• Nenhum resultado encontrado

METODOLOGIA Caracterização da amostra

DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Tendo por base os resultados previamente descritos, proceder-se-á à sua discussão, no intuito de salientar os mais significativos e procurando confrontá-los à luz da literatura já existente. A discussão é apresentada da seguinte forma: hipótese de investigação, a sua aceitação ou não e posterior discussão com base no estado da arte, de modo a tornar mais objectiva a leitura.

- H11: A formação académica dos estudantes dos diversos cursos em estudo discrimina a

empatia dos estudantes universitários - a hipótese sob investigação confirma-se.

Analisando a primeira hipótese de estudo, de que os estudantes dos vários cursos inquiridos apresentam valores de empatia distintos concluímos que existem diferenças significativas entre os valores de empatia apresentados pelos cursos de Psicologia, Serviço Social, Enfermagem, Medicina Veterinária vs Engenharia Civil, Engenharia Agronómica, Engenharia das Energias e Engenharia Electrotécnica e de Computadores. Os nossos resultados vão ao encontro do estudo levado a cabo por Myyry e Helkama (2001) no qual os estudantes das ciências sociais apresentaram valores de empatia mais elevados do que os aspirantes a economistas e engenheiros. Efectivamente, a teoria da mente enfatiza que cada indivíduo situa-se ao longo de um continuum delimitado pela empatização e sistematização (Baron-Cohen et al., 2003, p.361) e que os profissionais de diferentes áreas se encontravam distribuídos igualmente consoante a sua função (Baron-Cohen, 2007, p. 128). De acordo com a Teoria da Mente, se os profissionais das ciências sociais tendem a distribuir-se predominantemente ao longo do espectro da empatização e os engenheiros tendem adoptar um pensamento sistemático, então, podemos inferir que os estudantes destas áreas, à semelhança dos profissionais, devem já posicionar-se ao longo do espectro de empatização-sistematização que lhes é mais proveitoso ao exercício futuro da profissão. Assim, os resultados do presente estudo são de certo modo apoiados pela Teoria da Mente na medida que a empatia é maior nos estudantes das ciências sociais, humanas e médico-veterinárias quando comparados com os estudantes dos cursos das engenharias.

- H12:Os estudantes dos cursos em análise apresentam aumentos estatisticamente

significativos da empatia, entre o 1º e último ano de formação – a hipótese sob investigação confirma-se.

Ao longo da nossa investigação, especificamente na recolha de dados, foram inquiridos estudantes no primeiro e último ano de cada curso com a finalidade de estudar a segunda hipótese de estudo. Tal como afirma Gerdes e colaboradores (2011, p.118), cabe às instituições de ensino dotar os seus alunos de “ferramentas” que os capacitem a melhor entender e sensibilizá-los para as emoções dos outros de modo a torná-los mais competentes e eficazes. Na prática, pressupomos que os alunos do primeiro ano apresentarão valores de empatia mais baixos quando comparados com os do último ano, porque estes últimos, à partida, foram motivados a desenvolvê-la. Os resultados obtidos indicam que poderá realmente existir alguma diferença entre os estudantes do primeiro e último ano, no entanto, após uma análise mais detalhada verificamos que essas diferenças apenas se revelaram significativas para o factor cognitivo da empatia. Assim, analisando detalhadamente os valores médios de cada curso, é geral o aumento da empatia cognitiva ao longo do curso. Apesar do aumento se verificar ao longo de todos os cursos iremos, seguidamente, discutir particularmente estes resultados para os cursos.

O aumento dos valores de empatia ao longo da formação académica, no curso de psicologia, corrobora os resultados encontrados por Carvalho (2010, p.8) na análise de uma amostra de dimensões bastante reduzida. Tal como seria de esperar, e também porque a necessidade o exige, os valores de empatia aumentam durante o curso se os estudantes forem estimulados a desenvolvê-la. Mesmo antes de ingressarem no ensino superior, já no ensino secundário os estudantes têm capacidade de desenvolver empatia como mostra o estudo longitudinal de Barr e Higgins-D´Alessandro (2009, p.765). Em 2002, investigadores (Lyons, & Hazler; cit. por Courtright, Mackey, & Packand, 2009, p. 7) procuraram avaliar a empatia em turmas de aconselhamento no 1º e 2º ano concluindo que desde que seja desenvolvida, existe uma evolução da empatia de um ano para o outro. Na mesma linha de pensamento, Kuntze, van der Molen e Born (2009, p.181) procuraram investigar a empatia em estudantes da universidade preparatória para psicologia, do 1º ano de psicologia com treino básico de competências e do 2º ano de psicologia com treino avançado em competências de comunicação. À semelhança do nosso estudo verificaram que os estudantes com treino avançado em competências comunicacionais possuem valores superiores de empatia bem como nas restantes competências quando comparados com os restantes grupos. Deste modo, a evolução da

empatia nos estudantes é praticável desde que haja por parte das instituições formadores uma preocupação em promovê-la e enquadrá-la nos planos curriculares dos cursos.

Relativamente ao curso de enfermagem, à semelhança dos restantes, vimos que a empatia se desenvolveu ao longo do curso. Alguns autores (Çinar, et al., 2007, p. 594), além de estudarem o primeiro e último ano como o presente estudo, analisaram ainda os valores de empatia dos estudantes no segundo e terceiro ano. Concluíram, analogamente, que houve um aumento do primeiro para o último ano, no entanto, constataram que a empatia sofreu um decréscimo do primeiro para o segundo e terceiro ano. Existe a possibilidade deste decréscimo se dever ao facto das aulas de comunicação estarem curricularmente mais distribuídas pelo primeiro ano. Paralelamente, ao sucedido no estudo anterior, recentemente, a investigação (por exemplo, Nunes, et al., 2011, p. 15; Boyle, et al., 2010, p. 14) tem apontado um decréscimo na empatia dos cursos de enfermagem e medicina veterinária que deve ter uma interpretação cautelosa pois como vimos poderemos estar a inferir que, se verifica um decréscimo ao longo da formação mas, após análise detalhada dos vários anos apuramos que existe uma evolução.

O curso de medicina veterinária, ao contrário do que acontece com medicina humana (Hojat et al., 2009), apresenta um aumento de empatia ao longo do curso para o Factor Cognitivo da Empatia. A diminuição da empatia na medicina humana é explicada por Hojat e colaboradores (2009, p. 1186) como sendo consequente da alta competitividade entre alunos, exigência do curso e posteriormente o cumprimento de objectivos laborais. É do conhecimento geral que, o curso de medicina humana exige desde a sua entrada, elevadas classificações levando os alunos a competir diariamente e adoptar uma postura individualista. Esta postura centrada no “eu” em nada ajudará à compreensão do outro e, futuramente, corremos o risco de encontrar no mercado de trabalho profissionais que são excelentes técnicos e que cumprem objectivos laborais com distinção mas que não satisfazem as necessidades dos seus utentes/pacientes. Analogamente, ao curso de medicina humana, o curso de medicina veterinária é exigente mas esse factor não impede que os futuros médicos veterinários sejam cada vez mais empáticos ao longo da sua formação académica. Curioso ou controverso? Os estudantes de medicina humana, (futuros médicos) lidarão no seu dia-a-dia com pessoas, em contrapartida, os estudantes de medicina veterinária (futuros médicos veterinários) lidarão com os animais e os seus donos; mas se os estudantes da medicina

animal conseguem desenvolver a sua empatia porque é que o mesmo não se verifica para a medicina humana tal como se verifica nos estudos de Hojat e colaboradores (2009, p.1186)?

Sob a nossa perspectiva, poderá ser relevante rever os planos curriculares da medicina humana bem como as metodologias de aprendizagens e desenvolvimento da empatia. Por outro lado, deverá haver também uma preocupação em sensibilizar o aluno para a importância da empatia. Tal como sugere Baron-Cohen (2006; cit. por Lopes, 2009) um bom psicoterapeuta poderá ser aquele que adquire um equilíbrio entre a empatização e a sistematização. A nosso ver, em analogia, o mesmo equilíbrio deverá existir para se ser um bom médico.

Nos estudantes das engenharias verifica-se um aumento da empatia ao longo dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Agronómica, Engenharia das Energias e Engenharia Electrotécnica e de Computadores para o Factor Cognitivo. Apesar da relevância dada à empatia nestes cursos não estar em pé de igualdade com os cursos anteriormente referidos, recentemente, existe alguma preocupação em vir a desenvolvê- la. Em 2025, a American Society of Civil Engineers (ASCE, 2006, p. 11) espera que um engenheiro civil consiga liderar e articular as infra-estruturas, o ambiente circundante entre outras condições de forma a construir projectos viáveis, com recurso à persuasão, compaixão, empatia, paciência e pensamento crítico. Num estudo realizado por Vallero e Vesilind (2006; cit. por Strobel, Morris, Klingler, Pan, Dyehouse, & Weber, 2011, p.5), os autores afirmam que a empatia constitui parte das etapas dos projectos e processos de construção dos engenheiros, ou seja, se os engenheiros forem empáticos irão compreender as necessidades do cliente e de certo modo irá ter algum impacto no projecto. No corpo teórico da presente dissertação, realçamos a importância da empatia em profissionais como psicólogos, enfermeiros, médicos porque o seu “objecto de trabalho” é a pessoa propriamente dita, comparativamente, com os engenheiros que trabalha com objectos. Contudo, a importância atribuída à empatia nas engenharias direcciona-se exclusivamente no lidar com o cliente e no trabalho ou liderança em equipa. Entretanto, não poderíamos deixar de realçar que, ultimamente, há autores (por exemplo, Morales, 2007, p.3) que salientam que construtos como a abertura para a experiência, congruência e empatia podem ser muitos úteis e ajudar os estudantes das engenharias. Tal como Wright (2001, p. 26) afirma, habilidades como ouvir, observar e

ser empático de modo a compreender as necessidades e expectativas dos clientes devem ser características dos engenheiros.

- H13: A idade e a empatia correlacionam-se positivamente, isto é, à medida que a idade

aumenta verifica-se que a empatia aumenta igualmente – a hipótese sob investigação refuta-se.

Na terceira hipótese procuramos estudar a relação entre a idade e a empatia. Através da análise correlacional, podemos afirmar que, no presente estudo, não existe relação significativa entre a idade e a empatia (inventário de empatia, factor cognitivo e factor afectivo). Um estudo recente (Nunes, et al., 2011, p.15) comparou estudantes com idade superior a 27 anos e inferior a 21 anos e constatou que os estudantes com mais idade apresentavam valores de empatia superiores aos mais novos.

- H14: Na variável género, as mulheres obtêm valores médios superiores de empatia em

relação aos homens – a hipótese sob investigação confirma-se.

Quando analisamos as diferenças de género relativamente à empatia, apuramos que existem diferenças significativas nos valores de empatia entre os homens e mulheres para o Inventário de Empatia, Factor Cognitivo e Afectivo da empatia. Tal como a investigação (Davis, 1980; cit. por Lopes, 2009, p.68; Eisenberg, Fabes, & Spinrad, 2006; cit. por Kanat-Maymon, & Assor, 2010, p.35; Davis, 1983; cit. por Kanat-Maymon, & Assor, 2010, pp.36; Boyle et al., 2010, p.14) tem vindo a mostrar, é consenso geral, que as mulheres são mais empáticas do que os homens talvez devido ao papel de socialização na família que lhes é atribuído logo desde pequenas; a nossa cultura dá especial relevo à exposição das mulheres a comportamentos maternais como cuidar e reconfortar ajudando-as a desenvolver competências que lhes permitem mais facilmente preocupar-se, reconhecer as necessidades dos outros e dar resposta a essas necessidades (Zahn-Waxler, Cole, & Barrett, 1991; cit. por Cecconello, & Koller, 2000, p.87).

- H15: Os estudantes com padrão de vinculação “seguro” apresentam, em média, valores

superiores de empatia quando comparado com os padrões de vinculação inseguros – a hipótese sob investigação confirma-se.

A última hipótese de estudo desta investigação prende-se com o estudo da relação entre a empatia e os padrões de vinculação. A vontade de aproximação do outro

é algo que está subjacente a empatia e ao padrão de vinculação seguro de modo a facilitar os relacionamentos interpessoais (Joireman, Needham, & Cummings, 2001; cit. por Woods, & Riggs, 2008, p. 261). Constatamos que, para a nossa amostra apenas obtivemos resultados significativos para o Factor Cognitivo da empatia. Os estudantes com padrão de vinculação “seguro” apresentam valores médios de empatia superiores aos dos estudantes com padrão de vinculação “ansioso”. Efectivamente, de acordo com a literatura, o padrão de vinculação “seguro” parece estar associado a elevados níveis de empatia quando comparado com padrões de vinculação inseguro (Trusty, Ng, & Watts, 2005,p. 74; Van Der Mark, Ijzendoorn, Bakermans-Kranenburg, 2002 cit. por Hutman, & Dapretto, 2009, p. 371). Existe consenso sobre a relação entre os padrões de vinculação e a empatia. O facto dos estudantes com o padrão de vinculação ”seguro” apresentarem valores mais elevados de empatia pode ser explicado pelo facto de terem uma concepção positiva de si e dos outros, curiosidade e interesse em explorar, maior flexibilidade cognitiva e saúde mental, maior capacidade receptiva e satisfação nas relações com os outros (Mikulincer e Shaver ,2003; cit. por Gillath, et al., 2005, p.426). Atendendo ao Modelo do eu e dos outros da vinculação do adulto de Bartholomew e Horowitz (1991, p.227) é observável que o padrão intitulado de seguro apresenta baixos níveis de evitamento e de dependência e, consequentemente, sente-se confortável com a intimidade e autonomia. A título de curiosidade, no que respeita aos padrões de vinculação insegura, a literatura (Trusty, Ng, & Watts, 2005,p. 74; Bartholomew e Horowitz,1991, p.237) têm vindo a mostrar que o padrão de vinculação inseguro ansioso apesar de apresentarem elevada angústia interpessoal são altamente sociáveis, conseguem ter bons relacionamentos interpessoais e para indivíduos com baixos níveis de evitamento e altos de ansiedade verificam-se altos níveis de empatia. Estes valores de empatia são explicados, por recurso ao modelo de representação do eu e dos outros, porque os indivíduos com padrão de vinculação “ansioso” (padrão preocupado no modelo) não apresentam um modelo representacional negativo dos outros, apenas de si. Apesar da conotação positiva que é dada ao padrão de vinculação inseguro-ansioso, a investigação mostra que o padrão de vinculação seguro é essencial ao desenvolvimento da empatia (por exemplo, Weinfield, Sroufe, Egeland, & Carlson, 1999; cit. por Woods, & Riggs, 2008, p. 262).

Após discutir os resultados, é chegado o momento de descrever algumas das implicações, limitações e sugestões futuras deste estudo. Relativamente às implicações,

é essencialmente uma que merece especial destaque. Ao incluirmos a variável Ano do curso no nosso estudo permitiu avaliar a empatia ao longo da formação académica o que enriqueceu a nossa investigação. Na prática, esperamos com este estudo alertar as instituições de ensino no intuito que, futuramente, irão contribuir para o enriquecimento curricular dos estudantes, através de programas ou unidades curriculares de desenvolvimento e promoção da empatia.

Entre as limitações registam-se as de carácter temporal que infligiram um estudo transversal. A ausência de valores normalizados para a população portuguesa levou à necessidade de validar para a nossa amostra as escalas de empatia. Contudo, apresentaram bons índices de consistência interna.

Seria enriquecedor em investigações futuras, explorar esta temática num estudo longitudinal, preferencialmente, ao longo de todos os anos de formação e não apenas no primeiro e último ano. Além disso de modo a enriquecer o estudo, seria pertinente recolher uma amostra de estudantes de medicina humana com a finalidade de testar se a amostra universitária portuguesa corrobora a literatura actualmente existente. Trata-se de uma limitação deste estudo que fazia parte do desenho inicial de investigação mas, devido algumas questões burocráticas não foi possível recolher amostra com estudantes da medicina humana.

De um modo geral, a empatia é um conceito complexo e, em Portugal, a sua investigação é ainda muito limitada daí que seja relevante explorar este conceito bem como as questões de investigação que lhes estão subjacentes.

Conclusão

Após a discussão dos resultados apresentamos uma síntese com os principais resultados obtidos. Do ponto de vista prático, das cinco hipóteses de investigação formuladas no presente estudo, quatro delas viram os seus pressupostos confirmados enquanto a hipótese referente à relação entre a empatia e a idade não se verificou.

Verificamos que existem diferenças significativas de empatia cognitiva, empatia afectiva e no inventário de Empatia entre os cursos de psicologia, serviço social, enfermagem e medicina veterinária vs engenharia civil, engenharia das energias, engenharia agronómica e engenharia electrotécnica e de computadores. Efectivamente, os cursos referidos de psicologia, serviço social, enfermagem e medicina veterinária apresentam valores médios de empatia cognitiva superiores aos cursos das engenharias.

Relativamente à evolução da empatia do primeiro para o último ano do curso, constatamos que apenas para a empatia cognitiva os estudantes apresentam um aumento significativo. Como já referimos, no nosso estudo não se verificou qualquer relação entre a variável idade e as medidas da empatia utilizadas. O estudo da variável género mostrou-se coerente com a literatura, as mulheres são em média mais empáticas do que os homens quer para o Inventário de Empatia, quer para o Factor Cognitivo e Afectivo da Empatia.

Por último, o estudo das relações da empatia e dos padrões de vinculação revelou que o padrão de vinculação “seguro” obteve valores médios de empatia cognitiva superiores ao padrão de vinculação “ansioso”.

Documentos relacionados