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Bruxismo e hábitos parafuncionais em profissionais de saúde em ambiente hospitalar no período pós-pandemia

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Academic year: 2023

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA DENTÁRIA

Bruxismo e Hábitos Parafuncionais em Profissionais de Saúde em Ambiente Hospitalar no Período Pós-pandemia

Catarina dos Santos Pereira

Orientadora:

Professora Doutora Maria Carlos Lopes Cardoso Real Dias Quaresma

Dissertação

Mestrado Integrado em Medicina Dentária

2022

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AGRADECIMENTOS

Chegaram ao fim cinco anos de trabalho árduo e inúmeros desafios, mas acima de tudo de imensa satisfação pelas alegrias e vitórias conquistadas. Nesta fase, torna-se imperativo agradecer a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram na transmissão de conhecimentos, na realização desta dissertação, bem como aos que permitiram que esta jornada se tornasse mais leve.

Em primeiro lugar, agradecer à Professora Doutora Maria Carlos Quaresma, minha orientadora, pela paciência, atenção, disponibilidade, entusiasmo, compreensão e por todo o tempo despendido na realização deste trabalho, ao longo dos dois últimos anos. Agradeço- lhe a orientação e a forma como sempre transmitiu os seus conhecimentos acerca da área da Oclusão e Disfunção Temporomandibular. Será sempre um exemplo profissional a seguir.

Ao Professor Doutor Henrique Luís, pela preciosa ajuda na elaboração da análise estatística da presente dissertação. Agradeço toda a atenção e disponibilidade no esclarecimento de dúvidas.

À minha família, pelo amor e apoio prestado durante toda a minha vida. Agradeço aos meus pais pela presença, por sempre acreditarem em mim e por tudo o que me proporcionaram. À minha mãe, meu porto de abrigo, por me ter ensinado a não ter medo de recomeçar sempre que necessário. À minha irmã, pela amizade e companheirismo dos últimos quinze anos e por ser um veículo de felicidade, nos momentos em que me deixei ir abaixo. Aos meus avós, pelo colo sempre disponível para nos receber. Aos meus tios, pelas horas em que foram, também eles pais. Em especial, um agradecimento à minha tia, Sandra, minha segunda mãe e ao meu tio, João Pedro, pelas horas perdidas na revisão do presente trabalho. Aos meus primos, agradeço os momentos felizes que passámos e que seguramente continuaremos a passar.

Aos meus amigos, aos de infância, aos da escola, àqueles que ganhei na faculdade. Agradeço- vos a amizade de sempre e a compreensão pelas ausências durante os últimos anos.

Agradeço de forma particular à minha dupla e amiga, Ana Lopes, o companheirismo, amizade e todos os bons momentos que passámos e ao Rodrigo Falcão Neves, a companhia

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na elaboração deste trabalho. Lembrar-me-ei sempre das horas que passámos, os três, em videochamadas a estudar para exames e a realizar as nossas dissertações.

Por último, mas não menos importante, agradeço a Deus e todos os meus protetores, por terem sempre iluminado o meu caminho e nunca me deixarem desamparada nos momentos em que recorri ao seu auxílio.

A todos, um sincero e sentido agradecimento!

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RESUMO

Introdução: A COVID-19, doença provocada pelo novo SARS-CoV-2, foi declarada pandemia pela OMS, em março de 2020. Durante este período, os profissionais de saúde, especialmente os de ambiente hospitalar, estiveram vulneráveis a inúmeras fontes de ansiedade físicas e emocionais. Estas podem conduzir a efeitos negativos na saúde mental e ao surgimento ou agravamento de condições afetadas por fatores psicossociais, como o bruxismo e os hábitos parafuncionais.

Objetivos: Avaliar a relação entre o bruxismo (do sono e da vigília) e hábitos parafuncionais e os níveis de stress, ansiedade e depressão em profissionais de saúde de meio hospitalar no período pós-pandemia.

Materiais e métodos: Os dados foram recolhidos através de questionário online, disponibilizado durante fevereiro de 2022, composto por 4 secções: caracterização da amostra, “Escala de Ansiedade, Depressão e Stress” (EADS-21), “Lista de Avaliação de Comportamentos Orais” (LACO) e adaptação do questionário de diagnóstico de bruxismo do sono da Academia Americana de Medicina do Sono. A análise estatística incluiu a descrição e inferência dos dados.

Resultados: A amostra foi constituída por 118 respostas, dadas maioritariamente por pessoas do género feminino com a categoria profissional de enfermagem. A prevalência de stress foi de 39,8%, ansiedade de 51,7% e depressão de 38,1%. Os hábitos parafuncionais estavam presentes em 99,2% da amostra, o bruxismo do sono em 38,1% e o bruxismo da vigília em 68,6%. Verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre o bruxismo da vigília e o stress (p = 0,029), a ansiedade (p = 0,005) e a depressão (p = 0,004) e entre o bruxismo do sono e a ansiedade (p = 0,013).

Conclusão: Concluiu-se existir uma associação estatisticamente significativa entre o bruxismo do sono e da vigília e as alterações emocionais em profissionais de saúde de ambiente hospitalar. Verificou-se um agravamento da frequência e intensidade dos hábitos parafuncionais, consequente da pandemia.

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ABSTRACT

Introduction: COVID-19, a disease caused by the new SARS-CoV-2, was declared a pandemic by the WHO in March 2020. During this period, health professionals, especially those in the hospital environment, were vulnerable to numerous sources of physical and emotional anxiety. These can lead to negative effects on mental health and to the emergence or worsening of conditions affected by psychosocial factors, such as bruxism and parafunctional habits.

Objectives: To evaluate the relationship between sleep and awake bruxism and parafunctional habits and the levels of stress, anxiety, and depression in hospital-based health professionals in the post-pandemic period.

Materials and methods: Data collection was carried out through an online questionnaire, made available during February 2022, and consisting of 4 sections: sample characterization,

“Stress, Anxiety and Depression Scale” (DASS-21), “Oral Behavior Checklist” (OBC) and adaptation of the questionnaire of diagnosis of sleep bruxism from the American Academy of Sleep Medicine. Statistical analysis included data description and inference.

Results: The sample universe consisted of 118 responses, mostly given by women with the professional category of nursing. The prevalence of stress was 39.8%, of anxiety was 51.7%

and of depression was 38.1%. Parafunctional habits were present in 99.2% of the study population, sleep bruxism in 38.1% and awake bruxism in 68.6%. There was a statistically significant association between awake bruxism and stress (p = 0,029), anxiety (p = 0,005) and depression (p = 0,004) and between sleep bruxism and anxiety (p = 0,013).

Conclusion: It was concluded that there is a statistically significant association between sleep and awake bruxism and emotional changes in health professionals in a hospital environment. There was a worsening in the frequency and intensity of parafunctional habits as a consequence of the pandemic.

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PALAVRAS-CHAVE

Bruxismo

Hábitos parafuncionais Pandemia COVID-19 Profissionais de saúde Alterações emocionais

KEYWORDS

Bruxism

Parafunctional habits COVID-19 pandemic Health personnel Emotional changes

(11)

xi

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ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS ... xiv

ÍNDICE DE TABELAS ... xv

ABREVIATURAS ... xvi

1. INTRODUÇÃO ... 1

1.1. Bruxismo: definição, prevalência, sinais e sintomas e fisiopatologia ... 1

1.2. A pandemia da COVID-19, alterações emocionais geradas em profissionais de saúde e o bruxismo ... 3

2. OBJETIVO DO ESTUDO... 5

3. MATERIAIS E MÉTODOS ... 5

3.1. Tipologia do estudo ... 5

3.2. População alvo e amostra... 5

3.3. Considerações éticas ... 6

3.4. Recolha dos dados ... 6

3.5. Descrição das variáveis do estudo ... 8

3.6. Análise estatística ... 8

4. RESULTADOS ... 9

4.1. Caracterização da amostra em estudo ... 9

4.2. Caracterização dos níveis de stress, ansiedade e depressão ... 12

4.3. Caracterização dos hábitos parafuncionais ... 12

4.4. Caracterização do BV e do BS ... 13

4.5. Associação entre as variáveis sociodemográficas e o stress, ansiedade e depressão 14 4.6. Associação entre as variáveis sociodemográficas e os hábitos parafuncionais ... 15

4.7. Associação entre as variáveis sociodemográficas e o BS e BV ... 16

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4.8. Associação entre o stress, ansiedade e depressão e os hábitos parafuncionais ... 17

4.9. Associação entre os níveis de stress, ansiedade e depressão e o diagnóstico de BS e BV ... 17

5. DISCUSSÃO ... 18

6. CONCLUSÕES ... 24

7. BIBLIOGRAFIA ... 26

8. APÊNDICES E ANEXOS ... 31

Apêndice 1 - Questionário ... 31

Apêndice 2 - Tabela das Variáveis em Estudo ... 39

Anexo 1 - Deliberação da Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa ... 41

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Gráficos representativos da distribuição da amostra por géneros (gráfico 1) e faixas etárias (gráfico 2). ... 9 Figura 2 - Gráficos representativos da distribuição da amostra por profissão (gráfico 3) e por anos de atividade profissional (gráfico 4). ... 10 Figura 3 - Representação gráfica das habilitações literárias da amostra populacional

(gráfico 5). ... 10 Figura 4 - Representações gráficas das variáveis "Tempo de Atividade Diária e Utilização de Máscara" (gráfico 6). ... 11 Figura 5 - Gráfico representativo da distribuição da amostra pelas variáveis "presença na linha da frente", "presença nas urgências", "infeção por COVID-19" e "deslocamento da morada" (gráfico 7). ... 11 Figura 6 - Representação gráfica do diagnóstico de bruxismo do sono e da vigília. ... 14

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Significância estatística da associação entre o stress, ansiedade e depressão e as variáveis sociodemográficas. ... 15 Tabela 2 - Tabela representativa da significância estatística da associação entre o

diagnóstico positivo de BV e BS e as variáveis sociodemográficas. ... 16 Tabela 3 - Representação da significância estatística da associação entre o BV e BS e diagnóstico positivo de stress, ansiedade e depressão. ... 17

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ABREVIATURAS

Quadro referente às siglas e acrónimos dos termos em português e inglês, quando aplicáveis:

Sigla /

Acrónimo Português Inglês Sigla /

Acrónimo AAMS Academia Americana de

Medicina do Sono

American Academy of

Sleep Medicine AASM

ATM Articulação

Temporomandibular Temporomandibular Joint TMJ

BS Bruxismo do sono Sleep bruxism SB

BV Bruxismo da vigília Awake bruxism AB

COVID-19 Doença por Coronavírus 2019 Coronavirus Disease 2019 COVID-19 EADS-21 Escala de Ansiedade,

Depressão e Stress 21

Depression, Anxiety and

Stress Scale 21 DASS-21 EUA Estados Unidos da América United States of America USA

INE Instituto Nacional de

Estatística Não aplicável INE

CIDS Classificação Internacional de Distúrbios do Sono

International Classification

of Sleep Disorders ICSD LACO Lista de Avaliação de

Comportamentos Orais Oral Behavior Checklist OBC OMS Organização Mundial de

Saúde World Health Organization WHO

REM Não aplicável Rapid Eye Movement REM

RSMSSNS

Relatório Social do Ministério da Saúde e do Serviço

Nacional de Saúde

Não aplicável RSMSSNS SARS-

CoV-2

Síndrome Respiratória Aguda Grave – Coronavírus 2

Severe Acute Respiratory Syndrome - Coronavirus 2

SARS- CoV-2 SNC Sistema Nervoso Central Central Nervous System CNS

SNS Serviço Nacional de Saúde Não aplicável SNS

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Bruxismo: definição, prevalência, sinais e sintomas e fisiopatologia

O bruxismo é uma parafunção oral definida por um grupo de especialistas internacionais como uma atividade repetitiva dos músculos mastigadores, nomeadamente do masséter e do temporal e que se divide no bruxismo do sono - caracterizado pelas fases rítmica (fásica) e não-rítmica (tónica) - e no bruxismo da vigília - que se apresenta sob a forma de contacto dentário repetitivo ou apertamento dentário e/ou protrusão da mandíbula.(1–4)

A ICSD enquadra o BS na categoria dos distúrbios motores relacionados com o sono e define-o como “um período de atividade muscular que ocorre durante o sono e que apresenta uma fase rítmica (fásica) e uma fase não rítmica (tónica)”.(1,4–6) A AASM considera o BS uma parassonia.(5) Parafunção é toda e qualquer atividade oromandibular ou lingual incomum ou disfuncional e que se estenda para além dos limites funcionais do sistema estomatognático. Inclui, para além do bruxismo, comportamentos como morder a língua ou a mucosa jugal, morder objetos ou segurá- los entre os dentes, protrusão da língua, mascar pastilha elástica e o posicionamento lateral da mandíbula ou da cabeça, por exemplo, segurando o telemóvel entre a orelha e o ombro.(7)

Existe uma grande variabilidade no que toca aos valores de prevalência do bruxismo, dependendo do método de diagnóstico utilizado na recolha de dados.(2) O valor de prevalência para o BS está entre 8 e 13% e para o BV entre 22 e 31%, valores que tendem a diminuir com o aumento da idade.(2,8,9) A sua incidência é maior em indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e os 45 anos e a sua ocorrência é também maior em sociedades desenvolvidas.(10) Não se verificam diferenças de incidência no que se refere ao género.(10,11) Num terço dos pacientes, o BV e o BS estão presentes em simultâneo.(12)

No bruxismo verifica-se a presença de dois ritmos circadianos, uma vez que a atividade parafuncional pode ocorrer durante a vigília (BV) ou durante o sono (BS).(11) Para além disso, pode classificar-se como bruxismo possível (auto reportado), bruxismo provável (auto reportado complementado com exame clínico) ou como bruxismo definido (auto reportado complementado com exame clínico e polissonografia).(1,2) Também pode ser classificado como primário – na

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ausência de condições ou patologias pré-existentes associadas ao bruxismo – ou como secundário – quando resulta de uma alteração médica somática (como o Parkinson ou a esquizofrenia) ou psicológica.(2,4,13)

Quando falamos de bruxismo, é possível distinguir o tipo de movimento que é realizado durante a parafunção. Podemos estar perante uma situação de apertamento (geralmente, associada a BV), de ranger dentário (quando realizado por bruxómanos da vigília é uma situação secundária a alterações neurológicas ou a medicação), ou um movimento misto. Num terço dos pacientes com BS, os episódios são acompanhados por sons de rangido e/ou apertamento, enquanto na vigília é rara a existência de sons.(14,15)

Os sintomas referidos pelos pacientes passam pela fadiga ou dor muscular, desgaste dentário anormal, hipertrofia dos masséteres, cefaleias, dor orofacial, hipersensibilidade e mobilidade dentária.(4,16)

O bruxismo é considerado a parafunção mais prejudicial ao sistema estomatognático, tendo como possíveis consequências o desgaste dentário, dor e/ou mobilidade dentária, hipersensibilidade dentinária, perda de suporte periodontal e de estrutura dentária, fratura de dentes e restaurações, hipertrofia dos músculos mastigadores, edentação dos bordos da língua, dor na ATM e cefaleias.(2,3,7,12,16,17)

A causa exata do bruxismo está ainda por determinar, mas a sua possível etiologia, complexa e multifatorial, inclui fatores como interferências oclusais, distúrbios do sono com despertares transitórios, alguma predisposição genética, fatores exógenos como o tabaco, álcool, cafeína, estupefacientes e medicação, fatores psicossociais como o stress psicológico e a ansiedade e comorbilidades, nomeadamente a apneia do sono e o refluxo gastroesofágico.(2,7,10,12,17,18) Estes fatores podem influenciar a ocorrência de episódios de bruxismo ao atuarem como estímulo para o SNC, que reage alterando a neurotransmissão da dopamina, resultando em apertamento ou ranger dentário.(19)

A fisiopatologia do BS está relacionada com a ativação de núcleos motores específicos do tronco cerebral, num reflexo motor autonómico, durante o sono, que é responsável pela atividade muscular mastigatória rítmica, observada na fase não-REM do sono.(4,6,7,11,13) Esta ativação parece ser uma reação a um microdespertar, que ocorre naturalmente durante o sono. Estes correspondem a

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3

episódios de três a dez segundos de duração, acompanhados de um aumento da frequência cardíaca e da contração muscular. Tais episódios ocorrem entre oito e quinze vezes por hora em indivíduos saudáveis, sendo este valor mais elevado em bruxómanos.(7,13,20)

Alguns autores(2,4,6,13) defendem que o bruxismo pode ter um papel protetor durante o sono, mantendo a via aérea e estimulando o fluxo salivar. O apertamento e ranger dentários levam a um aumento da atividade dos mecanorrecetores periodontais, promovendo a secreção salivar que aumenta o pH da cavidade oral em situações de refluxo gastroesofágico e contribui para a lubrificação da orofaringe durante o sono. Para além disso, a protrusão mandibular e dos músculos da língua que, por vezes, é verificada durante os episódios de bruxismo, especialmente no BS, aumenta o volume faríngeo e, consequentemente o fluxo de ar inspirado.(2,4,6,13)

O bruxismo está significativamente associado a fatores como o stress, a ansiedade, a depressão e o catastrofismo.(10,12,18,21) Algumas revisões(12,22) reportam que pacientes com níveis elevados de stress apresentam seis vezes mais probabilidade de reportar BV. Os fatores de ansiedade ativam o eixo hipotálamo-hipofisário que, por sua vez, controla a libertação de catecolaminas, encontradas em níveis mais elevados na urina e na saliva de pacientes bruxómanos, o que demonstra elevados níveis de stress nestes indivíduos.(12,22)

1.2. A pandemia da COVID-19, alterações emocionais geradas em profissionais de saúde e o bruxismo

A pandemia da COVID-19, declarada assim pela OMS a 11 de março de 2020, consiste na doença provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, identificado pela primeira vez na província de Wuhan, na China, no final do ano de 2019.(23,24)

Durante a pandemia, os profissionais de saúde estiveram particularmente vulneráveis a inúmeros fatores de ansiedade físicos e emocionais, nomeadamente o decurso incerto da pandemia, a falta de recursos humanos e materiais para a testagem e tratamento dos pacientes, assim como a carga emocional associada às decisões de alocação de recursos pelos doentes, a carência de equipamentos de proteção individual, o risco de infeção a que estiveram sujeitos e o risco de constituírem, eles próprios, um veículo de transmissão do vírus, o aumento do número de horas de trabalho em contexto hospitalar, o luto pela perda de familiares, amigos e pacientes e a saudade dos familiares,

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decorrente do distanciamento físico. Para além disso, também a apreensão em relação ao impacto económico e social da pandemia na população contribuiu para o stress e ansiedade sentidos por estes profissionais. Todas estas variáveis tornaram este grupo profissional suscetível a efeitos negativos na saúde mental.(23–26)

São já inúmeras as investigações e revisões(23–31) que tentam entender o impacto da pandemia nos indivíduos confinados, assim como nos profissionais de saúde. Têm sido notórios os efeitos emocionais como o stress, ansiedade, depressão, burnout, sintomas obsessivo-compulsivos, reações pós-traumáticas, insónias, irritabilidade, frustração e aborrecimento. Estes estavam associados ao período da quarentena, tendo persistido após o seu final.(21,23–26,28) Verificou-se noutras pandemias que os efeitos psicológicos decorrentes das mesmas persistiram durante 1 a 3 anos após o fim das situações pandémicas.(30)

Ghaleb et al.(32), reportaram que o stress apresentou uma prevalência de cerca de 42% em profissionais de saúde, no período pós-pandémico, e que estes níveis são mais elevados em médicos, comparativamente com outros grupos profissionais. A prevalência de depressão foi de 57,5% e a de ansiedade de 59,1%. A prevalência de insónias foi de 38,9%.(27,31,32)

No entanto, no seu relatório intitulado “Saúde mental em tempos de pandemia”(23), o psiquiatra Pedro Morgado verificou que os indivíduos não são afetados do mesmo modo pela pandemia: os indivíduos mais suscetíveis ao sofrimento emocional e desenvolvimento de doenças ou distúrbios psiquiátricos são aqueles com história prévia de doença psiquiátrica, desempregados e com fraco suporte social e económico. Também se incluem no grupo de maior vulnerabilidade indivíduos que contraíram COVID-19, profissionais de saúde e pessoas com idade mais avançada, especialmente quando em situação de isolamento.(23) Estudos recentes(26,30,31) constataram que o impacto psicológico foi maior em profissionais do género feminino, enfermeiros e naqueles que estiveram presentes na linha da frente do combate à pandemia da COVID-19.

Conhecendo-se as alterações emocionais a que os profissionais de saúde estiveram sujeitos durante a pandemia, assim como a relação entre o bruxismo e hábitos parafuncionais com essas alterações, torna-se importante perceber o impacto da pandemia no desenvolvimento e/ou agravamento desses comportamentos.

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2. OBJETIVO DO ESTUDO

O objetivo primário do presente trabalho consistiu em avaliar a relação entre o BS, o BV e outros hábitos parafuncionais e os níveis de stress, ansiedade e depressão nos profissionais de saúde que tenham exercido atividade profissional em ambiente hospitalar durante a pandemia da COVID-19.

Como objetivos secundários pretendeu-se:

• Determinar a prevalência de BS, BV e hábitos parafuncionais nestes profissionais no período pós-pandemia, através do questionário do AASM e da LACO;

• Determinar a prevalência de ansiedade, stress e depressão no período pós-pandemia, através da escala EADS-21;

• Relacionar as características da amostra com os níveis de stress, ansiedade e depressão e, consequentemente com o BS, BV e hábitos parafuncionais.

3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Tipologia do estudo

A presente investigação corresponde a um estudo observacional descritivo transversal, com uma amostragem por conveniência.

3.2. População alvo e amostra

A população alvo correspondeu aos profissionais de saúde que tenham trabalhado em meio hospitalar durante a pandemia da COVID-19 e que tenham iniciado a atividade profissional há, pelo menos, 3 anos.

Critérios de inclusão:

• Ser profissional de saúde (por exemplo, médico, enfermeiro, auxiliar de ação médica, fisioterapeuta) a trabalhar em meio hospitalar;

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6

• Ter exercido atividade profissional em ambiente hospitalar durante a pandemia da COVID- 19;

• Ter iniciado a atividade profissional há, pelo menos, 3 anos.

Critérios de exclusão:

• Ausência de prática profissional em meio hospitalar durante a pandemia da COVID-19;

• Início da atividade profissional há menos de 3 anos.

• Não ser profissional de saúde.

A amostra populacional é uma amostra não aleatória criteriosa, correspondente a todos os indivíduos que cumprem os critérios de inclusão e voluntários à resposta ao questionário.

3.3. Considerações éticas

Para efeitos da realização do presente estudo observacional, o protocolo de estudo foi enviado à Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa. A Comissão de Ética emitiu a deliberação a 3 de janeiro de 2022, onde referiu que, de acordo com a Lei da Investigação Clínica (Lei nº21/2014) e com o Decreto-Lei nº80/2018 (artigo 2º, ponto 4), a tipologia do estudo não exigia parecer por parte da Comissão de Ética acima mencionada. Seriam Comissões de Ética competentes as das instituições de saúde onde fossem entregues questionários em papel. Como todo o estudo foi realizado com recurso a questionários online, não foi solicitado novo parecer a qualquer comissão de ética.

3.4. Recolha dos dados

A recolha de dados para o presente estudo foi realizada através de um questionário, composto por 18 perguntas de resposta rápida e por duas tabelas, também elas de preenchimento rápido, elaborado na plataforma Google Forms e cuja resposta tomou, no máximo, 10 minutos. O link do questionário foi divulgado nas redes sociais e esteve disponível para resposta, durante o mês de fevereiro de 2022.

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7

O questionário iniciou-se pela caracterização da amostra em estudo, em relação à idade, género, escolaridade, profissão, situação profissional, deslocamento da morada, infeção por COVID-19 e presença de refluxo gastroesofágico.

Instrumento para análise do stress, ansiedade e depressão

A análise do stress, ansiedade e depressão foi realizada tendo por base a Depression, anxiety and stress scale (DASS-21), de Lovibond e Lovibond(33), que pretende avaliar de forma empírica a ansiedade, depressão e stress, num modelo tripartido. No presente estudo foi utilizada a tradução para português da DASS-21, realizada por Pais-Ribeiro et al.(34), intitulada Escala de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS-21) e cujo valor Alpha de Cronbach é de 0,85 para a escala de depressão, 0,74 para a de ansiedade e de 0,81 para a escala de stress.

A EADS-21 organiza-se, por sua vez, em três escalas - a da ansiedade, a da depressão e a do stress - cada uma delas com sete itens, perfazendo os vinte e um itens que remetem para emoções negativas e que compõem a escala. Para cada um destes itens, existem quatro respostas possíveis -

“não se aplicou nada a mim”, “aplicou-se a mim algumas vezes”, “aplicou-se a mim muitas vezes”

e “aplicou-se a mim a maior parte das vezes”. Os resultados de cada uma das escalas são determinados somando os resultados dos sete itens dessa escala e multiplicando por dois.

Resultados mais elevados correspondem a estados emocionais mais negativos.(34) Instrumento para análise dos hábitos parafuncionais e BV

A análise dos hábitos parafuncionais foi realizada com recurso à tradução portuguesa da Oral Behavior Checklist, realizada por Barbosa C.(35), para Lista de Avaliação dos Comportamentos Orais (LACO) (apêndice 1). Esta tem como objetivo avaliar simultaneamente a frequência e a intensidade de vinte comportamentos orais. Dois destes comportamentos são referentes a atividades durante o sono - têm como opção de resposta “nenhum tempo”, “<1 noite/mês”, “1-3 noites/mês”, “1-3 noites/semana” e “4-7 noites/semana” - e os restantes dezoito referentes a situações durante a vigília - que podem ser respondidos com “nenhum tempo”, “uma pequena parte do tempo”, “alguma parte do tempo”, “a maior parte do tempo” ou “todo o tempo”. A resposta é dada consoante os comportamentos percecionados durante o último mês.(35)

Para o diagnóstico do BV utilizaram-se os itens 3.3, 3.4 e 3.5 da LACO.

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Instrumento para análise do BS

Para a análise do BS foi utilizada parte dos critérios de diagnóstico da ICSD e da AASM (apêndice 1). Segundo estes critérios, o BS é diagnosticado quando o paciente reporta apertamento ou ranger dentário durante o sono, acompanhado por um dos seguintes: desgaste dentário anormal, desconforto nos músculos mandibulares ou sons associados à atividade bruxómana.(5)Também o item 3.1 da LACO foi incluído para diagnóstico do BS.

3.5. Descrição das variáveis do estudo

As variáveis do presente estudo encontram-se descritas na tabela constante do apêndice 2, assim como as respetivas escalas de mensuração.

3.6. Análise estatística

Os dados recolhidos nos questionários disponibilizados no Google Forms, foram inseridos no programa Microsoft Excel® 2016 versão 2202 (Microsoft, Redmond, USA) e a análise estatística foi realizada no software SPSS® versão 28.0 (IBM®, Armonk, New York, USA).

Na análise descritiva dos dados, as variáveis categóricas foram descritas em termos de frequência absoluta e relativa. As associações entre estas (estatística inferencial) foram realizadas utilizando os testes Phi, V de Cramer e Gamma, em função do tipo de variáveis em análise - nominais, binominais ou ordinais.

A significância estatística foi assumida para p = 0,05 (i.e. 5%). Assim, valores de significância em que p < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos, rejeitando-se a hipótese nula.

Tendo por base a ausência de variáveis contínuas e a amostra de n > 30, assumiu-se a normalidade das variáveis, não se justificando a sua verificação.

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4. RESULTADOS

A amostra do presente estudo correspondeu a 118 respostas. No total, foram obtidas 152 respostas ao questionário. Destas, foram excluídas 34 por apresentarem, pelo menos, um critério de exclusão.

As razões para exclusão foram o facto de 31 destes participantes não trabalharem em meio hospitalar há mais de 3 anos, não tendo estado presentes durante todo o período da pandemia e 3 deles por não corresponderem a profissionais de saúde. Os 118 participantes incluídos completaram totalmente a resposta ao questionário e a todos os instrumentos de análise das variáveis.

4.1. Caracterização da amostra em estudo

Dos 118 indivíduos participantes no estudo, a maioria pertence ao género feminino – n =110 (93,2%) - (figura 1, gráfico 1) e apresenta entre 20 e 40 anos – n = 98 (83,1%) (figura 1, gráfico 2).

Os enfermeiros constituíram a maioria da amostra, correspondendo a 81,4% (n = 96) do total de participantes (figura 2, gráfico 3). Dos 118 profissionais, 47 (39,8%) exerciam a sua atividade profissional há, no máximo, 10 anos, 30 (25,4%) apresentaram uma carreira de 11 a 20 anos, 33

93,20%

6,80%

G r á f i c o 1 - D i s t r i b u i ç ã o d a p o p u l a ç ã o p o r g é n e r o

Feminino Masculino

26,30%

29,70%

27,10%

14,40%

2,50%

G r á f i c o 2 - D i s t r i b u i ç ã o d a p o p u l a ç ã o p o r f a i x a e t á r i a ( a n o s )

20-30 31-40 41-50 51-60 >60

Figura 1 - Gráficos representativos da distribuição da amostra por géneros (gráfico 1) e faixas etárias (gráfico 2).

(27)

10

(28,0%) de 21 a 30 anos e 8 (6,8 %) apresentaram mais de 30 anos de atividade profissional (figura 2, gráfico 4).

Em relação às habilitações literárias, a maioria da amostra - 68,6% (n = 81) - apresentava o grau de Licenciatura e 28,0% (n = 33) completou os graus de Mestrado ou Doutoramento (figura 3, gráfico 5).

14,40%

81,40%

3,39% 0,80%

G r á f i c o 3 - D i s t r i b u i ç ã o d a p o p u l a ç ã o p o r p r o f i s s ã o

Médico/a Enfermeiro/a Auxiliar de Ação Médica

Fisioterapeuta

39,80%

25,40%

28,00%

6,80%

G r á f i c o 4 - A n o s d e a t i v i d a d e p r o f i s s i o n a l d a a m o s t r a

0-10 11-20 21-30

>30

Figura 2 - Gráficos representativos da distribuição da amostra por profissão (gráfico 3) e por anos de atividade profissional (gráfico 4).

0,80%

0,80%

68,60%

28,00%

1,70%

G r á f i c o 5 - H a b i l i t a ç õ e s l i t e r á r i a s d a a m o s t r a e m e s t u d o

Ensino Básico Ensino Secundário Licenciatura

Mestrado/Doutoramento Ensino Técnico- profissional

Figura 3 - Representação gráfica das habilitações literárias da amostra populacional (gráfico 5).

(28)

11

Relativamente às condições laborais, 47,5% (n = 56) dos profissionais de saúde trabalhou entre ]0- 8] horas por dia e 52,5% (n = 62) entre ]8-16] horas diárias (gráfico 6). A utilização de máscara, no exercício da atividade profissional, foi realizada por períodos de ]0-8] em 50,0% (n = 59) da amostra, tal como a utilização em intervalos de tempo de ]8-16] horas (figura 4, gráfico 6).

No total dos profissionais de saúde inquiridos, 99 (83,9%), estiveram presentes na linha da frente do combate à pandemia da COVID-19, 60 (50,8%) realizaram trabalho nas urgências hospitalares (gráfico 7). Para além disso, 41 (34,7%) foram infetados pelo novo coronavírus e 7 profissionais de saúde (5,9%) estiveram deslocados da sua morada habitual (figura 5, gráfico 7).

47,50%

50,00%

52,50%

50,00%

44,00%

46,00%

48,00%

50,00%

52,00%

54,00%

Horas de Atividade Diária Horas de Utilização de Máscara G r á f i c o 6 - T e m p o d e a t i v i d a d e d i á r i a e u t i l i z a ç ã o

d e m á s c a r a p e l o s p r o f i s s i o n a i s d e s a ú d e

]0-8]horas ]8-16] horas

Figura 4 - Representações gráficas das variáveis "Tempo de Atividade Diária e Utilização de Máscara"

(gráfico 6).

83,90%

50,80%

34,70%

5,90%

16,10%

49,20%

65,30%

94,10%

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

Presença na Linha da Frente

Presença nas Urgências

Infeção por COVID-19

Deslocamento da Habitação G r á f i c o 7 - C o n t e x t o p e s s o a l e p r o f i s s i o n a l d o s p r o f i s s i o n a i s d e s a ú d e d u r a n t e a p a n d e m i a

Sim Não

Figura 5 - Gráfico representativo da distribuição da amostra pelas variáveis "presença na linha da frente", "presença nas urgências", "infeção por COVID-19" e "deslocamento da morada" (gráfico 7).

(29)

12

Dos 118 profissionais de saúde inquiridos, 14 (11,9%) referiram já ter sido diagnosticados com refluxo gastroesofágico.

4.2. Caracterização dos níveis de stress, ansiedade e depressão

Para a caracterização dos níveis de stress, ansiedade e depressão e, de acordo com as pontuações atribuídas pelos participantes às questões apresentadas na EADS-21, as pontuações totais para cada um dos estados emocionais foram classificadas em “Normal”, “Ligeiro”, “Moderado”, “Severo” e

“Extremamente severo”.(33)

Para efeitos da realização da análise estatística, foi ainda determinado o diagnóstico de stress, ansiedade e depressão. Assim, foi considerado diagnóstico positivo quando se verificou, no mínimo, o nível “ligeiro” nas categorias da EADS-21 (stress, ansiedade ou depressão).

Da totalidade da amostra, 39,8% (n = 47) dos profissionais de saúde apresentou um diagnóstico positivo de stress, sendo que, 10,2% (n = 12) reportou um nível severo e 3,4% (n = 4) um nível extremamente severo.

No caso da ansiedade, 51,7% (n = 61) dos inquiridos apresentaram um diagnóstico positivo, dos quais 5,9% (n = 7) revelou um nível severo e 15,3% (n = 18) um nível extremamente severo.

Já em relação aos níveis de depressão, 38,1% (n = 45) da amostra apresentou um diagnóstico positivo de depressão, com 4,2% (n = 5) a demonstrar um nível severo e 6,8% (n = 8) um nível extremamente severo de depressão.

Para além das informações reportadas no questionário da EADS-21, 78,0% (n = 92) da amostra considerou que os seus níveis de stress aumentaram depois de março de 2020.

4.3. Caracterização dos hábitos parafuncionais

Para efeitos de diagnóstico de parafunção, o número de comportamentos apresentado por participante foi agrupado em quatro categorias - “0”, “1-3”, “4-8” e “>8” - sendo considerado

(30)

13

diagnóstico positivo sempre que os participantes reportaram, pelo menos, um hábito parafuncional, na LACO.

Dos 118 profissionais, 99,2% (n = 117) apresentou, no mínimo, um hábito parafuncional, com apenas um dos participantes a não reportar qualquer tipo de comportamento.

No que toca à avaliação dos comportamentos orais, os mais frequentes foram os referentes aos itens 3.16, 3.17, 3.18 e 3.20 - “Mastiga a comida só de um lado”, “Como entre refeições (isto é, comida que requeira mastigação)”, “Fala durante períodos prolongados (por exemplo, ensina, vende, apoio ao consumidor)” e “Boceja” - respetivamente. Os menos frequentes foram os comportamentos referentes aos itens 3.7, 3.9, 3.12 e 3.14 - “Mantém ou projeta a mandíbula para a frente ou para o lado”, “Coloca a língua entre os dentes”, “Mantém entre os dentes ou morde objetos tais como cachimbo, lápis, canetas, dedos, unhas, etc.)” e “Toca instrumentos musicais que envolvam o uso da boca ou mandíbula (por exemplo, instrumentos de sopro, metal ou madeira, ou instrumentos de corda)” - respetivamente.

O valor máximo de número de comportamentos apresentado por participante foi de 21 e o mínimo de 0. A média do número de comportamentos por participante foi de 10,86 ± 4,37 (desvio padrão).

A média do somatório das pontuações atribuídas aos comportamentos e que reflete a intensidade dos mesmos foi de 20,65 ± 11,81 (desvio padrão), com um valor máximo de 62 e valor mínimo de 0.

Dos 118 participantes, 56,8% (n = 67) afirmou que os comportamentos parafuncionais já existiam antes da pandemia com a mesma frequência, 41,5% (n = 49) referiu já existirem antes, sendo agora mais intensos e/ou frequentes e 1,7% (n = 2) referiu terem surgido depois do início da pandemia.

4.4. Caracterização do BV e do BS

Para avaliar a presença de bruxismo, foram utilizados os itens 3.3, 3.4 e 3.5 da LACO para o BV e os itens 4.1, 4.2 e 4.3 do questionário da AAMS e 3.1 da LACO para o BS. Foi considerado caso positivo de BS a resposta positiva ao item 3.1 da LACO ou resposta positiva a, pelo menos, uma das questões da AAMS e caso positivo de BV a resposta positiva ao item 3.3, 3.4 ou 3.5 da LACO.

(31)

14

Verificou-se a presença de BS em 38,1% (n = 45) da amostra e a presença de BV em 68,6% (n = 81) dos participantes. De referir que 39 (33,1%) dos 118 participantes apresentavam, simultaneamente BS e BV, 42 (35,6%) apenas BV, 6 (0,05%) profissionais apresentavam apenas BS e 31 (26,3%) participantes não apresentavam nem BV, nem BS (figura 6, gráfico 8).

4.5. Associação entre as variáveis sociodemográficas e o stress, ansiedade e depressão

Verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre a idade e os níveis de stress (p <

0,001), ansiedade (p = 0,039) e depressão (p = 0,003), com os níveis de alterações emocionais a serem mais elevados nas faixas etárias mais jovens (tabela 1).

Entre a profissão e a ansiedade existe uma associação com significância estatística (p = 0,047). O diagnóstico de ansiedade foi mais comum nos enfermeiros, comparativamente com outras profissões, sendo ainda de referir que apenas os enfermeiros apresentaram níveis de ansiedade

“extremamente severos” e que dos vinte indivíduos com ansiedade em nível “severo”, dezoito correspondiam a enfermeiros (tabela 1).

Há uma associação estatisticamente significativa entre as habilitações literárias e os níveis de stress (p = 0,026), ansiedade (p = 0,018) e depressão (p = 0,026). Para as três alterações emocionais, verificou-se que quanto maior é a diferenciação académica dos profissionais de saúde, concretamente nos profissionais detentores dos graus de Licenciatura e Mestrado/Doutoramento, menores são os níveis de stress, ansiedade e depressão (tabela 1).

38,10%

68,60%

61,90%

31,40%

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

Bruxismo do Sono Bruxismo da Vigília

G r á f i c o 8 - D i a g n ó s t i c o d e b r u x i s m o d o s o n o e d a v i g í l i a

Presente Ausente

Figura 6 - Representação gráfica do diagnóstico de bruxismo do sono e da vigília.

(32)

15

Verificou-se a existência de uma associação estatisticamente significativa entre os anos de atividade profissional e os níveis de stress (p < 0,001), ansiedade (p = 0,047) e depressão (p = 0,003) apresentados, com menos anos de profissão a corresponderem a níveis mais elevados de stress, ansiedade e depressão e com mais profissionais de saúde a relatarem níveis “severos” e

“extremamente severos” (tabela 1).

Tabela 1 - Significância estatística da associação entre o stress, ansiedade e depressão e as variáveis sociodemográficas.

Diagnóstico positivo de alterações emocionais (EADS-21)

Stress Ansiedade Depressão

p (significância)

Variáveis sociodemogficas

Idade <0,001*** 0,039*** 0,003***

Género 0,514** 0,057** 0,259**

Profissão 0,641** 0,047** 0,567**

Habilitações literárias 0,026*** 0,018*** 0,026***

Anos de atividade profissional <0,001*** 0,047*** 0,003***

Presença na linha da frente 0,621** 0,885** 0,423**

Presença nas urgências 0,088* 0,299** 0,908**

Horas de trabalho diário 0,489*** 0,574*** 0,476***

Horas de utilização de máscara 0,818*** 0,511*** 0,653***

Infeção por COVID-19 0,465** 0,869** 0,104**

Deslocamento da morada 0,205** 0,123** 0,202**

*Teste de Phi /**Teste V de Cramer /***Teste Gamma; p (negrito) - nível de significância < 0,05

4.6. Associação entre as variáveis sociodemográficas e os hábitos parafuncionais

Não se verificaram associações com significância estatística entre qualquer uma das variáveis sociodemográficas - “idade” (p = 0,664), “género” (p = 0,787), “profissão (p = 0,972), “habilitações literárias” (p = 0,627), “anos de atividade profissional” (p = 0,677), “presença na linha da frente”

(p = 0,660), “presença nas urgências” (p = 0,232), “horas de atividade diária” (p = 0,291), “horas

(33)

16

de utilização de máscara” (p = 0,315), “infeção por COVID-19” (p = 0,464) e “deslocamento da morada” (p = 0,801) - e os hábitos parafuncionais.

4.7. Associação entre as variáveis sociodemográficas e o BS e BV

Em relação à associação entre as variáveis sociodemográficas e o bruxismo, verificou-se uma associação estatisticamente significativa (p = 0,006) entre o género e o BV, sendo este mais frequente no género feminino (tabela 2).

Para além disso, existe uma associação com significância estatística entre os anos de atividade profissional e o BS (p = 0,046) e entre o deslocamento da morada habitual durante a pandemia e a presença de BS (p = 0,008), sendo este mais frequente nos profissionais de saúde que exerciam a sua profissão há menos anos e naqueles que estiveram deslocados da sua habitação durante a pandemia (tabela 2).

Tabela 2 - Tabela representativa da significância estatística da associação entre o diagnóstico positivo de BV e BS e as variáveis sociodemográficas.

Diagnóstico positivo de bruxismo

BV BS

p (significância)

Variáveis sociodemogficas

Idade 0,054** 0,623**

Género 0,006* 0,428*

Profissão 0,133** 0,295**

Habilitações literárias 0,634** 0,605**

Anos de atividade profissional 0,542** 0,046**

Presença na linha da frente 0,270* 0,697*

Presença nas urgências 0,638* 0,964*

Horas de trabalho diário 0,861* 0,807*

Horas de utilização de máscara 0,552* 0,850*

Infeção por COVID-19 0,234* 0,294*

Deslocamento da morada 0,065* 0,008*

*Teste de Phi /**Teste V de Cramer; p (negrito) - nível de significância < 0,05

(34)

17

4.8. Associação entre o stress, ansiedade e depressão e os hábitos parafuncionais

Não foi encontrada uma associação estatisticamente significativa entre a presença de hábitos parafuncionais nos profissionais de saúde em estudo e o diagnóstico positivo de stress (p = 0,955), ansiedade (p = 0,898) e depressão (p = 0,961).

4.9. Associação entre os níveis de stress, ansiedade e depressão e o diagnóstico de BS e BV

Em relação às alterações emocionais verificadas com a EADS-21 e a sua relação com o bruxismo, verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre o stress (p = 0,029), a ansiedade (p = 0,005), a depressão (p = 0,004) e o BV, com níveis mais elevados de stress, ansiedade e depressão (“severo” e “extremamente severo”) a estarem associados com maior frequência à presença de BV (tabela 3).

No que toca ao BS não se verificaram associações estatisticamente significativas entre o mesmo e os níveis de stress (p = 0,291) e depressão (p = 0,369). No entanto, entre o BS e a ansiedade a associação é estatisticamente significativa (p = 0,013), com os participantes a reportarem níveis de ansiedade mais elevados (“severo” e “extremamente severo”) com maior frequência, quando o diagnóstico de BS foi positivo (tabela 3).

Tabela 3 - Representação da significância estatística da associação entre o BV e BS e diagnóstico positivo de stress, ansiedade e depressão.

**Teste V de Cramer; p (negrito) - nível de significância < 0,05

Diagnóstico positivo de alterações emocionais (EADS-21)

Stress Ansiedade Depressão

p (significância)

Diagnóstico positivo de bruxismo

BV 0,029** 0,005** 0,004**

BS 0,291** 0,013* 0,369*

(35)

18

5. DISCUSSÃO

A presente investigação incluiu, no total, 118 participantes, dos quais 111 pertenciam ao género feminino e 7 ao género masculino. Estes dados estão em linha com os dados demográficos apresentados pelo INE, referentes à realidade portuguesa da distribuição da população por géneros, bem como com os dados constantes do Relatório Social do Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de Saúde, que reflete a distribuição dos profissionais de saúde por género.(36,37)

A maioria dos profissionais de saúde apresentou idades entre os 20 e os 50 anos, havendo congruência com as informações apresentadas no RSMSSNS, no que se refere à distribuição de idades destes trabalhadores.(37) O facto de o questionário ter sido realizado numa plataforma online e ter sido difundido através das redes sociais, pode ter constituído uma barreira no acesso de profissionais de saúde de idades superiores ao mesmo.

O grupo profissional que se fez representar em maior número foi o dos enfermeiros, seguido dos médicos, auxiliares de ação médica e, por último, dos fisioterapeutas, que correspondem a técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica. A distribuição dos participantes pelas profissões, em termos de número de indivíduos, está de acordo com o que foi reportado pelo último RSMSSNS, acerca do número de profissionais de saúde por profissão.(37)

No que toca às habilitações literárias dos participantes no estudo, aqueles cuja profissão era médico/a, enfermeiro/a e fisioterapeuta apresentaram, maioritariamente, graus académicos iguais ou superiores à licenciatura, enquanto aqueles cuja profissão era auxiliar de ação médica, na sua maioria, eram detentores de graus académicos inferiores à licenciatura, à semelhança do que é reportado pelo Ministério da Saúde.(37)

Nesta investigação, a maior parte dos profissionais de saúde inquiridos – 83,9% - esteve presente na linha da frente do combate à COVID-19, valor superior ao indicado por Ferreira et al., em que apenas 47,6% dos indivíduos participaram nesta vertente do ambiente hospitalar.(26)

No estudo de Ferreira et al.(26), reportou-se o deslocamento da morada de 7,1% dos profissionais de saúde, percentagem semelhante ao encontrado no presente estudo, em que 5,9% dos inquiridos estiveram deslocados da sua habitação.

(36)

19

A prevalência de stress, ansiedade e depressão verificada no presente estudo foi de 39,8%, 51,7%

e 38,1%, respetivamente. Estes dados vão de encontro aos valores verificados por Ghaleb et al.(32), no estudo publicado em 2021, onde se avaliou o impacto da pandemia da COVID-19 na saúde mental de profissionais de saúde dos países do mediterrâneo oriental, em que 42,0% dos profissionais apresentaram um diagnóstico positivo de stress, 59,1% de ansiedade e 57,5% de depressão.

Existe também concordância entre a percentagem de participantes com alterações emocionais em nível severo ou extremamente severo, verificadas nesta investigação - 13,6% para o stress, 21,2%

para a ansiedade e 11,0% para a depressão - e aquelas referidas por Ghaleb et al.(32) - 16,1%, 26,6%

e 19,2% para o stress, ansiedade e depressão, respetivamente - embora os valores sejam ligeiramente inferiores no presente estudo.

Os valores de prevalência de stress, assim como de ansiedade encontrados na presente investigação são semelhantes aos encontrados pelos autores acima citados, embora ambos sejam ligeiramente inferiores. A prevalência de depressão aqui verificada foi consideravelmente inferior ao valor reportado por Ghaleb et al..(32)

No referido estudo, é afirmado que os níveis de stress, ansiedade e depressão são inferiores em profissionais de saúde que tenham exercido a sua atividade em hospitais privados, comparativamente com aqueles que trabalharam em hospitais públicos, durante a pandemia, pois terá havido uma maior afluência aos últimos, durante a mesma.(32)

Esta poderá ser uma das razões que levou a valores de prevalência menores, no presente estudo, comparativamente aos valores apresentados por Ghaleb et al.(32), embora essa variável não tenha sido tomada em consideração nesta investigação. Para além disso, a divulgação do questionário foi realizada durante fevereiro de 2022, altura em que apesar de o número de casos confirmados de COVID-19 ter sido dos mais elevados em Portugal durante toda a pandemia, se iniciava um período de abrandamento da incidência e em que o número de óbitos era consideravelmente inferior em relação ao mesmo período do ano anterior, o que poderá ter contribuído para uma redução dos níveis de alterações emocionais, nos profissionais de saúde.(32)

À data da realização desta dissertação, não foi encontrada literatura acerca da prevalência de comportamentos parafuncionais em profissionais de saúde de ambiente hospitalar, pelo que a

(37)

20

discussão foi realizada recorrendo a estudos sobre a prevalência desses hábitos noutros grupos populacionais, concretamente em estudantes universitários e na população em geral.

Dos 118 profissionais inquiridos, 99,2% apresentou, no mínimo, um hábito parafuncional, com apenas 1 participante a não apresentar qualquer parafunção, estando os dados obtidos em linha com o relatado por Barbosa C.(35), em 2015. Destes profissionais, 41,5% afirmou que os hábitos parafuncionais passaram a ocorrer com maior frequência ou intensidade após o início da pandemia e 1,7% referiu que estes terão surgido após o seu início. Estes dados demostram que, apesar de a amostra ser constituída por uma população de risco ao desenvolvimento de hábitos parafuncionais, uma vez que já apresentavam este tipo de comportamentos, a sua frequência e/ou intensidade terá agravado com a pandemia.

Dois dos comportamentos mais frequentemente reportados no presente estudo - “Come entre refeições” e “Boceja” – foram consistentes com os encontrados por Barbosa C.(35) No que concerne aos hábitos menos frequentes - “Mantém ou projeta a mandíbula para a frente ou para o lado” e

“Toca instrumento musical que envolva o uso da boca ou da mandíbula” - também estes foram congruentes com o que consta do estudo acima referido.(35)

A média do somatório da pontuação atribuída a cada um dos comportamentos orais (20,65 ± 11,81 (desvio padrão)), que reflete a intensidade dos mesmos, foi ligeiramente inferior ao reportado por Barbosa C. (24,2 ± 8,6 (desvio padrão)).(35) Esta diferença poderá dever-se ao facto de o estudo citado(35) ter incidido sobre estudantes de medicina dentária que, tendencialmente, estarão mais atentos aos comportamentos parafuncionais.

Para efeitos da presente investigação, o diagnóstico de bruxismo aqui apresentado foi realizado unicamente através da resposta aos itens do questionário, sendo apenas um diagnóstico possível de bruxismo.(1)

A prevalência de bruxismo nos profissionais de saúde inquiridos foi de 38,1% para o BS e 68,6%

para o BV. Peixoto et al.(38) reportaram uma prevalência superior para o BS (58,03%) e inferior para o BV (58,2%). Na presente investigação foram inquiridos médicos(as), enfermeiros(as), auxiliares de ação médica e fisioterapeutas, enquanto a investigação elaborada por Peixoto et al.(38), incidiu sobre médicos dentistas. Esta diferença na população alvo poderá ter resultado numa maior prevalência de BS no estudo citado(38), uma vez que os médicos dentistas estarão mais alerta para

(38)

21

os sinais e sintomas de BS, apresentando uma maior consciencialização desse hábito e reportando- o com maior frequência, comparativamente a outros profissionais.

Para o diagnóstico do BV, em ambas as investigações, foi utilizada a LACO. No entanto, no estudo de Peixoto et al.(38) apenas foram utilizadas algumas das questões da LACO, o que pode ter contribuído para a prevalência inferior de BV na investigação realizada por estes autores.

No que concerne à relação entre as variáveis sociodemográficas e os níveis de stress, ansiedade e depressão, a associação foi estatisticamente significativa para o caso da idade, da profissão, das habilitações literárias e dos anos de atividade profissional.

Assim como Tee et al.(39) reportaram, verificou-se na presente investigação que os níveis de stress, ansiedade e depressão foram superiores nas faixas etárias mais jovens. Pelo contrário, Santamaría et al.(40) encontraram níveis superiores de alterações emocionais em indivíduos com mais de 36 anos.

Ao contrário do que foi apontado por Santamaría et al.(40), Tee et al.(39) e Karacay et al.(41), não foram encontradas diferenças com significância estatística nos níveis de alterações emocionais entre o género feminino e masculino, que pode explicar-se pelo facto de a amostra ser constituída maioritariamente por participantes de um dos géneros.

A profissão em que os níveis de ansiedade se mostraram mais elevados foi a dos enfermeiros, sendo esta associação estatisticamente significativa (p = 0,047). Já no estudo de Karacay et al.(41), os auxiliares de ação médica foram aqueles em que estes níveis foram mais elevados, estando os enfermeiros em segundo lugar. De referir que, no presente estudo os enfermeiros corresponderam a 81,4% dos participantes, enquanto em Karacay et al.(41) eram apenas 33,4% da amostra. Para além disso, apenas 3,4% da amostra constante desta investigação corresponde a auxiliares de ação médica, sendo de 12,3 % no estudo acima citado A maior prevalência destas alterações emocionais nos enfermeiros poderá também aqui ser explicada pelo facto deste grupo profissional constituir a maior parte da amostra populacional.

No estudo realizado por Tee et. al.(39), os níveis de stress foram menos elevados em indivíduos com maior nível de escolaridade, tal como foi verificado nesta investigação, em que os detentores dos graus de Licenciatura e Mestrado/Doutoramento demonstraram menores níveis de stress, ansiedade e depressão.

(39)

22

Também a associação entre os anos de atividade profissional e as alterações emocionais (stress, ansiedade e depressão) obteve significância estatística, com estes níveis a estarem mais elevados em profissionais com menos anos de carreira. Este facto poderá estar relacionado com a falta de experiência, em determinadas tarefas, que acarretam em si mesmas alterações emocionais relevantes. Não se encontrou na literatura, nenhum dado comparável com a presente investigação.

Nesta investigação não foi encontrada qualquer associação com significância estatística entre as variáveis sociodemográficas em análise e o diagnóstico positivo de hábitos parafuncionais, embora Winocur-Arias et al.(42) afirmem a existência de uma relação estatisticamente significativa entre ambos os géneros e a parafunção.

Foi verificada uma associação estatisticamente significativa entre o género e o diagnóstico positivo de BV, sendo este mais frequente em profissionais do género feminino, estando de acordo com Winocur-Arias et al..(42) Estes autores reportam um aumento, com significância estatística, da prevalência do BS e BV, durante o período da pandemia, em ambos os géneros, sendo que esse aumento foi mais significativo nas mulheres. A maior prevalência no género feminino pode dever- se ao facto de, geralmente, serem as mulheres aquelas que mais reportam sintomas, principalmente em ensaios clínicos com questionários.(43)

A associação entre os anos de atividade profissional e o deslocamento da morada habitual com o BS foi estatisticamente significativa, sendo o diagnóstico mais frequente em indivíduos com menos anos de carreira e naqueles que estiveram deslocados da sua habitação. À data da realização da dissertação, não foi encontrada literatura acerca da relação entre as duas variáveis e o BS. No entanto, a significância desta associação poderá dever-se ao facto dos profissionais mais jovens estarem mais vulneráveis a níveis superiores de stress, ansiedade e depressão, como já foi referido anteriormente, assim como aqueles que se ausentaram da sua habitação usual, durante a pandemia da COVID-19.(39)

No presente estudo não se encontrou qualquer associação estatisticamente significativa entre os níveis de stress, ansiedade e depressão reportados pelos profissionais de saúde e o diagnóstico positivo de hábitos parafuncionais, ao contrário do que é reportado na literatura.(44)

O BV mostrou estar associado, com significância estatística, ao diagnóstico positivo de stress, ansiedade e depressão, sendo reportado com mais frequência quando estes níveis são também mais

(40)

23

elevados, tal como afirmam Karacay et al.(41) e Peixoto et al..(38) Os investigadores referem ainda que os indivíduos que não apresentam sintomas de stress, ansiedade ou depressão são menos propensos a relatar a presença de BV.(38)

Das alterações emocionais mencionadas, apenas a ansiedade apresenta uma relação estatisticamente significativa com o BS, sendo este mais comum quando o nível de ansiedade é superior. Neste caso, quer Karacay et al.(41), quer Peixoto et al..(38) destacam a existência desta associação, não só com a ansiedade, mas também com o stress e depressão.

Devido à atualidade do tema aqui estudado, a literatura existente acerca do mesmo é ainda escassa.

Assim, não foram encontrados estudos ou investigações que abordassem a mesma população em estudo, para discussão de algumas das associações efetuadas.

Uma relevante limitação do estudo foi o viés da amostra que, apesar de refletir o panorama do SNS, foi constituída, na sua maioria, por profissionais do género feminino, enfermeiros, com elevado grau de diferenciação académica e com até 20 anos de atividade profissional, o que pode ter influenciado algumas das associações encontradas entre as variáveis sociodemográficas, o stress, ansiedade, depressão, o BV e o BS.

Salienta-se que sendo esta uma amostragem por conveniência e, consequentemente não aleatória, as inferências que se extraem da respetiva análise estatística podem não representar a realidade da população de profissionais de saúde em Portugal. Também o facto de o questionário ter sido disponibilizado numa plataforma online, poderá ter influenciado os resultados obtidos, no sentido em que um dos critérios de diagnóstico de bruxismo – o desgaste dentário – não foi avaliado.(5) Nesta investigação poderia ainda ter sido relevante a diferenciação entre profissionais de saúde cuja atividade maioritária tivesse ocorrido no setor público ou no setor privado, avaliando a existência de diferenças nos níveis de stress, ansiedade e depressão entre os grupos. Esta variável não foi incluída no estudo, uma vez que era esperada uma amostra reduzida dos profissionais de saúde do país e, por conseguinte, não era expectável um equilíbrio entre o número de profissionais da amostra em cada setor.

Referências

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