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Neste estudo foram analisados os fatores de ansiedade cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança no período pré-competitivo em praticantes de desporto escolar e posteriormente foram analisados os fatores de tensão e pensamentos em competição face aos testes escolares a praticantes e não praticantes de desporto escolar.

Após a análise do CSAI-2R, instrumento que avalia a ansiedade pré- competitiva, observamos que os praticantes de modalidades coletivas são mais autoconfiantes antes da competição, comparativamente aos praticantes de modalidades individuais. Martens (1987) e Cruz (1996) encontraram diferenças entre entre os níveis de autoconfiança, ansiedade cognitiva e ansiedade somática em função dos atletas e tipo de modalidade praticada. Num estudo de Maoney et al. (1987), com uma amostra de 713 atletas de ambos os sexos e praticantes de 23 modalidades distintas, foi verificado que os atletas de desportos individuais apresentaram mais problemas relacionados com a ansiedade, confiança e concentração, comparativamente aos de desportos coletivos, Becker Jr (2000), analisando os estudos de Martens (1977), observou que os atletas de modalidades individuais pertencentes à respetiva amostra, apresentaram um maior nível de ansiedade do que os de modalidades coletivas, na medida em que não partilham a responsabilidade, expondo-se sozinhos a uma avaliação direta dos espectadores. Dias (2005) referiu no seu estudo que os atletas de modalidades individuais apresentaram níveis superiores de ansiedade e perceção de ameaça comparativamente aos atletas de modalidades coletivas. Filho, Ribeiro y García (2004) exporam a mesma opinião e afirmaram que os atletas de desportos coletivos têm um maior autodomínio. Num estudo de Fernandes et al. (2013) sobre os fatores influenciadores da ansiedade competitiva em atletas brasileiros, os atletas que praticavam desportos individuais relataram níveis inferiores de ansiedade cognitiva do que os atletas de desportos coletivos.

Passando à análise da ansiedade pré-competitiva face ao sexo, verificamos que os participantes do sexo masculino são mais autoconfiantes antes da competição, relativamente aos do sexo feminino. Este resultado vai ao encontro a vários estudos realizados. Dias (2005), por exemplo, analisou as relações entre ansiedade, stress, emoções e confronto no contexto desportivo e constatou que os atletas do sexo feminino exibiam níveis significativamente mais elevados de ansiedade comparativamente aos atletas do sexo masculino. Vários autores defendem que este fato pode estar ligado a uma maior importância dada ao desporto masculino em

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detrimento do feminino, aumentando desta forma a responsabilidade da mulher em obter resultados para se afirmar enquanto atleta (De Rose Júnior, Vasconcellos 1997; Dias; Cruz; Fonseca, 2009). Para Vieira, Teixeira, Vieira e Filho (2011) a ansiedade cognitiva demonstrada pelo sexo masculino mostrou-se mais elevada do que a mesma no sexo feminino. No estudo de Fernandes et al. (2013), referido anteriormente sobre os fatores influenciadores da ansiedade competitiva em atletas brasileiros, os atletas do sexo masculino relataram níveis mais baixos de ansiedade cognitiva do que atletas do sexo feminino, que evidenciaram níveis inferiores de autoconfiança em relação aos atletas do sexo masculino. Especificamente, as atletas do sexo feminino possuem valores superiores de ansiedade, pelo que enfrentam a competição com uma maior carga de stress respetivamente aos atletas do sexo masculino. (Abián et al. 2015).

Através dos dados recolhidos do preenchimento dos questionários CSAI-2R, verificamos ainda, que os itens que apresentam a média mais elevada pertencem ao fator 1 (Ansiedade Somática), nomeadamente o item 6 “sinto tensão no meu estômago” e o item 4 “Sinto o meu corpo tenso”. Seguidamente segue-se o item 7 “Estou confiante de que posso corresponder ao desafio que me é colocado” que se direciona para o fator de Autoconfiança (fator 3). No que diz respeito ao fator 2 (Ansiedade Cognitiva), o item que apresenta a média mais elevada é o 14 “Estou preocupado pelo fato de os outros poderem ficar desapontados com o meu rendimento”. Verificamos então que, em geral, os atletas praticantes de desporto escolar que estão inseridos na amostra apresentam maires sintomas de tensão (Ansiedade somática) antes das competições. A ansiedade deve ser combatida através de uma interpretação destes sintomas (físicos) como sendo normais em situações pré-competitivas. Detanico e Santos (2005) defenderam que nem toda a ansiedade é prejudicial e que um bom desempenho requer um nível de ansiedade ótimo, que permita ao executante assumir o controlo emocional das suas ações. Weinberg & Gould (2001) defenderam que à medida que a ativação aumenta, melhora o desempenho até um ponto ideal em que ocorre o desempenho desejado. No entanto, aumentos adicionais na ativação levam ao declínio do desempenho (hipótese do U invertido).

Este trabalho teve também como objetivo o estudo da ansiedade face aos testes escolares. Após a análise do QAT, instrumento que avalia a ansiedade face aos testes, podemos observar que os praticantes de modalidades individuais são mais ansiosos face aos testes, apresentando valores médios superiores de tensão e pensamentos em competição face aos praticantes de modalidades coletivas. Os resultados são semelhantes ao do CSAI-2R e possivelmente podemos considerar que os praticantes de desportos individuais são mais ansiosos quando expostos a uma

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situação potencialmente ameaçadora, no entanto há pouca informação relativamente a este tema. Futuramente, deveria de ser mais explorado em que medida o desporto pode ajudar a lidar com a ansiedade noutros contextos do quotidiano.

Quanto ao sexo verificamos que os participantes do sexo feminino apresentam mais tensão e mais pensamentos em competição face aos testes escolares relativamente aos do sexo masculino. Este resultado está de acordo com algumas referências da literatura existentes, na medida em que na maioria, os indivíduos do sexo feminino apresentaram níveis superiores de ansiedade face aos testes comparativamente aos do sexo masculino. Soares (2002) afirmou que a magnitude das diferenças nos níveis da ansiedade face aos testes, deve-se essencialmente, aos níveis elevados da componente afetiva (tensão). Um estudo realizado por De Rose et al. (1997), com o objetivo de mostrar a frequência de ocorrência de sintomas de stress, comparando entre grupos de acordo com o sexo, idade, tipo de desporto, nível de stress e tempo de prática, concluiu que os indivíduos do sexo feminino apresentam uma ocorrência mais elevada de sintomas de stress relativamente aos indivíduos do sexo masculino. Num estudo de ansiedade face aos testes realizado por Rosário et al. (2008) concluiu-se que as raparigas são mais ansiosas antes dos testes do que os rapazes. Estas diferenças resultam de processos de socialização diferenciados (Vieira e Rui, 2006 cit. por Rosário et al. (2008)), em que é permitido às raparigas admitir socialmente estados de ansiedade e os rapazes são ensinados a não expressar as suas emoções. Pelos resultados encontrados podemos constatar que, no geral, o sexo feminino apresenta mais sintomas de ansiedade e stress, tanto na ansiedade pré-competitiva como na ansiedade face aos testes, comparativamente ao sexo masculino.

No que diz respeito ao grupo de exercício, observamos que os não praticantes apresentam valores médios superiores de tensão e pensamentos em competição face aos praticantes de desporto escolar. Possivelmente este resultado deve-se ao fato dos praticantes já se terem deparado com vários mecanismos de controlo da ansiedade e de stress devido à vivência de várias experiências competitivas. Estes mecanismos controlam a ansiedade não só a nível desportivo, mas também noutras situações do quotidiano em que o sujeito percebe que está a ser avaliado, como por exemplo na realização dos testes escolares.

Através dos dados recolhidos do preenchimento dos questionários QAT, verificamos ainda, que o item que apresenta a média mais elevada pertence ao fator 2 (Pensamentos em competição), nomeadamente o item 9 “Pensar como seria se eu tivesse a melhor nota da turma.”. Seguidamente segue-se o item 5 “Começar a sentir-

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me muito nervoso/a antes da entrega e correção do teste.” que corresponde à tensão face aos testes (fator 1).

Recorrendo às correlações de Spearman, nos praticantes de desporto escolar, podemos verificar que existe uma correlação negativa entre ansiedade cognitiva- autoconfiança, entre autoconfiança-ansiedade face aos testes e tensão-autoconfiança. Para Martens et al. (1990), a autoconfiança, relaciona-se negativamente com a somática e a cognitiva, isto é, se a cognitiva e a somática aumentam, a autoconfiança diminui. Estes resultados são esperados na medida em que a ansiedade e tensão são pensamentos negativos que os indivíduos têm sobre si mesmo, enquanto que a autoconfiança é pensar de forma confiante, isto é, a crença dos indivíduos em conseguir realizar os objetivos propostos com o maior sucesso. As estratégias para aumentar a autoconfiança são fundamentais para que os atletas consigam controlar a frequência de estados de ansiedade que experimentam em diversas situações, tanto no contexto desportivo como em relação aos testes escolares.

Neste estudo observamos também que a ansiedade cognitiva se correlaciona positivamente com a ansiedade pré-competitiva, com a tensão, com os pensamentos em competição e com ansiedade face aos testes. Desta forma, pode-se afirmar que os indivíduos que apresentam elevados níveis de ansiedade cognitiva, apresentam também elevados níveis de tensão e de pensamentos em competição. Estas constatações resultam consequentemente em níveis elevados de ansiedade pré- competitiva e ansiedade face aos testes escolares. Existem mais correlações positivas entre a ansiedade somática e autoconfiança com a ansiedade pré-competitiva, tensão- pensamentos em competição, tensão-ansiedade face aos testes e pensamentos em competição-ansiedade face aos testes. Estas correlações demonstram que os indivíduos que apresentam maiores níveis de tensão e pensamentos de competição são os mais ansiosos face aos testes escolares.

Quanto aos não praticantes de desporto escolar, verificamos que existem também correlações positivas entre as variáveis tensão-ansiedade face aos testes e pensamentos em competição- ansiedade face aos testes. Ao contrário das associações entre os praticantes de desporto escolar, nos não praticantes não há uma correlação significativa entre tensão e pensamentos em competição.

Com a associação do QAT com as notas e o número de reprovações dos participantes, pode-se constatar que existem correlações negativas entre o número de reprovações e as notas de matemática e número de reprovações e as notas de português. As notas de português correlacionam-se positivamente com as notas de matemática, com a tensão, com os pensamentos em competição e com a ansiedade face aos testes. A literatura existente refere que as histórias de insucesso escolar

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podem explicar um aumento da Ansiedade face aos testes. Soares (2002) afirmou que os insucessos repetidos podem gerar um aumento dos sentimentos de ameaça e por isso mesmo o desenvolvimento de Ansiedade face aos testes. A participação no desporto poderá ter um efeito positivo no combate a estes insucessos e conduzir a uma melhoria no rendimento académico. Estudos revelaram que, em geral atletas praticantes têm médias de notas académicas mais altas e aspirações educacionais mais elevadas que estudantes não praticantes de qualquer tipo de desporto. (Weiberg & Gould, 2001).

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