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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

No documento O significado do lúdico para os idosos (páginas 82-114)

O JOGO DO EMBRULHO –

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 – Identificação do Grupo de Idosos e da Associação

Durante a identificação do grupo no primeiro dia de oficina foi perguntado o nome e como o idoso gostaria de ser chamado. Apenas cinco idosos tinham apelidos. Houve então a confecção de crachás para que as facilitadoras se familiarizassem com os nomes ou apelidos. Ressalta-se que para o grupo não havia necessidade de crachás, pois todos os idosos já se conheciam. Os crachás foram utilizados apenas nas primeiras três oficinas. Os encontros ocorreram nas terças-feiras, exceto três oficinas que foram realizadas quintas-feiras, por que o grupo já tinha atividades previstas naquelas datas.

Dos idosos excluídos da análise e discussão dos dados: 05 foi por ter freqüência menor que 70%, 04 por terem menos de 60 anos e um por possuir déficit físico e mental. Este idoso excluído por déficit físico e mental, tinha 64 anos, usava medicação psicotrópica, tinha déficit de linguagem e problemas nas pernas, o que o impediu de realizar alguns jogos e brincadeiras. Havia dificuldade de ouvir, entender e se expressar, o que dificultou durante as oficinas e durante as respostas as perguntas sobre o significado do lúdico. Porém, mostrou-se alegre e achou muito divertido todas as oficinas que participou. O grupo de idosos o ajudava durante a prática nas atividades lúdicas.

Os dados demográficos dessa amostra, obtidos através de entrevista, sugerem algumas discussões. Dos 18 idosos da pesquisa, 13 (72%) eram do sexo feminino. Segundo Vital (2005, p.27), muitos estudos antropológicos e biológicos têm buscado explicar a razão de as mulheres viverem mais que os homens. No entanto, reforça que o que se tem de fato sobre a feminilização da faixa etária idosa é que as mulheres envelhecidas estão em maioria nos projetos de educação permanente e nos centros de convivência, buscando, talvez com mais galhardia, o que a sociedade culturalmente lhes nega: dignidade.

O fenômeno do envelhecimento implica, portanto, em uma questão de gênero. Segundo Camarano (2004, p.29) da população idosa como um todo, 55% são mulheres, que vivem em média 7 anos a mais que os homens, sendo tal diferença mais expressiva quanto mais idoso for o segmento. O fato é explicado pela mortalidade diferencial do sexo masculino.

Quanto à faixa etária desse grupo de idosos, a maioria se encontra abaixo de 79 anos (94%), ou seja, são os ditos idosos jovens. Camarano (op. cit., p.28) e Negreiros (2003, p.18) citam que é comum desagregar esse segmento populacional em dois subgrupos etários: os jovens idosos de 60 a 79 anos e os idosos velhos de 80 anos ou mais. Trata-se, portanto, de um grupo de idosos jovens, ativos e sadios.

O estado civil dos idosos também se relaciona com a questão de gênero, pois todos os homens eram casados e todos os idosos ditos viúvos eram do sexo feminino. A proporção de idosos casados, segundo Camarano (2004, p. 31), cresceu entre ambos os sexos, principalmente entre as mulheres. As mulheres idosas predominam entre as viúvas. Em 1940, a proporção de idosas nessa condição era duas vezes mais elevada do que a de idosos e, em 2000, essa diferença passou a ser quatro vezes maior. Isso se deve a dois fatores: a maior longevidade da mulher e o recasamento, frequentemente observado entre os homens idosos.

Lloyd-Sherlock (2002, apud CAMARANO, 2004, p.30) reforça que mulheres idosas experimentam uma probabilidade maior de ficarem viúvas e em situação socioeconômica desvantajosa. A maioria das idosas brasileiras de hoje não teve um trabalho remunerado durante a sua vida adulta. Além disso, embora vivam mais do que os homens passam por um período maior de debilitação física antes da morte do que eles. Por outro lado, são elas que participam, mais do que os homens, de atividades extra-domésticas, como organizações e movimentos de mulheres, cursos especiais, viagens e trabalho remunerado temporário. Ao contrário do que fizeram em sua vida adulta, assumem, progressivamente, o papel de chefes de família e de provedoras. OMS (2002, p.82) reforça que algumas mulheres se vêem forçadas a renunciar a um emprego remunerado para assumir responsabilidades do seu papel de cuidadora.

Quanto à aposentadoria, dos 18 idosos da pesquisa, 12 eram aposentados. Os idosos do sexo masculino eram todos aposentados, cinco idosas não recebiam aposentadoria ou qualquer outro benefício e 01 idosa recebia pensão do marido. Quanto ao recebimento de algum tipo de renda Camarano (2004, p. 54) comenta que nas relações familiares, as mulheres experimentam menor autonomia e maior percentual de pessoas que não têm rendimento e, provavelmente, por isso moram em casa de “outros parentes”. Acredita-se que parte dessa “dependência”, no caso da falta de renda, por exemplo, esteja mais associada a um baixo status social no passado do que à idade. A OMS (2002, p. 82) reforça ainda que em muitas sociedades as mulheres têm uma

situação social de inferioridade e um menor acesso a alimentação de qualidade, a educação, a um trabalho gratificante e aos serviços de uma forma geral.

Quanto à ocupação, todas as idosas eram donas de casa (do lar) e duas exerciam também atividade fora de casa, como costureira e diarista. Os idosos do sexo masculino não exerciam atividade fora, tiveram ocupação apenas antes de se aposentarem. Autoras, como Zimerman (2000, p.30), relatam que mesmo quando o idoso não precisa mais trabalhar para manter-se, ele deve se envolver com atividades remuneradas ou não, ocupações prazerosas, trabalhos voluntários em favor de outras pessoas, deixando de lado a idéia de que é alguém inútil. Ainda se preserva a idéia de que só tem valor quem produz bens materiais e dinheiro, ninguém diz que também é importante produzir felicidade. Esse grupo de idosos se utiliza da Associação, que é um grupo de convivência, como uma forma de ocupação do tempo livre.

Para Vital (2005, p. 29) a parte visível das mulheres envelhecidas está em plena atividade fora de casa, freqüentando centros de convivência, universidades abertas, bailes da terceira idade e agências de turismo. Desempenham também um trabalho invisível, mas de grande importância social e econômica, de cuidar dos netos, enquanto as filhas trabalham.

Quanto ao grau de escolaridade 50% dos idosos tinham apenas primeira série ou eram analfabetos e 39% tinham cursado entre a 2ª e 4ª série. Nenhum dos idosos do sexo masculino era analfabeto. Camarano (2004, p.34) comenta que a proporção de idosos alfabetizados teve um aumento significativo, mais intensamente entre as mulheres, mas que são os homens idosos que se encontram em melhores condições de alfabetização.

A escolaridade dos idosos foi um fator relevante para a escolha dos jogos e das brincadeiras das oficinas e em boa parte das adaptações feitas foi levada em consideração esse dado. Determinados jogos e brincadeiras foram evitadas ou utilizadas específicas modificações para as atividades que dependiam diretamente da leitura, da interpretação de textos e do conhecimento de matemática, principalmente na realização de cálculos. Houve o cuidado de se colocar figuras ao invés de textos; de fornecer explicações orais pausadas das atividades ao invés de leituras corridas e de longos textos. A demora de uma atividade lúdica durante as oficinas esteve, muitas vezes, relacionada diretamente ao fato do grupo não ter um bom nível de escolaridade.

5.2 – Comparação entre as Respostas Dadas para o Significado do Lúdico

O objetivo geral dessa pesquisa foi alcançado por meio da pergunta sobre o significado do lúdico que foi feita no primeiro e no último dia de oficina. Ressalta-se aqui, que houve dificuldade pela maioria dos idosos em entender o que é “significado”, sendo traduzido individualmente durante cada entrevista como “O que lhe vem à cabeça; o que quer dizer; que sentido tem para o senhor (a)”. A palavra “lúdico” era falada durante a leitura da pergunta e entendida ou repetida pela maioria idosos como sendo jogo e/ou brincadeira.

Além do roteiro de entrevista com a pergunta sobre o significado do lúdico foram levados em conta as observações de campo da pesquisadora. No décimo dia de oficina, 03 dos 18 idosos não compareceram à reunião da Associação, não responderam novamente à pergunta sobre o significado do lúdico no dia da última de oficina. Esses idosos tinham mais de 60 anos, não possuíam restrições físicas ou mentais e haviam participado em mais de 70% das oficinas. A pesquisadora optou por fazer contato prévio por telefone e ir à residência de dois idosos para completar o roteiro de entrevista. Com o terceiro idoso a resposta à última pergunta foi concluída por telefone.

As duas respostas dadas no primeiro e décimo dia de oficina foram comparadas, sendo analisado se houve ou não novos significados do lúdico. A seguir será discutido, idoso por idoso, e finalmente será feita uma análise geral. A discussão abaixo foi colocada por ordem crescente de idade, como feito no quadro de apresentação das falas dos idosos no item 4.2.

A primeira idosa foi a senhora FPS. A idosa começa com poucas palavras, descrevendo o sentido do lúdico como algo que traz benefícios: “alegria, divertimento e terapia”. No segundo momento de significação a palavra alegria e divertimento é melhor traduzida com palavras como

“maravilhoso” e “bonito” e a “terapia” é colocada como algo que desenvolve a mente, a

memória e a aprendizagem. Ressalta, ainda, um dos benefícios listado por outros idosos, durante a avaliação coletiva das oficinas, que é a beleza. Essa beleza dos jogos e das brincadeiras foi vivenciada novamente por meio do painel de fotos exposto no último dia de oficina.

O autor Huizinga (1938/2001, p. 11) comenta que existem duas características fundamentais do jogo: o fato de ser livre e o fato de não ser vida “corrente” nem vida “real”. Esta consciência do fato de “só fazer de conta” no jogo não impede de modo algum que ele se processe com a maior seriedade, com um enlevo e um entusiasmo que chegam ao arrebatamento

e, pelo menos temporariamente, tiram todo o significado da palavra “só” da frase acima. Todo jogo é capaz, a qualquer momento, de absorver inteiramente o jogador. O jogo se torna seriedade e a seriedade, jogo. É possível, no jogo, alcançar extremos de beleza e de perfeição que ultrapassam em muito a seriedade.

A segunda idosa é a senhora JSB que destaca na sua primeira significação determinada experiência e contato prévio com o lúdico, colocando que a atividade usa a criatividade. Destaca também o benefício da socialização e integração entre pessoas. Após a vivência lúdica a senhora JSB internaliza a sua significação e diz mais sobre os seus sentimentos, sobre como se sentiu durante o jogo e a brincadeira e revive o passado: “É como renascer de novo. Sentir aquela

emoção; brincar com coisa que passou há muito tempo [infância]. Na nossa idade é maravilhoso”. Usa vários adjetivos na tentativa de descrever este “estado de espírito”

vivenciado durante a atividade lúdica. A senhora JSB sente no corpo e deixa registrado na memória o benefício do jogar e do brincar.

Interessante se faz notar que lembranças de jogos e de brincadeiras, casos ou episódios lúdicos da infância perduram na memória por muitos anos, chegando até a velhice. A autora do livro Memória e Sociedade, Eclea Bosi (1994), traz relatos de idosos e suas recordações, dentre as quais os jogos e brincadeiras da infância, da adolescência e até mesmo da vida adulta.

Segundo Moraes (1997, p.27 e 28) o jogo é elemento de socialização e integração dado imprescindível à atividade de trabalho. Para ele um outro aspecto pelo qual o jogo prepara para o trabalho, é que ele é introdutório ao grupo social. Para os mais velhos, jogar é cumprir uma função, ter um lugar na equipe e, por conseguinte, um papel social. Cabral (1992, p.15) concorda que, conhecer o imaginário lúdico, pode ser também importante para descobrir novas alternativas para o comportamento social.

A Senhora MSD descreve o sentido do lúdico com a palavra alegria e posteriormente detalha com mais palavras, como: bom, legal, animado e divertido. E mais, associa o jogo e a brincadeira à atividade física.

Faria Júnior (1999), que é profissional de educação física, ressalta que os efeitos do lúdico são sentidos pelo corpo. Jogar e brincar mobiliza energia e trabalha o físico. Já para Cabral (1992, p.14) o lúdico não é simplesmente um divertimento, o jogo é um encaminhamento para o trabalho físico e para a educação dos sentimentos.

As pessoas idosas, segundo vários autores (SANTOS FILHO, 1999; SANTOS, 2003; VITAL, 2005), têm procurado nos grupos de convivências os valores coletivos e a interação social que, entre outros, lhes foram subtraídos. Em especial, na atividade física, há um momento de extravasar os anseios que o processo produtivo capitalista lhes impôs no decorrer dos anos. Tal constatação revela que a percepção e a compreensão dos desejos e da cultura produzida por este grupo social específico se tornam importante por meio do lúdico. Portanto, urge a necessidade de se discutir o lúdico como um dos espaços de vivência desejada e construtora de cultura.

A quarta idosa, a senhora JST, se mostra de início, predisposta a aprender a brincar e associa o lúdico a alegria. Na décima oficina, de forma mais resumida, mas não menos importante, coloca a vivência e deseja mais, dizendo: “Significa que a gente brincou e gostou e

quer mais. Eu pelo menos quero.”.

Mesmo depois do jogo ter chegado ao fim, esclarece Huizinga (1938/2001, p.12) ele permanece como uma criação nova do espírito, um tesouro a ser conservado pela memória. É transmitido, torna-se tradição. Pode ser repetido a qualquer momento. Uma de suas qualidades fundamentais reside nesta capacidade de repetição.

A senhora GML parece ter claro, em sua concepção, a diferença entre brincadeira e jogo. O preconceito contra o jogo na primeira resposta sobre o significado do lúdico fica evidente quando diz: “Brincadeira é um divertimento. Jogo eu nunca gostei”. O marido da senhora GML joga cartas e dominó antes do início da reunião do grupo. A idosa é a primeira a desmontar a mesa de jogo e chamar o marido para começar a oficina. O que reforça a idéia negativa do vício do jogo apresentada pela idosa. Após as oficinas a descrição da senhora GML revela sua boa experiência com os jogos e as brincadeiras. A atividade lúdica a faz reviver o passado e refletir sobre como é interessante voltar a brincar e a jogar na velhice, ver as oficinas de jogos e brincadeiras como uma experiência bem sucedida.

A divisão em trabalho e tempo livre pode remeter à idéia do jogo como atividade para quem não tem o que fazer, ou seja, o ócio (FARIA JÚNIOR, 1999). Esse autor relata que quando há referência aos conceitos de jogo, brincadeira e brinquedo estão implícitos a idéia de não- seriedade, ou seja, a alusão desses elementos está ligada à noção de divertimento, de passa-tempo e de relaxamento. Corresponde, portanto, a um conceito psicológico, e caracteriza a “práxis” da

sociedade moderna, em que o tempo individual é percebido como dividido rigorosamente em tempo de trabalho (forçado e obrigatório) e tempo de lazer.

A senhora FLM teve poucas oportunidades de acesso, durante a infância, aos jogos e às brincadeiras. Ela começa falando que não sabe o que dizer. Após a vivência das oficinas descreve claramente o que significou para ela: “Eu acho assim, que o jogo é para distrair a cabeça da

gente. É muito bom.”. A idosa conceitua os jogo e as brincadeiras como válvulas de escape da

vida real quando fala: “Enquanto tá [está] jogando e brincando não tá [está] pensando em outras

coisas [sentido de problemas do dia a dia]. É mesmo um divertimento.”. A senhora FLM da um

sentido positivo ao significado de lúdico, onde antes não existia a vivência prática, e apenas o preconceito: “Nunca gostei de jogar”.

O autor Paiva (2000, p.53) comenta que os jogos permitem a troca de papéis, o aprendizado de se colocar no lugar do outro, de ver a mesma situação sob novos ângulos. No caso dos idosos são atitudes importantes, visto ser um grupo que assume papéis específicos, que continua em fase de aprendizado e que pode experimentar novas situações. Não apenas experimentar novas situações, mas novos conceitos, como modificar a visão de jogo vício ou competição, para algo que traz divertimento e quebra da rotina de forma agradável.

A sétima idosa é a senhora RNS que é muito tímida, mas participativa. A imagem do lúdico para ela já era positiva no primeiro encontro, trazendo o sentido de alegria e felicidade. No segundo questionamento sobre o significado do lúdico a resposta é dada sobre o sentimento que ficou na memória, a lembrança boa dos jogos e das brincadeiras. No caso da senhora RNS o lúdico era algo positivo, porém agora registrado claramente na memória.

A senhora AGS descreve o significado do lúdico como sinônimo de alegria e relaciona a ida a Associação a uma válvula de escape, uma forma de não ficar só em casa. Em sua segunda descrição para o significado do lúdico, ela reforça a idéia do jogo e da brincadeira como forma de sair de casa, porém reforça, que essa tem o sentido de aprender alguma coisa e desenvolver a mente. Essa idosa utilizava com grande freqüência a palavra “Maravilhoso” durante as avaliações das oficinas. O seu desejo de continuar jogando e brincando é expresso de forma coletiva: “Queremos mais.”.

Fundamentando-se em Vygotsky, os autores Dytz e Cristo (1995) afirmaram que a atividade lúdica oferece uma válvula de escape para as fantasias da criança ante as pressões do mundo que a cercam. Essa forma de se livrar de pressões da realidade também foi muito citada

pelos idosos durante as avaliações coletivas das oficinas: o distanciamento da rotina, do trabalho e da vida só em casa.

A senhora MLB se utiliza basicamente de uma única palavra, no primeiro momento, para definir o lúdico que foi “divertimento” e fala com entusiasmo, embora fosse de pouca conversa, sobre a relação direta entre o jogo e a brincadeira com a aprendizagem e sua satisfação pessoal. O mito de que o idoso não aprende ficou expresso na fala final da idosa, quando diz: “Eu mesma

aprendi um pouco.”.

Bruner (1972/1976) postula o brincar como uma atividade que deve facilitar a aprendizagem e/ou a prática de comportamentos específicos. Quanto ao comentário sobre o fato de até ela mesma como idosa ter aprendido, vários autores (LEME, 2001; STUART- HAMILTON, 2002; SIQUEIRA, 2002) relatam que o mito que o idoso não aprende está relacionado ao preconceito social contra essa faixa etária, a baixa-estima do idoso e a falta de estimulação mental.

O décimo idoso é do sexo masculino o senhor AJF. Ele começa significando o lúdico a partir da sua vivência, que é o jogo de dominó e baralho, e à distração. As atividades lúdicas das oficinas diferiram, no entanto, das atividades de jogos que realizava. Quando a pergunta é repetida, após as oficinas, detalha melhor e utiliza mais palavras: alegria, divertimento, coisa importante e coisa boa. Relembra e utiliza-se de exemplos, citando: “Aquela brincadeira de ficar

de costas, aquela do papel, a do balão, a do barbante e a dos bichos, várias, gostei de várias.”.

O jogo de baralho e dominó é realizado pelos homens da Associação, como um vício, sendo criticado principalmente, pelas esposas dos jogadores, que gostariam que ocupassem o tempo de outra forma, ficando com elas, por exemplo. Segundo os autores De Gáspari e Schwartz (2005) e Santos (2003) no âmbito do lazer do idoso, elemento que tem vital importância pelo fato do aumento abrupto do tempo livre das obrigações trabalhistas. Também crescem as preocupações e tênues iniciativas voltadas às questões da qualidade de vida e do preenchimento qualitativo deste tempo livre, no sentido de libertá-lo dos estereótipos sociais que o afligem e rotulam, tanto mais improdutivo e decadente, quanto mais avança em sua idade cronológica. No caso desse grupo o rótulo é que o idoso só vai a para jogar baralho ou dominó, invés de fazer algo mais produtivo.

A senhora JLP parece que irá brincar e jogar, de início, só porque não tem nada melhor para fazer, ou vai para esse grupo apenas porque as filhas querem. Quando é perguntado

novamente sobre o lúdico responde, então, a partir dela mesma: “É uma diversão muito boa para

a gente disparecer. A gente aprende mais. A cada dia a gente aprendeu mais.”. Comenta e

reforça o aprender trazido pelo lúdico.

As filhas da senhora JLP motivam essa idosa para ir ao grupo, o que é muito positivo. Muitas famílias e instituições, segundo Zimerman (2000, p.74 e 75), não entendem a importância de estimular o idoso e deixando-o parado, sem se dedicar a nenhuma atividade que o ocupe e ajude a manter suas capacidades ativas. Isso pode ocorrer tanto por descaso quanto por excesso de zelo. O resultado é a negação à pessoa idosa de oportunidades de ser útil a si mesma e aos outros, de se divertir, aproveitar a vida, enfim, de viver. Percebe-se que muitas vezes, principalmente em hospitais, que a família não se interessa em estimular o paciente idoso, pois o idoso parado não incomoda. O idoso se estimulado ganha auto-estima, fica mais esperto, mais participativo, começa a se envolver mais nas questões que o rodeiam, reivindica, reclama. Isso pode ser visto pela família como um aborrecimento e não uma vantagem, já que nesse tipo de sociedade, quem pensa incomoda.

A autora op. cit. (2000, p.135) comenta que ainda que o idoso não tenha um longo futuro

No documento O significado do lúdico para os idosos (páginas 82-114)

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