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Discussão dos Resultados

No documento Ensaio sobre pobreza e desigualdade (páginas 61-64)

4 RESULTADOS

4.3 Discussão dos Resultados

Os resultados das estimações utilizando um modelo de efeitos fixos com instrumentos mostram evidências empíricas de que existe uma relação não linear entre o PIB per capita e a pobreza e também entre o PIB per capita e a desigualdade de renda.

Para o caso da pobreza, os resultados empíricos mostram que o coeficiente estimado do PIB per capita em nível é positivo e que o coeficiente do quadrado do PIB per capita é negativo. Ambos os coeficientes são estatisticamente significantes ao nível de 1%. Neste caso, verifica-se empiricamente a existência de um padrão de “U invertido”, conforme verificado em Kuznets (1955) para a relação entre desigualdade de renda e crescimento econômico. Aqui, porém, este padrão é verificado na relação entre pobreza e crescimento econômico.

Neste contexto, no modelo de pobreza, é possível inferir que, enquanto o PIB per

capita aumentar até o ponto de máximo da curva em forma de “U invertido”, haverá uma

elevação da pobreza. Entretanto, sucessivos incrementos no PIB per capita, para valores superiores ao ponto de máximo da curva, resultarão na redução da pobreza.

Assim, é possível que os estados brasileiros que já registram PIB per capita acima do ponto de máximo sejam capazes de combater a pobreza com crescimento do PIB per capita de imediato. Mas, para que os estados brasileiros mais pobres consigam atingir o ponto de máximo da curva, o PIB per capita deve continuar crescendo de forma sustentável e, a partir deste ponto, conforme o PIB per capita continue crescendo, haverá a redução da pobreza.

Para o caso da desigualdade, os resultados empíricos mostram que o coeficiente estimado do PIB per capita em nível é negativo e que o coeficiente do quadrado do PIB per

capita é positivo. Ambos os coeficientes são estatisticamente significantes ao nível de 10%.

Nesse caso, observa-se uma curva na forma de um “U normal”, não corroborando a hipótese de Kuznets (1955). Esse resultado também é encontrado por Taques e Mazzutti (2009).

Nesse contexto, pode-se inferir que enquanto o PIB per capita aumentar até o ponto de mínimo da curva em forma de U, haverá uma redução da desigualdade. Entretanto, sucessivos incrementos no PIB per capita, para valores superiores ao ponto de mínimo da curva U, resultarão no aumento da desigualdade.

Com relação à influência da distribuição de renda sobre a pobreza, os resultados obtidos são condizentes com a literatura e mostram que melhorias na distribuição de renda contribuem para redução da pobreza.

No modelo de desigualdade, os coeficientes estimados para o número de pobres dividido pela população total de cada estado apresenta sinal positivo e estatisticamente significante, sinalizando, empiricamente, que quanto maior o número de pessoas pobres em relação à população total de cada estado mais desigual será a distribuição da renda.

Ante o exposto, surge um paradoxo ao analisar a influência do PIB per capita sobre a pobreza e a desigualdade de renda. Para entender tal paradoxo, suponha que o valor do PIB

per capita seja o mesmo para o ponto de máximo da curva do “U invertido” (relação entre

pobreza e PIB per capita) e para o ponto de mínimo da curva “U normal” (relação entre desigualdade e PIB per capita) e que tal valor seja y*. Nesse contexto, tem-se duas situações simétricas.

Se PIB per capita é menor do que y*, então, à medida que o PIB per capita aumenta, a desigualdade diminui, mas a pobreza aumenta. Além disso, se o número de pessoas pobres em relação à população total de cada estado aumenta, como visto nas estimações do modelo de desigualdade, a desigualdade de renda também aumenta e, como visto nas estimações do modelo de pobreza, se a desigualdade de renda aumenta, o número de pessoas pobres em relação à população total de cada estado também aumenta.

Por outro lado, se PIB per capita é maior do que y*, então, à medida que o PIB per

capita aumenta, a desigualdade aumenta, mas a pobreza diminui. E, se a desigualdade

aumenta, como visto nas estimações do modelo de pobreza, o número de pobres em relação à população total de cada estado também aumenta e, como visto nas estimações do modelo de desigualdade, se o número de pobres em relação à população total de cada estado aumenta, a desigualdade de renda também aumenta.

Essa interação comentada mostra um paradoxo entre os efeitos interativos do PIB per

capita sobre a pobreza e a desigualdade de renda. Esse resultado corrobora com a ideia de

armadilha da pobreza de um lado, mas, por outro lado, evidencia também uma ideia de armadilha da desigualdade. Quando analisado conjuntamente os efeitos da renda per capita sobre a pobreza e sobre a desigualdade, considerando-se os resultados encontrados, pode-se

ter uma ideia do que pode ser chamado de paradoxo da curva de Kuznets entre a pobreza e a desigualdade de renda.

Os resultados mostram, ainda, que não é possível afirmar que as transferências de renda advindas do Programa Bolsa Família contribuem para a redução da pobreza e da desigualdade de renda. Este trabalho traz evidências empíricas de que a importância dada às políticas assistencialistas de transferência de renda aos mais pobres não levam aos resultados esperados e defendidos pelos governos, durante o período analisado. Em todas as equações estimadas, tanto no modelo de pobreza como no modelo de desigualdade, os coeficientes estimados para a variável referente ao valor dos benefícios do Programa Bolsa Família não apresentam significância estatística. Este resultado está de acordo com o trabalho de Marinho, Linhares e Campelo (2011), onde os autores mostram que as transferências do Programa Bolsa Família não têm efeito sobre a pobreza.

Os argumentos contra os programas de transferência de renda no Brasil, citados na revisão de literatura, podem ser aqui enfatizados. As transferências podem resultar na diminuição dos incentivos ao trabalho e na redução da oferta de trabalho, além de manter os beneficiários na dependência em relação ao governo e às transferências. Os beneficiários se acomodariam com a situação de pobreza e não seriam estimulados a reverter esta situação, justamente para continuarem recebendo os benefícios.

Outra possível explicação seria que o programa não está alcançando a população alvo, ou pelo menos parte dela2. Por fim, o resultado poderia ser devido às duas questões conjuntamente. Além de o programa incluir como beneficiados pessoas que não atendem aos critérios da população alvo e excluir pessoas que deveriam fazer parte do programa, parte da população alvo que estaria incluída no programa poderia não ter incentivos para sair da situação de pobreza e tenderiam a acomodar-se.

Vale destacar também que os coeficientes estimados para avaliar o efeito da educação sobre a pobreza não são estatisticamente significantes. Resultado semelhante é encontrado no modelo de desigualdade. Uma possível explicação para esse resultado é que não adianta apenas aumentar as despesas com educação ou colocar mais crianças nas escolas se a qualidade da educação não é boa. Se esse for o caso, as políticas públicas direcionadas para a educação não estão surtindo os efeitos desejados, quais sejam, melhorar a qualidade de vida da população.

2 Além disso, é possível que pessoas não consideradas pobres pelos critérios do programa estejam sendo contempladas pelo programa (GADELHA et. al., 2013).

A partir do que foi descrito acima, pode-se observar que existem evidências empíricas de que o Brasil encontra-se na armadilha da pobreza3 no período estudado, pois as políticas de transferências de renda para as famílias mais pobres não afetam a pobreza e a desigualdade. Além disso, incrementos da renda per capita acima do mínimo da curva U contribuem para o aumento da desigualdade. E, como maior desigualdade aumenta o número de pobres (tabela 06), e maior número de pobres aumenta a desigualdade (tabela 07), percebe-se que existe um círculo vicioso entre pobreza e desigualdade no Brasil.

No documento Ensaio sobre pobreza e desigualdade (páginas 61-64)

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