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2 O EXPERIMENTO

2.3 DISCUSSÃO

Fonte: Elaborada pelos autores.

Figura 17 e 18: Comparativo entre secção transversal e secção longitudinal dos músculos reto e intermédio da coxa dos ratos do grupo TA observada em microscopia de luz.

2.3 DISCUSSÃO

A maior parte dos estudos envolvendo animais como modelos experimentais em atividades físicas associadas ao uso de esteróides anabolizantes, baseiam-se em exercícios aeróbios de longa duração e baixa ou moderada intensidade. Diante deste fato, o interesse em saber sobre os possíveis efeitos de esforços mais intensos e intermitentes quando associados a esteróides anabolizantes torna-se crescente, mesmo porque, a associação destas drogas com o exercício ocorre principalmente em eventos atléticos onde a exigência de força e potência é grande.

Portanto, alguns protocolos de exercício físico com características anaeróbias de alta intensidade têm despertado maior interesse, tendo em vista os benefícios que este tipo de atividade pode resultar (KRISTIANSEN et al., 2000).

Os protocolos de levantamento de peso para ratos em meio líquido são variações do modelo proposto por Tamaki et al., (2000). Este vem sendo muito utilizado como modelo de treinamento de alta intensidade, tendo visto que, com uma única sessão do exercício resistido de alta intensidade levada até a exaustão, é suficiente para desencadear aumento da síntese protéica. (TAMAKI et al., 2000).

O presente estudo teve como objetivo verificar as alterações promovidas pelo esteróide anabolizante junto ao treinamento físico resistido, através de análises morfológicas e diferenciações do peso corporal dos animais.

Os animais do grupo T apresentaram menor ganho de peso quando comparados aos dos grupos sedentários S e SA. Já o grupo TA não apresentou peso significantemente maior comparado aos demais grupos (S; SA e T). Os animais do grupo S apresentaram um aumento de peso quando comparado aos demais (SA; T e TA) e para os animais do grupo SA, o ganho de peso foi maior em relação aos grupos T e TA e menor em relação ao S. Isso se deve ao fato do metabolismo lipídico sofrer interferências por intermédio da atividade física (ROGATTO et al., 2004), onde há intensa utilização de lipídios durante a fase de recuperação pós-exercício (YOSHIOKA et al., 2001), e um aumento do metabolismo energético basal, gerando maior gasto calórico e reduzindo gordura corporal (HUNTER et al., 1998). Outro fator que provavelmente pode ter contribuído para o fato do grupo TA não ter aumentado o peso corporal quando comparado aos demais grupos, foi a administração do esteróide anabolizante, que acelera o metabolismo celular (CAMARGO FILHO et al., 2006), aumentando a oxidação lipídica (GUZMAN et al., 1991).

O exercício físico resistido anaeróbio pode modificar a composição corporal (RADAK et al., 1999), dependendo da intensidade, duração e freqüência com que o exercício físico resistido é praticado. Este pode desencadear o desenvolvimento de hipertrofia das fibras musculares (HUNTER et al., 1998) por meio da ativação, proliferação e incorporação de células satélites (TAMAKI et al., 2001), aumento da síntese de proteínas contráteis e não contráteis e adição de novos sarcômeros em um arranjo paralelo, aumentando a capacidade muscular de produção de força (PHILLIPS, 1999).

De acordo com Tamaki et al., (2001) e Joubert; Tobin (1989), o uso de esteróides anabolizantes associado ao exercício físico, estimula a proliferação

e a diferenciação de células satélites e aumenta o número de mionúcleos nas fibras musculares já existentes. À medida que este processo se desenvolve, o tamanho de cada fibra muscular aumenta, gerando hipertrofia.

Achados histológicos mostram que a administração de esteróides anabolizantes, em dosagens superiores a terapêutica em ratos sedentários e em ratos submetidos a treinamento físico, produz alterações musculares relacionadas a aumento de perimísio e endomísio (CAMARGO FILHO et al., 2006).

O presente estudo corrobora com as afirmações acima. Os resultados encontrados nas estruturas dos músculos reto e intermédio da coxa dos ratos em corte transversal, através de observações nas lâminas confeccionadas e coradas em HE, constataram nos animais dos grupos SA, T e TA alteraçõesde perimísio e endomísio, caracterizada por um aumento significativo na espessura desses quando comparado ao grupo S. Já os grupos T e TA quando comparados ao SA, apresentaram um aumento na espessura das fibras musculares, sinalizando uma possível hipertrofia.

No que diz respeito ao número de núcleos existentes por fibras, um maior número destes foram observados nos animais dos grupos SA e TA em relação aos respectivos grupos S e T evidenciando uma possível hiperplasia. Apesar de todos os grupos (SA, T e TA), exceto o grupo S, apresentarem alterações de endomísio e perimísio, o fato dos grupos SA e TA apresentarem aumento no número de núcleo leva a conclusão de que o esteróide anabolizante pode promover hiperplasia muscular destes, uma vez que esta droga pode aumentar a proliferação de células satélites e novos núcleos, exercendo um papel fundamental no processo hiperplásico da fibra muscular, como observado por Joubert; Tobin (1989) e Kadi et al., (1999) em seus respectivos estudos. Nos grupos T e TA, a hipertrofia foi proveniente do treinamento físico resistido através do aumento na área de secção transversa das fibras musculares.

Apesar dos grupos treinados T e TA apresentarem respostas positivas em relação à hipertrofia (no que diz respeito ao aumento de perimísio, endomísio e da área de secção transversa das fibras) e dos grupos que utilizaram anabolizante (SA e TA) apresentarem hiperplasia (relacionada ao

aumento de núcleos), estes mesmos animais não demonstraram aparentemente aspectos hipertróficos.

Uma das hipóteses que poderia explicar o presente resultado é a inadequação do protocolo, onde o treinamento pode ter sido insuficiente como estímulo desencadeante da resposta hipertrófica, tendo visto que para obter hipertrofia em humanos são necessárias 16 semanas de treinamento, sendo estas compostas de sessões de treinamento com período de intervalo entre elas de 48 a 72 h quando treinado o mesmo músculo, a fim deste se regenerar (FLECK; KRAEMER, 2006). No entanto, Tamaki et al., (2000) observaram em ratos, que uma única sessão de exercício resistido intenso promove adaptações musculares, deixando uma lacuna na adequação do protocolo, pois se trata de espécies distintas.

Partindo do princípio da adaptação, que diz que para desenvolver hipertrofia é necessário aumentar continuamente o estresse muscular aumentando periodicamente a quantidade de peso envolvido nos exercícios (POWERS; HOWLEY, 2005), o protocolo aplicado contradiz tais informações, pois os animais dos grupos T e TA realizaram 6 semanas de treinamento sem intervalo entre sessões com sobrecarga de 50% do peso corporal impostas de forma contínua.

Além disso, outro fator que pode ter influenciado tanto nos animais dos grupos treinados, com ou sem uso de esteróide anabolizante (T e TA), quanto no sedentário com esteróide anabolizante (SA), foi a dieta normoprotéica empregada, pois, no presente estudo, essa possuía composição química balanceada, o que não condiz com a dieta hipercalórica e hiperprotéica empregada junto ao uso de esteróide anabolizante associado ao treinamento físico, com objetivo de aumento de força e consequentemente hipertrofia das fibras (HAUPT; ROVERE, 1984). O estudo de Tonon et al., (2001), pode demonstrar a veracidade de tais afirmações, onde a dieta hiperprotéica (35% de proteína) foi eficaz em promover crescimento do músculo esquelético em resposta ao treinamento anaeróbio, o que não se manifestou com a ingestão da dieta normoprotéica (17% de proteína).

A pequena ação anabólica e androgênica sobre as fibras dos músculos reto e intermédio da coxa dos animais dos grupos SA e TA, pode estar relacionada com a diferença existente entre as espécies animais e também

entre os diferentes grupos musculares da mesma espécie (ANTONIO; WILSON; GEORGE, 1999), em função da predominância dos números de receptores androgênicos presentes em determinadas regiões do corpo, denominados tecido-alvo (CELOTTI; CESI, 1992), tendo visto que em ratos os músculos relacionados à reprodução (músculo do bulbo, cavernoso e elevador de ânus) são os mais responsivos a administração de EAA (RAND; BREEDLOVE, 1992) e que o undecilenato de boldenona é um EAA exclusivo para eqüinos (EQUIFORT, 1996). A inexistência de efeitos hipertrofiantes significativos do EAA nos músculos reto e intermédio da coxa dos ratos pode ser decorrente da pequena responsividade destes músculos em relação à quantidade existente de receptores androgênicos específicos ao EAA utilizado.

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