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No presente estudo foram analisadas as concentrações de diferentes formas de fluoreto após o uso de um dentífrico incorporado com 1% de própolis vermelha brasileira na saliva dos participantes, comparando os resultados aos de um dentifrício fluoretado comum, não obtendo diferenças estatísticas das concentrações entre os dois grupos durante as coletas realizadas no decorrer do tempo.

O declínio na incidência da cárie dentária em todo o mundo tem como principal fator a ampla utilização de dentifrícios fluoretados (WADGAVE; VEERESH, 2014). A efetividade destes tem sido demonstrada com forte evidência científica quando apresentam concentrações apropriadas de fluoreto solúvel e estável (BENZIAN; HOLMGREN; VAN PALENSTEIN, 2012). A alta incidência de cárie dentária associada a falta de fluoretação da água ou sal, aumenta ainda mais a importância de dentifrícios fluoretados com adequado potencial anticárie, especialmente em países onde considerável parte da população é socioeconomicamente vulnerável (VOSTER et al., 2018).

Estudos indicam que um pequeno aumento da concentração de flúor nos fluidos orais já tem grande efeito no processo de remineralização e desmineralização (VOGEL et al., 2001). No estudo de Talwar et al. (2016) os autores constataram que a presença de pequenas concentrações de fluoreto, como 0,1-1 ppm, são capazes de interferir no processo cariogênico, reduzindo a desmineralização e aumentando a remineralização do esmalte dentário.

Normalmente os dentifrícios possuem NaF ou MFP em sua formulação. O dentifrício proposto possui MFP, que são os mais utilizados em dentifrícios por serem de baixo custo, entretanto podem reagir com excipientes presentes nessas formualções, como os abrasivos, detergentes e ativos farmacêuticos, formando sais insolúveis não biodisponíveis que são incapazes de fornecer proteção anticárie (BRASIL, 2009). Esses componentes atuam sobre a disponibilidade potencial de flúor, podendo interferir na cinética do flúor e afetar negativamente a eficácia clínica da fórmula farmacêutica e consequentemente a biodisponibilidade nos fluidos orais (NAUMOVA et al., 2012; MARTINEZ-MIER et al., 2019). Apesar da existência de estudos que avaliaram a concentração e estabilidade do flúor em dentifrícios,

nenhum avaliou a disponibilidade do fluoreto em formulações com moléculas antimicrobianas e nem a biodisponibilidade na saliva após uso dessas formulações.

Diferente do NaF, o MFP quando liberado na saliva não inicia sua ação imediatamente, necessitando ser hidrolisado para ser dissociado. Sabe-se que a adição de componentes aos dentifrícios pode interferir na ação do flúor, entretanto, na presente formulação, com a adição do extrato de PVB não houve diminuição da concentração biodisponível após 1 hora de escovação. O MFP depende do pH para ser hidrolisado mais rapidamente, sendo mais rápido entre 7,2 e 8,6, o que pode justificar os valores encontrados, visto que se encontrou níveis de pH semelhantes a estes (VOGEL et al., 2000).

O esclarecimento das diferenças entre flúor total, flúor insolúvel e flúor solúvel no estudo conduzido por Martinez-Mier et al. (2019) é imprescindível para a compreensão dos resultados demonstrados nesse estudo, pois embora maiores concentrações de flúor total tenham sido encontradas na saliva proveniente da escovação com o dentifrício fluoretado comum isso não prova a existência de maior quantidade de flúor biodisponível para exercer atividade anticárie.

Diversos são os estudos que avaliaram a concentração de flúor em formulações odontológicas utilizando metodologia semelhante, sugerindo que ocorre um depósito de flúor nos fluidos orais logo após o uso desses materiais (VOGEL et al., 2001). O EIS possui diversas vantagens como a facilidade de utilização e ser um método eficaz. Apesar de não ter a precisão de métodos como cromatografia e espectofotometria, o mesmo é o método atualmente mais utilizado por conseguir reproduzir valores precisos em um tempo menor (DE MARCO; CLARKE, 2007).

Estudos que avaliaram a concentração de flúor na saliva com o NaF encontraram valores de até 0,33 ppm de F total na saliva após 1 hora de escovação (LARSEN et al., 2019). O diferencial do presente estudo com o dentifrício de PVB foi a avaliação não somente da concentração de flúor total, mas do solúvel total e iônico.

O comportamento da curva de concentração de flúor total em mgL- 1encontrado neste trabalho é semelhante ao evidenciado por diversos estudos como

os de Naumova et al. (2012), Larsen et al. (2019), Bezerra et al. (2019), mostrando aumento da concentração no início do protocolo, seguido por diminuição gradual inversamente proporcional ao tempo decorrido. Além disto, o estudo conduzido por

Naumova et al. (2012) apresentou variabilidades interindividuais semelhantes as encontradas no presente estudo.

Neste estudo as concentrações de flúor de ambos os dentifrícios alcançaram seus correspondentes picos de concentração nos primeiros 5 minutos do protocolo, corroborando com os dados obtidos por Almeida (2009), que utilizou dentifrícios com 1100 ppm F- e também fez as medições através de EIS.

Além da saliva, outros meios biológicos como o biofilme e mucosa vêm sido avaliados. Larsen et al. (2017) demonstraram que entre o biofilme fluido, biofilme sólido e saliva, a última é o compartimento oral mais suscetível ao aumento de concentrações de fluoreto, podendo atingir níveis 35% maiores que no biofilme, visto que o fluoreto encontrado no mesmo é disponibilizado pela saliva. Além do que, obteve resultados que sugerem uma quebra da linearidade na relação dose- resposta situada entre as concentrações de 2500 e 5000 ppm de F para dentifrícios.

Comparando o dentifrício utilizado neste estudo com um dispositivo de liberação prolongada fabricado em vidro e testado durante um período de três meses por Tatsi & Toumba (2019), a curva de concentração de fluoreto em mgL-1

apresentou o mesmo comportamento da curva obtida neste estudo, com um pico inicial seguido de diminuição progressiva tendendo à concentração de baseline.

O estudo de Vincent & Thomas (2019) que trabalhou com concentrações de flúor de 1000 a 5000 ppm revelou que maiores concentrações de flúor salivares podem ser obtidas através da escovação com dentifrícios com alto teor de flúor, fenômeno explicado pela formação de reservas intraorais, além de estabelecer uma relação diretamente proporcional entre as concentrações de flúor no dentifrício e na saliva, relação também encontrada no presente estudo.

O desenvolvimento de formulação dentárias com atividade antimicrobiana cresce a cada dia devido à resistência bacteriana, toxicidade e altos custos dos materiais disponíveis. Na Odontologia, o agente antimicrobiano mais utilizado é a clorexidina que, quando utilizada por um período prolongado, causa descoloração dentária, alteração do paladar e perde sua capacidade antimicrobiana, ocorrendo assim a recolonização de bactérias. (GOES et al., 2016; VALADAS et al., 2019). Outro agente que foi bastante utilizado é o triclosan, formulação que diversos estudos apontam efeitos adversos. Em cobaias, a literatura aponta que o triclosan pode causar a formação de espécies químicas desreguladoras do sistema

endócrino, câncer hepático, aumento da produção de espécies reativas de oxigênio, diminuição da função cardiovascular e má formação fetal. Além disso, altas concentrações desse composto na urina foram associadas à ocorrência de aborto espontâneo (WEATHERLY; GOSSE, 2017).

Além da eficácia de um produto, a aceitação pelos participantes é essencial. Em um estudo prévio realizado por Silva et. al. (2019c) foi avaliada a aceitação dos participantes quanto ao dentifrício incorporado com PVB utilizado no presente trabalho, no qual este obteve ótimos resultados nos quesitos gosto, odor e limpeza.

A escovação com o dentifrício adicionado de PVB resultou em concentrações semelhantes na saliva dos participantes em todos os tempos de escovação. Mais estudos comparando a concentração em outros meios biológicos e por um maior período, são necessários para avaliar a biodisponibilidade do flúor.

O controle diário do biofilme mecânico com dentifrício fluoretado é a estratégia de prevenção mais importante para a cárie e doença periodontal, entretanto alguns casos onde há fatores retentivos de placa (como participantes ortodônticos, doença periodontal e necessidades especiais). O dentifrício de PVB pode ser uma estratégia importante, proporcionando um controle químico e mecânico por meio de um só produto de baixo custo. Assim esse produto poderia ser uma alternativa farmacoeconomicamente viável como adjuvante na prevenção de doenças relacionadas ao biofilme bacteriano, o que reforça a importância de estudos clínicos com o mesmo.

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