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Discussão dos resultados

No documento TESE MESTRADO SÃO FINAL Júlio Quintas (páginas 90-95)

CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.5. Discussão dos resultados

A globalização e a integração económica que se regista no mundo inteiro tem dado grande contribuição para o aumento do trabalho feminino, permitindo que as mulheres dêem o seu contributo para o desenvolvimento económico das nações (Hisrich e Peters , 2004), a que Angola não é alheia. Elas usam a sua criatividade e as suas características empreendedoras para conduzir as suas próprias actividades de empreendedorismo, criando alternativas de inclusão e permanência no mercado (Lopes, 2006, 2007). Torna-se importante conhecer os factores que estimulam as mulheres a aceitar este grande desafio e os riscos de criarem seus próprios negócios.

No presente estudo procuramos analisar os impactos positivos das mulheres empreendedoras no mercado informal para a economia de Angola, identificando os processos e as competências das mulheres empreendedoras de forma a serem valorizados no ponto de vista profissional.

Depois de uma análise feita aos resultados do estudo podemos agrupar as mulheres vendedoras do mercado informal em dois grupos diferentes. Um grupo que não se enquadra no verdadeiro conceito de empreendedorismo e outro no qual as suas actividades demostram que estão no caminho certo para se transformarem em grandes empreendedoras. Tal como

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refere Damasceno (2010), o empreendedor é a pessoa inovadora que identifica, cria oportunidade de negócios busca benefícios individuais ou colectivos, coordenando recursos para proporcionar melhores benefícios das suas inovações num meio incerto. O estudo revelou que muitas destas mulheres não criam nem inovam, mas limitam-se a vender produtos já acabados vulgo “zunga” e, em muitos casos, ficam sem fazer nada. Este é um grupo que faz este trabalho sem nenhuma esperança mais sim para responder às suas necessidades do dia a dia.

Por outro lado, o estudo identificou grupos de mulheres que têm um sonho, criam, inovam, planeiam as suas acções e, em muitos casos, possuem estruturas fixas e concorrem para deixar o mercado informal e entrarem no mercado formal. É um grupo que se integra na teoria defendida pelo Fialho (2006) quando diz que empreendedorismo é a criação de valor através do desenvolvimento de uma organização por meio de competências que possibilitam a descoberta e o controlo de recursos aplicando-os da forma produtiva.

Ao olharmos para o perfil do empreendedor nos mercados mais desenvolvidos comparativamente aos mercados emergentes teríamos a resposta imediata: estas mulheres não são empreendedoras. Mas se analisarmos o contexto angolano pode-se afirmar que é um processo diferente de outras mulheres, pois no meio social onde se inserem elas procuram, através de várias iniciativas, manter, criar e inovar para ultrapassar os problemas de sobrevivência das suas famílias.

O estudo mostrou a existência de uma pequena “burguesia” de mulheres que começaram no mercado informal e hoje estão bem posicionadas o mercado formal, com um bom relacionamento com as instituições financeiras públicas e privadas.

Há um grande potencial das mulheres, que têm um plano de negócio, apresentar uma maior possibilidade de crescimento do que aquelas que não têm um plano, tal como referem os trabalhos de Piepoli (2006) e Chingala (2011). Observamos vários indicadores: o controlo das despesas ajuda-as a ser mais eficientes, têm maior controlo dos lucros, organizam-se em associações, menor probabilidade de entrar em falência e apresentam uma maior possibilidade de sair no mercado informal para o formal. Vale aqui recordar Dornelas (2005)

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quando diz que plano de negócio é um instrumento que ajuda o empreendedor na gestão dos seus negócio, prevendo uma actividade que pode ser implementada tal e qual foi planeada ou ainda pode sofrer alterações no decorrer do seu percurso.

A informalidade no mercado de Huambo, a considerar pela presente investigação, tem como causa as omissões de regulamentação, de normas sem nenhum documento escrito que sustenta o funcionamento deste sector do ponto de vista económico. Tal como afirma Lopes (2007), o mercado informal realiza actividades económicas legais feitas pelos agentes económicos ilegais. A dimensão económica que algumas mulheres empreendedoras atingiram, demostra que elas têm uma influência importante no sector financeiro.

A sua influência na economia é bem visível embora (Hisrich e Peters, 2004; Adauta, 1998), na sua maioria, seja vista como um meio de alívio da pobreza para muitas famílias angolanas. Foi evidente a ausência de leis e politicas do estado em relação as mulheres empreendedoras, não existindo qualquer tipo de apoio legal nem jurídico, o que funciona como uma barreira para a sua legalização. Estas conclusões vão ao encontro do estudo de Lopes (2007) e Mendes (2012).

Por isso, Mosca (2009) afirma que o comércio “informal” provocou alterações no papel do género na sociedade, na economia e ocupa uma posição secundária, dependente e sujeita às funções e ritos tradicionais. Através da economia informal, as mulheres, começaram a assumir um papel activo na integração do mercado das suas famílias e da sua afirmação pessoal, com obtenção de rendimentos (Adauta, 1998; Piepoli, 2006; Chingala, 2011).

O estudo atesta que a relação dos bancos com as mulheres empreendedoras é praticamente inexistente. As políticas bancárias angolanas não têm um enquadramento jurídico que possa fazer com este grupo tenha acesso aos créditos, tal como atesta o estudo de Mendes (2012). Ao mesmo tempo, os bancos estão conscientes de que este grupo de pessoas possui um capital muito grande que circula fora do sistema legal, o que prejudica a economia angolana. Os bancos estão sensibilizados de que têm de desempenhar um papel mais importante na contribuição de políticas junto ao estado angolano para traçar políticas que levem estas mulheres a legalizar os seus negócios e, consequentemente, saírem do mercado informal. Ao

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mesmo tempo que consideram importante que as mulheres empreendedoras devem se organizar em associações funcionais e legais de forma a que os seus negócios respondam aos padrões legalmente aceites.

Na verdade, o estudo mostrou que a maior parte das mulheres vendedoras do mercado informal não estão filiados a nenhuma associação. Este elemento tem sido a barreira principal para estas mulheres terem acesso ao credito bancário. As organizações que apoiam a concessão de crédito às mulheres empreendedoras, fazem-no para ajudar este grupo a criar novas empresas, desempenhando, em simultâneo, um papel de influência junto do governo para que este crie instrumentos e programas que facilitem a legalização e o acesso ao crédito.

4.6. Notas conclusivas

Ao final deste estudo podemos concluir que:

a) A maioria das mulheres que vendem no mercado informal do S. Pedro não possui conhecimentos básicos para a realização de um plano de negócio;

b) Elas não conhecem os aspectos básicos da gestão financeira, o que pode ser observado da forma como fazem controlo dos gastos que realizam em relação ao investimento inicial.

c) Não possuem conhecimentos que lhes possam conduzir a um negócio sustentável, sendo a maioria das fontes de financiamento provenientes de familiares e amigos, fazendo empréstimos que consideram mais fáceis e menos burocráticos em vez de utilizarem os que, realmente, têm os menores custos;

d) Existe uma atitude passiva das instituições financeiras, em manter uma relação funcional com estas vendedoras, pois a grande maioria das pessoas entrevistadas desconhece a existência de programas e produtos financeiros para financiar o seu negócio.

e) As mulheres consideram os bancos muito burocráticos e existe uma desconfiança mútua entre ambos;

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f) Ainda existe por parte destas mulheres o sentimento da discriminação no mercado de trabalho, o que as leva a optar pela informalidade.

g) O mercado informal desempenha um papel importante no conjunto da economia angolana; o seu alcance é ainda maior devido à crise e à instabilidade familiar.

Ao analisar os resultados obtidos nesta pesquisa, e com base na revisão bibliográfica, evidenciam que as mulheres do mercado informal de Angola devem desenvolver capacidades de planeamento e gestão de negócio, procurando formalizar-se e atingir maiores níveis de competitividade. Entendemos que, só assim, a empreendedora construirá um plano de negócio, que orientará as decisões estratégicas antes de iniciar o seu empreendimento, tornando-a com conhecimentos sobre o funcionamento da sua empresa e compreender que esta é a sua empresa.

Mas estamos certo que a planificação feita é ainda muito fraca susceptível de muitas lacunas de monitorização e disciplina. Elas continuam a não acreditar que o seu trabalho contribuiu para o crescimento das suas famílias e, consequentemente, do país.

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No documento TESE MESTRADO SÃO FINAL Júlio Quintas (páginas 90-95)

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