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Nosso estudo mostrou que as ID1, ID2, ID3 e ID4 estão mais expressas em tumores benignos do que em tumores malignos da tireoide, se associando com ausência de características de agressividade como metástase ao diagnóstico, invasão e tireoidite linfocítica crônica concomitante.

A expressão dos genes e proteínas ID2, ID3 e ID4 não foram estudados no carcinoma de tireoide até o momento, havendo estudos somente relacionando-o com a ID1 (37-39). Kebebew e colaboradores (2004), correlacionaram uma maior expressão da ID1 com fatores de agressividade e com variantes mais agressivas do câncer de tireoide. Em sua pesquisa, analisou 103 casos: 16 tecidos normais, 26 bócios, 9 com doença de Graves, 6 AF, 23 CPT, 18 CFT e 5 carcinomas anaplásicos, utilizando também as técnicas de imunoistoquímica e RT-PCR. Seu estudo indicou que a expressão de ID1 se encontra mais elevada no Carcinoma Medular de Tireoide e em Carcinomas Anaplásicos. Quando comparou a expressão deste gene em CPT com tecidos normais e benignos, voltou a encontrar uma maior expressão deste gene no CPT, enquanto sua expressão em tecidos normais foi muito baixa, assim como, em tecidos benignos. Nossa pesquisa analisou 194 tecidos: 16 Adenomas Foliculares (AF), 68 Bócios, 5 Carcinomas Foliculares (CFT), 75 Carcinomas Papilíferos Clássicos (CPVC), 18 Carcinomas Papilíferos Variante Folicular (CPVF), 1 Carcinoma Anaplásico e 11 tecidos normais e, encontramos uma maior expressão da ID1 (assim como ID2, ID3 e ID4) em bócio, estando menos expressa nos CPT e, principalmente, no carcinoma anaplásico. Enquanto os resultados de Kebebew não se relacionaram significativamente com idade, tamanho de tumor e metástase (39), encontramos uma relação significante entre a expressão dos genes e idade (p<0,0002), metástase ao diagnóstico (ID1 p=0,0012; ID3<0,0001; ID4=0,0070), TLC e invasão, estando os genes ID1, ID3 e ID4 mais expressos nos tecidos que não apresentaram nenhuma dessas características.

Várias pesquisas, em diversos tipos de câncer, relataram a expressão dos genes da família ID relacionados a fatores de agressividade (21, 54-57). Hiperexpressão destes genes tem sido relacionada com pior prognóstico,

desenvolvimento de metástase e maior agressividade tumoral (21, 54-57), de forma totalmente oposta aos nossos resultados. No entanto, estudos experimentais vêm sustentando nossos achados, como abaixo descrito.

Foram feitas diversas pesquisas com silenciamento dos genes IDs em ratos. Em uma dessas pesquisas foi observado que ratos que não apresentavam o gene ID2 não desenvolviam linfonodos e apresentavam uma redução no número de células natural killers (58). Em outro estudo, ratos silenciados para o gene ID3 apresentaram uma produção de células B prejudicada e defeitos no desenvolvimento de células T (59, 60). Em um outro estudo, ratos também silenciados para ID3 também apresentaram defeitos no MHC classe I e classe II (61). Animais que não apresentavam ambos genes ID1 e ID3 apresentaram deficiências mais graves, morrendo prematuramente, apresentando uma diferenciação neural precoce e defeitos na angiogênese do cérebro (62). Esses resultados nos apontam uma relação direta entre os genes IDs e o sistema imunológico, indicando a presença destes genes colabora para um funcionamento normal e sua alteração leva a um funcionamento defeituoso do sistema imunológico. De fato, podemos supor que, se esses genes estão mais expressos em um tecido, as células de defesa deste tecido estariam trabalhando de maneira mais eficaz, impedindo que este tecido se desdiferenciasse com muita rapidez, podendo explicar então a expressão mais elevada destes genes, encontrados por nós, em tecidos normais e benignos e, sua diminuição em tecidos malignos. Quanto maior a desdiferenciação do tecido, menor seria a expressão destes genes.

As proteínas IDs são geralmente transcritas e apresentam uma expressão aumentada entre as fases de G1-S do ciclo celular. É necessário que ocorra uma perda de expressão das IDs para que ocorra parada e descontinuação do ciclo celular. Como os genes ID controlam a transcrição de outros genes, sua função no ciclo celular e expressão deve desempenhar papeis diferentes e variar dependendo do tecido analisado (26).

Estudos da expressão das IDs em células tronco, indicaram que a expressão dessas proteínas está normalmente aumentada em células embrionárias e em células tronco adultas, mas sua expressão se reduz de acordo com sua diferenciação, indicando uma relação direta entre a

diferenciação celular e a expressão dessas proteínas (63). Perry e colaboradores 2007, demonstraram que a expressão da ID1 está aumentada nas células tronco hematopoiéticas de longa duração e a perda desta expressão resulta em uma diminuição no número dessas células tronco (64). Esses resultados também podem corroborar nossos achados de uma menor expressão das IDs em células malignas do que benignas, pois células malignas são células mais desdiferenciadas, portanto, possuem uma menor expressão destes genes.

Com relação à expressão proteica das IDs, ela foi demonstrada tanto no núcleo quanto no citoplasma das células benignas e malignas. As proteínas IDs são muito pequenas (cerca de 15 kd), pequenas o suficiente para transitar passivamente entre o núcleo e citoplasma das células, sendo que sinais extracelulares podem modular a localização subcelular dessas proteínas (39). Enquanto ID1 foi expressa de forma homogênea tanto no núcleo quanto no citoplasma, estando mais presente em células benignas, ID3 se encontrou expressa de maneira mais frequente no núcleo de células benignas e no citoplasma de células malignas de nossos casos. Kebebew, estudando câncer de tireoide, encontrou uma expressão proteica de ID1 tanto no núcleo quanto no citoplasma, estando mais presente no citoplasma das células (39). Em sua pesquisa, observou uma expressão proteica mais elevada em tecidos malignos do que benignos, mais aumentada nos 22 CPTs e nos 15 CFs analisados do que nos 26 bócios e 9 doenças de Graves, muito semelhante aos nossos achados quanto à expressão da ID3 (39).

Não se sabe até o momento o significado dos padrões de expressão proteicos das IDs e sua relação com prognóstico. Seu padrão de expressão pode estar relacionado à sua fosforilação, que se dá entre as fases G1-S do ciclo celular, que altera ou inibe a especificidade de seus ligantes (26). É preciso também saber se o padrão de distribuição subcelular dessas proteínas é consequência da importação de moléculas regulatórias no núcleo ou um resultado da exportação delas para o citoplasma (65).

Em resumo, apesar de não ter sido possível realizar análise entre tipos histológicos (devido ao baixo número de casos de CPVF, CFT e AF), foi possível verificamos que a expressão das IDs é diferente em tecidos tireoidianos benignos e malignos, estando aumentada nos tecidos benignos, sendo as ID2,

ID3 e ID4 capazes de diferenciá-los. A expressão das IDs também se encontra aumentada em tecidos normais comparados aos neoplásicos.

A expressão das IDs se relacionou com ausência de características de agressividade tumoral, sugerindo que elas possam desempenhar um papel de proteção ao desenvolvimento de tumores mais agressivos na tireoide.

Dentre todas as IDs estudadas, a ID3 se destaca por ser capaz de diferenciar visualmente pela imunoistoquímica células benignas de malignas, podendo auxiliar no diagnóstico do CT.

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