de forma a regular aspetos como melhorar a durabilidade e reparação de produtos, aumentar a utilização de material reciclado em novos produtos, melhorar modelos que atribuam uma maior responsabilidade aos produtores, durante o ciclo de vida dos produtos, potencializar soluções digitais e valorizar os produtos tendo em conta a sua sustentabilidade (European Commission, 2020).

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