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Todos os cães do presente estudo foram tolerantes ao exame ultrassonográfico corneal e transpalpebral. Ao exame clínico nenhum dos bulbos oculares avaliados mostrou alterações que contra indicassem o exame ultrassonográfico e também não foram observadas lesões iatrogênicas decorrentes dos procedimentos, conforme Rodrigues Jr (2008).

Dentro dos achados no exame ultrassonográfico foram encontrados três bulbos oculares com hialose asteróide, dois do grupo CA e um do grupo PL, dois com presença de coágulo/ hemorragia, sendo um de cada grupo CA e PP e um com edema de papila de nervo óptico no grupo CA, o que demonstrou maiores alterações no grupo de animais com olhos afácicos, ou seja, sem o uso de LIO; já as alterações de hiperecogenicidade capsular, que estão diretamente correlacionadas à diminuição da acuidade visual foram mais marcantes nos grupos com o uso da LIO, o que está de acordo com Yi (2006) que encontrou em seu trabalho 34,37% de opacidade de cápsula posterior, mas difere de Kleiner (2007), que relatou que a grande maioria dos cães aonde se implantou a LIO encontraram-se em perfeito estado visual, sem desconforto ocular e sem opacidades capsulares significativas, no entanto sua avaliação não foi tardia, tratando-se de pós-operatório imediato, com no máximo 30 dias.

Quanto à avaliação ultrassonográfica da periferia da cápsula posterior da lente, dos 21 bulbos oculares avaliados sete não apresentaram hiperecogenicidade capsular, e destes, cinco eram do grupo CA (45,45%); já dentro do grupo PP todos apresentaram hiperecogenicidade que variou de leve a severa (100%). No grupo PL três bulbos oculares foram classificados com hiperecogenicidade capsular de moderada a severa o

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que sugere que a presença de duas LIOs pode acarretar em maior predisposição à opacidade capsular que dificulta a acuidade visual no pós-operatório, prejudicando um bom resultado clínico ao animal; conforme Rodrigues (2004), que observou maior opacidade com o uso de implante em piggyback, o que resulta em hiperecogenicidade ao exame ultrassonográfico, que pode ser devido à opacificação de interface das LIOs; porém, no grupo PP foi realizado capsulorrexis posterior, que também pode acarretar em maior opacidade na periferia da cápsula posterior da lente.

Em relação às medidas comprimento axial, profundidade de câmara anterior e câmara vítrea obtidas pela ultrassonografia ocular em modo B, os valores encontrados no presente estudo estavam de acordo com Williams e Wilkie (1996), que realizaram essas mensurações sem o uso de LIO. Os valores obtidos com a biometria em modo B foram semelhantes aos obtidos por modo A, o que nos garante realizar as mensurações com maior facilidade, como uma excelente alternativa, por se tratar de um exame mais disponível na rotina veterinária.

Com respeito à distância do corpo ciliar obtida pela ultrassonografia ocular em modo B, cabe considerar que a literatura veterinária carece de dados, portanto sem possibilidade de ser aqui cotejada; porém a análise da tabela 7 com relação à distância do corpo ciliar mostra que o uso ou não do implante de LIO veterinária não apresentou diferença estatística entre si, porém apresentaram médias superiores aos dos olhos com implante de LIO em piggyback, notadamente mais próximas dos valores normais, o que pode sugerir que o uso da LIO em piggyback acarretou maiores deformações na estrutura do bulbo ocular decorrente de inflamação pós-operatória mais agravante, consoante com Rodrigues (2004).

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O deslocamento da LIO foi observado em dois bulbos oculares avaliados no grupo PP, estando localizadas na câmara vítrea, resultando em sua grande maioria, ou seja, 80% dos implantes de LIO centralizados no momento do exame, o que confere com Yi (2006), onde apenas dois de 32 bulbos oculares avaliados apresentaram descentralização da LIO. Segundo Reyes et al. (2001), 68,90% das lentes luxadas para câmara vítrea foram secundários as complicações da facoemulsificação, como o mal posicionamento da LIO ou contração capsular.

Do total dos bulbos avaliados apenas sete não apresentaram degeneração vítrea e a maior concentração foi observada no grupo PL com 80% bulbos oculares classificados com degeneração, ou seja, quatro de cinco avaliados; seguido do grupo PP com 60% de degeneração, porém o grupo que apresentou classificação mais severa foi o PP. No entanto, as idades dos animais que compuseram os grupos, foram muito próximas às que Labruyère et al. (2008) utilizou em seu trabalho, portanto as degenerações encontradas podem não significar que sejam decorrentes da intervenção cirúgica, do pós-operatório ou do uso da LIO; podendo se tratar de degenerações comumente encontradas nessa faixa etária.

Quanto à avaliação de descolamento de retina foram observadas em três casos, sendo apenas um com descolamento total e dois com parcial; o grupo PP foi o único em que não foi observado nenhum dos casos.

No presente estudo foram encontradas alterações em câmara vítrea compatíveis com degeneração, opacidades, exsudato ou hemorragia em 14 dos bulbos oculares examinados (66,66%), embora avaliação seja tardia. Tais achados suportam os anteriormente encontrados por Woert et al. (1993), em que 23% dos pacientes com catarata estudados apresentavam alterações do vítreo. Woert et al. (1993), mostraram

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que o percentual de olhos com alterações no vítreo aumentavam na razão direta da maturação da catarata.

Consoante o que descreveu Rodrigues Jr (2008) quanto à correlação entre descolamento de retina e degeneração vítrea, ainda que alguns autores reconheçam como comuns os descolamentos de retina secundários à degeneração vítrea (DZIEZYC et al., 1990; WOERDT et al., 1993; NARFSTRÖM e EKESTEN, 1998), não foram vistas tais intercorrências no presente estudo, pois dos três bulbos oculares com descolamento de retina em apenas um foi notada degeneração vítrea classificada como leve. São necessários mais estudos para se poder correlacionar degeneração vítrea com descolamento de retina, visando afirmar que uma alteração é secundária à outra.

A ultrassonografia bidimensional em modo-B mostrou ser um ótimo meio de avaliação dos segmentos oculares. O transdutor de 10 MHz, adjunto às técnicas transcorneal e transpalpebral, mostrou-se útil na identificação de condições da lente e da retina, mesmo sem o emprego da almofada de recuo. Observe-se que Dean (2007) em seu estudo informou que o transdutor de 20 MHz não oferece benefícios adicionais à ultrassonografia ocular de cães e de gatos, apesar dos detalhes não mostra diferenças nas imagens obtidas.

No presente estudo, os resultados quanto às condições da lente e da câmara posterior dos bulbos oculares avaliados, principalmente aqueles com opacidades dos meios transparentes, no todo, não divergiram dos reportados na literatura que propõem a ultrassonografia como procedimento valioso e de grande significado na avaliação do bulbo ocular (WOERDT et al., 1993; DAVIDSON e NELMS, 1998); no entanto, a maioria dos trabalhos relatam achados pré-operatórios, especialmente os que referem

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observações tardias dos procedimentos de facoemulsificação e implante de lentes intraoculares em cães.

Os achados do exame ultrassonográfico ocular permitem correlacioná-los ao exame clínico oftalmológico, pois oferecem informações de grande significação, relativamente aos segmentos anterior e posterior não visibilizados à técnica oftálmica de rotina, quando há opacificação de meios transparentes, tornando o exame ultrassonográfico fundamental no pós-operatório de catarata para que se possa direcionar as causas de insucesso nas cirurgias e suas complicações.

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