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Nos manguezais da Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA ocorrem três espécies típicas: Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa, sendo R. mangle a espécie mais abundante e que domina a paisagem da RESEX. Dentre os sítios de trabalho, aqueles localizados nas ilhas (3, 4 e 5) contam com a presença de indivíduos de diferentes portes, indicando um processo constante de renovação dos bosques, enquanto nos sítios 1 e 2 a alta densidade de indivíduos de portes menores sugere a presença de bosques jovens ou em regeneração. Todos os sítios apresentaram árvores mortas, evidenciando um processo de mortalidade natural associada à competição interindividual. Árvores mortas por ação antrópica (corte) ocorreu somente no Sítio 1, resultado da sua localização próximo às vilas e assentamentos humanos, o fato desse sítio apresentar árvores cortadas explica o alto índice de indivíduos jovens, ou seja, o seu processo de regeneração acentuada.

Os fatores que moldam as populações de caranguejos nos manguezais ainda não são claramente definidos. No entanto, sabe-se que os fatores abióticos exercem grande influência sobre a distribuição espacial, padrões comportamentais, e demais atividades dos caranguejos semiterrestres, grande parte deles regidos pela presença do tipo de vegetação do local. A idade dos bosques de mangue pode criar microclimas específicos, que exercem grande influência sobre a fauna local (SMITH et al., 1991).

A composição e dominância vegetal das áreas de manguezal são fatores que exercem grande importância sobre a densidade populacional de Ucides cordatus (MATSUMASA et al., 1992; NOMANN & PENNINGS, 1998), que apresenta um padrão de distribuição agregado e associado com áreas de maior densidade de raízes no sedimento. Com relação a esta mesma espécie, Diele (2000) registrou em bosques com predomínio de Rhizophora mangle os maiores exemplares de U. cordatus, embora não mencione qualquer informação quanto às demais espécies arbóreas sobre a densidade desta espécie. As áreas de manguezal com predominância de R. mangle promovem uma maior disponibilidade de alimento para o caranguejo-uçá. (CHRISTOFOLETTI, 2005).

A disponibilidade e abundância de alimento podem influenciar a densidade populacional dos caranguejos (ZIMMER-FAUST, 1987; GENONI, 1991), que de acordo com DALEO et al. (2003), a presença de um predador, também, pode modular a distribuição espacial de caranguejos do gênero Uca afetando sua densidade populacional. A presença de predadores naturais na área de manguezal, principalmente de mamíferos (ex. guaxinim, Procyon cancrivorus) e aves (ex. gavião caranguejeiro, Buteogallus aequinoctiallis), que se alimentam do caranguejo-uçá são comuns nas áreas de manguezal da Amazônia brasileira, podendo influenciar a densidade de U. cordatus.

As medidas de largura (LC) e comprimento (CC) carapaça mostram, em linhas gerais, a redução do tamanho dos caranguejos nos sítios mais próximos e de mais fácil acesso às populações humanas e o aumento do tamanho daqueles presentes nos sítios mais afastados. Vale ressaltar que os menores exemplares de U. cordatus estão associados a bosques como DAP e altura reduzida e que os maiores encontram-se nos bosques mais desenvolvidos, como maiores DAP e altura.

Esse tamanho reduzido dos caranguejos capturados no Sítio 1 ocorre em função pressão de coleta nesse local ser muito elevada e direcionada aos indivíduos maiores, com expressivo valor comercia. Dessa maneira, grande parte dos indivíduos de grande porte foi reduzida, comprometendo a média do tamanho populacional dessa espécie. Os catadores mais antigos da região e que sobrevivem desse recurso confirmam esse evento, assim como é do conhecimento da própria comunidade que reconhece a redução do tamanho dos animais. Adicionalmente, Miranda et al. (2005) afirmam que a captura dos indivíduos maiores pode afetar a estrutura genética da população, dando maiores chances aos indivíduos sexualmente maduros com um menor tamanho corporal. Isto pode gerar um ciclo, no qual os caranguejos menores possuem menor preço no ato da comercialização, fato que os catadores procuram compensar com o aumento da captura, comprometendo cada vez mais as populações de caranguejos.

Os sítios estudados que apresentaram maiores tamanhos da população de U. cordatus localizam-se nos sítios mais afastados (3, 4 e 5). Esses sítios apresentam alta produtividade, ou seja, elevada biomassa quando comparados à maioria dos sítios estudados na região amazônica. Tal produtividade, certamente, é decorrente da menor influência antrópica nestas áreas distantes, particularmente nas áreas mais internas, que são de difícil acesso. Como todos os sítios são predominantemente bosques R. mangle e alguns sítios estudados possuem acesso somente por barco. Além do mais, é importante ressaltar que os maiores caranguejos parecem estar associados à maior abundância e qualidade de alimento disponíveis nos manguezais, de acordo com os resultados apresentados por CHRISTOFOLETTI (2005), em estudos realizados com caranguejo-uçá, em Jaboticabal-SP.

A captura dos caranguejos em ambiente natural e a sua comercialização são processos tradicionais e culturais das comunidades litorâneas no Brasil. Em muitas regiões ao longo da costa brasileira, essa espécie de caranguejo constitui a principal fonte de renda de muitas famílias tracionais ribeirinhas, principalmente na Amazônia. Assim, estudos para o conhecimento dos atores sociais relacionados ao uso dos manguezais e a este recurso de maneira direta ou indireta, bem como a relação entre os mesmos com a captura e comercialização da espécie são de extrema importância.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHRISTOFOLETTI, R. A. Ecologia trófica do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Ocypodidae) e o fluxo de nutrientes em bosques de mangue, na região de Iguape (SP). 139 f. Tese (doutorado) –Universidade Estadual Paulista , Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias , Jaboticabal, 2005.

DALEO, P.; RIBEIRO, P. & IRIBARNE, O. The SW Atlantic burrowing crab Chasmagnathus granulatus Dana affects the distribution and survival of the fiddler

crab Uca uruguayensis Nobili. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, v. 291, n. 2, p. 255-267, 2003.

DIELE, K. Life History and Population Structure of the Exploited Mangrove Crab Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Brachyura) in the Caeté Estuary, North Brazil. 116 f. Tese (Doutorado em Ecologia) Universidade de Bremen, Bremen, 2000.

GENONI, G. P. Increased burrowing by fiddler crabs Uca rapax (Smith) (Decapoda: Ocypodidae) in response to low food supply. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, v.147, n. 2, p. 267-285, 1991.

MATSUMASA, M.; TAKEDA, S.; POOVACHIRANON, S. & MURAI, M. Distribution and shape of Dotilla myctiroides (Brachyura: Ocypodidae) burrow in the seagrass Enhalus acoroides zone. Benthos Res, v. 43, p. 1-9, 1992.

MIRANDA, C. L.; BARBOSA, R. P.; LIMA, A. S.; ROVIDA, J. C.; ROCHA, J. C.; SOUZA, L. S.; PIRES, A. V.; MARTINS, R. L. & PAIVA, S. R. Análise morfométrica de populações do caranguejo-uçá (Ucides cordatus L.) (Crustacea - Decapoda) em manguezais do litoral do Espírito Santo. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v. 4, n. 1, p. 15-23, jan./abr. 2005.

NOMANN, B. E. & PENNINGS, S. C. Fiddler crab-vegetation interactions in hypersaline habitats. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, v. 225, n. 1, p. 53-68, 1998.

SMITH III, T. J.; BOTO, K. G.; FRUSHER, S. D. & GIDDINS, R. L. Keystone species and mangrove forest dynamics: the influence of burrowing by crabs on soil nutrient status and forest productivity. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 33, p. 419- 432, 1991.

ZIMMER-FAUST, R. K. Substrate selection and use by a deposit-feeding crab. Ecology, v. 68, n. 4, p. 955-970, 1987.

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