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6. Interpretação de resultados

6.3. Discussão dos resultados

6.3.1. Análise da distribuição dos níveis de SO

2

e NO

2

identificação de áreas de maior concentração

Da observação dos mapas de isoconcentração para Portugal Continental e dos mapas de valores absolutos para o caso das ilhas foi possível identificar quais as zonas do país em que as concentrações são mais elevadas para cada um dos poluentes.

No caso do SO2,no continente, as manchas de concentrações mais elevadas estão associadas, de modo bastante evidente na primeira campanha, às principais áreas industriais. Tal situação era expectável dado que a principal origem deste poluente é marcadamente industrial. São assim identificáveis no mapa da 1º campanha, presente na Figura 6, de norte para sul, zonas industriais como Matosinhos, Estarreja, Península de Setúbal (Setúbal e Barreiro) e Sines. Através da observação conjunta deste mapa e das rosas dos ventos verificadas durante a campanha (Figura 18), foi possível constatar que as manchas de concentrações seguem os rumos mais frequentes registados nas estações próximas das principais fontes emissoras de SO2.

No que respeita às Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, as concentrações de SO2 registadas foram também bastante baixas (Figuras 7 e 8), traduzindo a quase ausência de tecido industrial nas ilhas. No entanto, é de salientar a ocorrência de valores mais elevados num ponto da Ilha de São Miguel, nos Açores, (17,1 e 6,7 ug/m3 na 1ª e 2ª campanhas respectivamente) devido a uma incorrecta localização do ponto de amostragem em causa, excessivamente próximo de uma central térmica (a menos de 500m da fonte).

Na 2ª campanha a distribuição deste poluente no território continental deixou de ser tão evidente e os seus níveis efectivamente mais baixos. Esta situação poderá estar relacionada com o facto das condições atmosféricas estarem favoráveis à lavagem dos poluentes da atmosfera (com a ocorrência de nebulosidade considerável e forte precipitação)

Os níveis de concentração de NO2, obtidos quer na primeira como na segunda campanhas (figura 9), estão claramente relacionados com a densidade populacional e com a localização das principais vias de tráfego (Figura 17). As zonas mais densamente povoadas, áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, são as áreas onde ocorreram os valores mais elevados. Tal facto está associado ao peso do tráfego rodoviário como fonte de emissão de óxidos de azoto para o ar ambiente. Esta tendência é também perceptível nas Regiões Autónomas da Madeira e Açores, onde os valores mais altos correspondem precisamente às zonas de maior

figuras10, 11 e 17).

O ligeiro aumento observado entre os níveis de NO2registados em alguns pontos entre a 1ª e a 2ª campanhas poderá de algum modo estar relacionado com a época de realização das mesmas. No Verão (altura da realização da 1ª campanha) é visível a diminuição do tráfego nas grandes cidades como Lisboa ou Porto e tal facto é com certeza reflectido nas concentrações ambientais de NO2. É de notar que para este poluente, as manchas de concentrações não seguiram as direcções dos ventos predominantes, de modo tão evidente como no caso do dióxido de enxofre, talvez devido ao facto das emissões se darem muito próximo do nível do solo, ao contrário das emissões de SO2 que acontecem a alturas mais elevadas (chaminés industriais).

Face aos resultados obtidos nas campanhas foi possível concluir que o método utilizado foi adequado para o objectivo que se pretendia, constituído assim um elemento muito importante para a “Avaliação Preliminar da Qualidade do Ar em Portugal” exigida pela Directiva 1996/62/CEe que tem vindo a ser efectuada para o SO2e NO2. Com efeito, não obstante o erro associado ao método em causa, a avaliação efectuada com recurso aos tubos de difusão forneceu informação importante relativamente às concentrações de dióxido de azoto e de dióxido de enxofre, possibilitando a construção de mapas de isoconcentração que permitem identificar as zonas do país onde se verificam os níveis de fundo mais elevados para cada um dos parâmetros analisados.

6.3.2. Comparação dos resultados das campanhas com os

valores-limite e limiares de avaliação da Directiva 1999/30/CE

Dado o método usado (amostragem por difusão passiva) não ser um método de referência e não ser continuo (amostragem de duas semanas em alturas diferentes ano), não é possível através destas campanhas verificar o cumprimento dos valores limite. É no entanto possível, fazendo algumas ressalvas e tendo em conta o erro calculado, inferir sobre a probabilidade de ocorrência de excedências a cada um dos valores-limite ou limiares de avaliação previstos na legislação, e estabelecer o futuro regime de acompanhamento para as áreas amostradas. O pequeno ensaio de intercomparação realizado com 5 tubos de difusão localizados junto à estação de Monte Velho durante as duas campanhas realizadas, descrito no capitulo 4, para o NO2 revelou uma incerteza associada às medições com tubos de difusão algo significativa, que obriga a olhar para os valores obtidos nas campanhas com alguma cautela.

porque os níveis registados pelos tubos registaram concentrações abaixo do limite de detecção do método, podendo apenas dizer-se que a diferença entre as medições dos 5 tubos de difusão e a estação de referência foi de cerca de 5 ug/m3.

Há ainda que ter em conta que as concentrações obtidas nestas campanhas referem-se a períodos de exposição dos tubos de difusão de 7 dias, ou seja a períodos semanais, pelo que a comparação destas com os valores-limite previstos na Directiva 1999/30/CE para períodos horários, diários e anuais, não pode ser efectuada de uma forma directa. Dado que o objectivo da campanha foi caracterizar as concentrações de fundo e considerando que estas por definição não apresentam grandes variações horárias, será apenas feita a comparação com os limites para períodos de exposição diários e anuais. Para além dos valores-limite, será efectuada também uma comparação com os limiares superiores e inferiores de avaliação previstos na referida directiva e que permitem definir qual a estratégia de avaliação a seguir na avaliação anual da qualidade do ar das localizações de fundo em Portugal (ver Tabela 12

Tabela 12: Valores-limite e limiares de avaliação previstos na Directiva 1999/30/CE

Parâmetro NO2(µg/m3) NOx(µg/m3) SO2(µg/m3) Tipo de limite Protecção da

saúde humana Protecção da vegetação Protecção da saúde humana Protecção dos ecossistemas

Período de referência Anual Anual Diário(1) Anual Inverno(3)

Data de cumprimento do valor-limite 1 de Janeiro de 2010 19 de Julho de 2001 1 de Janeiro de 2005 1 de Janeiro de 2005 19 de Julho de 2001 Limiar inferior de avaliação(LIA) 26 19.5 50 - 8 Limiar superior de avaliação (LSA 32 24 75 - 12 Valor-limite (VL) 40 30 125 20 20 Margem de tolerância (Mt) 20(2) - - -

-(1) a não ultrapassar mais do que 3 vezes no ano

(2) 50% do valor-limite em vigor até 1 de Janeiro de 2001 e sofrendo uma redução gradual até à entrada em vigor do valor-limite

(3) período de 1 de Outubro a 31 de Março

Limiar superior de avaliação: nível de poluição abaixo do qual pode ser utilizada uma combinação de medições e de técnicas de modelização para avaliar a qualidade do ar ambiente

Limiar inferior de avaliação: nível de poluição abaixo do qual pode ser só utilizada a modelização ou a estimativa objectiva para avaliar a qualidade do ar.

Os resultados médios e máximos obtidos para cada uma das campanhas e para o máximo das duas campanhas, e as incertezas associadas a cada uma das campanhas encontram-se na Tabela 13.

NO2(µg/m3) SO2(µg/m3) campanha Campanha Máximo das duas campanhas campanha Campanha Máximo das duas campanhas Máximo 18.1 25.3 25.3 9.4(*) 1.8 9.4 Média 3.5 3.7 4.3 1.5 0.8 1.5 Incerteza ± 54% ± 34% - - -

-(*) - foi excluído o valor de 17,1 verificado em S. Miguel nos Açores por não se tratar de um ponto com localização de fundo.

Da análise dos resultados obtidos (capítulo 5), mesmo tendo em conta a incerteza associada, pode dizer-se que, quer para o NO2, quer para o SO2, os níveis de poluição de fundo não ultrapassam o limiar inferior de avaliação, para a generalidade do território nacional, o que pressupõe que a sua avaliação possa ser efectuada recorrendo apenas a modelação ou estimativa objectiva.

No entanto, nas áreas identificadas, através destas campanhas, como áreas de máxima concentração, no caso do dióxido de enxofre, áreas de influência das principais fontes industriais e, no que se refere ao dióxido de azoto, grandes áreas urbanas com tráfego automóvel intenso, poderão eventualmente ocorrer situações em que os limiares de avaliação sejam ultrapassados.

Assim, é de referir, relativamente ao SO2, que na área de influência do complexo industrial de Sines, é possível que ocorram ultrapassagens ao limiar superior de avaliação para os ecossistemas, obrigando a que o acompanhamento desta área se faça com estações de medição fixa, aliás já existentes. Nas restantes áreas de influência de complexos industriais não se registaram níveis que impliquem a obrigatoriedade de medições fixas.

Quanto à exposição diária da população, os níveis de SO2 obtidos durante as campanhas não indiciam quaisquer ultrapassagens ao valor-limite, situando-se abaixo do limiar inferior de avaliação.

Para o NO2 e relativamente à protecção da saúde humana, estas campanhas indiciam que na área metropolitana do Porto e na área do complexo industrial de Estarreja os níveis deste poluente poderão ultrapassar o limiar inferior de avaliação anual, sendo de salientar que nas áreas, onde se observam as concentrações mais elevadas, já existem estações ou está prevista a sua instalação.

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