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Discussão da Dissertação de Mestrado A histeria no discurso capitalista: a insatisfação do

Capítulo I: Fibromialgia- p. 15- 29

8. Conclusão – p. 180-183

2.4 Discussão da Dissertação de Mestrado A histeria no discurso capitalista: a insatisfação do

Renata Rampim Silveira é mestra em psicologia social pelo Programa de estudos Pós-graduados em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, bolsista do programa CAPES, ano de conclusão 2017.Além disso, é integrante do Núcleo de pesquisa em Psicanálise e Sociedade da PUC-SP e membro do Movimento Psicanalítico do ABC. Possui uma especialização em Psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae e em Acompanhamento Terapêutico pelo Instituto A CASA. Graduou-se em Psicologia pelo Centro Universitário de Santo André- UNIA, no ano de 2008. Atualmente trabalha como psicóloga do Centro De Atenção Psicossocial - CAPS III de Diadema.

Para os fins desta pesquisa foi decidido que somente os itens 2.3.3 “Histerias”: outras contribuições, 2.3.4 Algumas considerações sobre o desejo identificado no Caso Dora e 3. Aa histeria no discurso capitalista, seriam fichados. Uma vez que os demais itens são conteúdos que já foram abordados em outras bibliografias já examinadas nesta iniciação.

A histeria no discurso capitalista: a insatisfação do desejo e a falta-a-gozar – p. 10-96

2.3.3 “Histerias”: Outras contribuições- p. 64-69

Silveira (2017) afirma que Lacan considera um sujeito histérico aquele que mantém o seu desejo na insatisfação e se queixa das “desordens do mundo” (p. 64), recusando para manter-se em falta e desejante. Freud (1905) em Fragmentos da análise de um caso de histeria, coloca que histérica é a pessoa que em uma situação de excitação é tomada por sensações de desprazer, mesmo sem produzir sintomas conversivos. Silveira (2017) compara a fala de Freud a Bela Açougueira, para sustentar o argumento que “a histeria é definida pelo tipo de reação

experimentada no nível do gozo e não pelo tipo de sintoma” (p. 64), já que a Bela Açougueira era satisfeita sexualmente pelo marido, mas pedia para que ele lhe privasse daquilo que mais gostava: caviar. Quinet (2005) então coloca que o ponto nodal não está na privação do gozo e sim no gozo da privação, algo que fica evidente no sonho da Bela Açougueira.

Soler (2005) diferencia o gozo histérico do gozo feminino. No primeiro há uma identificação com o desejo, o que faz com que o sujeito não consiga identificar-se com o objeto de gozo, Silveira (2017) interpreta isto como um “voto de se fazer ser o que falta ao Outro” (p.

65). Silveira (2017) ainda complementa que a insatisfação do histérico o protege justamente do gozo máximo, de experiências que promovam satisfação plena, “O centro da vida psíquica do neurótico histérico é ocupado pela necessidade de pedir ao Outro que lhe dê o ser e também pela recusa de tornar-se objeto do gozo do Outro.” (Ibid., p. 65).

Soler (2005), porém, afirma que o sujeito histérico não recusa qualquer gozo, pois a falta é um gozo para o sujeito, quando o histérico deixa o gozo do Outro insatisfeito, ele quer um mais-ser. No caso da Bela Açougueira é possível perceber que ela quer ser o falo, algo que assume uma grande importância para o Outro, não só o objeto de gozo do Outro, mas aquele objeto que não se pode perder.

A sexualidade sempre é recebida de forma passiva, nos é dada por um outro,

a criança é inicialmente gozada, mais do que goza, pois ela é quem, em primeiro lugar, obtém do Outro que lhe preste cuidados, um gozo que não é abusivo qualificar de sexual. (...). Essa experiência primária de passividade sexual, onde o sujeito é gozado pelo Outro, é o que Lacan nos ensinou a designar como a posição na qual o sujeito se reduz a ser objeto causa de desejo do Outro – em sua fantasia, mas também na experiência real de dependência com relação ao primeiro Outro que é a mãe.

(ANDRÉ, 1998, p. 88).

O trauma de toda neurose está aí, no momento em o sujeito torna-se o “objeto causa de desejo oferecido ao Outro.” (SILVEIRA, 2017, p. 66), o momento em que o sujeito desaparece como sujeito e só existe como desejo ou dispositivo do gozo do Outro, a escolha da neurose se dá na forma em que esse momento é retomado na fantasia, e relembrado no recalcado. André (1998) afirma que na histeria o que retorna no recalque é insuportável, que seria permanecer na posição passiva, de objeto entregue ao gozo do Outro. Freud (1896) coloca que na etiologia da histeria há um evento de sexualidade mediada pela passividade, que este sujeito se submete com indiferença, Lacan (1957-58) afirma que na histeria o primeiro trauma decorre de uma sedução, “uma interrupção do sexual na vida do sujeito” (p. 399).

Segundo Silveira (2017) o sujeito histérico arranja como saída para o confronto com o gozo do Outro o asco, aquilo que lhe causaria grande excitação é visto como um perigo, até

mesmo nojento, insuportável, vergonhoso. Para o histérico a posição de objeto reativa o temor da absorção, pois remete às primeiras experiências com a mãe. Então a questão do histérico não está em ser objeto de gozo, nem de satisfazer o gozo do Outro, Soler (2005) menciona que se o desejo no Outro é provocado, não é com a intenção de satisfaze-lo.

A histérica quer sustentar o desejo do homem, perguntando à ele o que ela representa para ele, querendo que o Outro lhe fale como é um objeto precioso, que o Outro queira desvendar o seu enigma. Ao mesmo tempo que se coloca como objeto causa da insatisfação, pode ser qualquer coisa, menos objeto do gozo do Outro. A histérica se oferece ao mestre, para depois apontar que o saber dele não dá conta inteiramente, aponta a falha do Outro e dessa maneira mantém-se como sujeito desejante. A insatisfação também está a serviço para manter o desejo em movimento. (SILVEIRA, 2017 e QUINET, 2005)

Na medida em que o sujeito histérico demanda um saber do Outro, ele também faz esse Outro desejar, isto é uma forma de fazer laço social, não apenas com o parceiro sexual, mas com qualquer outro, “Eis como a histeria entre no campo social: o sujeito histérico faz o outro desejante.” (QUINET, 2005, p. 117). Vale lembrar, de acordo com Silveira (2017) que o discurso histérico não é a mesma coisa que o tipo clínico, e que o discurso diz respeito ao laço social, uma forma de provocar no outro o desejo da criação de um saber, da forma que a histéricas fizeram com Freud. Ainda conforme Silveira (2017) ,

Suscitar o desejo do Outro, desejar como o Outro e, portanto, identificar-se ao Outro são traços muito peculiares da histeria, tanto em relação ao tipo clínico histérico quanto na modalidade discursiva histérica. Pois, se foi o discurso da histérica que provocou em Freud o desejo de saber, este não se deu sem a particularidade do desejo insatisfeito de seus pacientes. Em outras palavras, o que é próprio da modalidade clínica histérica, é próprio, também, do discurso da histérica – o desejo. (SILVEIRA, 2017, p, 69)

2.3.4 Algumas considerações sobre o desejo identificado no caso Dora- p. 69-72

Retomando o caso Dora,

No caso Dora (1905/1996) assim como na Açougueira espirituosa, são encontradas aproximações entre a constituição de um desejo insatisfeito, onde o sujeito toma lugar pela via da identificação. Dora é levada por seu pai a se consultar com Freud aos 18 anos. A jovem e seu pai mantêm um relacionamento de amizade com o casal K.. Este casal mantém uma espécie de relação a quatro com o par formado pelo pai e a filha.

A Sra. K. cuidou do pai de Dora, atingido por uma doença grave quando ela era ainda pequena. A Sra. K. tornou-se amante do pai de Dora, embora ele fosse impotente. Ao mesmo tempo, Dora se encontrara oferecida aos avanços do Sr. K., que sempre se mostrou muito amável e cordial com ela, levando-a para passear e dando-lhe presentes. O pai da jovem, por sua vez, finge que não vê este fato. Além de tudo, a situação fica mais complicada quando Dora, em férias, se dedica a cuidar dos dois

filhos dos K., ocupando o lugar de mãe deles, conforme assinala Lacan (1951/1998).

Cada um nesse quarteto se faz cúmplice do outro casal. O pai “abre” caminho para o Sr. K., para que se aproxime de sua filha, a ponto de Dora ter concebido a ideia de um pacto no qual ela própria seria objeto de troca entre os dois homens. (SILVEIRA, 2017, p. 69-70)

Além disso, Dora fica como cúmplice da relação de seu pai com a Sra. K., pois se oferece para cuidar dos filhos de Sra. K. para que o casal não seja perturbado. No entanto, no momento em que o Sr. K. começa a demandar certas coisas de Dora ela não sustenta tal posição e pede para que o pai corte relações com o Sr. e a Sra. K., algo que o pai se nega a fazer e aí iniciam-se os sintomas mais graves, culminando em seu encontro com Freud.

No caso Dora o que fica gritante é o caráter identificatório do desejo, há “uma identificação ao homem, via pela qual Dora se interroga sobre a feminilidade” (SILVEIRA, 2017, p. 70). A sra. K. representa para Dora o enigma da feminilidade, o desejo de Dora estava para além de seu pai e do Sr. K., estava endereçado à Sra. K., perguntando: como me torno uma mulher? Dora sabe, ao mesmo tempo que não sabe que o objeto de desejo se configura como algo impossível de saber sobre,

Há um lugar secreto que o histérico se dá a ver e se esconde, vela e desvela, “a mão que levanta a saia e a outra que abaixa”, ou “não vale a pena você abrir meu corpete, porque não encontrará o falo, mas, se levo a minha mão ao corpete é para que você aponte, por trás desse corpete, o falo, isto é, o significante do desejo” (LACAN, 1957-58/1999, p. 393). Assim, pode-se dizer que o desejo do histérico está sempre em alteridade, furtando-se, esquivando-se, pois ele se encontra no lugar do Outro.

(SILVEIRA, 2017. P. 70)

Outro ponto interessante sobre o caso Dora é a identificação de Dora com sua mãe. Isto se demonstra pois Dora quer os brincos que seu pai dá para sua mãe, mas o desejo é recalcado e Dora fica identificada com o sofrimento da mãe, por meio do corrimento vaginal que ambas compartilham. Mas também se identifica com o pai, por meio da tosse nervosa, algo que Freud nomeia como identificação por um movimento de regressão. Então em Dora há duas faces da identificação: a masculina, para tentar contemplar a Sra. K. e a feminina, que deseja ser amada pelo Sr. K. e o pai da mesma forma que a Sra. K. é amada. (ANDRÉ, 1998, ALONSO E FUKS, 2004 e SILVEIRA, 2017)

Silveira (2017) afirma que na histeria a identificação ocorre por meio do desejo de ocupar o lugar do Outro. Por exemplo, Dora quer ocupar o lugar do Sr. K., para que possa ser amada e admirada como a Sra. K., para que possa descobrir algo sobre o seu desejo, através do desejo da Sra. K, “o sujeito histérico busca identificar-se com o Outro para constituir-se como

desejante.” (SILVEIRA, 2017, p. 71). No entanto, o Outro não consegue oferecer à histérica tudo que ela deseja, pois o Outro também é faltante, desta maneira é “por causa da identificação que o sujeito histérico se atribui um desejo não realizado” (Ibid., p. 70)

3. A Histeria no Discurso Capitalista- p. 73-90

Silveira (2017) inicia o último item de sua discussão e o cerne de sua dissertação retomando os esquemas dos quatro impossíveis descritos por Lacan nos matemas dos quatro discursos:

Governar, educar, analisar e fazer desejar,

Figura 14

(CASTRO, 2012)

A autora também inclui uma imagem que ilustra o discurso do capitalismo proposto por Lacan,

4 Não foi possível encontrar a imagem exata que Silveira (2017) usa em sua dissertação para ilustrar os quatro discursos. Então optou-se por utilizar a imagem da figura 1, que é semelhante a imagem usada pela autora. O que as difere é que na imagem utilizada pela autora o discurso do senhor está nomeado como discurso do mestre.

Figura 25

(CASTRO, 2012)

Silveira (2017) afirma que nos quatro discursos o que Lacan denomina como impossível diz respeito à demanda do agente ao Outro, que não consegue responder de modo que satisfaça a demanda completamente, denunciando a impotência em cada um dos discursos. Porém, no discurso capitalista o sujeito barrado é colocado no lugar dominante, de certa forma encontrando o gozo, porém não totalmente, e este esquema arma um curto circuito no discurso,

A primeira é que ao ter acesso direto à verdade, a verdade existe para o sujeito. A segunda é que o agente ($) perde sua relação com o outro ao entrar no curto-circuito do discurso capitalista – pois nesse curto-circuito o objeto a mais-de-gozar fica entre o agente ($) e o outro (S2), conforme aponta o vetor – impossibilitando o laço social permitido nos outros 4 discursos. Sendo assim, este é um discurso que desfaz os laços sociais. (DIAS, 2016, p. 94)

A autora segue dizendo que nos quatro discursos há um hiato entre o gozo e a verdade, enquanto no discurso capitalista não há. Por outro lado, o sujeito, localizado ao alto, à esquerda,

[...] comanda a cadeia de significantes do saber, para produzir o mais-de-gozar, embaixo à direita, mas vemos muito bem que o objeto produzido comanda o sujeito.

Temos, afinal, um circuito fechado, contínuo e sem ruptura, onde se pode afirmar que o sujeito é comandado pelos produtos (SOLER, 2011, p. 61).

Então, Silveira (2017) cita Lacan (1972), o discurso capitalista utiliza a fantasia de completude do sujeito, mas em um determinado momento defronta-se com o furo, pois não consegue impedir o sintoma e aplacar a angústia. Silveira (2017) coloca que este fato se comprova por meio das histéricas que demonstram que algo escapa por meio de seus sintomas e insatisfações, porém onde o neurótico se engana é quando toma a demanda pelo desejo e torna-se usuário dos produtos anunciados pelo discurso do capitalismo.

Soler (2011) ainda afirma que o discurso capitalista promove um sentimento de falta-a-gozar, onde o laço que se faz possível é entre o sujeito e o objeto a mais-de-gozar. O discurso

5 Como na nota anterior, não foi possível reproduzir na íntegra a imagem utilizada pela autora, então optamos por substitui-la por uma semelhante, a única diferença entre elas é que na imagem da autora o título est;a como discurso capitalista.

capitalista se apropria do desejo insatisfeito do histérico, prometendo uma completude de gozo, fazendo com que o sujeito se desligue do Outro. O capitalismo tenta aplacar a insatisfação do histérico, tenta tampar este furo da insatisfação, por meio da mercadoria. (SILVEIRA, 2017)

A histeria capitalista, conceito proposto por Gallano (2014) 6, é a articulação entre o tipo clínico histérico e o discurso capitalista, que aponta que o objeto a nos histéricos contemporâneos não entram em cena somente por meio do vazio, mas também como algo que excede o corpo, como mais-de-gozo. O histérico capitalista não interpela mais o mestre no lugar do Outro, mas que muitos sintomas que se apresentam hoje são respostas histéricas em curto- circuito, que são acting-out e passagem ao ato.” (SILVEIRA, 2017, p. 78)

Gallano (2014) menciona que no discurso capitalista o significante mestre não fica em um lugar fixo, é intangível, e ainda por cima há uma ilusão de que o sujeito pode comandar este significante, quando na realidade o discurso faz com que o sujeito se busque o tempo inteiro, atrás do objeto a mais-de-gozar apócrifo, que não é autêntico. Silveira (2017) coloca que a histeria suscitou novos desejos e o descobrimento e novos saberes, ao longo da história, promovendo um laço social que se diferenciava do discurso do mestre, “empurrar o mestre a um novo desejo” (p. 79). Mas que no discurso capitalista não há sintoma social, pois, “mesmo suscitando respostas nos sujeitos, não há perguntas sobre o que esses fenômenos indicam do que não anda no real no discurso capitalista” (Ibid. p. 78). Entretanto, mesmo com a ausência do sintoma social, o sujeito histérico segue sendo capturado pelo objeto a, mais-de-gozar.

Desta maneira, temos de um lado o desejo do sujeito histérico que fica identificado com o outro e o discurso capitalista que usa essa identificação do sujeito histérico com o outro para enlaçar o histérico por meio de sua insatisfação. Portanto,

Assim, temos o discurso capitalista que se apropria desse traço histérico (a identificação), [...] E encontramos o que Baumam (2008) postula sobre a sociedade de consumidores em que sua dinâmica se dá pela via da satisfação-insatisfação por meio do excesso de objetos oferecidos para o consumo. A resposta da histeria a essas ofertas pode ser ambígua, pois ao mesmo tempo em que o sujeito “usufrui” desses mais-de-gozar, dessas latusas, podemos encontrar respostas histéricas avassaladoras que podem ser desmascaradas no corpo. (SILVEIRA, 2017, p. 80)

Gallano (2014) ainda coloca que o discurso capitalista é uma variação do discurso do mestre, e, portanto, os sintomas histéricos, no discurso histérico, aparecem de uma forma mais

6 Silveira (2017) cita Gallano (2014) diversas vezes neste item de sua dissertação, então consideramos necessário ler a obra citada, para que pudéssemos manter-nos fiéis às argumentações realizadas por ambas as autoras e nos mantermos rigorosas quanto à produção desta iniciação científica.

truncada. Pois, o histérico convoca o Outro para que se produza novos saberes, há uma necessidade de um Outro para que aconteça uma ligação libidinal. Porém, o discurso capitalista não é um discurso como os outros, Silveira (2017) disserta que “Nele, não existe lugares, não há nem verdade, nem perda, e nem desejo que se conecte ao outro.” (p. 80).

Os histéricos fracassam na identificação com o mestre, dirá Gallano (2014) e Silveira (2017) indaga sobre as formas de respostas destes histéricos diante do fracasso. Ambas concordam que o discurso capitalista se aproveita dos sujeitos que se encontram no desamparo e os interpele a aderir aos significantes mestres que estão disseminados. Os significantes controle e segurança são muito presentes atualmente, e no discurso capitalista, a partir disto Silveira (2017) realiza a seguinte leitura:

No fracasso dessa identificação ao mestre em seu ego, [o histérico] irá se ver no descontrole, descontrole em sua mente, descontrole em seu corpo, descontrole de seus afetos, descontrole sobre o outro, descontrole do que deseja com respeito a seus filhos, aos quais não pode submeter à lei de seu desejo, do que aspira, enfim à série interminável de variantes controle/descontrole. (SILVEIRA, 2017, p. 81)

‘ É no controle e descontrole que a histeria e ciência se aproximam. O histérico doa seu corpo ao Outro, para que esse Outro possa gozar do modo que um goza detendo o saber do mestre. Na doação que o histérico faz de seu corpo apresentam-se essas duas faces, o controle e o descontrole, e ciência, por meio da medicina “utiliza-se da oscilação histérica ao calar em seu descontrole e fazer falar em seu controle.” (SILVEIRA, 2017, p. 81). Soler (2005) ressalta que o objetivo da ciência é capturar o histérico na relação que o sujeito tem com o seu corpo.

Pois, conforme Silveira (2017), quando se trata de um histérico sempre houve um endereçamento ao Outro em relação ao seu corpo, e Silveira utiliza um argumento de Soler (2005) para ilustrar que no capitalismo isso ocorre de forma mais acentuada, uma vez que os corpos passam pela inspeção da mídia, da máquina de produção.

Silveira (2017) associa que a identificação da histérica com outra mulher é justamente o que a captura no discurso capitalista e inicia uma busca impetuosa pelo corpo perfeito, corpo que é único e impessoal, beleza com uma só forma e “como é outra mulher que sabe sobre o que é ser mulher, o histérico por aí vai se identificar.” (p. 82). Há uma particularidade também que os sujeitos no capitalismo são reduzidos à consumidores, o que antes era sujeito torna-se indivíduo, não sobra nada de singular. Como todo sistema precisa de estratégias, Ramos (2009) afirma que a propaganda serve como veículo de anunciação que é possível chegar no gozo

pleno, mas é uma estratégia cruel, ao mesmo tempo que falha, pois a perda do gozo é o destino de todos os sujeitos que topam entrar no laço social, que optam pelo desejo.

Há outra aproximação também entre a histeria e a ciência, na medida em que a ciência se comporta de maneira histérica quando questiona conhecimentos e demanda a produção de novos conhecimentos. Então, há dois polos na histeria: ela contribui com a produção científica quando demanda novos saberes, porém está produção não a contempla por inteiro, pois o desejo do sujeito histérico é o de manter-se na insatisfação. (SILVEIRA, 2017)

Gallano (2014) pensa que uma das respostas da histeria na clínica contemporânea se dá da seguinte maneira, “Adoecida do homem, está por fazer-se enferma da verdade e do rechaço do corpo que se opõe ao significante mestre. O sintoma histérico, diria, é um duplo rechaço do Outro como Outro, desse Outro que tanto diz a histeria ansiar em seu desejo” (p. 55). Silveira (2017) interpreta esta frase dizendo que a clínica da histeria na contemporaneidade demonstra as consequências de se amar o mestre, que oferece saberes, pois as respostas histéricas tomam a forma da depressão. Esse formato é assumido, pois o sujeito se reduz ao objeto a, é o que sobra do outro, é somente um meio de gozo,

[...] no discurso capitalista, as novas vestes da histeria se apresentam com mais caídas melancólicas, mais deprimidas e mais sofridos sintomas histéricos, no sentido de denotação sintomática fálica, já que o mestre, no discurso capitalista, não se deixa desmascarar tão facilmente. O que triunfa é o cinismo e a enfatuação narcisista, sendo essa a lei que domina o mundo de hoje. (SILVEIRA, 2017, p. 85)

Além disso, segundo Silveira (2017), no discurso capitalista o que triunfa é a ideia que qualquer um tem direito ao gozo, de se apropriar de seu mais-gozo, acabando com a falta e

Além disso, segundo Silveira (2017), no discurso capitalista o que triunfa é a ideia que qualquer um tem direito ao gozo, de se apropriar de seu mais-gozo, acabando com a falta e