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Capítulo V. Discussão dos resultados, conclusões e sugestões

1. Discussão dos resultados

1.1. A imagem e os atributos

A análise de dados efectuada nos capítulos anteriores permite concluir que:

Quase metade dos peregrinos inquiridos (42%) identifica Fátima como um local de fé. Os motivos mais apontados que trazem os peregrinos a Fátima são a fé, a promessa, a devoção, o gosto e o acompanhar família ou amigos.

Esta identificação de Fátima com a fé é repetida como aquilo que os peregrinos inquiridos consideram ser o aspecto mais positivo de Fátima (escolhido por 18%), logo seguido do facto de haver boas condições no espaço físico (14%). Para 31% desta amostra não existem aspectos negativos em Fátima e quase 40% dos peregrinos em causa apontam aspectos negativos a Fátima relacionados com a envolvência e presença de outros peregrinos.

Relativamente à organização, ela é vista de forma positiva, bem como são apreciados os serviços do Santuário; no que concerne às falhas da organização, estes peregrinos entrevistados salientam os dispositivos físicos e as condições logísticas.

Será de acrescentar, como confirmação da imagem, que quase 73% dos peregrinos inquiridos já veio a Fátima mais do que dez vezes em toda a sua vida e o mesmo número afirma que a sua vida melhorou após essa vinda.

Assim, pode concluir-se que os peregrinos inquiridos têm uma imagem positiva do Santuário de Fátima como local de vivência da fé.

Para enumerar os atributos mais relevantes de Fátima enquanto marca, analisam-se os dados anteriores sobre a imagem e sobre a diferenciação: os atributos mais

relevantes são a fé (Fátima é identificado como local de fé, 20% dos peregrinos da

amostra vem geralmente a Fátima por este motivo, é uma palavra associada, é o aspecto citado como o mais positivo de Fátima) e Nossa Senhora (para 34% dos peregrinos quando questionados sobre a primeira palavra associada a Fátima). Outros atributos com relevância para os peregrinos são a paz, o pedir (a petição) e os valores positivos (relativamente ao pedir, é significativo recordar que 68% dos peregrinos da amostra acende velas e 64% afirma já ter feito uma promessa).

1.2. A adequação do posicionamento

Mas qual a adequação do posicionamento implícito do Santuário de Fátima à imagem percepcionada pelos peregrinos (para além dos atributos substantivos)?

Quando se atende ao elemento de identificação conclui-se que, e partindo da percepção da quase maioria dos peregrinos inquiridos, a identificação do Santuário de

Fátima pelos peregrinos é coincidente com a identificação que a Igreja Católica

emite sobre o Santuário, i.e., Fátima é um local de vivência da fé.

Mas relativamente ao elemento diferenciador do posicionamento, os resultados já não são coincidentes: os elementos diferenciadores para os peregrinos inquiridos

não coincidem com o posicionamento da Igreja institucional. De forma diferente, a

diferenciação na versão do Santuário de Fátima aproxima-se da imagem percepcionada por estes peregrinos, já que o Santuário considera outros atributos diferenciadores (o local de fé, as aparições, a participação nos sacramentos e nas devoções particulares, as multidões e o fervor).

Pelo exposto, podem identificar-se dois níveis de problemas no posicionamento do

Santuário no que concerne ao seu elemento de diferenciação: por um lado, encontra-se

um grande desfasamento entre a imagem que os peregrinos inquiridos têm e o posicionamento implícito da Igreja; por outro lado, assiste-se a uma estratégia de

posicionamento por parte da organização Santuário diferente da estratégia de

posicionamento da Igreja Institucional.

1.3. Os meios do Santuário

Os Serviços de oração parecem ser suficientes para o Santuário ocupar a posição diferenciadora, segundo a opinião do reitor, e defendê-la:

• Relativamente aos serviços utilizados pelos peregrinos inquiridos, confirma-se a importância da eucaristia, a oração, especificamente a oração do terço.

• Nas devoções populares, destaca-se o acendimento de velas.

• O sacramento da Reconciliação tem uma procura bastante menor (cerca de 26%), sendo ainda relevante o facto de 17% dos peregrinos entrevistados não se confessar a um sacerdote.

Assim, pode afirmar-se, e partindo da percepção dos peregrinos, que existe coerência entre o posicionamento pretendido pelo Santuário e as variáveis do marketing-mix (confirma-se a adequação dos atributos substantivos ao posicionamento pretendido).

As deficiências apontadas pelos peregrinos questionados dirigem-se sobretudo aos Serviços de caridade e acolhimento (deficiências físicas e logísticas apontadas por cerca de 23% dos peregrinos). No entanto, a maioria destes peregrinos aponta a boa organização do Santuário. Os Serviços de evangelização não são nomeados por estes peregrinos.

1.4. As razões para um desfasamento entre imagem e posicionamento

Outras conclusões relevantes para se compreender o desfasamento entre a imagem dos peregrinos e o posicionamento do Santuário são:

• Os católicos que se intitulam de praticantes são os que mais diferenciam Fátima como local de fé e os não praticantes são os que mais afirmam não saber diferenciar este Santuário.

• Existe uma relação positiva entre conhecimento da Mensagem de Fátima e Fátima como local e experiência de fé.

• O desconhecimento da Mensagem de Fátima está associado aos peregrinos que afirmam não saber diferenciar este Santuário e que vão a Fátima por outros motivos. • Tendencialmente, os peregrinos críticos relativamente à confissão, diferenciam

Fátima pelas multidões; os peregrinos que vêm a Fátima pela fé afirmam que a confissão significa perdão.

1.4.1. A identidade distorcida

O Reitor do Santuário de Fátima identifica um conjunto de razões que levam os peregrinos a procurar Fátima movidos por uma má imagem (uma identidade distorcida, na opinião do Reitor) do que é Fátima218.

As razões externas ao Santuário têm a ver com:

• o individualismo, i.e., a utilização do Santuário por crentes que não querem participar na vida da paróquia;

• os interesses comerciais;

• a “rudeza espiritual da pessoa contemporânea”.

218 Nesta matéria, é fundamental a opinião do Reitor do Santuário: o enfoque pessoal é uma fonte fundamental para as decisões do

E dificuldades internas como:

• a insuficiência de meios (espaços para oração, voluntários para o acolhimento, meios de divulgação);

• a dificuldade no recrutamento (sacerdotes para as confissões, grupo de música). Relativamente às razões externas invocadas pelo Reitor, elas são confirmadas, em parte, pelos dados de seguida enumerados:

• Na questão do “individualismo”, ela confirma-se nos 28% de católicos não praticantes entrevistados (este número é, segundo o preceito da Igreja, mais elevado já que um número muito elevado de inquiridos afirmou ser católico praticante mas não frequentar a igreja semanalmente, facto referido casualmente pelos entrevistadores).

• Os “interesses comerciais” ao redor do Santuário são apontados como o aspecto mais negativo de Fátima com quase 19% das escolhas. Quer dizer que a má imagem do Santuário resulta, em parte, de factores que escapam ao controlo da organização. • A “rudeza espiritual da pessoa contemporânea” assinalada pelo Reitor é, de alguma

forma, confirmado nos resultados:

• 13% dos peregrinos da amostra lamenta a falta de tranquilidade/respeito no Santuário, provocada pelos outros peregrinos presentes;

• 16% dos inquiridos afirma desconhecer o que é a Mensagem e apenas 6% identifica a oração conversão/penitência como a Mensagem (resultados obtidos antes da variável respeitante ao conhecimento da Mensagem ter sido objecto de uma recategorização).

Relativamente ao conhecimento dos Pastorinhos, as respostas permitem concluir que estes peregrinos conhecem aspectos da sua vida; apenas 11% afirma não saber e 7% não reponde à pergunta.

O significado da confissão também não é conclusivo acerca desta hipótese de “rudeza espiritual” para explicar a má imagem de Fátima.

As dificuldades internas (as “insuficiências de meios”) são referidas por uma parte dos peregrinos: quase 23% aponta a falta de meios físicos.

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