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Relativamente à primeira hipótese, em que se previa uma menor transferência de componentes de vinculação aos pares em idades mais baixas e com vinculação segura à mãe e ao pai, apenas se encontrou um efeito significativo da interação entre a idade e a segurança à mãe e ao pai relativamente à transferência de componentes de vinculação aos pares. Porém, se analisarmos as tendências que os coeficientes apresentam na equação da regressão linear, é possível encontrar um padrão consistente no sentido de prever um efeito negativo entre os adolescentes mais jovens. Podemos concluir que esta hipótese não foi comprovada em condições estatísticas ideais, embora se verifique uma tendência que vai ao encontro do previsto por Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997).

Quando se analisa a transferência de componentes de vinculação aos namorados, em jovens mais novos, tendo em conta a segurança de vinculação à mãe e ao pai, os modelos de regressão verificam-se significativos em relação à mãe e ao pai, embora o mesmo não se verifique para todos os coeficientes. Uma análise mais aprofundada revela uma tendência que vai ao encontro da hipótese suportada: transferir menos componentes de vinculação aos namorados quando se trata de jovens mais novos e apresentam uma vinculação segura à mãe. Contudo, no que respeita à relação com o pai, a equação da regressão linear não demonstra o padrão esperado, revelando uma maior transferência de componentes aos namorados quando os participantes são mais jovens e apresentem vinculação segura ao pai. Podemos concluir que relativamente aos namorados, a hipótese de menor transferência de componentes de vinculação aos pares foi parcialmente suportada, uma vez que há uma tendência não estatisticamente significativa na relação com a mãe que vai ao encontro da hipótese, mas o mesmo não acontece em relação ao pai.

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A transferência de componentes de vinculação aos melhores amigos, tendo em conta os jovens mais novos e a segurança de vinculação à mãe e ao pai, não revelou resultados totalmente significativos. Em relação à vinculação segura à mãe, o modelo de regressão linear não é estatisticamente significativo, mas os coeficientes adjacentes ao mesmo revelaram significância estatística e tendência a transferir menos componentes de vinculação para os amigos quando o jovem é mais novo e apresenta vinculação segura à mãe. Em relação à segurança de vinculação ao pai, embora nem o modelo de regressão nem os seus coeficientes sejam significativos, verifica-se a mesma tendência da relação com a mãe, os jovens mais novos e com segurança ao pai, transferem menos componentes de vinculação quando comparados com os jovens com vinculação insegura ao pai. Podemos concluir que em relação aos melhores amigos, a hipótese de menor transferência de componentes de vinculação aos pares, tendo em conta jovens mais novos e vinculação segura aos pais, foi parcialmente comprovada estatisticamente na relação com a mãe e, no geral, evidenciou tendências de transferência de componentes que vão ao encontro do perspetivado.

A tendência em transferir menos componentes de vinculação aos pares e em específico aos amigos, em jovens mais novos e com vinculação segura à mãe e ao pai, sugerem que uma amostra superior à apresentada reforçaria ainda mais a teoria de Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997), mas originando resultados significativos. A transferência de menos componentes de vinculação às(aos) namoradas(os), quando os jovens são mais novos e apresentam uma vinculação segura à mãe, sugerem igualmente uma amostra superior, com o objetivo de alcançar resultados estatisticamente significativos. Por outro lado, os resultados contrários em relação à segurança ao pai podem ser compreendidos à luz do papel distinto que o mesmo desempenha na relação com os filhos. Os pais interagem com os filhos de uma forma

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diferente das mães, proporcionando brincadeiras diferentes e mais aventureiras de forma a incentivar a exploração do mundo e a socialização (Paquette, 2004), pelo que esta abertura ao mundo pode ser o fator preponderante para a exploração de papéis por parte dos jovens, nomeadamente o de parceiro romântico.

No que respeita à segunda hipótese, os resultados são essencialmente o espelho dos da 1ª: verifica-se uma tendência para a relação entre vinculação segura à mãe e ao pai e transferência de componentes de vinculação para os pares ser positiva entre os adolescentes mais velhos, sendo o efeito estatisticamente significativo num caso (segurança em relação à mãe e transferência para os pares em geral), com um padrão idêntico e próxima da significância em quatro outros casos, e apenas claramente não significativa num caso (segurança em relação ao pai e transferência para o parceiro romântico).

Quando analisada a transferência de componentes de vinculação de jovens mais velhos e com vinculação segura à mãe e ao pai, a teoria de Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997) só foi suportada na transferência de componentes aos namorados, pelo que é possível prever resultados estatisticamente significativos caso a amostra fosse superior à atual. Contudo, a tendência contrária aos estudos anteriormente nomeados, vai ao encontro do identificado por Markiewicz e colegas (2006). Estes últimos verificaram uma menor transferência de componentes aos amigos à medida que os jovens aumentavam a idade, verificando também uma maior transferência de componentes às(aos) namoradas(os). A justificação dos mesmos, relacionou-se com o fato de as relações românticas serem mais duradouras no fim da adolescência e, como tal, os jovens não precisarem tanto dos melhores amigos para os componentes de procura de proximidade e de porto seguro, transferindo-os para as(os) namoradas(os).

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A hipótese relativa à maior transferência de componentes de vinculação aos pares, quando os jovens se encontravam numa relação amorosa, foi comprovada estatisticamente, suportando o corpo teórico (Hazan & Zeifman, 1994; Trinke & Bartholomew, 1997; Friedlmeier & Granqvist, 2006; Markiewicz et al., 2006). Quanto mais duradoura é a relação romântica, maior é a transferência de componentes de vinculação dos pais para os pares, facilitando a transferência de componentes de vinculação mais enraizados nas figuras primárias, como é o caso da base segura (Hazan & Zeifman, 1994; Trinke & Bartholomew, 1997; Markiewicz et al., 2006). Friedlmeier e Ganqvist (2006) verificaram, no seu estudo longitudinal, que os jovens que apresentavam namoradas(os) no primeiro momento de avaliação, mas não no segundo momento, transferiram os componentes de vinculação das(os) namoradas(os) para os pares.

A hipótese relativa a maior transferência de componentes de vinculação aos pares com o aumento da idade, independentemente da segurança aos pais, não foi suportada. Mesmo analisando mais especificamente a transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os) e aos melhores amigos, nenhuma das situações suportou a hipótese. Contudo, estes resultados vão ao encontro dos resultados do estudo de longitudinal de transferência de componentes de vinculação aos pares, levado a cabo por Friedlmeier e Granqvist (2006). Embora os autores tivessem identificado uma transferência componente a componente de vinculação dos pais para os pares, suportando a teoria de Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997), identificaram também que os mesmos componentes eram transferidos posteriormente dos pares para os pais. Pode colocar-se a hipótese de ter acontecido a mesma situação reportada no estudo de Friedlmeier e Ganqvist (2006), proporcionando mais uma evidência de que os componentes de vinculação não se transferem num único sentido, dos pais para os pares, mas também dos pares para os pais. Este fenómeno pode estar relacionado com um estado

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inicial de maturação das relações de vinculação entre pares (Friedlmeier & Ganqvist (2006), originando a que existam recuo-os no que toca à formação destas relações. Os mesmos autores verificaram que os jovens que deixavam de ter namorada(o) transferiam os componentes de vinculação dessa relação para os pares, pelo que se poderá supor a possibilidade de, caso os jovens não tenham relações entre pares satisfatórias, estes transferirem os componentes de vinculação, de novo, paras as figuras de vinculação primárias.

Ainda sobre a inconsistência de transferência de componentes de vinculação aos pares, tendo em conta o aumento da idade, os dados enquadram-se na teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson (1980). A amostra do presente estudo contempla jovens que se inserem no estádio de Identidade VS Difusão, caracterizado por uma fase de descoberta do jovem sobre a sua identidade. Nesta fase, o jovem já não é criança, mas também ainda não é adulto, pelo que tenta compreender qual o seu papel no mundo, adotando diferentes papéis socias. Compreende-se que a transferência de componentes de vinculação dos pais aos pares, pode estar inserida num mundo caótico de compreensão da própria identidade, em que os modelos deixam de ser os pais para passar a ser os pares, e em que é necessário recorrer a diferentes papéis até encontrar um em que o jovem se sinta confortável.

O estudo pode apresentar algumas limitações no que diz respeito à dimensão da amostra para alcançar diferenças estatisticamente ideais. Um estudo longitudinal sobre a temática ajudaria a compreender melhor o fenómeno de transferência de componentes de vinculação.

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