• Nenhum resultado encontrado

Os resultados desse estudo confirmaram comportamento diferenciado de T.

paradoxa, obtidos de cinco Estados brasileiros, independente das variedades de

cana-de-açúcar da qual o fungo foi isolado. A uniformidade proporcionada pelo ambiente o qual o experimento foi conduzido demonstra que as respostas não foram determinadas por influências locais, ou do comportamento inerente das próprias plantas.

Para a interação Saccharum-T. paradoxa, esse é o primeiro relato da existência de variabilidade patogênica desse patógeno. A variabilidade, incluindo a patogênica, é uma condição que garante, dentre outros atributos, a maior possibilidade de sobrevivência dos organismos nos seus diferentes ecossistemas. A necessidade da sua permanência em ambientes altamente instáveis, faz com que a variabilidade seja uma alternativa fundamental para a sua sobrevivência, e desenvolvimento coevolutivo. Em razão disso, a interação planta-patógeno é acentuadamente marcada por um processo altamente dinâmico, com respostas que possam atender o curso natural e coevolutivo de ambos os organismos.

Patógenos que sobrevivem saprofiticamente, geralmente são menos afetados pelas influências do meio, e, dessa forma, tendem a apresentar populações genéticas mais estáveis. Thielaviopsis paradoxa apresenta a propriedade de sobreviver saprofiticamente no solo, na forma de macroconídios e microconídios, e também na forma micelial. A sua longevidade, mediante tais formas, ainda não foi determinada.

Segundo Milanes Virelles e Herrera Isla (1994), citados por Rott et al., (2000),

T. paradoxa pode sobreviver no solo por pelo menos 15 meses. Assim sendo, a

permanência de estruturas do patógeno de uma safra para a outra pode contribuir para essa variabilidade patogênica, visto que pode ocorrer recombinação entre o patógeno, nas diversas regiões de cultivo.

A falta de estudo da variabilidade patogênica do fungo T. paradoxa dificulta a avaliação segura de variedades de canas-de-açúcar resistentes para esta doença, o que representa grave dificuldade para os programas de melhoramento genético. Não

há, no momento, variedades de cana-de-açúcar resistentes a T. paradoxa e, pela natureza biológica do patógeno, aparentemente esses aspectos continuarão sendo um grande desafio nos programas de melhoramento dessa cultura. A falta de conexão quanto aos níveis de patogenicidade dos isolados avaliados e as respectivas regiões de origem são também indicativos quanto à dificuldade no alinhamento e desenvolvimento de programas de melhoramento visando resistência de canas-de-açúcar a T. paradoxa.

Dessa forma, a variabilidade patogênica existente entre os isolados de T.

paradoxa pode ser explicada, entre outros fatores, pela baixa especificidade desse

fungo em relação aos seus hospedeiros. Trata-se de patógeno polífago, capaz de infectar uma grande gama de espécies de plantas como banana, coco, abacaxi, manga, eucalipto. Thielaviopsis paradoxa é encontrado em praticamente todas as regiões de cultivo da cana-de-açúcar, o que, obviamente, aumenta a dificuldade de obtenção de genétipos de cana-de-açúcar resistentes.

Os resultados obtidos tanto no experimento com a variedade IACSP95-5000, quanto nas variedades IAC911099 e IACSP97-4039 revelaram o mesmo comportamento fenotípico dos isolados, com baixos, médios e elevados níveis de severidade. Tais dados, além de corroborar a existência da variabilidade patogênica dos isolados, comprova, também, a vulnerabilidade das variedades de cana-de- açúcar avaliadas.

Ainda que tenha havido interação isolados x variedades na relação isolado 7 e a variedade IACSP95-5000, o que poderia caracterizar a existência de uma interação diferencial, e consequente resistência vertical, verifica-se que o comportamento dos isolados, em termos patogênicos, assim como as variedades, em termos de níveis de severidade, as respostas mostram-se mais coerentes ao efeito de genes menores (JOHNSON, 1979; VANDERPLANK, 1984). Além disso, de certa forma houve um ranking quanto aos níveis de patogenicidade entre os isolados avaliados, assim como quanto ao comportamento das variedades, com indicação da predominância do efeito da resistência quantitativa.

Normalmente, os testes in vitro se constituem em alternativa para a realização de prognósticos quanto à viabilidade de fungicidas e outros tipos de moléculas quanto à sua eficiência a diversos alvos biológicos, incluindo os fungos

fitopatogênicos. Posteriormente, dependendo do desempenho dos mesmos, são realizados estudos complementares com vistas à determinação da sua viabilidade técnica, econômica e toxicológica.

No presente estudo verificou-se que os fungicidas pertencentes ao grupo das estrobilurinas, trifloxistrobina e piraclostrobina, até à concentração contendo 100 µgmL-1 de ingrediente ativo mostraram-se ineficientes quanto à inibição in vitro de T.

paradoxa. Por outro lado, tebuconazole isoladamente ou em mistura com

trifloxistrobina, a 100 µgmL-1 foi eficiente no controle do patógeno, refletindo em inibição do crescimento das colônias do fungo.

O fungicida piraclostrobina conta com registro para o controle de T. paradoxa na cultura da cana-de-açúcar, na dosagem de 400 a 500 mL por hectare, com emprego de 80 a 100 litros de calda por hectare, aplicado nos sulcos de plantio (AGROFIT, 2015).

No presente estudo, dada à ausência de eficiência observada com piraclostrobina, ainda que o seja na concentração contendo 100 µgmL-1, justificam- se estudos complementares, com concentrações mais elevadas. Infere-se que, no contexto do presente estudo, indícios de que a eficiência desse fungicida deve ser reavaliada sob condições de campo, após a complementação de testes in vitro, com concentrações mais elevadas do ingrediente ativo. Obviamente, as considerações apresentadas a piraclostrobina se estendem também para trifloxistrobina, embora esse não seja registrado junto ao Ministério da Agricultura para o propósito em questão.

Em nossos estudos, tebuconazole, isoladamente ou em mistura, foi o único fungicida eficiente, embora em nenhuma concentração tenha alcançado 100% de inibição do crescimento de colônias de T. paradoxa. A inibição do crescimento das colônias mediante tebuconazole, isoladamente ou em mistura a 100 µgmL-1 variou de 59% a 78%. Há, obviamente, necessidade de estudos complementares para a determinação das concentrações necessárias para determinação dos valores de EC50, conforme normalmente adotado para estudos dessa natureza (BARTLETT et al., 2002; MYRESIOTIS et al., 2008; HINCAPIE et al, 2014;).

Ainda que as combinações formadas pelas misturas de trifloxistrobina e tebuconazole tenha também propiciado inibição do crescimento das colônias de T.

paradoxa in vitro, aparentemente essa resposta resultou do efeito do fungicida

triazol, já que as estrobilurinas, quando empregadas isoladamente, mostraram-se ineficientes quanto à inibição in vitro do patógeno.

Mediante estudos in vitro, Vijaya, Kulkarni e Hedge (2007) observaram que dentre dez fungicidas avaliados quanto à inibição de T. paradoxa, propiconazol e carbendazim, pertencentes respectivamente ao grupo dos triazóis e benzimidazóis, foram os mais eficientes. Segundo os autores, aparentemente essa melhor resposta resultou do efeito sistêmico desses fungicidas. Nossos estudos mostram resultados convergentes, já que tebuconazole é um fungicida pertencente ao grupo dos triazóis e apresenta propriedade sistêmica. Provavelmente, por essas propriedades esse fungicida poderá mostrar-se eficiente sob condições naturais de campo. Em se admitindo tal proposição como procedente, a ineficiência demonstrada pelas estrobilurinas poderá estar associado ao fato desses fungicidas apresentarem propriedades exclusivamente mesosistêmicas, ou com efeito de translocação, porém nunca com propriedade sistêmicas (OLAYA; KÖLLER, 1999; GISI et al., 2000).

Documentos relacionados