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A presente investigação incluiu, no total, 118 participantes, dos quais 111 pertenciam ao género feminino e 7 ao género masculino. Estes dados estão em linha com os dados demográficos apresentados pelo INE, referentes à realidade portuguesa da distribuição da população por géneros, bem como com os dados constantes do Relatório Social do Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de Saúde, que reflete a distribuição dos profissionais de saúde por género.(36,37)

A maioria dos profissionais de saúde apresentou idades entre os 20 e os 50 anos, havendo congruência com as informações apresentadas no RSMSSNS, no que se refere à distribuição de idades destes trabalhadores.(37) O facto de o questionário ter sido realizado numa plataforma online e ter sido difundido através das redes sociais, pode ter constituído uma barreira no acesso de profissionais de saúde de idades superiores ao mesmo.

O grupo profissional que se fez representar em maior número foi o dos enfermeiros, seguido dos médicos, auxiliares de ação médica e, por último, dos fisioterapeutas, que correspondem a técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica. A distribuição dos participantes pelas profissões, em termos de número de indivíduos, está de acordo com o que foi reportado pelo último RSMSSNS, acerca do número de profissionais de saúde por profissão.(37)

No que toca às habilitações literárias dos participantes no estudo, aqueles cuja profissão era médico/a, enfermeiro/a e fisioterapeuta apresentaram, maioritariamente, graus académicos iguais ou superiores à licenciatura, enquanto aqueles cuja profissão era auxiliar de ação médica, na sua maioria, eram detentores de graus académicos inferiores à licenciatura, à semelhança do que é reportado pelo Ministério da Saúde.(37)

Nesta investigação, a maior parte dos profissionais de saúde inquiridos – 83,9% - esteve presente na linha da frente do combate à COVID-19, valor superior ao indicado por Ferreira et al., em que apenas 47,6% dos indivíduos participaram nesta vertente do ambiente hospitalar.(26)

No estudo de Ferreira et al.(26), reportou-se o deslocamento da morada de 7,1% dos profissionais de saúde, percentagem semelhante ao encontrado no presente estudo, em que 5,9% dos inquiridos estiveram deslocados da sua habitação.

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A prevalência de stress, ansiedade e depressão verificada no presente estudo foi de 39,8%, 51,7%

e 38,1%, respetivamente. Estes dados vão de encontro aos valores verificados por Ghaleb et al.(32), no estudo publicado em 2021, onde se avaliou o impacto da pandemia da COVID-19 na saúde mental de profissionais de saúde dos países do mediterrâneo oriental, em que 42,0% dos profissionais apresentaram um diagnóstico positivo de stress, 59,1% de ansiedade e 57,5% de depressão.

Existe também concordância entre a percentagem de participantes com alterações emocionais em nível severo ou extremamente severo, verificadas nesta investigação - 13,6% para o stress, 21,2%

para a ansiedade e 11,0% para a depressão - e aquelas referidas por Ghaleb et al.(32) - 16,1%, 26,6%

e 19,2% para o stress, ansiedade e depressão, respetivamente - embora os valores sejam ligeiramente inferiores no presente estudo.

Os valores de prevalência de stress, assim como de ansiedade encontrados na presente investigação são semelhantes aos encontrados pelos autores acima citados, embora ambos sejam ligeiramente inferiores. A prevalência de depressão aqui verificada foi consideravelmente inferior ao valor reportado por Ghaleb et al..(32)

No referido estudo, é afirmado que os níveis de stress, ansiedade e depressão são inferiores em profissionais de saúde que tenham exercido a sua atividade em hospitais privados, comparativamente com aqueles que trabalharam em hospitais públicos, durante a pandemia, pois terá havido uma maior afluência aos últimos, durante a mesma.(32)

Esta poderá ser uma das razões que levou a valores de prevalência menores, no presente estudo, comparativamente aos valores apresentados por Ghaleb et al.(32), embora essa variável não tenha sido tomada em consideração nesta investigação. Para além disso, a divulgação do questionário foi realizada durante fevereiro de 2022, altura em que apesar de o número de casos confirmados de COVID-19 ter sido dos mais elevados em Portugal durante toda a pandemia, se iniciava um período de abrandamento da incidência e em que o número de óbitos era consideravelmente inferior em relação ao mesmo período do ano anterior, o que poderá ter contribuído para uma redução dos níveis de alterações emocionais, nos profissionais de saúde.(32)

À data da realização desta dissertação, não foi encontrada literatura acerca da prevalência de comportamentos parafuncionais em profissionais de saúde de ambiente hospitalar, pelo que a

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discussão foi realizada recorrendo a estudos sobre a prevalência desses hábitos noutros grupos populacionais, concretamente em estudantes universitários e na população em geral.

Dos 118 profissionais inquiridos, 99,2% apresentou, no mínimo, um hábito parafuncional, com apenas 1 participante a não apresentar qualquer parafunção, estando os dados obtidos em linha com o relatado por Barbosa C.(35), em 2015. Destes profissionais, 41,5% afirmou que os hábitos parafuncionais passaram a ocorrer com maior frequência ou intensidade após o início da pandemia e 1,7% referiu que estes terão surgido após o seu início. Estes dados demostram que, apesar de a amostra ser constituída por uma população de risco ao desenvolvimento de hábitos parafuncionais, uma vez que já apresentavam este tipo de comportamentos, a sua frequência e/ou intensidade terá agravado com a pandemia.

Dois dos comportamentos mais frequentemente reportados no presente estudo - “Come entre refeições” e “Boceja” – foram consistentes com os encontrados por Barbosa C.(35) No que concerne aos hábitos menos frequentes - “Mantém ou projeta a mandíbula para a frente ou para o lado” e

“Toca instrumento musical que envolva o uso da boca ou da mandíbula” - também estes foram congruentes com o que consta do estudo acima referido.(35)

A média do somatório da pontuação atribuída a cada um dos comportamentos orais (20,65 ± 11,81 (desvio padrão)), que reflete a intensidade dos mesmos, foi ligeiramente inferior ao reportado por Barbosa C. (24,2 ± 8,6 (desvio padrão)).(35) Esta diferença poderá dever-se ao facto de o estudo citado(35) ter incidido sobre estudantes de medicina dentária que, tendencialmente, estarão mais atentos aos comportamentos parafuncionais.

Para efeitos da presente investigação, o diagnóstico de bruxismo aqui apresentado foi realizado unicamente através da resposta aos itens do questionário, sendo apenas um diagnóstico possível de bruxismo.(1)

A prevalência de bruxismo nos profissionais de saúde inquiridos foi de 38,1% para o BS e 68,6%

para o BV. Peixoto et al.(38) reportaram uma prevalência superior para o BS (58,03%) e inferior para o BV (58,2%). Na presente investigação foram inquiridos médicos(as), enfermeiros(as), auxiliares de ação médica e fisioterapeutas, enquanto a investigação elaborada por Peixoto et al.(38), incidiu sobre médicos dentistas. Esta diferença na população alvo poderá ter resultado numa maior prevalência de BS no estudo citado(38), uma vez que os médicos dentistas estarão mais alerta para

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os sinais e sintomas de BS, apresentando uma maior consciencialização desse hábito e reportando-o creportando-om maireportando-or frequência, creportando-omparativamente a reportando-outrreportando-os prreportando-ofissireportando-onais.

Para o diagnóstico do BV, em ambas as investigações, foi utilizada a LACO. No entanto, no estudo de Peixoto et al.(38) apenas foram utilizadas algumas das questões da LACO, o que pode ter contribuído para a prevalência inferior de BV na investigação realizada por estes autores.

No que concerne à relação entre as variáveis sociodemográficas e os níveis de stress, ansiedade e depressão, a associação foi estatisticamente significativa para o caso da idade, da profissão, das habilitações literárias e dos anos de atividade profissional.

Assim como Tee et al.(39) reportaram, verificou-se na presente investigação que os níveis de stress, ansiedade e depressão foram superiores nas faixas etárias mais jovens. Pelo contrário, Santamaría et al.(40) encontraram níveis superiores de alterações emocionais em indivíduos com mais de 36 anos.

Ao contrário do que foi apontado por Santamaría et al.(40), Tee et al.(39) e Karacay et al.(41), não foram encontradas diferenças com significância estatística nos níveis de alterações emocionais entre o género feminino e masculino, que pode explicar-se pelo facto de a amostra ser constituída maioritariamente por participantes de um dos géneros.

A profissão em que os níveis de ansiedade se mostraram mais elevados foi a dos enfermeiros, sendo esta associação estatisticamente significativa (p = 0,047). Já no estudo de Karacay et al.(41), os auxiliares de ação médica foram aqueles em que estes níveis foram mais elevados, estando os enfermeiros em segundo lugar. De referir que, no presente estudo os enfermeiros corresponderam a 81,4% dos participantes, enquanto em Karacay et al.(41) eram apenas 33,4% da amostra. Para além disso, apenas 3,4% da amostra constante desta investigação corresponde a auxiliares de ação médica, sendo de 12,3 % no estudo acima citado A maior prevalência destas alterações emocionais nos enfermeiros poderá também aqui ser explicada pelo facto deste grupo profissional constituir a maior parte da amostra populacional.

No estudo realizado por Tee et. al.(39), os níveis de stress foram menos elevados em indivíduos com maior nível de escolaridade, tal como foi verificado nesta investigação, em que os detentores dos graus de Licenciatura e Mestrado/Doutoramento demonstraram menores níveis de stress, ansiedade e depressão.

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Também a associação entre os anos de atividade profissional e as alterações emocionais (stress, ansiedade e depressão) obteve significância estatística, com estes níveis a estarem mais elevados em profissionais com menos anos de carreira. Este facto poderá estar relacionado com a falta de experiência, em determinadas tarefas, que acarretam em si mesmas alterações emocionais relevantes. Não se encontrou na literatura, nenhum dado comparável com a presente investigação.

Nesta investigação não foi encontrada qualquer associação com significância estatística entre as variáveis sociodemográficas em análise e o diagnóstico positivo de hábitos parafuncionais, embora Winocur-Arias et al.(42) afirmem a existência de uma relação estatisticamente significativa entre ambos os géneros e a parafunção.

Foi verificada uma associação estatisticamente significativa entre o género e o diagnóstico positivo de BV, sendo este mais frequente em profissionais do género feminino, estando de acordo com Winocur-Arias et al..(42) Estes autores reportam um aumento, com significância estatística, da prevalência do BS e BV, durante o período da pandemia, em ambos os géneros, sendo que esse aumento foi mais significativo nas mulheres. A maior prevalência no género feminino pode dever-se ao facto de, geralmente, dever-serem as mulheres aquelas que mais reportam sintomas, principalmente em ensaios clínicos com questionários.(43)

A associação entre os anos de atividade profissional e o deslocamento da morada habitual com o BS foi estatisticamente significativa, sendo o diagnóstico mais frequente em indivíduos com menos anos de carreira e naqueles que estiveram deslocados da sua habitação. À data da realização da dissertação, não foi encontrada literatura acerca da relação entre as duas variáveis e o BS. No entanto, a significância desta associação poderá dever-se ao facto dos profissionais mais jovens estarem mais vulneráveis a níveis superiores de stress, ansiedade e depressão, como já foi referido anteriormente, assim como aqueles que se ausentaram da sua habitação usual, durante a pandemia da COVID-19.(39)

No presente estudo não se encontrou qualquer associação estatisticamente significativa entre os níveis de stress, ansiedade e depressão reportados pelos profissionais de saúde e o diagnóstico positivo de hábitos parafuncionais, ao contrário do que é reportado na literatura.(44)

O BV mostrou estar associado, com significância estatística, ao diagnóstico positivo de stress, ansiedade e depressão, sendo reportado com mais frequência quando estes níveis são também mais

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elevados, tal como afirmam Karacay et al.(41) e Peixoto et al..(38) Os investigadores referem ainda que os indivíduos que não apresentam sintomas de stress, ansiedade ou depressão são menos propensos a relatar a presença de BV.(38)

Das alterações emocionais mencionadas, apenas a ansiedade apresenta uma relação estatisticamente significativa com o BS, sendo este mais comum quando o nível de ansiedade é superior. Neste caso, quer Karacay et al.(41), quer Peixoto et al..(38) destacam a existência desta associação, não só com a ansiedade, mas também com o stress e depressão.

Devido à atualidade do tema aqui estudado, a literatura existente acerca do mesmo é ainda escassa.

Assim, não foram encontrados estudos ou investigações que abordassem a mesma população em estudo, para discussão de algumas das associações efetuadas.

Uma relevante limitação do estudo foi o viés da amostra que, apesar de refletir o panorama do SNS, foi constituída, na sua maioria, por profissionais do género feminino, enfermeiros, com elevado grau de diferenciação académica e com até 20 anos de atividade profissional, o que pode ter influenciado algumas das associações encontradas entre as variáveis sociodemográficas, o stress, ansiedade, depressão, o BV e o BS.

Salienta-se que sendo esta uma amostragem por conveniência e, consequentemente não aleatória, as inferências que se extraem da respetiva análise estatística podem não representar a realidade da população de profissionais de saúde em Portugal. Também o facto de o questionário ter sido disponibilizado numa plataforma online, poderá ter influenciado os resultados obtidos, no sentido em que um dos critérios de diagnóstico de bruxismo – o desgaste dentário – não foi avaliado.(5) Nesta investigação poderia ainda ter sido relevante a diferenciação entre profissionais de saúde cuja atividade maioritária tivesse ocorrido no setor público ou no setor privado, avaliando a existência de diferenças nos níveis de stress, ansiedade e depressão entre os grupos. Esta variável não foi incluída no estudo, uma vez que era esperada uma amostra reduzida dos profissionais de saúde do país e, por conseguinte, não era expectável um equilíbrio entre o número de profissionais da amostra em cada setor.

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Assim, sugere-se a realização de outras investigações neste âmbito, no sentido de verificar o impacto da pandemia nos níveis de stress, ansiedade e depressão dos profissionais de saúde de ambiente hospitalar, bem como as suas consequências no BV, BS e hábitos parafuncionais.

Adverte-se ainda para a importância do papel do médico dentista no diagnóstico destes hábitos parafuncionais, tão frequentes na população aqui estudada, no sentido de se estabelecer campanhas de informação e prevenção dos mesmos.

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