• Nenhum resultado encontrado

Modelos estatísticos podem ser empregados para determinar a estimativa de sobrevivência das aves através de capturas e recapturas de indivíduos marcados, embora em geral esses estudos necessitem de um acompanhamento contínuo dessas recapturas ou recuperações ao longo dos anos (ELDER &ZIMMERMAN 1983,PAYNE &PAYNE 1990).

As recuperações ocorridas demonstram a fidelidade de algumas aves ao ambiente e reforçam a importância dos pequenos fragmentos para espécies residentes e ocasionais. Com isso, foi possível registrar o tempo de anilha para determinadas espécies, conforme apresentado por SNOW & LILL (1974), que relatam a idade para Manacus manacus em

mais de 14 anos e LOPES et al. (1980) que fornecem o tempo de anilha para várias aves

que serviram para estudos sobre possíveis vírus presentes neste grupo silvestre. Desses dados, apenas duas espécies (M. manacus e Thamnophilus caerulescens) coincidiram entre as pesquisas e nenhum tempo de anilha apresentado por aqueles autores foi maior do que o encontrado neste trabalho.

Os resultados obtidos para a composição da listagem de aves para o RECD demonstram semelhança a alguns trabalhos desenvolvidos nas matas pernambucanas, a exemplo de AZEVEDO-JÚNIOR (1990) que apresentou uma listagem com 181 espécies

para a Estação Ecológica do Tapacurá e LYRA-NEVES et al. (2000), com o registro de

187 espécies para a Área de Proteção Ambiental de Guadalupe, ambas com áreas superiores a 60 ha. Estes resultados diferem daquele encontrado para a Reserva Estadual de Gurjaú, com 220 espécies de aves que foram registradas em 1077,10 ha de mata dividida em três regiões, apresentando um resultado alto se comparado aos levantamentos realizados nos trabalhos descritos (LYRA-NEVES et al. 2004). Essa

aproximação do número de espécies encontradas no pequeno fragmento do RECD com as demais áreas citadas pode estar relacionada à presença de florestas circunvizinhas, a exemplo da Usina São José (distando aproximadamente 4 km da área estudada), o que certamente contribui com a existência de muitas espécies que sobrevivem em pequenos fragmentos interligados a plantações, pastagens e outros fragmentos, promovendo a ampliação do uso de recurso por parte desses animais (ALEIXO & GALETTI 1997;

MALDONADO-COELHO &MARINI 2000; TELINO-JÚNIOR et al. 2000).

A partir de outubro o número de capturas aumentou e isto pode corresponder a maiores padrões de atividades das aves no verão. ALMEIDA et al. (1999) considera o mês

de setembro de grande atividade das aves, período a ser considerado quanto à realização de levantamentos avifaunísticos, quando é possível amostrar um maior número de espécies.

Independente da elevação das capturas em períodos quentes do ano, resultados de baixa FO são esperados. Isto se deve, juntamente ao elevado índice de registros únicos de algumas espécies, à metodologia aplicada, que restringe a captura a determinadas espécies pelo fato de ocuparem diferentes estratos da floresta que não contemplam o intervalo de altura das redes quando desenvolvem as suas atividades como alimentação e nidificação. Concomitante a isso se faz necessário observar padrões fitogeográficos da área, uma vez que o fragmento encontra-se em fase de regeneração, o que pode limitar sua diversidade.

A FO demonstrou que apenas três famílias já representavam mais de 50% das espécies capturadas (Pipridae, seguida de Emberizidae e Tyrannidae). Este advento é explicado quando se observam que as espécies mais numerosas são aquelas caracterizadas pela vasta distribuição e habitarem, sobretudo, a mata e capoeira.

TERBORGH (1992) afirma ser altamente incerto o futuro de muitas espécies nas pequenas

“sobras” de habitats fragmentados, embora esses fragmentos possam prover perfeitamente bem determinadas espécies, sendo insuficientes para outras. Manacus manacus, Neopelma pallescens e Arremon taciturnus, espécies frugívoras/insetívoras e onívora, provavelmente tiveram uma maior representatividade devido ao efeito de borda que esta área está sofrendo, pois possui estreita faixa de vegetação natural. A maior incidência de luz neste ambiente proporciona maior produção de frutos e de plantas invasoras produtoras de sementes, que são a base alimentar destas espécies (DÁRIO et al.

2002).

Informações obtidas acerca da bionomia dos indivíduos capturados neste fragmento, oferecem subsídios para um maior conhecimento sobre a ornitofauna, principalmente no que diz respeito à região nordestina do Brasil.

Alguns estudos prévios (DUNNING 1987,BELTON 1994,SICK 1997) compilaram

dados sobre a massa corpórea de aves do mundo. Outras pesquisas fizeram registros mais localizados, com aves da Mata Atlântica, a exemplo de ONIKI (1981), ONIKI &

WILLIS (1993), REINERT et al. (1996). CLARK JÚNIOR (1979), em revisão sobre o

potencial uso de pesos das aves, comprova a relevância para várias áreas de conhecimento de uma coletânea com dados sobre massa corpórea, onde tais informações podem ser utilizadas como padrões para determinar o tamanho da ave, avaliar condições fisiológicas, uso nas análises de comunidades ecológicas e na sistemática. Por outro lado,REINERT et al. (1996) ressaltam a importância dessas informações principalmente

para aves endêmicas da Mata Atlântica, que ainda são pobremente conhecidas. Os achados que comprovam diferenças entre pesos de machos e fêmeas, a exemplo da espécie Arremon taciturnus, corroboram com a literatura pesquisada. BALDWIN &

KENDEIGH (1938) e CLARK JÚNIOR (1979) registraram essas desigualdades e comprovam

que a relação não está distribuída de maneira constante. Este registro foi reforçado uma vez que duas das três espécies analisadas não apresentaram o mesmo padrão, não sendo significativa a variação de peso entre sexos. Quanto às comparações entre massa corpórea e estações do ano, embora não tenham existido valores significativos, variações interespecíficas são comuns, além das alterações individuais ao longo do tempo (BALDWIN &KENDEIGH 1938). Ou seja, as mudanças de peso ocorrem tanto dentro da

mesma espécie quanto no indivíduo, variando ao longo do dia e das estações do ano e está relacionada a outras variáveis, tais como: diferenças na temperatura do ar, quantidade de alimentação, migração e outras atividades, não sendo possível estabelecer um padrão geral. A maneira e extensão de flutuação de peso observada evidenciam que as aves em seu ajustamento fisiológico são altamente sensíveis a influências ambientais, e que esta inter-relação entre função e ambiente afeta extremamente esse comportamento (BALDWIN &KENDEIGH op cit.).

Por outro lado, novas correlações devem ser testadas, além de análises de massa corpórea e diferenças entre sexos e podem contribuir para responder a presença de fatores biológicos ocultos. Isto é, diferenças observadas entre medidas de alguns caracteres, como comprimento de asa ou tarso entre sexos, podem sugerir um novo método para determinar dimorfismo sexual em espécies que não apresentam essa distinção fenotípica aparente.

Para as observações de mudas, o presente estudo confirma aquelas informações encontradas na literatura quanto à simultaneidade entre mudas de rêmiges e retrizes (POULIN et al. 1992,SICK 1997,MARINI & DURÃES 2001). As penas de contorno não

a bionomia de aves da Mata Atlântica. O grande percentual de mudas de contorno encontrado em comparação com as mudas de vôo faz crer que o critério empregado, utilizando apenas três penas em crescimento, em quaisquer regiões do corpo (cabeça, dorso e/ou ventre) para afirmar a existência de muda pós-nupcial, pode mascarar a análise em questão. Entretanto, MARINI &DURÃES (2001) aumentaram esse critério para

observações de no mínimo dez penas em crescimento em uma ou mais regiões do corpo, encontrando mais de 15% de aves repondo-as durante os meses de estação chuvosa ou seca. Com isso concluíram que este tipo de muda ocorre ao longo de todo o ano, propondo que mudas de contorno não estejam necessariamente relacionadas com a muda pós-nupcial. Apesar das diferenças metodológicas, fato semelhante foi encontrado no presente estudo. Sugere-se, portanto, o emprego apenas das penas primárias para avaliar o ciclo de muda pós-nupcial conforme recomendado por MILLER (1961) e POULIN et al.

(1992).

No ciclo anual das aves, reprodução e atividade de mudas são eventos que demandam grande energia, levando vários autores a apontar a ausência de simultaneidade entre mudas primárias e condições reprodutivas em regiões temperadas (MILLER 1961, PAYNE 1969, POULIN et al. 1992). Para aves tropicais ao menos,

sobreposição de mudas e período reprodutivo é mais comum do que geralmente suposto, devido ao prolongado período reprodutivo nos trópicos (FOSTER 1975), e ocorre

geralmente em uma fase de alta oferta de alimento (CRUZ &ANDREWS 1989, POULIN et

al. 1992). Neste trabalho não foi possível comprovar estatisticamente a sobreposição das mudas, possivelmente devido à reduzida quantidade de espécimes capturados. Todavia, uma correlação negativa entre retriz e placa de incubação e rêmige e placa de incubação foi observada, o que sugere estar de acordo com os achados dos autores acima citados.

Em regiões tropicais POULIN et al. (1992) e MARINI &DURÃES (2001) afirmam

que o ciclo do ano com grande disponibilidade de alimento é no fim da estação seca e na estação chuvosa. POULIN et al. op cit. demonstraram, em florestas tropicais da

Venezuela, que durante a estação reprodutiva das aves, houve um aumento no consumo de artrópodes em detrimento a ingestão de frutos, o que sugere que a abundância desses invertebrados é um fator crucial para governar a velocidade das atividades reprodutivas, nivelando as espécies que normalmente incluem alta proporção de néctar e frutas em sua dieta. Igualmente a este padrão, tanto as mudas quanto as placas de incubação estiveram mais freqüentes no final da estação seca, início da estação chuvosa para este trabalho.

MARINI &DURÃES (2001) afirmam que padrões climáticos regionais no sudeste

do Brasil, em lugar de variações locais, são mais prováveis para determinar os períodos reprodutivos e mudas em pássaros florestais. Algumas variações ocorreram em 2004 quanto aos índices pluviométricos, mas atividades de muda e reprodução, seguiram o padrão regional.

Quanto a hábitos alimentares SICK (1997) classifica os piprídeos (Manacus

manacus e Neopelma pallescens) como frugívoros/insetívoros e o Turdus leucomelas como onívoro, o que os torna bastante generalistas, fato que, aliado a outros hábitos e características, amplia sua representatividade no ambiente. A estrutura da comunidade de aves é drasticamente alterada em fragmentos menores quando se observa, por exemplo, que a representatividade de insetívoros especializados cuja captura em rede de neblina é significativa para áreas contínuas, reduz dramaticamente (BIERREGAARD et al.

1992). Com o passar do tempo a maioria dessas espécies insetívoras presentes nesses fragmentos, que forrageiam em conjunto com outras espécies, desaparece em fragmentos menores de 10 hectares (POWELL 1985, BIERREGAARD &LOVEJOY 1989).

A presença constante e fortemente indicativa de aumento das capturas no período de maior oferta alimentar pela espécie Basileuterus flaveolus sugere explicação para a alta relação observada frente aos dados abióticos. Esta espécie insetívora procura seu alimento de preferência no solo ou muito baixo na ramagem, estando de acordo com o observado por SICK (1997). Neste período, percebeu-se também uma quantidade maior

de insetos, possivelmente aqueles que necessitam de água para completarem o seu ciclo de vida, fato similar aos achados de POULIN et al. (1992), que apresentam resultados em

relação a maior abundância de artrópodes na estação chuvosa, onde as aves seguem o mesmo padrão, independente da guilda, mantendo predominantemente seus períodos de muda e reprodução nas estações úmidas, estando em sincronia com a alta abundância de recursos alimentares. Isto pode explicar a relação existente entre esta espécie e os padrões de precipitação e umidade, embora LEFEBVRE et al. (1992) afirmem que, para

regiões tropicais, a disponibilidade de insetos é relativamente constante ao longo do ano. Por outro lado, a espécie da família Pipridae (Manacus manacus) apresentou maior relação com a temperatura. Isso pode ser explicado quando se consideram períodos mais quentes que antecedem a época reprodutiva. Estas aves utilizam comumente poleiros de exibição para atrair as fêmeas, ou seja, complexos comportamentos de exibição pré-nupcial, assim como observado por SICK (1997) e

SILVA &RÊGO (2004), facilitando a sua visualização e o seu deslocamento, aumentando

a probabilidade de captura. Este fator também pode estar relacionado com a frutificação que ocorre no período após as chuvas, a exemplo das melastomatáceas que se apresentam abundantes nas bordas da mata e são muito utilizadas por pequenos frugívoros, como os Pipridae (GALETTI &STOTZ 1996).

São escassas as informações acerca das espécies Touit surda e Ornithion inerme no Estado de Pernambuco. O único registro de pele do T. surda data de dezembro de 1944, quando BERLA (1946 e 1954) apud TELINO JÚNIOR et al. (2000) coletou três

exemplares da espécie, nos arredores do Recife. Entre setembro de 1996 a agosto de 1997, estudos realizados no RECD acrescentaram informações acerca da distribuição geográfica, biologia e história natural do Touit surda no Estado através de observação, gerando sugestões para estratégias de conservação da espécie (TELINO JÚNIOR et al. op

cit.). Naquela ocasião foram observados bandos de até 40 indivíduos sobrevoando a área à procura de alimento e abrigo, quase sempre identificados pela vocalização. Estas informações se assemelham com as observações contidas nesta pesquisa quanto à identificação por vocalização, entretanto bandos menores com aproximadamente 12 indivíduos foram avistados sobrevoando a área, demonstrando utilizá-la naquele momento, ao menos, como ambiente de transição.

Quanto aos hábitos alimentares do T. surda, embora a oferta máxima do sapoti tenha ocorrido apenas durante a primeira captura, o fruto verde parece atrair essas aves, fato observado por TELINO JÚNIOR et al. (2000), quando apresentam o incremento de

itens alimentares para a espécie no Estado e citam frutos verdes e maduros como um atrativo para a espécie. Os primeiros, ao serem capturados juntos demonstraram a formação de casal, fato confirmado quando realizado a taxidermia. Isto sugere que tal espécie, apesar de conviver em bando e mais freqüentemente na copa das árvores (TELINO JÚNIOR et al. op cit.), pode ainda apresentar hábitos de forrageamento mais

restrito a pequenos grupos, chegando a atingir estratos inferiores da floresta em busca de alimento. SICK (1997) relata esse procedimento para várias espécies da família dos

Para Pernambuco o primeiro registro do Ornithion inerme data de 2002. José Fernando Pacheco e Ricardo Parrini relataram a observação de um único exemplar desta espécie, identificado pela vocalização característica, em pleno forrageamento, na Reserva Ecológica de Dois Irmãos, Recife, ampliando a listagem de aves para o Parque (AZEVEDO-JÚNIOR et al. 1998, FARIAS et al. 2002). Até então, era assinalado apenas para

regiões fronteiriças com Alagoas e Paraíba (FARIAS et al. op cit.).

MORELLATO &HADDAD (2000)sugerem que as pesquisas na Floresta Tropical e

especialmente na Floresta Atlântica Brasileira, devem requerer maior coordenação e direção no sentido de conduzir efetivamente a estudos sobre conservação, manejo racional e políticas públicas, do contrário a degradação causará transformações irreversíveis para a estrutura das comunidades em geral.

O efeito de borda, por exemplo, promove modificações na estrutura da floresta causando alterações na composição de marsupiais, roedores, répteis e anfíbios (LAURANCE 1991), exercendo uma pressão de predação sobre ovos e filhotes de muitas

aves o que pode causar a diminuição do sucesso reprodutivo das mesmas nestes locais (TABARELLI & MANTOVANI 1997), conforme observado para o Trogon curucui no

ambiente estudado. A importância desta redução está diretamente relacionada ao tamanho do fragmento e à área ocupada pela borda (TABARELLI &MANTOVANI op cit.).

A floresta que compõe o fragmento alvo do presente estudo, mantém-se como um remanescente de floresta em decorrência da ação depredadora do homem no passado. Entretanto, foi possível observar sua busca pela recomposição, mesmo com as áreas vizinhas sofrendo pressão antrópica para servir a agropecuária. Esta recuperação se deve às medidas conservacionistas desenvolvidas na região (LYRA-NEVES et al. 2000).

com estimados 323 ha considerados como Reserva Ecológica associados a outros 5.000 ha de mata fragmentada (TELINO-JÚNIOR et al. 2000), certamente contribuem com a

existência de muitas espécies que sobrevivem em pequenos fragmentos interligados a plantações, pastagens e a outras pequenas áreas florestais, promovendo a ampliação do uso de recurso por parte desses animais (ALEIXO & GALETTI 1997; TELINO-JÚNIOR et al.

op cit.), servindo de corredores ecológicos.

TERBORGH (1992) sugere como forma de amenizar os efeitos da fragmentação,

um adequado uso da terra com prioridades de planejamento. O desenvolvimento de atividades que visem melhorar a qualidade de ambientes degradados deve ser empregado para cada área atingida de forma específica, onde se torna necessário uma análise da problemática em particular da região para que seja possível viabilizar medidas a serem aplicadas para a condução de ações efetivas de preservação e conservação dos recursos naturais locais.

Todos os fatores observados indicam que o emprego do método de captura em rede para acrescentar informações biológicas sobre as aves, apresenta algumas respostas, sendo suficiente para pesquisas pontuais. Comprova, através dos dados obtidos, a importância do RECD para a manutenção das aves presentes nesse ecossistema.

A ampliação do montante de dados referentes à composição da avifauna e sua manutenção em fragmentos florestais contribuem para o planejamento de estratégias de conservação dessas áreas que são, em muitos casos, os últimos redutos para a fauna do local.

Documentos relacionados