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DISCUSSÃO DO SEGUNDO ARTIGO: Multimorbidade e fatores associados em

6 DISCUSSÃO

6.2 DISCUSSÃO DO SEGUNDO ARTIGO: Multimorbidade e fatores associados em

Os resultados desta pesquisa apontam que aqueles que referiram duas ou mais doenças crônicas apresentaram uma prevalência geral de multimorbidade de 19,98%, dos entrevistados no Brasil, um valor baixo quando comparado a outros estudos. Excoffier e colaboradores (2018), através de um estudo com representantes da rede sentinela, realizado na Suíça, a prevalência para multimorbidade foi de 52,1%. Além desse estudo, outro, realizado por Prazeres e Santiago (2015), em Portugal, através de uma amostra de base populacional, a prevalência de ter duas ou mais doenças crônicas foi de 57,2%.

Acredita-se que esse baixo percentual pode estar atrelado ao sub-registro dos casos existentes, reflexo do difícil acesso aos serviços de saúde, e assim, o mínimo acompanhamento dos casos pela equipe responsável; por outro lado, por se tratar de uma pesquisa por meio de um inquérito de auto diagnóstico referido, acredita-se que isto pode ter gerado um comprometimento quanto ao registro dos casos de multimorbidade, uma vez que, o não conhecimento do indivíduo sobre o que denomina a multimorbidade e a ínfima capacidade de se auto reconhecer possuidor desta condição de saúde, logo, pode ter inferido no percentual encontrado.

Prevalência de multimorbidade e fatores associados na população trabalhadora brasileira

68 Nesse estudo, além dos fatores relacionados às condições socioeconômicas e de

estilo de vida, a multimorbidade foi associada especialmente aos fatores relacionados ao trabalho, dos quais o acidente de trabalho obteve uma associação importante.

As pessoas que referiram já ter sofrido algum acidente de trabalho apresentaram uma maior prevalência de multimorbidade quando comparado àqueles que disseram não ter sofrido nenhum. De acordo com a literatura, acredita-se que a mudança no estilo de vida de um individuo, devido algum comprometimento de saúde, principalmente por motivo de acidente de trabalho, seja de caráter temporário ou permanente, esta situação influenciará na condição psicológica, fisiológica ou anatômica, logo, facilitando o surgimento de doenças (BRASIL, 2001).

O aumento do número de acidentes de trabalho no mundo tem crescido exponencialmente nas bases dos sistemas de informação. Só no Brasil, já foi registrado um montante de 717,9 mil acidentes de trabalho com trabalhadores formais, pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), no ano de 2013. Todavia, ainda existem os trabalhadores que compõe os cenários brasileiros da informalidade, os quais representam um montante estimado em 18,7 milhões no total, porém a literatura não apresenta dados que expressem os casos de acidente de trabalho com estes, o que pode ser justificado pela ausência de qualquer proteção social e trabalhista (GONÇALVES, SAKAE, MAGAJEWSKI, 2017).

Somando-se ao que fora supracitado, ainda existe a lacuna da subnotificação, a qual tem se tornado uma prática comum nos serviços, facilitando o distanciamento entre os dados registrados e a realidade. Gonçalves e colaboradores (2018) apontam que os registros das ocorrências de acidente de trabalho contabilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nas ocorrências de 2013, conferem que para cada acidente de trabalho notificado ou reconhecido pela Previdência Social Brasileira, outros sete ocorreram sem qualquer registro. Assim sendo, subentende-se que as informações sobre a presença de doenças no indivíduo podem estar sendo subregistradas e, com isso, dificultando a compreensão se estas pessoas quando sofreram algum tipo de acidente de trabalho já traziam alguma doença de base ou se surgiu alguma após o acometimento.

Prevalência de multimorbidade e fatores associados na população trabalhadora brasileira

69 As pessoas que referiram estar entre a faixa etária de 60+ anos de idade (6,93)

apresentaram quase sete vezes mais chances de ter multimorbidade quando comparados àqueles que estão entre a faixa etária de 18 – 24 anos de idade. Neste caso, existem evidências na literatura que consideram que proporcional ao aumento da idade é o surgimento da multimorbidade (OMS, 2008). De acordo com um estudo realizado com brasileiros residentes nas 27 capitais das unidades federativas do Brasil, no ano de 2013, evidenciou-se que aqueles que estão entre a faixa etária de 50 - 59 anos de idade apresentaram até 30 vezes mais chances de ter mais de uma doença crônica que aqueles entre a faixa etária de 18 – 29 anos de idade, isto é, quanto maior é a idade, maio é o risco de ter multimorbidade (SANTOS, 2017).

Embora a idade e a multimorbidade tenham se apresentado com uma associação significativa, a idade ainda é um dado desafiador para os serviços e sistemas de informação e saúde, devido os estudos sobre multimorbidade ainda não terem apresentado uma definição sobre o perfil exclusivo de pacientes, apesar da faixa etária mais avançada, 60 anos ou mais, representar o maior contingente de acometimento (BATISTA, 2014). No entanto, a Organização Mundial de Saúde (2008) ressalta a possibilidade de também detectar a multimorbidade entre adultos jovens (20%), devido ao ritmo acelerado de urbanização e globalização, bem como, aos estilos de vida menos saudáveis, que ascendem rapidamente à incidência de condições crônicas.

O sexo feminino apresentou-se fortemente associado à multimorbidade, o que já tem sido bem evidenciado pela literatura, a qual aponta a expetativa de vida das mulheres maior que a dos homens, o que pode ser justificado por utilizarem mais os serviços de saúde, todavia, elas culminam em uma maior exposição aos diagnósticos médicos de doenças (NUNES, BATISTA, ANDRADE, JÚNIOR et al, 2018), por outro lado, elas angariam mais promoção da saúde. Somando-se a isto, também existem evidências na literatura que estimam o poder de influência dos fatores genéticos, laborais, de estilo de vida e biopsicossocial, capazes de fomentar a vulnerabilidade ao surgimento da multimorbidade neste gênero (KHANAM, STREATFIELD, KABIR, QUI et al, 2011).

Prevalência de multimorbidade e fatores associados na população trabalhadora brasileira

70 Aqueles que sinalizaram ter um cônjuge têm mais chances de ter multimorbidade

quando comparado àqueles que não têm. Todavia, identificou-se em um estudo realizado na zona rural de Matlab, em Bangladesh, que os indivíduos solteiros apresentaram as maiores taxas de prevalência de multimorbidade (KHANAM, STREATFIELD, KABIR, QUI et al, 2011). Sugere-se que este percentual pode ser justificado por este grupo de indivíduos solteiros ter formado um montante total maior ou de maior participação que aqueles que têm um cônjuge.

As pessoas que têm um plano de saúde médico ou odontológico apresentaram uma maior prevalência de ter multimorbidade. Isto pode ser justificado pelo maior privilégio e uso dos serviços de saúde privado, submetendo-se a mais internações, consultas, mesmo que dentre suas demandas de problemas de saúde existam realidades possíveis de serem resolvidas em domicílio ou em serviços ambulatoriais, devido ao baixo risco (NUNES, 2015). Assim sendo, aqueles que usam mais os serviços de saúde recebem mais diagnósticos de doenças que aqueles que minimamente utilizam este recurso. Neste caso, esta não seria uma situação de adoecer mais ou menos, mas a condição de ter um atendimento médico capaz de identificar qualquer premissa de doença.

Da mesma forma, entre os diferentes níveis de educação, as pessoas que não têm nenhum grau de escolaridade ou pelo menos o nível primário apresentaram uma maior prevalência de ter multimorbidade. Isto pode ser justificado pelo precário acesso à informação e aos serviços de saúde, ou seja, essas pessoas têm menos contato com o conhecimento básico de proteção e prevenção dos fatores determinantes do processo saúde-doença, assim como, às ações de promoção à saúde (MACHADO, 2013).

Encontrou-se na literatura um estudo transversal de base populacional, realizado por Hoepers (2015), no município de Florianópolis, na região Sul do Brasil, o qual identificou características importantes entre os indivíduos que apresentam uma menor ou maior prevalência de multimorbidade, destes, aqueles com menor prevalência de ter multimorbidade, geralmente eram mais jovens e com melhor nível de escolaridade, isto é, mais acesso à informação e conhecimento sobre medidas de proteção à saúde. Enquanto que as pessoas com maior prevalência de ter multimorbidade, eram mais

Prevalência de multimorbidade e fatores associados na população trabalhadora brasileira

71 velhas, em sua maioria, da classe C, com escolaridade inferior a oito anos e obesidade,

ou seja, menos mecanismos facilitadores para o acesso à informação e, consequentemente a uma melhor qualidade de vida.

As pessoas que se identificaram como ex-fumantes apresentaram uma maior prevalência de ter multimorbidade quando comparados com os não fumantes e fumantes. A princípio, em meio ao contexto de multifatorialidade da multimorbidade, o tabagismo foi considerado um fator modificável potencialmente influenciável para o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis (SANTOS, 2017). Além disso, existem evidências científicas que explicam os efeitos precoces do envelhecimento e o surgimento de morbidades nos tabagistas a partir do impacto do processo físico- químico promovido pelas substâncias que compõe o cigarro, de modo que estas geram um estresse oxidativo celular causando alterações celulares no indivíduo (MACHADO, 2013).

As pessoas que moram na zona urbana apresentaram uma maior prevalência de ter multimorbidade do que aqueles que moram na zona rural. Isto pode ser justificado pela maior facilidade de acesso aos serviços de saúde e, com isso, mais registros de consultas e internações hospitalares, assim como, devido ao impacto do aumento dos estilos de vida menos saudáveis, o ritmo inesperado de urbanização e a crescente globalização mal gerida e minimamente inclusiva (OMS, 2008).

6.3 DISCUSSÃO DO TERCEIRO ARTIGO: Acidente de Trabalho e fatores

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