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A missão em situação de emergência das autoridades responsáveis é salvar vidas e aliviar o sofrimento das vítimas, sendo o fornecimento de alimentos e o cuidado nutricional de extrema importância para esta problemática (44). Contudo, em situação de emergência, as decisões mais importantes sobre nutrição são efectuadas por pessoas com pouca ou nenhuma experiência quanto a questões nutricionais. Esta particularidade conduz muitas vezes a decisões e escolhas alimentares pouco acertadas e pouco adequadas nutricionalmente, sendo ainda, muitas vezes politicamente determinada, acabando por ter um considerável impacto nos problemas nutricionais em situações de emergência (8, 44). Além disso, o apoio alimentar exige uma coordenação de actividades e responsabilidades nem sempre conseguidas (8).

Na realidade, a ração distribuída é, muitas vezes, substancialmente diferente da ração desejada. Dificuldades logísticas e de disponibilidade de certos alimentos determinam a composição da ração deixando para segundo plano as

Diferenças de interesse e orientações das diferentes ONG contribuem ainda para particulares dificuldades na coordenação na assistência humanitária (44).

O papel dos profissionais de nutrição revela-se desta forma, crucial na prevenção e solução de problemas nutricionais em situações de emergência (6, 15, 44).

Em média, todos os kits de alimentação elaborados para as situações de emergência fornecem cerca de 2158 kcal, assegurando as 2200 kcal recomendadas pela OMS para situações de emergência. Os kits apresentam cerca de 15% do VET de proteína, sendo acima dos 12% preconizados pela OMS. Relativamente à gordura, todos os kits apresentam mais de 20% do VET deste nutriente, podendo ser considerado adequado, na medida em que não ultrapassa os 30% recomendados pela mesma agência, para uma população adulta saudável e em situação de normalidade (45). Quanto aos HC, nutriente essencial para o fornecimento da maior parte da energia do kit, são asseguradas, garantindo todos os kits mais de 50% do VET sob a forma deste nutriente.

Estes valores de proteína e gordura acima das recomendações da OMS para situações de emergência deve-se à inclusão de alimentos ricos em proteína como o leite, o pão, as saladas, o atum, o polvo, a sardinha e o feijão, grão-de- bico e lentilhas com chouriço. Os alimentos que mais contribuem para o fornecimento de gordura são o leite, os frutos gordos, as saladas, o atum e a sardinha. Estes alimentos, geralmente não são incluídos nas rações utilizadas pelas ONG, contudo, adequando as recomendações à realidade Portuguesa,

estes alimentos são bons fornecedores de energia e de nutrientes, são de baixo custo, baixa perecibilidade, apresentam facilidade de armazenar, transportar e distribuir e são culturalmente aceites.

Os micronutrientes são menos relevantes nestas circunstâncias, em especial nas fases iniciais de emergência. Tendo em conta a curta duração desta emergência, não seria relevante serem considerados, no planeamento do kit. Contudo, por curiosidade, foi avaliada a composição em micronutrientes dos kits propostos e verificou-se que estes kit apresentam deficiência nos micronutrientes previstos de ocorrer em situação de emergência (ANEXOS 2,3,4).

Estas deficiências, ocorrem essencialmente devido à dificuldade de aprovisionamento de alimentos ricos na deficiência em causa, quer por dificuldades logísticas quer por disponibilidades, custos ou perecibilidades.

A grande deficiência nutricional considerada foi a vitamina C. Os frutos e produtos hortícolas frescos, grandes fornecedores desta vitamina, devido à sua elevada perecibilidade, dificuldades logísticas de armazenamento e transporte, custo e disponibilidade em grandes quantidades, não podem ser fornecidos nestas circunstâncias, justificando assim a sua deficiência em todos os kits.

Contudo, considerando esta situação de emergência de curta duração, esta deficiência nutricional poderá não ser motivo de preocupação, não sendo necessário proceder a medidas nutricionais suplementares.

As outras deficiências nutricionais, a ribloflavina no kit 1 e 3, a niacina no kit 2 e a tiamina no kit 3, não são de todo tão marcadas como a falta da vitamina C.

Estas diferenças na composição de micronutrientes pode dever-se à omissão da composição nutricional em micronutrientes das saladas e dos enlatados de chouriço com feijão, grão-de-bico e lentilhas e por fim do polvo.

Relativamente ao kit para os bombeiros, está de acordo com o preconizado pelas recomendações militares no que respeita aos HC, proteína e VET.

Este kit de alimentação, tendo sido calculado com base nas recomendações militares, apesar de poder não ser o mais adequado à população em causa, é de qualquer forma mais adequado que a praticada actualmente. Contudo, as recomendações militares baseiam-se no pressuposto de que os militares praticam uma alimentação saudável.

Em situações de emergência, a principal prioridade das autoridades competentes deverá ser fornecer alimentos, em especial fornecedores de energia e HC aos profissionais que actuam no terreno, de forma a optimizar as suas capacidades físicas, melhorando o desempenho da sua missão. Contudo, é urgente cuidar da alimentação e nutrição desta população, antes de situações de emergência, à luz das conclusões da avaliação efectuada, no sentido de promover, melhorias no estado de saúde e capacidade física, que se reflectirá no desempenho das suas missões.

A falta de comunicação e coordenação com os dadores de alimentos a nível nacional e internacional, reflecte-se na inadequação de alimentos que são recebidos para as situações de emergência (44).

Os donativos, são na maioria das situações de emergência, os maiores determinantes para o fornecimento de alimentos, mais do que as necessidades

nutricionais da população afectada. Todavia, a ajuda alimentar deverá basear-se nas necessidades da população afectada e não em políticas internacionais, elaboradas no contexto dos dadores (8).

Em Portugal, seria interessante estabelecer uma comunicação entre o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC), o Banco Alimentar e o fundo de emergência da Cruz Vermelha Portuguesa, na medida em que estas duas últimas instituições têm interesses comuns no sentido de adquirir alimentos adequados para stocks, para fazer face a situações de emergência (4), ao passo que o SNBPC tem interesse em fornecer uma alimentação adequada. Para isso devem dar orientações quanto ao tipo de alimentação a fornecer em situações de emergência, através das especificações da alimentação adequada que deverão constar no PME. Desta forma, regulamentar os donativos adequados e publicitá- los, fazendo-os chegar aos dadores, poderá consistir numa estratégia eficaz para os tornar mais adequados às situações de emergência.

Visto não existir regulamentada, pelas autoridades competentes, o que é uma alimentação adequada para as situações de emergência, este trabalho não pretende ser de forma alguma o ideal, mas apenas um ponto de partida para o esclarecimento da dita alimentação adequada para as situações de emergência.

Desta forma, muito ainda há a fazer e muito há ainda a descobrir.

A realização deste trabalho além de todo o conhecimento que me transmitiu abre uma porta para num futuro próximo explorar esta vertente tão

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