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DISCUSSÃO

No documento Download/Open (páginas 85-93)

O objetivo principal deste trabalho foi verificar as características de personalidade em dois grupos clínicos, pacientes com depressão e esquizofrenia com base no modelo do Psicodiagnóstico Miocinético – PMK. A avalição da personalidade pelo PMK foi proposta por Mira y Lopez e apresentado no manual as principais pesquisas e indicadores mais apresentados nos dois grupos (Mira, 2009). O presente trabalho foi realizado para atualizar tais estudos, uma vez que pouca literatura sobre a avaliação da personalidade em grupos clínicos pelo PMK foi encontrada.

Como a teoria do PMK diferencia os dois hemisférios cerebrais, sendo metade dominante e metade dominada, as medidas são apresentadas diferenciando tais partes, ou seja, os resultados para a mão direita e para a mão esquerda. Segundo a teoria da dissociação miocenética, tende a ocorrer uma diferença entre a metade dominante (mão direita para destros e vice-versa) e a metade dominada (mão esquerda para destros e vice-versa).

Antes do ingresso propriamente dito na discussão, faz-se necessária reapresentar as definições das medidas quantitativas avaliadas pelo PMK como base para articular os resultados na discussão. O Tônus Vital é definido pelo nível de energia que a pessoa apresenta em certo momento da vida. Essa energia pode ser utilizada diante de situações inesperadas e a qualquer momento. É considerada também uma força que leva o sujeito a agir.

A Reação Vivencial é apresentada como o nível de energia psíquica direcionada para dentro ou para fora, ou seja, a pessoa apresenta atitudes de doação ou de interiorização. Agressividade é definida no PMK como energia propulsora, como é a ação do indivíduo diante qualquer situação. A emotividade é descrita como o sujeito reage diante dos acontecimentos, ou seja, se sua reação é adequada ou não.

A Dimensão Tensional está relacionada à atividade elétrica presente no sistema nervoso central, isto é, se a pessoa age de maneira excitada no meio ou inibida. Já o Predomínio Tensional, indica por meio dos processos fisiológicos se existe um predomínio da impulsividade ou rigidez (Mira, 2014).

Visto isto, para as análises quantitativas, a média dos três grupos foi comparada por meio da ANOVA com a finalidade de identificar as diferenças entre os Depressivos, Esquizofrênicos e grupo Controle. Sendo assim, as seguintes medidas foram analisadas: 1) Elação-depressão: DPv Lineogramas, Escadas, Cículos e Us; 2) Hetero- Autoagressividade: DPs Lineogramas, Zigue-Zague, Cadeias, Paralelas, Us e DSh Lineogramas; 3) Extra-Intratensão: DPh Lineograma, DSs Lineograma, Zigue egocífugo, Zigue egocípeto, Cadeias egocífuga, Cadeias egocípeta, Paralela egocifuga, Paralela egocípeta e Us; 4) Emotividade: Lineograma, Círculos e Us; 5) Excitação- Inibição: CL Lineograma, Zigue max. egocífugo, Zigue min. egocifugo, Zigue max. egocípeto, Zigue min. egocípeto, Paralela max. egocífugo, Paralela min. egocifugo, Paralela max. egocípeto e Paralela min. egocípeto; 6) Impulsividade-Rigidez: Dif. CL max e CL min Zigue egocífugo, Zigue egocípeto, Paralela egocífuga e Paralela egocípeta.

Para a elação e depressão, o grupo com depressão apresentou valores negativos em todas as medidas, tanto para a mão direita quanto para a esquerda. Para esse grupo como todos dos movimentos foram negativos, ou seja, movimentos descendentes, comprova a falta de tônus vital/energia. Beck e Alford (2011) relataram que a queixa física mais comum em portadores de depressão compreende a falta de energia, fadiga e sentir-se fraco. Já o grupo com esquizofrenia apresentou medidas tanto negativas quanto positivas, em ambas as mãos, o que indica aspectos mais de um estado confusional. O grupo controle apresentou a maioria das medidas também negativa em ambas as mãos, indicando falta de energia.

Já a medida de hetero-autoagressividade, no grupo com depressão a maioria das medidas foi negativa para a mão direita, indicando auto agressividade, o que é esperado nesse grupo, como indivíduos que se mutilam ou até mesmo tentam suicídio. Este aspecto foi ressaltado por Chachamovich, Stefanello, Botega e Turecki (2009) mesmo a maioria dos suicidas apresentando diferentes transtornos psiquiátricos, a grande parte tem como eixo principal a depressão. Já a mão esquerda apresentou medidas negativas e positivas, mostrando que estruturalmente o depressivo tende a lutar contra os sintomas. Já os portadores de esquizofrenia apresentaram medidas negativas e positivas em ambas as mãos, indicando mais uma vez uma associação as características de confusão mental.

Ainda sobre a confusão mental observada como um aspecto mais comum no grupo de pacientes com esquizofrenia, foi possível verificar que nesse grupo a característica que apresentou maior frequência de indicadores foi Sintomas de Instabilidade. A confusão mental aqui descrita, deve ser definida como as várias incongruências apresentada pelo indivíduo. Como descrito no DSM-5 (2013), o portador de esquizofrenia tende a apresentar disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais. Pode apresentar alucinações e delírios, episódios de humor, entre outros. Na comparação com o grupo controle, observa-se exatamente o oposto, ou seja, expressou a maioria das medidas positivas, tanto para a mão direita quanto para a esquerda, indicando combatividade.

Na análise da medida de extra-intratensão, os pacientes com depressão expressaram medidas tanto negativas quanto positivas, indicando um conflito entre a reação vivencial, resultado semelhante aos pacientes com esquizofrenia, ambos se diferenciando do grupo controle, que apresentou a maioria das medidas positivas, indicando uma extratensão. Já em relação à mão esquerda o grupo com depressão apresentou a maioria das medidas positivas, indicando uma adequada reação vivencial estruturalmente. Já o grupo com esquizofrenia observou-se maior parte das medidas

negativas, indicando um intratensão estrutural. O grupo controle manteve as mesmas características da mão direita. Esses dados são esperados uma vez que, como apresentado nos resultados, estruturalmente os depressivos tendem a manter um equilíbrio de suas características de personalidade, mas, atualmente, devido ao quadro de depressão não se apresentam de tal maneira, ou seja, não apresentam esse equilíbrio. Como mostra Beck e Alford (2011) no estado depressivo a pessoa apresenta alteração de humor, do autoconceito, do nível de atividade, entre outros. Esses autores dizem que existe uma grande diferença entre a imagem que elas têm de si mesmas e com o que de fato é, corroborando com os resultados encontrados nesta pesquisa, onde estruturalmente o indivíduo apresenta equilíbrio, porém atualmente não se encontram equilibrados. Os esquizofrênicos por sua vez tendem a ser estruturalmente pessoas mais intratensas, ou seja, são pessoas que se voltam mais para si, não apresentando comportamento de doação/empatia para o outro. Como apresentado por Fernandes, Almeida, Oliveira e Souza (2018) devido aos sintomas da esquizofrenia, como delírio, perseguições, entre outros, o relacionamento da pessoa com esquizofrenia acaba sendo prejudicado. Esses resultados vão ao encontro de que o DSM-5 (2013) apresenta como um dos sintomas de esquizofrenia, que é o embotamento afetivo, ou seja, apresentam dificuldades em expressar emoções e sentimentos.

Em relação à emotividade na mão direita, as maiores médias foram dos pacientes esquizofrenia, seguido dos portadores de depressão e controle. O resultado apresentado pelo grupo com esquizofrenia indica que essas pessoas tendem a expressar uma reação desproporcional à ação, ou seja, em situações de estresse tendem a agir de maneira inesperada. Tenório (2016) afirma que nos casos de esquizofrenia predomina a discordância, a ambivalência, ideias delirantes, alucinações e estranheza dos sentimentos, levando a um comportamento imprevisível. Já nos casos de deprimidos, que apresentaram a segunda maior média, também apresentam forte emotividade. Para

Beck e Alford (2011), uma das queixas mais constante nesse grupo é a mudança das ações e/ou reações de enfrentamento das diversas situações da vida. E, em relação ao grupo controle, que apresentou médias baixas para essas características, indicou que as pessoas desse grupo tendem a ter reações proporcionais de enfrentamento às adversidades da vida. Para a mão esquerda, as mesmas características se mantiveram.

Para a excitação-inibição da mão direita, o grupo com esquizofrenia apresentou na grande maioria das medidas as maiores médias, seguido de pacientes com depressão e do grupo controle. Como as maiores médias foram do grupo com esquizofrenia, esses resultados associam-se a uma excitação, o resultado corrobora os achados na emotividade (resultado semelhante foi observado no grupo dos pacientes com depressão), revelando que valores altos nessa medida indicam uma reação excitada perante o meio, ou seja, suas atitudes são desmedidas ou exageradas. Como apresentado pelo DSM-5 (2013), a esquizofrenia pode apresentar episódios e excitação violenta, corroborando com os resultados encontrados nesta pesquisa. Em relação ao grupo controle, as mesmas características da emotividade também foram encontradas. Para a mão esquerda, os mesmos resultados foram encontrados.

Quanto à medida de Impulsividade-Rigidez da mão direita, as maiores médias encontradas também foram dos pacientes com esquizofrenia, seguidos do grupo com depressão e controle. De acordo com esses resultados, tendo os pacientes com esquizofrenia as maiores médias, sugerem ser mais impulsivos, confirmando ainda mais os resultados apresentados acima sobre as reações desproporcionais desse grupo. Como apresenta Barlow (2016), os esquizofrênicos apresentam maior nível de excitação e atividade, levando-os a serem mais impulsivos. Já os pacientes com depressão e o grupo controle apresentaram resultados semelhantes aos referentes a emotividade e excitação- inibição. Para a mão esquerda, os resultados foram próximos aos apresentados na mão direita. Dessa maneira, pacientes com esquizofrenia tendem a ter um comportamento

impulsivo tanto estruturalmente quanto situacionalmente. O grupo com depressão também apresentou impulsividade, o que somado aos resultados encontrados em hetero- autoagressividade, indica que a impulsividade pode ser fator importante para as tentativas de suicídio desse grupo. Como afirma Beck e Alford (2011), existe no depressivo risco de tentativas suicidas impulsivas ou até mesmo planejadas.

Já em relação aos resultados das medidas qualitativas apuramos que: As pesquisas apresentadas por Mira (2009) mostram que pacientes com esquizofrenia são mais propensos a expressarem traços confusos e incoerentes, perda de movimentos, reversão de movimento, dificuldade na execução deles, linhas curvilíneas e desordenadas. Já pacientes com depressão apresentam intensa inibição, intratensão principalmente na mão dominante, movimentos descendestes nas configurações verticais, indicando falta de energia, autoagressividade e lentidão no ritmo. Esses são apenas alguns exemplos mais comuns de cada grupo. Sendo assim, nossos resultados reproduziram os dados observados por Mira, em pacientes com esquizofrenia que apresentam movimentos confusos e os com depressão movimentos descendentes.

Para as análises qualitativas, foram considerados 82 indicadores para os Depressivos, divididos em: 1) Sintomas de Instabilidade; 2) Inibição, Angústia e Ansiedade; 3) Agressividade; e 4) Sinais de Depressão. Já os esquizofrênicos tiveram 106 indicadores que foram divididos entre: 1) Sintomas de Instabilidade, Transtornos e Comprometimentos; 2) Agressividade; e 3) Sinais de Esquizofrenia. Foram levantadas quais características eram mais comuns nas pesquisas de Mira e, a partir delas, foram criadas as divisões apresentadas acima.

Para as correções, levando em consideração as características de cada grupo, os indicadores foram pontuados quando presentes. O grupo controle também foi pontuado seguindo os indicadores dos dois grupos clínicos, buscando, assim, a possibilidade de

comparação. O tratamento estatístico foi realizado através de χ2 quadrado para verificar

as características mais comuns nos grupos.

Os resultados mostraram que no grupo de pacientes com esquizofrenia, dos 106 indicadores, 27 foram frequentes. Para os Sintomas de Instabilidade Transtornos e Comprometimento, 19 indicadores estavam presentes na maioria das pessoas. A Agressividade foi um indicador e Sinais de Esquizofrenia foram sete. Para os casos com depressão, Sintomas de Instabilidade foram 21 indicadores frequentes, a Agressividade apresentou três indicadores, Sintomas de Depressão foram oito indicadores e Inibição, Angústia e Ansiedade apresentou 12 indicadores comuns a maioria das pessoas. Em relação as frequências dos movimentos na mão esquerda e direita, a presença foi semelhante em ambas as mãos. A maior frequência de indicadores foi nos movimentos complexos do PMK, como escadas, zigue-zague, cadeias e Us, contudo também foi possível verificar alguns indicadores frequentes nos lineogramas, círculos e paralelas.

Nessa característica a maioria das medidas presentes, foi Zigue-zague e Escadas, movimentos complexos do PMK, exigindo uma condição mental adequada e certo nível de inteligência da pessoa para execução do movimento. Como apresentado por Mira (2009), o movimento que mais apesenta diferença nesse grupo é o zigue-zague. Resultado semelhante foi possível verificar para o grupo com depressão, com a maioria da presença dos indicadores em Sintomas de Instabilidade, também nos movimentos de zigue-zague e escadas. Para a agressividade, ambos os grupos não apresentaram muitas características frequentes, indicando ser necessário reavaliar os indicativos dessa característica. Para os sintomas de esquizofrenia e depressão, a maioria das medidas que apresentaram frequência foram escadas e Us, mostrando mais uma vez que os movimentos complexos do PMK podem ser associados a bons indicadores destes sintomas. Quanto aos sintomas de Inibição, Angústia e Ansiedade, observaram-se

movimentos frequentes nos lineogramas, zigue, círculos e paralelas. Dessa maneira, a presença desses movimentos indica sintomas de inibição, angústia e ansiedade.

Foi possível verificar na análise qualitativa que os movimentos mais presentes foram os zigue-zagues e escadas. Esses movimentos são considerados complexos, assim como as cadeias e “us”. Como apresentado por Esteves (2007) esses movimentos estão diretamente ligados a um alto nível de inteligência, e nesses grupos o nível intelectual não se faz adequadamente presente. Contudo, foi possível verificar que o grupo controle apresentou pelo menos uma quebra de movimento ou ângulo, principalmente ao tapar a visão na execução do teste, isso pode ser devido à adaptação da tarefa a ser realizada sem o controle visual, dessa maneira faz-se necessário pensar em parâmetros para a avalição desses grupos para que os indicadores sejam mais fiéis e precisos.

Apesar de os parâmetros não terem sidos desenvolvidos para este trabalho, ou seja, definir uma regra de avaliação, como por exemplo, quantidade de ganchos nas paralelas para ser considerado como agressividade não saudável, a amostra foi composta por um número significativo de sujeitos e apresentou resultados confiáveis e precisos.

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