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O significado do lúdico para os idosos

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE

BRASÍLIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

STRICTO SENSU EM GERONTOLOGIA

Mestrado

O SIGNIFICADO DO LÚDICO PARA OS IDOSOS

Autora: Neuza Moreira de Matos

Orientadora: Prof. Dra. Carmen Jansen de Cárdenas

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NEUZA MOREIRA DE MATOS

O SIGNIFICADO DO LÚDICO PARA OS IDOSOS

Dissertação submetida ao Programa de

Pós-graduação

Stricto Senso

em Gerontologia da

Universidade Católica de Brasília para obtenção do

Grau de Mestre.

Orientadora: Prof. Dra. Carmen Jansen de Cárdenas

Brasília

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7,5cm

Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB. M433s Matos, Neuza Moreira de.

O significado do lúdico para os idosos / Neuza Moreira de Matos – 2006.

168 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2006.

Orientação: Carmen Jansen de Cárdenas

1. Idosos - Recreação. 2. Idosos – aspectos psicológicos. 3. Enfermagem

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Agradecimentos

À Prof. Dra. Maria Aparecida Vasconcelos Moura por ter sido minha primeira orientadora do PIBIC, que me mostrou o “Paraíso de pedras” que é a pesquisa científica, que me despertou a vontade de observar, ler, investigar, formular e, por fim, escrever e publicar.

Ao Cirurgião Dentista Flávio de Oliveira Gomes e a Pedagoga Eliane Cristina Mendes Gomes por me manterem no mundo da pesquisa, na fase que não fazia parte dele.

A querida orientadora e “mãe” dessa obra Prof. Dra. Carmen Jansen de Cárdenas que com muito “jeito”, respeito e firmeza soube amparar e estimular o prosseguimento de cada fase da dissertação.

Ao Prof. Dr. Luiz Otávio Teles Assumpção que me fez amante da arte de escrever, ler e reler, que forneceu as bases metodológicas desse edifício, mostrando nas palavras do ilustríssimo Graciliano Ramos que escrever é fazer como as lavadeiras fazem com o seu ofício.

Aos idosos da Associação de Idosos de Samambaia do Grupo Nova Esperança e seus coordenadores José Muniz de Sousa e Francisca da Providência Souza pelo carinho com que nos receberam e pela participação espontânea nos jogos e brincadeiras, com alegria e entusiasmo, contribuiram para os objetivos dessa pesquisa.

À Profissional de Educação Física e Mestre em Gerontologia Maria Aparecida Germano Bouzada pela dedicação às oficinas, empenho e amizade que moveram essa pesquisa de forma mais leve e científica.

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RESUMO

O lúdico está associado ao ato de brincar e de jogar. Esse estudo utilizou a metodologia social de base qualitativa, seguindo o método da pesquisa-ação. A pesquisa foi realizada com 18 idosos da Associação de Idosos da Samambaia do Grupo Nova Esperança. Teve como objetivos: compreender o significado do lúdico para os idosos, conhecer os benefícios apontados pelos idosos e adaptar os jogos e brincadeiras durante as dez oficinas lúdicas, com ajuda dos idosos, levantando preferências, sugestões e razões das mudanças em cada atividade.

Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram: roteiro de entrevista, avaliação coletiva das oficinas, diário de campo e fotografias. Critérios de inclusão: ter mais de 60 anos, não ter problemas físicos ou psíquicos comprometedores e freqüentar 70% das oficinas. O grupo da pesquisa era composto de 94% de idosos jovens (< 79 anos), 72% do sexo feminino, 65% casados, 60% aposentados e 50% com escolaridade até 1ª série.

O significado do lúdico foi modificado positivamente após a vivência das oficinas de jogos e brincadeiras. Os benefícios apontados com abordagem diferenciada da literatura foram: estimulação da mente, relembrar o passado, distanciamento do cotidiano e a associação com a realidade. O idoso compreende melhor o lúdico quando tem oportunidade de vivenciá-lo. A atividade lúdica oferece múltiplos benefícios para essa faixa etária e precisa de adaptações para melhor uso na velhice. Os jogos e brincadeiras adaptados para idosos é uma forma de estimulação geral, cognitiva e, principalmente, de memória, podendo auxiliar profissionais que trabalham com idosos.

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ABSTRACT

It is a fact that the playful is associated with the act of having fun and playing. This study used the social methodology of qualitative base, followed by the method of “action research”. This research was carried out with 18 people from an elderly association, which belongs to a group called “New Hope”, in Samambaia. The goals of the research were: understanding the meaning of playful for the elders, getting to know the benefits pointed out by the elders and adapting the plays and jokes during ten playful workshops with the help of the elders, eliciting preferences, suggestions and reasons of the changes in each activity.

The tools used for the data collection along the research were: interview outlines, collective evaluation of the workshops, a diary with all the procedures and photographs. The criteria of inclusion were: Being more than 60 years old, not having compromising physical or psychological problems and finally, being frequent in 70% of the workshops. The research group was formed by 94% young elders (<79 years old), 72% of them were female, 65% of them were married, 60% of them were retired and 50% of them had studied up to the first grade of primary school.

The meaning of the playful was modified positively after experiencing the games and the fun in the workshops. The benefits pointed out with differentiated approach of the literature were: stimulating the mind, remembering the past, avoiding thinking about the daily life and avoiding association with the reality. Elders have a better understanding of the playful when they have the opportunity to experiencing it. Playful activities offer multiple benefits for this age group as well as require a couple of adaptations for a better use with elder people’s age group. The games and plays adapted for elders are ways of general and cognitive stimulation, mainly of the memory, and also will be able to help professionals who work with elders.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 1.1 – Justificativa... 1.2 – Problema de Investigação... 1.3 – Objetivos...

09 11 16 17

2. METODOLOGIA……... 2.1 – Classificação da Pesquisa... 2.2 – Participantes da Pesquisa... 2.3 – Local das Oficinas... 2.4 – Instrumentos de Coleta de Dados... 2.5 – Análise dos Dados... 2.6 – Oficinas Lúdicas...

18 18 19 20 20 21 24

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 3.1 – Envelhecimento, Velhice e Velho... 3.2 – O Universo Lúdico dos Jogos e das Brincadeiras... 3.3 – Os Benefícios dos Jogos e Brincadeiras... 3.3.1 – Alívio de Tensões e do Tédio... 3.3.2 – Recreação, Prazer, Alegria, Humor e Riso... 3.3.3 – Socialização e Integração... 3.3.4 – Criatividade e Beleza... 3.3.5 – Auto-estima e Auto-conhecimento... 3.3.6 – Aprendizagem e Estimulação...

29 29 36 43 43 44 45 46 48 49

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS... 4.1 – Caracterização do Campo... 4.1.1 –Histórico da Associação de Idosos... 4.1.2 –Descrição das Atividades Desenvolvidas na Associação de Idosos... 4.1.3 – Identificação do Grupo de Idosos Participantes do Estudo... 4.2 – Comparação Entre o Significado do Lúdico no 1º e 10º Dia de Oficina... 4.3 – Benefícios dos Jogos e Brincadeiras para os Idosos... 4.4 – Adaptações dos Jogos e Brincadeiras para os Idosos...

52 52 52 53 55 60 64 66

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS... 5.1 – Identificação do Grupo de Idosos e da Associação... 5.2 – Comparação entre as Respostas Dadas para o Significado do Lúdico... 5.3 – Benefícios das Atividades Lúdicas Apontadas pelos Idosos... 5.4 – Adaptações de Jogos e Brincadeiras, Razões e Preferências dos Idosos...

82 82 85 94 99

6. RECOMENDAÇÕES... 107

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 114

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS

Anexo A – Carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UCB Anexo B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Anexo C – Roteiro de Entrevista

Anexo D – Instrumento de Avaliação Coletiva

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O SIGNIFICADO DO LÚDICO PARA OS IDOSOS

1. INTRODUÇÃO

Atividades lúdicas são atividades que geram prazer, equilíbrio emocional, contribuem para o desenvolvimento social e levam o indivíduo à autonomia sobre seus atos e pensamentos. O lúdico está associado ao ato de brincar e de jogar. Desde as épocas mais remotas, o ser humano joga e brinca (HUIZINGA,1938/2001). Segundo Araújo (2000, p. 60) tal como a linguagem e a escrita, também o jogo e a brincadeira fazem parte da criação humana. O jogo, por definição deste autor, é um exercício ou passatempo recreativo sujeito a certas regras ou combinações, em que se dispõe habilidade, destreza ou astúcia. E a brincadeira, segundo Santos Filho (999, p.12), um elemento lúdico e da cultura, que pode proporcionar uma riqueza de sentimentos que tem a possibilidade de traduzir-se em prazer, satisfação, alegria, vontade de viver, amor próprio e autoconfiança.

Nesta perspectiva, a atividade lúdica pode ser uma dentre os vários aspectos favoráveis à melhor qualidade de vida da pessoa idosa, que pode ser alcançada por uma prática lúdica que abra as portas para situações estimulantes dentro dos jogos e das brincadeiras, buscando diminuir as resistências ao tato, ao contato, ao movimento e ao prazer pela vida. O idoso traz uma bagagem de infância, a vivência de jovem e de adulto, e mais ainda, sua experiência atual da velhice, o que o leva a possuir certamente um significado do lúdico. Uma nova significação positiva do lúdico na fase atual como idoso pode ser uma forma agradável e dinâmica de ter um crescimento emocional e social, e mais, uma oportunidade de vivenciar os benefícios das atividades lúdicas.

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A pesquisa realizada nesta dissertação foi de cunho qualitativo, seguindo o método da pesquisa-ação. O objetivo central dessa pesquisa foi compreender o significado do lúdico pelos idosos através da participação em dez oficinas de jogos e brincadeiras adaptadas para essa faixa etária. Os 18 idosos participantes eram da Associação de Idosos de Samambaia do Grupo Nova Esperança e as oficinas foram realizadas no galpão onde se reuniam semanalmente. Os encontros foram realizados uma vez por semana, com tempo médio de duas horas por oficina, entre os meses de Maio a Agosto de 2005. Todos os idosos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, sendo informados dos objetivos da pesquisa e da liberdade que teriam de participar ou desistir, de responder ou não a qualquer dos questionamentos.

Nas oficinas foram utilizados basicamente dois instrumentos de coleta de dados. Uma entrevista no primeiro dia de oficina lúdica com perguntas de identificação geral do idoso e uma pergunta sobre qual o significado do lúdico (jogo e brincadeira)? Sendo essa pergunta repetida no último dia de oficina. As respostas dadas à mesma pergunta no primeiro e décimo dia foram comparadas e analisadas quanto à mudança, permanência ou nova significação de conceitos sobre o lúdico. O segundo instrumento foi o de avaliação coletiva das oficinas. No início de cada oficina foi aplicado coletivamente e gravado as respostas sobre a oficina anterior, sendo relembrado os jogos e brincadeiras, abordado sobre quais os benefícios sentidos com as atividades, as preferências por determinado, jogo ou brincadeira, além das sugestões e razões de mudança em cada atividade lúdica. Os benefícios apontados pelos idosos foram listados e comparados com a literatura. As adaptações sugeridas serviram para modificar mais outros jogos e brincadeiras.

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1.1 - Justificativa

Ao se estudar a vida de qualquer povo, das civilizações mais primitivas às dos dias atuais, encontra-se sempre como expressão de sua cultura os jogos e as brincadeiras. Para o historiador Huizinga (1938/2001, p.3) o jogar é tão antigo quanto o homem, ou até mais antigo, pois os animais também jogam e brincam. Os jogos e as brincadeiras com suas variadas formas exercem atração em pessoas de diferentes idades, desde tempos imemoriais. As atividades em grupo ou individuais que divertem e entretêm são necessárias à constituição psíquica do ser humano (MORAES, 1997, p. 41). No cotidiano observam-se pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais distintas praticarem atividades lúdicas.

Almeida (1987 – apud MORAES, 1997, p.11) narra que, com a ascensão do cristianismo, os jogos foram perdendo o seu valor, pois eram considerados profanos, imorais e sem nenhuma significação. Somente a partir do século XVI, os humanistas começaram a perceber o valor educativo dos jogos, e os colégios jesuítas foram os primeiros a recolocá-los em prática: “Impuseram, pouco a pouco, às pessoas de bem e aos amantes da ordem uma opinião menos radical com relação aos jogos”. Moraes (1997, p.42) reforça que os teóricos escolanovistas participaram nas mudanças das idéias preconceituosas dos jogos quando passaram a utilizar atividades lúdicas com crianças menores nos chamados “jardins de infância”.

Segundo Moraes (1997, p.41) por ser uma categoria, com propriedades amplas que assumem significados distintos, o jogo foi estudado por historiadores (Huizinga, Caillois, Ariès, Margolin, Mandon, Jollibert), filósofos (Aristóteles, Platão, Schiller, Dewey), lingüistas (Cazden, Vygotsky, Weir), antropólogos (Bateson, Schwartzman, Sutton-Smith, Henriot, Brougère), psicólogos e psiquiatras (Bruner, Jolly e Sylva, Fein, Freud, Piaget, Vygotsky) e educadores (Chateau, Vial, Alain) em diferentes épocas.

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A atividade lúdica tem maior concentração de estudos na área de educação física, pedagogia e psicologia (BONAMIGO, 1990), sendo as pesquisas voltadas para a infância e para o comportamento lúdico infantil, mostrando sua importância no desenvolvimento motor e psicológico da criança (ELGAS, 1988 e LANGLEY, 1985). O jogo como esporte e lazer para os idosos vêm sendo pesquisados, principalmente, pelos profissionais da educação física. Segundo Cabral (1992, p.13) também a sociologia e antropologia estão em processo de reconhecimento da seriedade do elemento lúdico, considerando-o de não menor importância que outros temas para a compreensão do real.

O levantamento bibliográfico feito na presente pesquisa encontrou poucos estudos com abordagem do lúdico na fase da velhice. O de Huizinga (1938/2001) e Santos (2003) que escrevem sobre o lúdico em qualquer fase do ciclo da vida humana; o de Vital (2005), Lima (2000), Faria Junior (1999) e Moraes (1997) onde o lúdico é uma opção na metodologia de ensino-aprendizagem do idoso; o de Paiva (2000), Santos Filho (1999) e Cabral (1992) e que aborda sobre as brincadeiras vivenciadas no passado de idosos e o gosto pelo lazer atual; e o de De Gáspari e Schwartz (2005) que aborda a ressignificação emocional do lazer em um programa de convivência para idosos.

O autor Santos Filho (1999, p.3) cita que o mundo do trabalho e da racionalidade confinou o lúdico ao mundo infantil, restando à criança a concessão especial do direito de brincar. O brincar é um direito da criança, segundo os Direitos da Criança de 1989, adotado pela Assembléia das Nações Unidas, a Constituição Brasileira de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990. Todos colocam o brincar como prioridade, sendo direito da criança e dever do Estado, da família e da sociedade.

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Os idosos desse início do século XXI vivenciaram em sua infância os jogos e brincadeiras, sendo a criatividade e a vontade de brincar os fatores que ditavam as regras; o pré-requisito para quem queria participar de jogos, de brincadeiras ou, até mesmo, construir brinquedos (CABRAL, 1992, p.21). Tais experiências já vivenciadas em outras fases do ciclo da vida lhes trouxeram uma compreensão intuitiva do significado do termo: lúdico. Ao se vivenciar em seu atual momento de vida, uma nova oportunidade de contato com jogos e brincadeiras, acredita-se que os idosos poderão desfrutar dos benefícios de tais atividades lúdicas e dar novo significado ao lúdico de forma positiva.

Santos Filho (1999, p. 63) cita que é no período da infância que se trabalha com maior ênfase o refinamento dos controles neuromusculares. A criança precisa de “mais tempo” para empenhar-se em atividades físicas e de divertimento mais diferenciados do que em outros períodos, pois há maiores facilidades com um crescente repertório de habilidades motoras, ajudando-a a adquirir “competência” nas atividades cotidianas e em etapas futuras. Comparativamente, também na velhice surgem os problemas de ordem neuromuscular, de falta de estimulação cognitiva, principalmente relacionada à memória, de ócio, de alterações físicas gerais, psicológicas e sociais. A atividade física e o divertimento continuam sendo oportunidades que podem beneficamente fazer parte do desempenho da pessoa idosa.

Quanto aos aspectos físicos, a autora Rauchbach (2001, p. 17 e 20) reforça que à medida que se envelhece o desenvolvimento físico do indivíduo se deteriora, tanto estrutural como funcionalmente. Contudo, pode-se afirmar que a prática da atividade física e recreativa é um componente de essencial benefício e imprescindível para a manutenção da qualidade de vida durante o envelhecimento. Estas refletem a vantagem de poderem ser aplicadas em todos os estágios da vida, desde que se adaptem devidamente às possibilidades e aos limites de cada um.

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Marcelo et. al.(1997, p.10) relata que os jogos de regra, apresentam características mais complexas do que a espontaneidade imediata, atingindo assim, o controle do pensamento operatório concreto. Neles existem o prazer do exercício e o domínio das categorias espaciais e temporais, bem como, a socialização de condutas que caracterizam a vida adulta. As regras determinam a ação dos participantes, estabelecem limites para esta ação e são necessárias para que as convenções sociais e os valores morais sejam transmitidos a cada um dos participantes. Desta forma, alguns jogos e brincadeiras levam a pessoa a experenciar e a lidar com emoções nem sempre agradáveis destas atividades, qual seja a perda e a derrota (ARAÚJO, 2000, p.33). E isso, de certa forma, é positivo para o idoso, pois inclui a possibilidade dele ter de superar seus conflitos e limitações.

A proximidade entre as definições de lúdico, atividade lúdica, brincadeira e jogo, e suas semelhanças faz justificar o entendimento do lúdico como o sentimento de contentamento, concentração e envolvimento profundo, que será alcançado através de atividades lúdicas (SANTOS FILHO, 1999, p.71). A atividade lúdica é uma categoria mais abrangente e que contempla os jogos e as brincadeiras. Os termos jogos e brincadeiras serão referidos como sinônimos1.

O conceito de velho vem assumindo várias conotações ao longo dos tempos (NEGREIROS, 2003, p.18). Desde o ancião respeitável, advindo dos raros patriarcas com experiência acumulada e valorizada; ao velho, caracterizando tudo o que está gasto e degradado, ou ainda, afetivo-protetor; passando para o idoso, significando pleno de idade, termo respeitoso, destinado as camadas mais ricas da população; até terceira idade, que também tem duplo significado, como ócio, inutilidade e inatividade (início), ou como idéia de etapa destinada a novas oportunidades e prazeres (atual); e mais, quarta idade que é associada à imagem de decadência e de perdas de capacidades físicas e psico-sociais. Atualmente há uma clara tendência á distinção entre jovens idosos (60 e 79 anos, sadios) e idosos velhos (acima de 80 anos, mais frágeis e dependentes).

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1 Na banca de qualificação do mestrado o Co-orientador Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros e a Prof. Dra. Paola

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O velho nesta pesquisa será, portanto, chamado de idoso. E a palavra significado, que é utilizada no título dessa dissertação e foi utilizada na entrevista com os idosos, será entendida como: o sentido; a acepção; a significação; aquilo que uma coisa quer dizer, o sentido das palavras; o valor (AMORA, 1998, p.657).

Como aponta De Conti (2001) a criança desde seu nascimento integra-se num mundo de significados construídos historicamente. E através da interação com seus parceiros sociais, envolve-se no processo de significação dela própria e de objetos, eventos e situações outras, construindo e reconstruindo ativamente novos e velhos significados. Esse processo continua durante todo o ciclo da vida. A autora Santos (2003, p.7 e 18) organizadora do livro sobre o IV Encontro Sul Brasileiro sobre brinquedoteca realizado em 1998 refere-se também ao lúdico no contexto da vida humana: da primeira infância a terceira idade. A ludicidade é estudada como algo fundamental no processo de desenvolvimento humano. A atividade lúdica e a vivência lúdica contemplando a criança, o adolescente, o adulto e também o idoso, fazendo com que cada vez mais se produzam estudos de cunho científico para entender sua dimensão no comportamento humano como um todo.

Sendo assim, verifica-se a importância do lúdico em qualquer fase da vida humana e, segundo Santos Filho (1999, p.12), sua quase negação nas fases finais do ciclo da vida. Deste modo, conclui-se pela necessidade de estudos que busquem compreender o fenômeno lúdico como experiência passada e presente do ser humano. Especialmente nessa última fase do ciclo da vida, onde os estudos estão começando e o lúdico pode ter um papel fundamental na qualidade de vida na velhice. Os autores Dytz e Cristo (1995) alertam para o fato de que a qualidade de vida, nos níveis individual e coletivo, está diretamente condicionada às oportunidades de conhecimento e escolha de uma gama de valores, os quais nem sempre pertencem à sociedade onde o ser humano se acha inserido.

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1.2 - Problema de Investigação

O idoso traz com o seu envelhecimento vivências sócio-culturais-históricas em relação ao lúdico, que podem ou não adquirir novos significados, quando o mesmo vivencia os efeitos benéficos das atividades lúdicas por meio de oficinas de jogos e brincadeiras.

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1.3 - Objetivos

1.3.1 - Objetivo Geral:

Compreender o significado do lúdico para os idosos.

1.3.2 - Objetivos Específicos:

- Comparar as significações vivenciadas pelo idoso sobre o lúdico antes e após as oficinas de jogos e brincadeiras;

- Conhecer os benefícios das atividades lúdicas para os idosos;

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2. METODOLOGIA

2.1 - Classificação da Pesquisa

Essa foi uma pesquisa social de base qualitativa, orientada de acordo com o método da pesquisa-ação (THIOLLENT, 2000; HAGUETTE, 2000; GOLDENBERG, 1997; BARBIER, 1985). A pesquisa foi realizada através de entrevista e observação participante, a coleta de dados foi realizada no período de Maio a Agosto de 2005. Durante a apresentação dos dados foi utilizado as iniciais dos nomes dos idosos.

O projeto de pesquisa seguiu as orientações do Comitê em Ética de Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (CEP/UCB) baseado na resolução CNS nº 196/96, que fornece as diretrizes da pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil. Segue anexa a carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (Anexo A). O roteiro de entrevista e o instrumento de avaliação de cada oficina foram aplicados após prévia leitura do termo de consentimento livre e esclarecido e os objetivos da pesquisa para os idosos (Anexo B). Durante a realização das oficinas o idoso teve a liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu termo de consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma ou prejuízo à sua pessoa.

A pesquisa qualitativa favorece o estudo do significado de algo (HAGUETTE, 2000, p. 64). No caso desta pesquisa do significado do lúdico (jogo e brincadeira). A evidência qualitativa é usada para captar dados psicológicos que são reprimidos ou não são facilmente articulados como atitudes, motivos ou pressupostos, mas precisa da participação do pesquisador na realidade dos sujeitos. O que foi feito neste estudo com a participação da pesquisadora, não só nas oficinas, mas também nas reuniões do grupo, nas atividades e conversas após as oficinas, no horário do lanche, enfim no convívio semanal.

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atividades lúdicas e, junto aos idosos, fez o processo de reflexão e ação dessa atividade e os seus significados, aplicando e avaliando instrumentos, mas principalmente, na observação participante no cenário de prática. Houve também a imprescindível participação da Profissional de Educação Física e Mestre em Gerontologia Maria Aparecida Germano Bouzada, a qual contribuiu para as gravações, fotografias, suporte técnico, seleção e aplicação dos jogos e brincadeiras.

A pesquisa-ação é voltada para a descrição de situações concretas e para a intervenção ou a ação orientada em função da resolução de problemas efetivamente detectados na coletividade considerada (THIOLLENT, 2000, p.18). A pesquisa-ação não deixa de ser uma forma de experimentação em situação real, na qual os pesquisadores intervêm conscientemente. Os participantes, entretanto, não são cobaias e desempenham um papel ativo, modificando o meio, comentando, dando sugestões e decidindo. Esta participação no caso do idoso foi bem evidente durante as oficinas e na avaliação das mesmas.

O mesmo autor (op. cit., 2000, p.19) esclarece ainda que, na pesquisa-ação, o foco da pesquisa está na dinâmica de transformação de uma situação atual numa outra situação desejada. No caso desta dissertação, a transformação do significado dos jogos e brincadeiras antes da realização das oficinas em um novo significado do lúdico após a participação, e também, o aumento da percepção dos idosos sobre os benefícios das atividades lúdicas.

Esse método de pesquisa tem dois objetivos (THIOLLENT, 2000, p.19): o prático, que é contribuir para o melhor equacionamento possível do problema; o de conhecimento teórico, que é obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos. No caso da atual dissertação o objetivo de conhecimento é o que norteará a pesquisa na busca do significado e de novas significações do lúdico para o idoso na prática de jogos e brincadeiras durante as oficinas.

2.2 – Participantes da Pesquisa

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2.3 - Local das Oficinas

As oficinas de atividades lúdicas foram realizadas no galpão da Associação de Idosos de Samambaia do Grupo Nova Esperança, os quais são parceiros do Projeto Fênix da Universidade Católica de Brasília.

A pesquisa ocorreu durante as oficinas em um espaço físico pré-determinado, que foi o galpão onde os idosos se reúnem regularmente. As atividades foram oferecidas ao grupo uma vez por semana, com duração em média de duas horas cada oficina, nas terças-feiras ou quintas-feiras à tarde das 14:00 às 16:00 horas, no período de Maio a Agosto de 2005.

Segundo Huizinga (1938/2001, p. 13) a limitação do espaço é outra característica importante do jogo. Todo jogo se processa e existe no interior de um campo previamente delimitado, de maneira material ou imaginária, deliberada ou espontânea.

2.4 - Instrumentos de Coleta de Dados

A combinação de métodos diversos no estudo do mesmo fenômeno tem por objetivo abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do objeto de estudo (GOLDENBERG, 1997 e GALLEGO, 2002). Assim, a coleta de dados foi realizada durante as oficinas lúdicas por meio de quatro modalidades, sendo estes instrumentos corrigidos e adaptados durante todo o processo de trabalho.

Modalidades de coleta de dados utilizadas:

1ª) Entrevista individual com cada idoso através da utilização de um roteiro de entrevista (Anexo C);

2ª) Instrumento de avaliação coletiva (Anexo D), que foi um norteador, sendo gravada a discussão em grupo sobre a avaliação das oficinas;

3ª) Observação participante com o uso do diário de campo; 4ª) Registro fotográfico das atividades.

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instrumento foram: identificação (nome, como gosta de ser chamado, endereço, telefone, grau de instrução, estado civil, profissão/ocupação, aposentadoria, data de nascimento, idade e restrições); e a pergunta sobre qual o significado de lúdico (jogos e brincadeiras)? Esta pergunta foi feita no primeiro dia de oficina e repetida novamente no último dia, para que fosse possível a comparação entre as respostas dadas sobre o significado do lúdico antes e depois da experiência com as oficinas. Neste instrumento foi colocado o item restrições, a fim de identificar problemas de saúde, uso de medicação controlada, restrição física ou mental que o idoso tivesse e que o impedisse de participar das atividades lúdicas, ou que, comprometesse a resposta feita às perguntas da pesquisa. Também foi feita uma lista de freqüência para verificar a participação de cada idoso nas oficinas, pois, por critério da Universidade Aberta da Terceira Idade só recebe certificado quem obtiver participação igual ou superior a 70% nas oficinas.

Os critérios de inclusão dessa pesquisa, portanto, foram: idade (idoso com mais de 60 anos); não ter problemas físicos ou psíquicos que comprometessem as respostas; e ter participado em 70% ou mais das oficinas. Vale ressaltar que os idosos participaram das oficinas de jogos e brincadeiras independentes dos critérios de exclusão, responderam a todos os instrumentos, inclusive assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Na apresentação e discussão dos resultados da pesquisa é que foram considerados os critérios de exclusão acima.

O objetivo prioritário do pesquisador não é ser considerado igual, mas ser aceito na convivência. Esse interagir entre pesquisador e pesquisados, que não se limita às entrevistas e conversas informais, aponta para a compreensão da fala dos sujeitos em sua ação (DESLANDES, 1994, p.62). Nesse caso, além da entrevista escrita e da vivência da prática lúdica, também existiu o contato antes do início das oficinas e após as oficinas, durante o lanche.

O instrumento de avaliação coletiva das oficinas foi feito em grupo no início de cada encontro, antes da realização da oficina prevista para o dia. Os idosos inicialmente relembravam quais atividades foram feitas na oficina anterior, comentaram sobre as atividades de uma forma geral, depois as preferências e os benefícios sentidos, por fim as adaptações e sugestões de mudança com suas razões. Essa discussão em grupo foi gravada, em fita cassete, sendo posteriormente realizada a transcrição das falas, a fim de registrar os relatos no instrumento.

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campo: “ (...) esse instrumento ao qual recorremos em qualquer momento da rotina do trabalho de pesquisa (...), é um amigo silencioso que não pode ser subestimado... podemos colocar nossas percepções , angústias, questionamentos, informações que não são obtidas através da utilização de outras técnicas.”

Turato (2003, p. 28) reforça a capacidade do pesquisador em perceber ruído, detalhes, minúcias, indícios e pistas são extremamente importantes. Principalmente, no caso dessa pesquisa com idosos onde houve atividades práticas e onde se desejou ajustar as atividades lúdicas para a faixa etária em questão. Portanto, os resmungos, expressões de cansaço, dificuldade física de realização de atividades, forma de segurar os objetos e de se posicionar fisicamente foram importantes para o ajuste do tempo e da qualidade do jogo ou da brincadeira para essa faixa etária. A percepção e sensibilidade da pesquisadora foram fundamentais para a adaptação das atividades durante a realização da mesma.

A captação das imagens durante a oficina foi feita por registro fotográfico das atividades de jogos e as brincadeiras com os idosos. Esse recurso é particularmente importante por se tratar de uma atividade prática. A imagem fotográfica das oficinas lúdicas permitiu registrar a beleza do jogo e da brincadeira, sua organização e expressões do grupo durante o momento da atividade. Os participantes das oficinas tiveram a oportunidade de ver as fotografias das oficinas no último dia de oficina do grupo, onde foram expostas em um painel. Após exposição das fotos essas foram dadas aos seus membros. Como cita Deslandes (1994) esse registro visual amplia o conhecimento do estudo porque nos proporciona documentar momentos ou situações que ilustra o cotidiano vivenciado.

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2.5 - Análise dos Dados

A análise dos dados foi feita da seguinte forma:

1) Apresentação da identificação do grupo e da Associação a qual fazem parte;

2) Comparação entre as respostas dadas para o significado do lúdico no primeiro e no último dia de oficina, analisando se houve novos significados ou não do lúdico, baseado no roteiro de entrevista (Anexo C) e observações de campo;

3) Lista dos benefícios das atividades lúdicas apontadas pelo grupo de idosos, comparando-os com os apresentados na literatura, baseado no instrumento de avaliação coletiva das oficinas (Anexo D) e gravações;

4) Demonstração de quais foram às adaptações e sugestões de mudanças de jogos e brincadeiras apresentadas pelo grupo durante as oficinas, bem como as razões para tais modificações e preferências, baseado no instrumento de avaliação coletiva das oficinas (Anexo D), gravações e observações de campo.

Nesta dissertação os materiais analisados fora: à transcrição das gravações, a análise das anotações de campo e a avaliação dos instrumentos de coleta de dados (Anexos C e D). As respostas dadas e comportamentos observados foram colocados em categorias, feitas de acordo com a semelhança das respostas, principalmente quanto aos benefícios dos jogos e brincadeiras para os idosos. Barbier (1985, p.169) escreveu que o material a ser analisado é reconstituído posteriormente e conservado pelos mais diversos meios técnicos.

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2.6 - Oficinas Lúdicas

A oficina é a forma prática de se fazer algo, é a prática da vivência, da dinâmica de grupo ou técnica de grupo (MIRANDA, 1996 e 2000; MILITÃO, 2000). A dinâmica de grupo surgiu em 1912, com Jacob Levy Moreno, um jovem estudante de medicina apaixonado por teatro e música, que começou a observar crianças brincando nos jardins de Viena. Moreno volta-se para os problemas das relações profundas, verdadeiras, significativas entre os seres humanos, enfatizando a relação do Eu e o Outro (MILITÃO, 2000, p.22).

Toda atividade que se envolve com um grupo (reuniões, workshops, grupos de trabalho, entre outros) que objetiva integrar, desinibir, “quebrar o gelo”, divertir, aprender, promover conhecimento, incitar à aprendizagem, competir e aquecer, pode ser denominada dinâmica de grupo, vivências e técnicas de grupo. A vivência será a palavra utilizada para representar essa prática das oficinas. As oficinas lúdicas serão as práticas de vivências de grupo.

As oficinas lúdicas foram compostas por jogos e brincadeiras que foram vivenciados pelos idosos. Essa vivência em grupo permitiu descobrir os tipos de jogos e brincadeiras de maior preferência dos idosos, as dificuldades de realização e as adaptações para melhor acomodação destas atividades aos idosos. A vivência do lúdico permitiu também ao idoso dar novo significado ao lúdico ou reforçar o já existente.

A grande importância das oficinas lúdicas para os idosos foi a estimulação. Estimular, segundo Zimerman (2000, p. 35), consistirá em excitar, incitar, instigar, ativar, animar e encorajar. Estimulação é um dos melhores meios para minimizar os efeitos negativos do envelhecimento e leva as pessoas, neste caso o idoso, a viver com melhor qualidade de vida. Os jogos e as brincadeiras permitem criar meios de manter a mente, as emoções, a comunicação e os relacionamentos em atividade.

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única e individual determinada por cada idoso, à medida que vivencia as atividades lúdicas durante as oficinas.

As atividades lúdicas foram vivenciadas pelos idosos durante dez (10) oficinas de jogos e brincadeiras. Cada oficina trabalhou um grupo específico de atividades lúdicas, como segue abaixo:

Oficina nº 1 - Jogos dinâmicos de apresentação e integração; Oficina nº 2 - Jogos de percepção e sensibilização;

Oficina nº 3 - Jogos cooperativos; Oficina nº 4 - Jogos competitivos; Oficina nº 5 - Jogos teatrais;

Oficina nº 6 - Brincadeiras de grupo ao ar livre; Oficina nº 7 - Jogos de memória;

Oficina nº 8 - Brincadeiras cantadas;

Oficina nº 9 - Jogos interativos de leitura e histórias contadas; Oficina nº 10 - Jogos dinâmicos de finalização de atividades.

A forma de classificar os jogos, segundo Guerra (1993, p. 21), varia conforme o objetivo de cada autor, eles são agrupados seguindo uma característica específica para fazer uma coletânea. O jogo pode ser agrupado: pela natureza da atividade predominante ou pela função geral e específica, pela intensidade das atividades do consumo de calorias gastas, pelo interesse e necessidades dos participantes, conforme a origem e o fim educativo, de acordo com a idade e o desenvolvimento psíquico, pela habilidade manual e pelo uso dos grupos musculares.

Pretendeu-se nas oficinas seguir uma idéia semelhante à de Guerra (op. cit., p. 20) só que aplicado para idosos, ao invés de crianças e de jovens. Ou seja, reviver junto aos idosos as formas variadas de brincar e de jogar. Planejar jogos para as horas livres de uma forma sadia e produtiva. Escolher jogos com funções diferentes, em que as atividades obedeçam às regras dos jogos ou totalmente livre como as brincadeiras; outras com retenção de emoções, percepção e sensibilização; ou ainda, a estimulação do corpo e da mente através de jogos competitivos e de memória.

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última oficina utilizou-se jogos de finalização, que são uma oportunidade de avaliação do conjunto de oficinas. Na classificação das oficinas e escolha dos jogos e brincadeiras foram levados em conta vários fatores, tais como: idade do grupo, alterações fisiológicas do envelhecimento, nível de escolaridade, objetivos da pesquisa, necessidades psico-sociais, nível de integração, acesso a quantidade e qualidade de jogos e brincadeiras. As oficinas tiveram os jogos e brincadeiras escolhidas e dosadas, cuidadosamente, de modo a não discriminar sexo, raça ou credo.

A idade dos idosos, ou seja, o fato de terem idade acima de 60 anos, possibilita o aumento de limitações quanto aos sentidos (tato – contato, visão – cores, audição – músicas, olfato – cheiros, paladar – gostos) o que fez se optar por jogos de percepção e sensibilização, que estimulam esses sentidos.

Os jogos de memória foram escolhidos por ser a perda de memória uma queixa comum nessa faixa etária. Segundo Zimerman (2000) comenta-se pouco ainda em estimular a inteligência, a memória, a capacidade de aprendizagem, os relacionamentos, os pensamentos e a auto-estima. A maioria das pessoas só faz exercícios para fortalecer os músculos, para melhor condicionar as articulações, como se cuidar da saúde fosse apenas preocupar-se com o físico.

As alterações fisiológicas do envelhecimento podem influenciar na realização de determinadas atividades lúdicas, pois as mudanças físicas do idoso podem exigir adaptação de posições, mudança no tipo de atividade (de individual para coletiva), mudança no tamanho dos objetos utilizados e até mesmo evitar determinadas atividades por risco de queda e perda do equilíbrio. Essas alterações foram consideradas na hora de adaptar os jogos e as brincadeiras para os idosos.

O nível de escolaridade foi considerado em todas as oficinas, ao se evitar ou adaptar os jogos e as brincadeiras que dependiam diretamente de leitura, da interpretação do texto e da realização de cálculos. Porém, não foi menosprezado o fato de poderem contar história através de jogos interativos de leitura e histórias contadas, que dependiam da experiência de vida de cada idoso e não do nível de escolaridade.

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cooperativos e competitivos, que trabalham os grupos, a liderança, a ajuda mútua, o espírito de competitividade e de vitória, conflitos e companheirismo.

Segundo Zimerman (2000, p. 15) o indivíduo é, por natureza, um ser gregário. Desde que nasce vive em interação com outras pessoas e durante seu desenvolvimento passa por diferentes grupos, tendo o idoso, portanto, condições internas e a necessidade de se filiar a um grupo de pessoas iguais a ele. Durante a utilização do processo de grupo, visa-se à integração do indivíduo ao grupo. As oficinas lúdicas permitirão a convivência, que é a estimulação do pensar, do fazer, do dar, do trocar, do reformular e principalmente, do aprender. A convivência permitirá a troca de idéias e afeto, durante a participação. As experiências das interações e da convivência fazem surgir à oportunidade de mudanças no comportamento e no pensamento, reconhecendo valores e normas, embora, diferentes dos seus ou mesmo opostos.

A seqüência de jogos e brincadeiras que melhor integrasse gradativamente os idosos fez com que, os jogos teatrais e as brincadeiras ao ar livre, por exemplo, fossem colocadas depois que o grupo já estivesse entrosado entre si, com as facilitadoras e com as atividades lúdicas, pois são jogos e brincadeiras que exigem mais integração, atitude e desinibição.

Cada oficina foi composta por quatro2 tipos de jogos e/ou brincadeiras específicas voltadas ao tema da oficina. O último jogo e/ou brincadeira de cada oficina foi utilizado como plano de contingência, para os casos em que houve tempo livre, que não houve aceitação do grupo, que houve desmotivação ou qualquer outra intercorrência que gerou a necessidade de substituição ou acréscimo de atividade. Durante a seleção das atividades foram descartados os jogos de azar, de apostas ou qualquer outro que tenha o aspecto de competição estimulada com fins de aquisição material, pois alguns idosos podem ter culturalmente o preconceito quanto a esses tipos de jogos.

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A autora Rauchbach (2001, p.69) reforça as idéias apresentadas acima quando enfatiza que deve haver flexibilidade em relação ao aspecto psicológico do grupo ou a condições ambientais, não devendo ser seguido rigorosamente como planejado e sim, aproveitar o máximo as idéias que aparecem na aula, dadas pelo próprio grupo. Deve-se criar situações visando não só uma descontração, mas a reeducação para prazer da vida.

Os encontros foram planejados para serem realizados semanalmente3. A avaliação das oficinas foi realizada sempre na oficina posterior, para que houvesse tempo do idoso acomodar as idéias e as sensações vividas durante a oficina de atividades lúdicas, sofrendo assim, menor efeito da euforia ou decepção causada por determinado jogo ou brincadeira naquele dia de oficina.

Como afirma Haguette (2000, p. 98) o pesquisador também necessita de tempo para rever as entrevistas anteriores e avaliar seus resultados, incorporando questões para o próximo encontro ou retornando aos assuntos. Neste caso houve o tempo para escutar as gravações feitas na oficina e a leitura das observações de campo.

A escolha definitiva dos jogos e brincadeiras da próxima oficina baseou-se nas sugestões das oficinas anteriores. Os comentários espontâneos individuais ou coletivos, feitos antes, durante e após a oficina (período do lanche), na avaliação grupal (instrumento específico que segue no

Anexo D), na escuta das gravações, leitura das transcrições das oficinas anteriores e na leitura das anotações de campo foram feitas pela pesquisadora.

As oficinas de jogos e brincadeiras para idosos foram organizadas de forma que as atividades lúdicas que exigem mais aproximação do grupo, como jogos teatrais, jogos ao ar livre, brincadeiras cantadas e jogos interativos fossem colocadas depois de oficinas como: jogos dinâmicos de apresentação/integração, jogos percepção/sensibilização e jogos cooperativos, a fim de tornar o ambiente mais próximo do familiar. Takavar (1988 – apud SANTOS FILHO, 1999, p.59) coloca que as razões do comportamento lúdico vêm em conseqüência do meio ambiente familiar e da ausência de demandas das necessidades biológicas e sociais. As oficinas lúdicas, portanto, ofereceram o meio para o idoso vivenciar o jogo e a brincadeira.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 - Envelhecimento, Velhice e Velho

A partir do entendimento dos diversos aspectos inerentes ao envelhecimento, à velhice e ao velho, haverá subsídios para entender o conceito, os preconceitos e atitudes de pessoas e da sociedade em relação ao velho. Esse entendimento favorece a conquista do que falta para uma qualidade de vida nessa faixa etária e uma velhice bem sucedida. Também se faz refletir sobre a possibilidade de atividades prazerosas e lúdicas como fator de grande importância nos trabalhos desenvolvidos com idosos.

Uma das primeiras representações gráficas do envelhecimento, segundo Leme (2001, p.9), veio do Egito: o hieróglifo que significa “velho” ou “envelhecer”, encontrado a partir de 2.800-2.700 a.C. representa uma pessoa deitada, com ideograma representativo de fraqueza muscular e perda óssea. Durante o período hipocrático da história grega, cerca de 500 anos a.C. a teoria predominante de envelhecimento dizia a respeito ao calor intrínseco. Esse calor poderia ser reforçado ou restaurado, mas nunca ao nível inicial, assim, a reserva total diminuiria até a morte da pessoa.

O processo de envelhecimento é uma das preocupações da humanidade desde o início das civilizações. No século II a. C, em De Senectude Cícero afirma que a velhice não é feita apenas de declínio e perdas, mas abriga muitas oportunidades de mudanças positivas e de um funcionamento produtivo. Porém, descreve Netto (2002, p. 2), que somente no século XX marcou-se definitivamente a importância do estudo da velhice, com o surgimento da gerontologia, gero (velho) logia (estudo ou conhecimento) criada por Elie Metchnikoff (1903) e a geriatria, surgida com Ignatz L. Nascher (1909) que é a especialização médica que estuda as patologias na velhice.

A gerontologia estuda as mudanças que acompanham no processo de envelhecimento do ponto de vista físico, psicológico e sociológico, preocupado-se também com a adaptação do indivíduo as várias transformações que vão ocorrendo com a idade, as implicações da personalidade e da saúde mental nesse processo (ZIMERMAN, 2000, p.15).

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aumento do conhecimento científico sobre os determinantes e as características desse processo acontece uma lenta e gradual mudança de mentalidade em relação à velhice, no sentido de ser considerada uma fase de desenvolvimento e não, exclusivamente, uma etapa de perdas e incapacidades. Para Néri (2000, p.22) aumenta a consciência de os idosos poderem sentir-se felizes e realizados e, quanto mais forem atuantes e estiverem integrados em meio social, menos ônus trarão para a família, o serviço de saúde e a sociedade.

O envelhecimento não possui um marcador bio-fisiológico de seu início, sendo arbitrariamente fixado mais por fatores socioeconômicos e legais. O envelhecimento, segundo Neri (2001, p.69), é o processo de mudanças universais pautado geneticamente para a espécie e para cada indivíduo, que se traduz pela diminuição da plasticidade comportamental, em aumento de vulnerabilidade, em acumulação de perdas evolutivas e no aumento da probabilidade de morte. O ritmo, a duração e os efeitos desse processo comportam diferenças individuais e de grupos etários, dependentes de eventos de natureza genético-biológica, sócio-histórica e psicológica.

Santos Filho (1999, p.26) faz ressalva sobre o conceito biológico apresentado acima, citando que, como qualquer outra idade, as barreiras à funcionalidade dos idosos são fruto das deformações e dos mitos sobre a velhice, mais do que reflexo de deficiências reais. A velhice encarada como uma etapa vital é considerada mais equilibrada, baseando-se no reconhecimento de que o transcurso do tempo produz efeitos na pessoa, que entra numa etapa diferente das vividas previamente, possuindo, ainda, uma realidade própria e diferenciada das anteriores, mas não menos importante.

Neri (1995, p.29) comenta que existe uma etapa posterior ou mais acentuada do envelhecimento, fase que se refere ao aumento da probabilidade da morte com o avanço da idade, a qual se caracteriza por mudanças incapacitantes e comprometedoras, capazes de afetar decisivamente a estabilidade e a própria vida, mas que essa etapa sofre várias influências. Santos Filho (1999, p.29) cita que os principais fatores que influenciam o envelhecimento do nosso corpo são o tempo, a hereditariedade e o meio ambiente, sobre os quais nós temos muito pouco controle. Contudo, outros aspectos da vida, tais como a dieta, o estilo de vida e o nível de exercício podem afetar beneficamente o processo de envelhecimento e aumentar nossa qualidade de vida e bem estar.

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este período sem cair na depressão. Assim, continua a autora (op. cit., p.87), as atividades de grupo e relações sociais de troca permitem que cada um volte a conhecer aquilo que está esquecido, permitindo que o indivíduo reconheça que, ele tem uma necessidade vital de ser reconhecido pelos outros. No grupo com idosos o importante não é interpretar, mas sim assegurar novamente a confiança, proporcionar abertura e ajudar a operacionalizar mudanças que levem ao envelhecimento bem sucedido, como cita Néri (2000).

A respeito do envelhecimento bem sucedido, citado por Néri (op. cit., p. 26 e 28), em seu livro “A boa velhice”, este se relaciona a: auto-aceitação, relações positivas com os outros, autonomia, domínio sobre o ambiente, propósito na vida e crescimento. Acrescenta ainda as estratégias para alcançar uma velhice satisfatória: engajar em estilo de vida saudável; realizar atividades educacionais, motivacionais e de laços psicoafetivos; encorajar flexibilidade individual e social; cultivar novos hábitos; aperfeiçoar habilidades sociais; engajar-se em atividades produtivas; e desenvolver uma filosofia que dê significado para a vida. Os benefícios proporcionados pela atividade lúdica contemplam aspectos sociais, emocionais e motivacionais, e tem uma estreita correlação com envelhecimento bem sucedido e as estratégias para alcançá-la comentado pela autora op. cit.

Na tentativa de se compreender o envelhecimento, várias teorias foram formuladas ao longo dos anos. Há três gerações de teorias que se complementam entre si, tendo todas, no entanto, limitações e críticas (SIQUEIRA, 2002, p.49). Vale ressaltar, dentre essas três teorias, a teoria da atividade proposta por Havighurst (1968) que diz que o declínio das atividades físicas e mentais, geralmente associada à velhice, é fator determinante das doenças psicológicas e do retardo social do idoso. Nessa teoria as atividades de grupo, em especial as atividades físicas e lúdicas encaixam-se perfeitamente, como forma de proporcionar melhor qualidade de vida aos idosos, por serem estimulantes do corpo e da mente.

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estado psicológico, seu nível de independência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação com o ambiente que o cerca.

Quanto aos aspectos psicológicos, Rauchbach (1990) e Meirelles (1997 - apud SANTOS FILHO, 1999, p.31) evidenciam que o processo do envelhecimento é dinâmico e extraordinariamente complexo, sendo influenciado por fatores individuais que afetam o equilíbrio psicológico. Neste sentido, se destacam algumas dimensões características desta situação como: a aceitação ou recusa da situação de velho; acolhimento ou rejeição pelo meio; atitude hostil ante o novo; diminuição da vontade, das aspirações e da atenção; enfraquecimento da consciência; apego ao conservadorismo; deterioração da memória; além das anomalias do caráter, como a desconfiança, irritabilidade e indocilidade, estreitamento da afetividade, ocasionando dessa forma, as tensões psíquicas.

No século XX a velhice passou a fazer parte de uma visão do envelhecimento dentro do conceito biológico e social. O surgimento de uma pressão social maior negando a velhice, correlacionando-a como uma fase de oposição à produtividade e a juventude, o que gerou uma conotação negativa. Vários conceitos de velhice com tal conotação são encontrados na literatura como cita Alves (1989, p.32): “velhice é uma caracterização da perda dos ideais da juventude, da dessintonização com a mentalidade de seu tempo, do desinteresse pelo cotidiano, da perda do humor, da desconfiança no futuro e do desamor ao trabalho”. Muitos mitos, portanto, aparecem sobre o envelhecimento, a velhice e o velho (LEME, 2001).

Neste início do século XXI a negação da velhice continua, evidencia-se a valorização da pessoa que consegue disfarçar a idade física (cronológica), elogiando-se aquelas pessoas que tem 65 anos com uma aparência de 50 anos; ou afirmando que se é velho por fora e jovem por dentro. Como refere Beauvoir (1990) o velho é sempre o outro, sendo difícil se reconhecer como velho. Zimerman (2000, p.20) esclarece também que a maior parte das características do velho não são peculiaridades de uma faixa etária. Uma pessoa não passa a ter determinada características de personalidade porque envelheceu, ela simplesmente mantém ou acentua as que já possuía antes.

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anos vividos, isto é, como um processo dinâmico e progressivo onde ocorrem mudanças morfológicas, biológicas, fisiológicas, sociais e psicológicas.

O critério cronológico é mais comum para demarcação do que seja idoso (CAMARANO, 2004, p.4). A Organização mundial da Saúde (OMS, 2002), a Política Nacional do Idoso com a lei 8.842 de 4 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1996) e o Estatuto do Idoso com a lei 10.741 de 1º de outubro de 2003 (RAMOS, 2005) consideram como idosos as pessoas com 60 anos ou mais, se residem em países em desenvolvimento, com é o caso do Brasil, ou com 65 anos ou mais se residem em países desenvolvidos.

Gobbi (1997, p.46) reafirma esta realidade dizendo que o envelhecimento está associado a declínios nas dimensões múltiplas e interdependentes do ser humano, mas, não é menos verdade que a participação ativa atenua significativamente tais declínios em todas as dimensões (psicossociais e motoras). Ele destaca ainda que o ser humano pode chegar a idades avançadas gozando de independência funcional, alto grau de estima e auto-estima e integração social.

Os adultos necessitam de atividades de lazer esporadicamente. Até mesmo o trabalho feito com prazer é alegre e fica tão divertido quanto um jogo. Essa necessidade de lazer recorda-nos uma dimensão lúdica de alegria e de sonhos de que todos precisam na infância e na idade adulta. Sabe-se que, momentos de lazer, em geral, são significativos e necessários (MORAES, 1997, p. 1). Para o idoso as atividades de lazer não são menos importantes, os benefícios tragos com as atividades lúdicas são muito bem vindos nessa fase da vida que segundo a socióloga Eclea Bosi (1994) é acompanhada muitas vezes por descaso, solidão, pobreza, tristeza e sofrimento, ou seja, muito pouco prazer.

Erikson (1998, p.23) comenta que a atitude habitual em relação aos anciões na nossa sociedade é espantosa. Embora documentos históricos, antropológicos e religiosos registrem que os anciões longevos de épocas antigas eram aplaudidos e inclusive reverenciados, a resposta deste século, especificamente no mundo ocidental, aos indivíduos velhos geralmente é de escárnio, palavras de desprezo e inclusive repulsa. Quando é oferecida ajuda, ela tende a ser exagerada. O orgulho fica ferido e o respeito corre risco. Aos idosos é oferecida uma “segunda infância” nem um pouco divertida.

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principalmente a trocar. O idoso precisa continuar a viver, lutar e crescer. O crescimento não é nem em tamanho, nem em competência profissional, mas sim, na vida afetiva, social e intelectual. Uma das causas que prejudicam o cotidiano das pessoas, neste período, é a falta de preparação para esta fase da vida. Muitas vezes, à perda de status e à conseqüente desvalorização social faz com que o direito à aposentadoria e ao uso do tempo livre se torne não um benefício, uma conquista, ou até um prêmio, mas um período indesejável, carregado de tédio, marginalização e de preocupação econômica para muitos. Uma das conseqüências do despreparo para ocupar o tempo livre favoreceu a veiculação de uma imagem deformada de velhice, onde a pessoa idosa se sente conformada, inútil, desvalorizada, bastando para ela apenas estar com saúde.

Com maior acesso à informação e à participação ativa em diferentes vivências, segundo De Gáspari e Schwartz (2005) outra marca da sociedade globalizada, o idoso vem tendo oportunidades, nos mais diversos âmbitos, inclusive no contexto do lazer, de ressignificar sua existência, sua aprendizagem, sua importância como cidadão detentor de direitos e garantias legais, seu envelhecimento, sua própria velhice e os níveis de sua efetiva participação dentro da sociedade. O idoso parece estar, também, se conscientizando sobre a importância de adotar hábitos saudáveis de alimentação, de praticar exercícios físicos regulares, de estar inserido em programas de valorização e convívio social e de buscar por atividades mais significativas como forma de preservar e melhorar sua vida, sua saúde e seu bem-estar.

Os mesmos autores relatam que aquelas imagens de inércia, sedentarismo, acomodação, tristeza, indisposição, fadiga, dores sem fim, isolamento, depressão e falta de perspectivas diante desta etapa de vida, paulatinamente, vão perdendo espaço para a crescente participação e adesão às inúmeras oportunidades que são oferecidas ao segmento idoso nos espaços públicos e/ou privados, formal e/ou informal. Este fato vem chamando a atenção da sociedade porque, em cada espaço/lugar dos parques e jardins, teatros, cinemas, restaurantes, família, escola, partidos políticos, igreja, equipamentos de esporte, recreação e lazer, pode-se constatar a presença do idoso. O idoso está cada vez mais consciente de sua capacidade de reverter o atual quadro de exclusão social que o estigmatiza à condição de cidadão de segunda categoria e modificar os patamares de sua qualidade de vida.

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à troca de experiência, o que não exclui a seriedade com que se propõe a aprender. Portanto, estimular os idosos a desenvolverem novas ou recuperar capacidades pode ser feito através de situações livres de pressões. Vale ressaltar também a importância de desenvolver um planejamento de atividades que proporcionem a convivência com outros idosos, sendo que os esportes e a recreação auxiliam nesse processo.

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3.2 - O Universo Lúdico dos Jogos e das Brincadeiras

O lúdico possui um universo de linhas de investigação e de abordagens diferenciadas. Vários são os autores (HUIZINGA, 1938/2001; MORAES, 1997; SANTOS FILHO, 1999; VITAL, 2005) que buscam uma definição do lúdico e outros consideram apenas a possibilidade de identificar algumas características. Autores como Paiva (2000, p.46) e Huizinga (1938/2001, p.21) reforçam essa dificuldade de conceituar o lúdico, mas citam as características lúdicas que são: ordem, tensão, movimento, mudança, solenidade, ritmo e entusiasmo. Santos Filho (1999, p. 68) acredita que, quando se pensa em falar sobre um tema como o fenômeno lúdico, deve-se está preparado para encontrar um universo diverso, complexo e contraditório. O que torna o tema apaixonante e uma oportunidade de descobrir alguns segredos da ludicidade.

O termo lúdico vem do latim e cobre todo o terreno do jogo com uma única palavra: ludus.Ludus é alegria e liberdade, abrange os jogos infantis, teatrais e os jogos de azar, refere-se a: brinquedo, jogo, divertimento e passatempo. Etimologicamente, a palavra jogo também vem do latim lodo, que significa gracejo e zombaria, que foi empregada no lugar de ludu. Embora ludere, de onde vem ludu e onde deriva diretamente lusus também possa significar “ilusão” e “simulação” (HUIZINGA, 1938/2001, p.84). Santos Filho (1999, p.54-55) e Arce (2003) comentam que o verdadeiro sentido do jogo humano se manifesta com os primeiros jogos de ilusão, ou, naquele vaivém excitante e gostoso do lúdico dentro do desenvolvimento infantil.

No idioma italiano gioco, espanhol juego, na língua francesa jeu e em português jogo, a palavra jogo é usada para designar não apenas os jogos em si, mas também as brincadeiras. O idioma inglês trás duas palavras: game, que é o jogo organizado e play, que é o jogo sem regras, ou seja, conceituação mais próxima da brincadeira infantil (ARCE, 2003). Portanto, segundo Santos Filho (1999, p.50) para estas civilizações ludus e jogo significam a mesma coisa e se referem também as brincadeiras. Porém, destaca-se que não é em todas as civilizações que esta palavra é utilizada com o mesmo significado.

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interessante”, levando o indivíduo à condição de livre escolha do tempo, lugar e duração (SANTOS FILHO, 1999, p.69).

O elemento lúdico está presente desde as mais remotas eras em diversas culturas tanto para as crianças, como para os adultos e os idosos. Revela Kishimoto (1992) que povos distintos e antigos como os da Grécia e do Oriente brincaram de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas, e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. A antigüidade de muitos jogos tradicionais infantis é atestada pela obra do rei Allphonse X que, em 1283, redigiu o primeiro livro sobre os jogos na literatura européia. Nesta obra, segundo Grunfeld, o rei descreve diversos jogos, os quais estão presentes até os tempos atuais, como o pião, o jogo de ossinho ou saquinhos, xadrez, o tiro ao alvo, o jogo de fio ou cama-de-gato, os jogos de trilha, o gamão, entre outros. Muitos destes eram jogos de adultos (MORAES, 1997, p.10).

As relações entre o jogo e suas origens, isto é, suas raízes como atividades destinadas a adultos são enfatizadas por Chateau (1987 – apud MORAES, 1997, p.10 e 11). Esse autor menciona que os trabalhos de etnólogos mostram que os jogos eram atividades adultas que passaram para o mundo infantil:

“Há, de início, certos jogos infantis que nada mais são do que antigos jogos abandonados pelos adultos.

No século XIV, a corte de Isabeau de Baviére divertia-se com o jogo de varetas. Entre 1745 e 1755, a

nobreza estava tomada pelas marionetes. O jogo do diabolô, importado da China, teve uma grande

aceitação no princípio do século XIX. O jogo de policiais e ladrões era praticado no século XVIII pela nata

da aristocracia italiana. Que as crianças tomam emprestados dos adultos seus jogos, não nos surpreende.

Hoje as vemos tomar por empréstimo esse jogo de cartas que, quando surgiu na Europa no início do século

XIV (não se sabe vindo de onde), era reservado aos adultos pelos reis.” ( p.22)

Vale lembrar que a expectativa de vida no Brasil, por volta de 1940 era de apenas 42 anos (CAMARANO, 2004 e ZIMERMAN, 2000), ou seja, ser velho era ter idade próxima à idade de um adulto jovem hoje, pois poucos conseguiam chegar à maturidade. Então, quando a história se refere aos adultos de antigamente, os idosos também fazem parte.

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estratificação social: brincadeiras de rua e ‘brinquedos ecológicos’ para os pobres, e

brinquedos artesanais ou industrializados para aquelas economicamente privilegiadas que

deveriam ocupar espaços domésticos, o que nem sempre ocorria, provocando críticas dos

adultos.”.

Vale ressaltar que na formação de papéis sociais é importante não confundir as atividades lúdicas com idosos com os jogos e as brincadeiras infantis, pois nessa fase específica do ciclo da vida deve ser evitado a infantilização. Faria Júnior (1999) concorda e reforça que a linguagem utilizada com o idoso deve ser culta e clara, principalmente quando o lúdico é trabalhado no processo de ensino-aprendizagem. Néri (2000, p.51) também ressalta que o facilitador de um trabalho de grupo não deve utilizar frases de ênfase como “que gracinha” para algo normal que o idoso esteja fazendo ou que tenha condições de fazer.

O historiador Huizinga (1938/2001, p. 3) acredita que o jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos vigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana. Os animais, entretanto, não esperaram que os homens os iniciassem na atividade lúdica. É possível afirmar que a civilização humana não acrescentou características essenciais alguma à idéia geral de jogo. Os animais brincam tal como os homens. O jogar é tão antigo quanto o homem, ou até mais antigo, pois os animais também jogam.

Kishimoto (1997) cita ainda outras características do jogo: há uma incerteza quanto aos resultados, representa a realidade, permite relacionar ou expressar experiências, permite a integração das crianças ao grupo. Na última fase do ciclo da vida também ocorrem as incertezas do dia a dia, a ênfase na proximidade da morte, experiências acumuladas e as necessidades de integração em grupo.

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O significado de “seriedade” é exposto pelo mesmo autor (op. cit., 1938, p.51), sendo definido de maneira exaustiva pela negação do jogo, ou seja, seriedade significa ausência de jogo ou brincadeira e nada mais. Por outro lado, o significado de “jogo” de modo algum se define ou se esgota se considerado simplesmente como ausência de seriedade. O conceito de jogo enquanto tal é de ordem mais elevada do que o de seriedade. Porque a seriedade procura excluir o jogo, ao passo que o jogo pode muito bem incluir a seriedade.

Segundo Souza (1996 – apud SANTOS FILHO, 1999, p.49) o jogo permanece como uma entidade sem definição, pois não há como dizer tudo sobre ele sem que nada falte ou nada sobre, considerando que “todo ser que joga está procurando satisfazer uma necessidade não material de sua existência, ou seja, está buscando prazer, algo além do que simplesmente sobreviver” (p. 86). Essas razões levaram grandes teóricos a concentraram-se em estudar as principais características do jogo.

Segundo Kishimoto (1997, p.17) “... cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem”. Para Araújo (2000, p. 65) o jogo é imprescindível ao processo de desenvolvimento do indivíduo. Tem função vital principalmente como forma de assimilação da realidade, além de ser culturalmente útil para a sociedade como expressão de ideais comunitários.

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escravos, a cultura infantil preserva a brincadeira com as denominações ‘chicotinho queimado’, ‘cinturão queimado’, ‘cipozinho queimado’, ‘quente e frio’ e ‘peia quente’.

Agora, que se está na chamada ‘era da informática’ surgem diversos jogos eletrônicos acessados por meio da Internet, que mantém a mesma idéia e relação de dominação existente nestes jogos antigos. Os jogos se transformam através dos anos adquirindo novas roupagens, mas não são eliminados ou substituídos, como acontece sempre que o homem progride materialmente. Os trabalhadores são substituídos pelas máquinas. As máquinas são substituídas por outras máquinas. Porém, não o jogo (MORAES, 1997, p.14).

Winnicott (1975, p.38) foi um médico pediatra e psicoterapeuta que contribuiu muito para o entendimento da história do brincar. Em sua teoria, o brincar nasce com o bebê, onde primeiro só existe o “ser” e só depois o “fazer” sobre os objetos do mundo. Esse psicanalista em seus estudos sobre o crescimento e desenvolvimento das crianças, julga que o brincar é uma das formas mais originais de satisfazer os seus desejos e anseios. A imaginação e as regras são características definidoras da brincadeira. Não existe brinquedo sem organização e sem motivo. A situação imaginária funciona segundo uma determinada lógica formal.

Alguns autores como Faria Junior (1999), Paiva (2000, p.46) e Cabral (1992, p.10) comentam que brincadeira e jogo significam quase a mesma coisa, porém, a brincadeira não possui nem ganhadores e nem perdedores. Nas brincadeiras a realidade interna predomina sobre a externa. Esta realidade é caracterizada pelo prazer e alegria. Enquanto brinca, a criança sorri e se satisfaz, favorecendo-a em seus aspectos físico, moral, social e emocional. O jogo possui um sistema de regras, apesar de manter o caráter fictício e fantasioso das brincadeiras, o elemento externo está presente e é um objeto palpável qualquer, como uma bola, um bastão, papel, caneta e outros. Esses autores concordam também que o brincar tem mais importância para o desenvolvimento sócio-emocional, enquanto o jogo vem sendo destacado no desenvolvimento cognitivo e de raciocínio. Praticar ambos, portanto, trariam os benefícios tanto sócio-emocionais, das brincadeiras, como o cognitivo e de raciocínio, dos jogos.

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acontecer. A participação da criança nesta atividade requer um senso de realidade compartilhado do que é verdadeiro ou falso, certo ou errado (PACKER, 1994). O papel ativo da criança na transmissão cultural garante que a cultura de sua geração vá além daquela de seus pais, pois as mensagens culturais emitidas pelos adultos à criança são ativamente assimiladas por ela em suas estruturas de conhecimento, de modos novos.

Uma das primeiras teorias sobre o brincar infantil, por exemplo, surgiu no século XVIII e entendia esta atividade como o produto de uma energia excedente (GROOS, 1896/1976). Já os estudiosos que dominaram as teorias do brincar na primeira metade do século XX, como Piaget (1945/1978) e Vygotsky (1933/1989), definem o brincar a partir da sua relação com o desenvolvimento psicológico mais amplo. Todavia foi a partir do final século XIX que o jogo e a brincadeira do ponto de vista científico passam a ser alvo de estudo de psicólogos, psicanalistas e de pedagogos em geral, sugerindo a partir daí todo um rol de teorias na tentativa de explicar seu significado.

A autora Santos (2003, p. 17) apresenta sinteticamente a abordagem sobre teorias do jogo. A teoria do recreio, de Schiller (1875), sustentava que o jogo servia para recrear-se , sendo esta sua finalidade intrínseca. Na teoria do descanso, de Lazaru (1883), o jogo é visto como atividade que serve para descansar e para restabelecer as energias consumidas nas atividades serias ou úteis. Na teoria do excesso de energia, de Spencer (1897) o jogo tem como função a descarga do excesso de energia excedente. Na teoria da antecipação funcional, de Groos (1902), o jogo é visto como um pré-exercício de funções necessárias à vida adulta. Na teoria da recapitulação, de Stanley Hall (1906) o jogo é visto como forma de recapitular gerações passadas.

A atividade lúdica é um termo mais abrangente que inclui vários gêneros de atividades, entre eles os jogos e as brincadeiras. Com as atividades lúdicas têm-se a intenção de ensinar por meio de jogos como quebra-cabeças, baralhos, bingo, palavras-cruzadas e outros do gênero; dramatizações; músicas; atividades individuais ou em grupo praticadas pelos estudantes de uma forma que eles a realizam em diversas circunstâncias, repetidamente, ainda que o professor não tenha solicitado. Uma pesquisa, uma entrevista, uma experiência, uma leitura, um debate, um trabalho em grupo, um jogo individual ou grupal, tendo em vista a busca, o aprofundamento do conhecimento, são verdadeiros “trabalhos-jogos” (MORAES, 1997, p.9).

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Figura 1 – Distribuição dos Idosos de acordo com o sexo. Idosos da Associação de Idosos da  Samambaia Grupo Nova Esperança, Brasília – Distrito Federal - Maio a Agosto de 2005
Figura 3 – Distribuição dos Idosos de acordo com o Estado Civil. Idosos da Associação de  Idosos da Samambaia Grupo Nova Esperança, Brasília – Distrito Federal - Maio a Agosto de  2005
Figura 4 – Distribuição dos Idosos quanto a Aposentadoria. Idosos da Associação de Idosos da  Samambaia Grupo Nova Esperança, Brasília – Distrito Federal - Maio a Agosto de 2005
Figura 5 – Distribuição dos Idosos quanto a Ocupação. Idosos da Associação de Idosos da  Samambaia Grupo Nova Esperança, Brasília – Distrito Federal - Maio a Agosto de 2005

Referências

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