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Discussão dos resultados quanto a sentimentos e percepção relatados

6 DISCUSSÃO

6.4 Discussão dos resultados quanto a sentimentos e percepção relatados

TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO

Os resultados deste estudo mostram que os indivíduos, em sua maioria, percebem a quimioterapia como parte necessária do tratamento. Esta percepção é vivenciada pelo paciente, pois este é ciente da sua condição de doente e entende que o tratamento quimioterápico vai ajudá-lo a prolongar a vida, seja por meio da redução ou do controle do crescimento do tumor. Chen et al. verificaram, em estudo qualitativo, que os pacientes, ao entenderem que o diagnóstico de câncer não pode ser alterado, aceitaram seguir todo o tratamento, seja ele cirúrgico, radioterápico e/ou quimioterápico(92).

Ainda nesta pesquisa, os pacientes relatam experiência emocional negativa, como medo, ansiedade, revolta, choque, entre outros. Cabe destacar que este tipo de sentimento negativo já é vivenciado a partir do momento em que o paciente aguarda pelo diagnóstico, cuja doença geralmente está associada com a morte, conforme relatado em diferentes estudos(92,93).

Como experiência negativa relacionada aos efeitos colaterais, relataram-se sintomas de vômito, queda de cabelos, náuseas, cansaço, baixa imunidade ou fraqueza. Esta percepção é comum nos pacientes oncológicos, pois, frequentemente, associam as limitações que o tratamento impõe com manifestações emocionais

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negativas. Esta percepção é vivenciada na experiência do próprio paciente ou com familiares e pessoas do seu círculo social.

Estudos verificam que os pacientes relacionam a quimioterapia com efeitos colaterais severos(94,95). Na França, uma pesquisa com pacientes oncológicos verificou que a sua percepção sobre os efeitos colaterais da quimioterapia mudaram no decorrer do tratamento. Inicialmente, observou-se preocupação com os aspectos físicos, como náuseas e vômitos, passando a preocupações sociais e emocionais(96). Acredita-se que, nesta situação, o uso de drogas mais eficazes para o controle dos efeitos colaterais permite a satisfação das necessidades fisiológicas para, posteriormente, a extrapolação das demais necessidades humanas básicas.

Nesta pesquisa, encontrou-se predominância masculina estatisticamente significativa na categoria “outros aspectos”. Os pacientes relataram que a quimioterapia afeta a rotina diária, contribui para uma piora da qualidade de vida e interfere com redução da imunidade, que impede a realização do tratamento. Além dos aspectos clínicos, a demora da liberação do convênio, a espera pelo atendimento hospitalar ou a dificuldade de locomoção de casa para o hospital foram também citadas. Os pacientes oncológicos têm sua rotina diária alterada, pois a frequente necessidade de retorno hospitalar para tratamento e acompanhamento médico pertinente interfere nas diversas dimensões e responsabilidades humanas. Além disso, a espera pelo atendimento e a impossibilidade de não receber tratamento quimioterápico gera frustração e desconforto. Ainda, a necessidade de adaptação do tratamento às atividades diárias e a limitação imposta para as atividades de lazer e convivência social ocasionam mudanças importantes na rotina de vida dos pacientes. Estudo realizado no Canadá, com pacientes acometidos por diferentes tipos de câncer, que analisou a percepção dos pacientes sobre o tratamento quimioterápico, verificou que os homens se preocupavam, principalmente, com o desempenho profissional e financeiro, ao passo que as mulheres relatavam preocupação familiar e mencionavam o desejo de acompanhar o crescimento dos filhos(97). Coates et al. fizeram um estudo, na Austrália, com pacientes oncológicos e, ao analisarem homens e mulheres em tratamento quimioterápico, identificaram que os homens referiam maior incômodo pelo prolongado tempo de cada sessão de tratamento, diferentemente das mulheres, que referiam as limitações para realizar os afazeres domésticos(98).

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No mesmo sentido, em outro estudo realizado em Portugal, com mulheres com câncer ginecológico ou de mama em tratamento quimioterápico, observou-se que elas relatavam preocupação, principalmente, nos aspectos social e familiar. Estas mulheres manifestavam preocupação com o futuro dos entes queridos, desejavam que a família não sofresse por causa da doença e, também, relatavam preocupação pela possibilidade de se tornarem dependentes dos seus familiares. Ainda na análise deste estudo, as pacientes relataram que o apoio da família e dos amigos foi fundamental para o enfrentamento da quimioterapia(24).

Em relação à ajuda que os pacientes recebem para enfrentar o tratamento quimioterápico, identificou-se que a maioria recebe suporte social por parte da família, seguido da vontade de viver e apoio espiritual.

Nesta pesquisa, identificou-se diferença estatisticamente significativa no suporte espiritual, com predominância do gênero feminino. Acredita-se que as mulheres, tradicionalmente, sejam mais adeptas aos cultos religiosos. Resultado semelhante foi encontrado em pacientes com câncer de pulmão, em que se verificou que as mulheres faziam uso de estratégias orientadas para a religiosidade ou espiritualidade e apresentaram diminuição de sintomas depressivos(38).

A espiritualidade é uma área importante para o ser humano. Segundo o National Cancer Institute, o bem-estar religioso e espiritual contribui para a melhora da saúde e da qualidade de vida do paciente oncológico de múltiplas maneiras: possibilita melhor adaptação ao câncer e tratamento, aumenta a capacidade de desfrutar a vida durante o tratamento oncológico, favorece o crescimento pessoal, fortalece sentimentos de esperança e otimismo e melhora a satisfação com a vida(99).

A religiosidade pode influenciar a maneira como os pacientes com câncer aceitam o diagnóstico e o tratamento. Estudo realizado no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo em indivíduos submetidos à cirurgia oncológica identificou o suporte espiritual como estratégia de enfrentamento mais utilizada, seguida do apoio familiar(100).

Em pesquisa de meta-análise realizada nos Estados Unidos, com o objetivo de examinar a associação da prática religiosa com a sobrevida dos pacientes com doença oncológica e cardiovascular, observou-se que indivíduos com envolvimento religioso identificado com a frequência à igreja, crença religiosa e orações apresentavam maior longevidade(101).

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Em estudo realizado com pacientes com câncer de mama, os autores verificaram que a espiritualidade cumpre papel importante para melhor adaptação à doença destas pacientes. Eles relatam que a oração, combinada com crenças religiosas, ajuda a enfrentar cada fase da doença, desde a descoberta do nódulo até o momento do diagnóstico médico, tratamento e recuperação da saúde(102).

6.5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS QUANTO À CONFIABILIDADE