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Capítulo III: Institucionalização do Idoso com Demência

4. Discussão dos Resultados

O presente estudo teve como objetivos gerais contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com demência institucionalizadas e avaliar os efeitos da terapia Snoezelen – estimulação multissensorial- na capacidade cognitiva dos mesmos. Para a sua concretização optou-se por uma metodologia de cariz qualitativo que se organiza como um estudo de caso. Apesar da natureza do estudo, foi utilizado um instrumento de recolha de dados de natureza quantitativa com o objetivo de introduzir mais rigor na análise dos dados. Para tal, contribuiu também a triangulação realizada com os dados obtidos nas grelhas de observação e entrevista.

De acordo com os dados obtidos neste estudo, as pessoas com demência, do grupo experimental, apresentam uma média de idade de 82 anos (apêndice 1) e quanto ao grupo de controlo, a média de idade situa-se nos 79 anos. A totalidade da amostra é do sexo feminino e esta tendência de género deve-se ao facto da instituição acolher apenas pessoas em contexto de internamento do sexo feminino.

No que se refere às habilitações literárias do grupo experimental, 60% das pessoas com demência frequentaram o 4ºano de escolaridade, seguindo-se 20% correspondente a uma participante analfabeta e os 20% restantes que correspondem ao nível do 3º ano de escolaridade. No grupo de controlo verificamos o valor percentual de 60% correspondente ao 4ºano de escolaridade, havendo apenas uma participante que com formação superior. O tempo médio de internamento na instituição, de ambos os grupos, fixou-se nos 4 anos (apêndice 1).

Relativamente aos resultados referenciados, sobre as caraterísticas sócio demográficas do grupo experimental e de controlo, não encontramos grandes diferenciações no que se refere às habilitações literárias e ao tempo na instituição, apesar de existir uma utente com formação superior. Quanto à idade, é percetível que, em média, o grupo experimental apresenta participantes com idade superior ao do grupo de controlo.

De acordo com os resultados obtidos, na primeira aplicação do MMSE, do grupo experimental, apresentamos 4 utentes com comprometimento cognitivo e no grupo de controlo apresentam-se apenas 2. Na 2ºaplicação do MMSE, os dados não se alteram, em ambos os grupos.

Relativamente às categorias apresentadas pelo MMSE, (orientação, retenção, atenção e cálculo, evocação e linguagem), os resultados apresentados pelo grupo experimental, na 1º aplicação, apresentam-nos a paciente que apresentou melhores resultados, paciente E, e que se encontra sem comprometimento cognitivo e a paciente com os resultados mais baixos, foi a paciente D, com um resultado de 9 pontos. No grupo de controlo observamos resultados mais positivos do que no grupo anterior, no entanto, duas participantes, apresentam comprometimento cognitivo, a utente nº1 com 21 pontos e a participantes nº5 com 15 pontos.

A demência afeta vários domínios, tais como afasia (perturbação na linguagem), apraxia (diminuição da capacidade para desenvolver atividades motoras), agnosia (impossibilidade de reconhecer e identificar objetos) e perturbação na capacidade de execução (DSM-IV, 1996). É deste modo que o comprometimento cognitivo se manifesta e influencia na cognição dos utentes. É percetível, nos resultados apresentados anteriormente, que os utentes que ainda não apresentam um

comprometimento cognitivo, em ambos os grupos, tiveram melhores resultados no MMSE do que os restantes.

Na 2º aplicação do MMSE, do grupo experimental, apresentam-se os resultados cognitivos dos utentes que realizaram a terapia Snoezelen durante 4 meses, uma vez por semana. Em geral, só uma participante é que apresentou resultados negativos face à 1ºaplicação. A mesma teve um agravamento no seu quadro demencial, o que fez com que o seu comprometimento cognitivo aumentasse e que a terapia não tenha tido os efeitos desejados. Esta questão já foi referenciada, na revisão da literatura, pois é importante ter em conta que a demência é uma patologia com carácter evolutivo, que existe um agravamento nos sintomas cognitivos e um aparecimento de sintomas psico-comportamentais e neurológicos (Touchon & Portet 2002). Deste modo, quando existe uma evolução na doença, os benefícios das intervenções não farmacológicas, neste caso a terapia de Snoezelen, deixam de ser tão evidentes e, normalmente, o seu comprometimento cognitivo aumenta.

Em contrapartida, a paciente E, apresentou um resultado de 28 pontos, o que mostra uma boa preservação das suas capacidades cognitivas e um resultado significativamente positivo. No entanto, esta utente, no período em que decorreu o estudo, participou num programa de estimulação cognitiva individual, portanto, esta pontuação pode não se dever simplesmente à terapia de Snoezelen, mas também ao programa de estimulação. Um estudo de Baker et. al (1997), compara os efeitos das sessões de Snoezelen, em idosos com demência, com os efeitos de outras atividades padronizadas e concluiu que, nos seus benefícios, as sessões são bastantes similares. No entanto, o Snoezelen apresenta um ambiente especial de estimulação que facilita a concentração do paciente e a sua predisposição para as atividades realizadas.

Em relação às outras participantes, todas melhoraram a sua capacidade cognitiva, no entanto, os resultados não foram relevantes.

Analisando os resultados obtidos nas categorias, conseguimos perceber que a categoria com melhor classificação é a da linguagem. Em seguida a categoria de orientação é a que nos mostra resultados mais positivos, sendo que só duas participantes é que pioraram os seus resultados. As categorias com resultados mais baixos, em ambas as aplicações, foram a de evocação e atenção e cálculo. O estudo de Baker et.al (1997) concluiu que, em certos domínios da cognição, a utilização do Snoezelen é vantajoso Snoezelen é benéfico, em relação a outras intervenções, como por exemplo na estimulação da linguagem.

Na 2ª aplicação do MMSE, no grupo de controlo, concluímos que apenas uma participante (nº.2) piorou os seus resultados, tendo a participante nº3 obtido o mesmo resultado da 1ª. aplicação.

O objetivo inicial seria comparar o grupo experimental, que realizou as sessões de Snoezelen, com o grupo de controlo, que não realizou. No entanto, o grupo de controlo apresenta melhores resultados e menos comprometimento cognitivo que os utentes do grupo experimental. Estes resultados não significam que a terapia de Snoezelen não traz benefícios aos seus participantes, mas sim, que existe um vasto leque de intervenções não farmacológicas, que podem, da mesma forma, estabilizar ou controlar a capacidade cognitiva dos idosos com demência. Neste caso, a CSBM, tem à disposição dos seus utentes várias terapias não farmacológicas, como por exemplo, o programa de estimulação cognitiva que influenciou os resultados, em ambos os grupos do presente estudo.

As categorias utilizadas no guião de observação centraram-se na observação de aspetos referenciados por parte do autor Alfonso (2002, p,76), pois, identifica o objetivo do Snoezelen como sendo, “experimentar, explorar, sentir, perceber, interiorizar e identificar, na medida das possibilidades da pessoa, as sensações e perceções que se obtém a partir do próprio corpo e da realidade exterior”. Neste caso foi importante observar as reações e interações que o utente experienciou na sala de Snoezelen, para, um maior complemento da investigação.

Neste caso, foi importante observar as reações e interações que o utente experienciou na sala de Snoezelen, para uma melhor compreensão dos resultada da investigação. Pensamos que a estratégia metodológica de recolha de diferentes fontes de dados, com recurso à observação participante, se revelou adequada e potenciadora de uma análise mais rigorosa.

Um exemplo da importância das observações das sessões de Snoezelen na compreensão dos resultados obtidos pela utente A fica patente no facto de nesse contexto ter sido possível observar alterações no seu comportamento (maior agitação e menor envolvimento nas sessões) coincidentes com alterações no seu quadro demencial. Esta situação poderá explicar o facto de ser a única utente a obter piores resultados na 2ª aplicação.

Um exemplo positivo e interessante que valoriza, no mesmo sentido, a importância da observação participante neste estudo foi a constatação da evolução da utente D, que na 1ºaplicação do MMSE tinha o maior comprometimento cognitivo, de todas as utentes, mostrando-se, nas primeiras sessões de Snoezelen, apática e indiferente. No decorrer do estudo, houve uma mudança de atitude e comportamento e foi possível observar um maior interesse, descontração e reação positiva aos estímulos recebidos, evidenciando os resultados expectáveis relativamente ao bem- estar e prazer proporcionado por esta terapia (Hulsegge & Verheul, 1987). Neste sentido, a participação da utente nas atividades, dentro da sala de Snoezelen, pode explicar os resultados positivos da 2º aplicação.

Nas restantes participantes, foi visível a diminuição dos sintomas comportamentais da demência o que nos leva a colocar a hipótese da terapia contribuir para uma melhor qualidade de vida comprovando que apesar do seu quadro demencial estavam cognitivamente e emocionalmente disponíveis para as atividades propostas.

Com a observação das sessões, foi possível identificar as várias atividades realizadas e compreender melhor os seus objetivos. Na tabela (15), apresentamos as atividades e concluímos que, inicialmente, foi usada uma estimulação que tem como objetivo a evocação de experiências afetivas prazerosas e a estimulação da comunicação através do relato de atividades quotidianas ou da vida dos sujeitos.

Na nossa intervenção seguimos os princípios da terapia Snoezelen, sendo as primeiras sessões mais centradas na estimulação do relaxamento e as sessões finais dedicadas a uma maior estimulação cognitiva e sensorial (Hulsegge & Verheul, 1989).

A estimulação da comunicação verbal auxiliou na ligação de proximidade com o participante e o técnico, que conduziu a terapia. O técnico acaba por partilhar, também, alguns momentos da sua vida, estimulando o envolvimento de todos os participantes. Esta estimulação da comunicação verbal também foi importante e

poderá ter influenciado os resultados positivos, do MMSE, que todas as utentes, do grupo experimental, tiveram na categoria da linguagem.

Os aspetos referenciados reforçam a importância da realização deste estudo no sentido de sensibilizar os profissionais para a implementação de intervenções que proporcionem uma maior qualidade de vida aos idosos dementes. Addington- Hall et.,al. (2001) confirma a importância desta questão, pois refere que os doentes que ainda se encontrem nos estádios de demência considerados ligeiros ou moderados têm a perceção da sua qualidade de vida e valorizam-na.

A dimensão da qualidade de vida dos idosos com demência é uma das dimensões mais valorizadas pela coordenadora do projeto Snoezelen quando identifica os seus benefícios, tal como se pode constatar quando refere… que fatores como o controlo de sintomas demenciais e a realização de terapias ocupacionais, contribuem positivamente para a qualidade de vida e bem-estar dos utentes e que a perceção e opinião que os utentes têm sobre a sala Snoezelen, assim como as suas manifestações, são de aceitação e bem-estar.

A técnica identifica a terapia Snoezelen como uma opção de intervenção útil e adequada em idosos com demência, sobretudo “ao nível do humor, satisfação e bem- estar e ao nível da interação com os profissionais, salientando, contudo, que “a conjugação de intervenções não farmacológicas acresce benefícios para a estabilização de alguns sintomas de demência. “

A este propósito, Wannmacher defende que a promoção da qualidade de vida através das terapias não farmacológicas na demência são um forte exemplo de uma estimulação digna e apropriada e que tem como objetivos estabilizar ou melhorar as funções cognitivas do paciente, diminuir os sintomas comportamentais e psicológicos, muito frequentes nesta patologia, e melhorar a qualidade de vida dos doentes (Wannmacher, 2005).

Este esclarecimento vai ao encontro do autor Mertens (2005) cit. por Sánchez e Abreu (s.d , p.3) que refere :” para que os objetivos do Snoezelen sejam atingidos, deve-se ter uma atenção particular a cada utente, ter em conta o seu processo clinico e o seu interesse na terapia em questão. “

Relativamente à dimensão cognitiva, a entrevistada refere-nos que os benefícios encontrados, na terapia de Snoezelen, em estudos já realizados na CSBM, são mais ao nível do humor e da interação e que não são encontrados resultados significativos em relação à capacidade cognitiva. No entanto, mesmo que os resultados cognitivos possam não ser tão evidentes, a par com outras estratégias, poderão trazer resultados positivos e uma estabilização de certos sintomas ou comportamentos inadequados.

Estes esclarecimentos, por parte da entrevistadora, concluem que é possível promover a qualidade de vida, através da terapia de Snoezelen, e que a par com outras intervenções, como por exemplo, a estimulação cognitiva individual, conseguimos resultados positivos por parte dos utentes, mesmo não sendo significativos.

A triangulação dos dados recolhidos permite concluir que, no que respeita aos ganhos da terapia Snoezelen na capacidade cognitiva de idosos com demência institucionalizados, os resultados não são conclusivos, sofreram algumas limitações e são abertos a várias interpretações. No entanto, a perceção da satisfação e do bem-

estar dos utentes quando realizam a terapia de Snoezelen é evidente e contribuem para a promoção da qualidade de vida no sujeito.

O constructo de qualidade de vida na demência deve ser encarado como um elemento dinâmico a exigir a responsabilização dos técnicos das mais diversificadas instituições, que prestam apoio nesta área, no desenvolvimento de estratégias eficazes que promovam a qualidade de vida nos idosos com demência.

Tendo em conta a revisão da literatura, os vários projetos que têm sido implementados e avaliados na área dos idosos com demência assim como os resultados do nosso estudo, acreditamos que a terapia Snoezelen é uma intervenção que apresenta grandes potencialidades, embora ainda a necessitar de novas pesquisas. As limitações ao nível do tamanho das amostras, ao nível da duração temporal das intervenções, ao nível da necessidade de criação de instrumentos que permitam avaliar e validar as sessões, a comparação com outras atividades desenvolvidas em paralelo e em simultâneo, necessitam de um estudo aprofundado.

No que diz respeito aos benefícios da terapia Snoezelen nas desordens cognitivas, pese embora a ausência de evidências significativas no nosso estudo, acreditamos que a mobilização da atenção, da concentração, da memória e a diminuição dos comportamentos inadequados cria uma maior predisposição no cliente para participar em outras atividades, que possam vir a influenciar, positivamente na sua cognição.

A proximidade relacional e a segurança emocional que se foi estabelecendo ao longo das sessões, entre os utentes e o técnico, auxiliaram no conhecimento e na perceção das necessidades e competências destes clientes que, como sabemos, estão em constante mudança.

De acordo com um projeto realizado por Martins (2011, p.8) “nem todos viveram esta experiência sensorial com finalidade terapêutica. Para alguns, o Snoezelen foi e é uma atividade sem objetivos de reabilitação ou cura, no entanto, pela nossa observação e acompanhamento percebemos muitos sorrisos, algumas palavras e expressões faciais que revelaram “outras curas”, como o prazer e bem-estar”.

Concluímos então com a mensagem que não só os fins terapêuticos são importantes, principalmente quando se trabalha com idosos com demência. Qualquer demonstração positiva de afeto e de prazer devem significar que aquela intervenção, seja ela qual for, é benéfica e promove qualidade de vida no utente.