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Influência da segurança de vinculação aos pais na transferência de componentes de vinculação aos pares na adolescência

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

INFLUÊNCIA DA SEGURANÇA DE VINCULAÇÃO AOS

PAIS NA TRANSFERÊNCIA DE COMPONENTES DE

VINCULAÇÃO AOS PARES NA ADOLESCÊNCIA

Miguel Filipe Pereira do Nascimento

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa)

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Agradecimentos

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

INFLUÊNCIA DA SEGURANÇA DE VINCULAÇÃO AOS

PAIS NA TRANSFERÊNCIA DE COMPONENTES DE

VINCULAÇÃO AOS PARES NA ADOLESCÊNCIA

Miguel Filipe Pereira do Nascimento

Dissertação, orientada pelo Prof. Doutor João Manuel Monteiro da Silva Moreira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa)

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Agradecimentos

Ao Professor Doutor João Manuel Monteiro da Silva Moreira, por me orientar nesta fase da minha vida académica.

Às escolas e aos jovens que colaboraram em participar no meu estudo, possibilitando desenvolver a minha dissertação de mestrado e concluir o meu curso.

Aos meus pais e irmã, por me amarem, pelo apoio incondicional e por me motivarem a continuar a progredir na minha vida académica, mesmo quando parece impossível conjugar a minha vida académica, profissional e pessoal. No fundo do vosso olhar preocupado, sei que confiam sempre em mim e nas minhas capacidades. Sei que estão muito orgulhosos.

A ti, Andreia Gonçalves, por fazeres parte da minha vida, por me ajudares e motivares em todos os desafios a que me proponho e, sobretudo, pelo amor e companheirismo que partilhamos há uns bons anos. Viras o mundo ao contrário para me veres feliz.

À minha filha, Laura Gonçalves do Nascimento, que com os seus 56.5cm e 4.220Kg me alegra todos os dias com o seu sorriso. Dedico-te a ti esta dissertação de mestrado, símbolo de que nada nos pode parar.

Aos meus amigos que me ajudaram a integrar no “mundo novo” quando me transferi para a FPUL e me acompanharam ao longo deste percurso académico. Era impossível ser quem verdadeiramente sou sem o vosso companheirismo. Eterno obrigado, Simone Vieira, João Freitas, Cristina Santos, Sheyla Terra, João Santos, Catarina, Mimi, etc. Ao João Gandra, Andreia Lopes, Telma Pardelha, Fernando Mateus, Sandra Stª. Bárbara e João Jacob pela grande amizade e por estarem comigo mesmo quando não estão. Sou um sortudo por fazerem parte da minha vida.

Aos meus sogros, que só não fazem a tese por mim porque não podem. Muito obrigado por ajudarem de todas as formas.

À Inês… Não há palavras para descrever a sorte que tenho em fazeres parte da minha vida. Por me compreenderes, mesmo quando não me compreendo, por me motivares mesmo quando não me motivo. Nunca vou agradecer o suficiente.

À restante família que está sempre preocupada com os meus estudos e a conciliação com a minha vida profissional.

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Resumo

O presente estudo tem como objetivo avaliar a influência da segurança ou insegurança da relação com os cuidadores na transferência de componentes de vinculação aos pares. Especificamente, procura-se avaliar: (1) se a segurança de vinculação aos pais podem interagir com a idade do participante e influenciar a transferência de componentes de vinculação aos pares; (2) se a existência de um parceiro romântico influência a transferência dos componentes de vinculação aos pares; (3) se a idade do participante, por si só, influencia a transferência de componentes de vinculação aos pares. Participaram no estudo 229 jovens, com idades compreendidas entre 14 e 20 anos. Utilizou-se o Questionário de Rede de Vinculação (ANQ) para analisar a transferência de componentes de vinculação aos pares, e o Questionário de Vinculação aos Pais e aos Pares (IPPA) para analisar a segurança de vinculação aos pais. Os resultados foram parcialmente confirmados: (1) os jovens mais novos com vinculação segura aos pais apresentaram uma tendência e transferir menos componentes de vinculação aos pares, embora sem significância estatística; (2) os jovens mais velhos com vinculação segura aos pais, apresentaram uma tendência contrária ao esperado, transferindo menos componentes de vinculação aos pares, contudo sem significância estatística; (3) os jovens que estavam numa relação amorosa transferiram significativamente mais componentes de vinculação aos pares; (4) o aumento da idade dos jovens não apresentou ser um fator preditor na maior transferência de componentes de vinculação aos pares. A dimensão da amostra pode ser insuficiente para alcançar os resultados esperados, mas pode estar em causa a transferência simples de componentes de vinculação aos pares com um só sentido.

Palavras-chave: Vinculação; Segurança de vinculação; Transferência de componentes de vinculação; Adolescência.

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Abstract

The present study addresses the influence of adolescent secure and unsecure attachment to their caregivers on the transfer of attachment components to their peers. The main objectives are to investigate: (1) if the level of secure attachment to the parents can interact with the age of the adolescent and influence the transfer of attachment components to their peers; (2) if the existence of a romantic partner influences the transfer of attachment components to their peers; (3) if the age of the participant determines, on its own, the transfer of attachment components to their peers. The sample group for the present study includes 229 adolescents aged from 14 to 20 years. The transfer of attachment components to peers was analyzed based on an Attachment Network Questionnaire (ANQ), while the level of the adolescent secure attachment to their caregivers was assessed using an Inventory of Parent and Peer Attachment (IPPA). The results were partially confirmed: (1) the younger adolescents with a secure attachment to their parents had a tendency to transfer less attachment components to their peers, although verifying this trend would require additional statistical supporting evidence; (2) the older adolescents with a secure attachment to their parents presented a tendency opposite to what was expected, transferring less attachment components to their peers; (3) the adolescents who were in a romantic relationship transferred significantly more attachment components to their peers; (4) the evidence gathered suggests that age is not the main factor determining the transfer of attachment components to peers. Results also suggest that the transfer of attachment components might not be strictly unidirectional from parents to peers, although the size of the sample group considered may be insufficient to draw further conclusions.

Keywords: Attachment, Secure attachment, Transfer of attachment components, Adolescence.

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1. Introdução ... 1

1.1 Teoria da Vinculação ... 1

1.2 O Sistema de Vinculação ... 2

1.3 Modelo de Funcionamento Interno ... 3

1.4 Tipos de Vinculação ... 3

1.5 Estabilidade dos Modelos de Funcionamento Interno ... 5

1.6 Vinculação Após a Infância ... 5

1.7 Presente Estudo ... 11 2. Metodologia ... 12 2.1 Participantes ... 12 2.2 Instrumentos ... 14 2.3 Procedimento ... 17 3. Resultados ... 18

3.1 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação à Mãe ... 18

3.2 Transferência de Componentes de Vinculação às(aos) Namoradas(os) Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação à Mãe ... 20

3.3 Transferência de Componentes de Vinculação aos Amigos Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação à Mãe... 21

3.4 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação ao Pai ... 22

3.5 Transferência de Componentes de Vinculação às Namoradas(os) Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação ao Pai ... 22

3.6 Transferência de Componentes de Vinculação aos Amigos Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação ao Pai... 23

3.7 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares tendo em Conta a Existência ou Não de Namorada(o) ... 24

3.8 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares Tendo em Conta a Idade do Participante ... 25

3.9 Transferência de Componentes de Vinculação às(aos) Namoradas(os) e Amigos Tendo em Conta a Idade do Participante ... 26

4. Discussão ... 27

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Índice Quadros

Quadro 1. Composição do agregado familiar ………13 Quadro2. Variância explicada da transferência de componentes aos pares, tendo em

conta a segurança de vinculação aos pais e a idade do participante ………18

Índice Anexos

Anexo A. Consentimento informado dos encarregados de educação ……….…35 Anexo B. Consentimento informado dos jovens ………38

Índice Figuras

Figura 1. Média da transferência de componentes de vinculação, tendo em conta o

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1. Introdução

1.1 Teoria da Vinculação

O marco inicial do estudo da vinculação, por parte de Bowlby, pode ser situado na publicação de um artigo em 1944 intitulado “Forty-Four Thieves: Their Characters and

Home Life”, onde destacou a associação entre o abandono materno e a delinquência

juvenil (Hazan & Shaver, 1994). Despertando o interesse da Organização Mundial de Saúde, esta solicitou a Bowlby um relatório sobre os problemas psicológicos de crianças refugiadas (Hazan & Shaver, 1994).

A resposta ao pedido da Organização Mundial da Saúde resultou num estudo que viria comprovar que a privação maternal, principalmente, durante os três primeiros anos de vida, leva as crianças a contrair problemas físicos e psicológicos (Hazan & Shaver, 1994). Embora tenha conseguido comprovar a ligação entre as variáveis, Bowlby verificou inconsistências entre o que tinha observado e a teoria psicanalítica (escola onde tinha sido formado), surgindo-lhe dúvidas acerca das razões que associavam a privação materna aos problemas psicológicos e físicos dos jovens. Desta forma, Bowlby estudou aprofundadamente o conceito da vinculação, por quase duas décadas, resultando num trabalho, compilado em três volumes, sobre a teoria da vinculação (Hazan & Shaver, 1994).

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1.2 O Sistema de Vinculação

Na abordagem do Bowlby, inspirada na etologia, os sistemas comportamentais, de que são exemplo a vinculação, a exploração, a prestação de cuidados, a afiliação e o acasalamento incluem e coordenam um conjunto de respostas do ser-humano ao meio. O sistema de vinculação, enquanto sistema comportamental, tem por função garantir a sobrevivência de um ser-humano bebé. Uma vez que o bebé é incapaz de sobreviver sem alguém que o cuide e proteja, o sistema de vinculação permite ao bebé controlar a proximidade e disponibilidade do cuidador, de modo que este lhe satisfaça as necessidades (e.g. quando o bebé chora, o cuidador aproximar-se-á para consolá-lo; Hazan & Shaver, 1994).

Bowlby considerou a vinculação como uma ligação emocional, uma vez que a ativação e desativação do sistema de vinculação envolve a partilha de emoções. Quando o cuidador está afastado, o bebé aumenta a sua ansiedade, por estar desprotegido, e ativa o sistema de vinculação para que o cuidador se aproxime. Quando o cuidador está suficientemente perto, o bebé baixa os níveis de ansiedade, aumentando a sensação de segurança, amor, e confiança, desativando o sistema de vinculação e ativando outros sistemas comportamentais, como por exemplo o sistema comportamental de exploração (Hazan & Shaver, 1994).

Assim, o objetivo do sistema de vinculação parece ser o da manutenção da

proximidade. Por isso, a criança reage às separações e afastamento ativando

comportamentos de vinculação (e.g. chorar, agarrar), naquilo que se denomina protesto

de separação. A procura de proximidade às figuras de vinculação com as quais a criança

desenvolveu um laço emocional é ainda intensificada quando se verifica uma separação ou outra qualquer situação vista como ameaçadora, o que se denomina por porto seguro.

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Após obter a aproximação e o consolo emocional do cuidador, a criança poderá baixar os níveis de ansiedade e aumentar os níveis de confiança através da presença do cuidador, podendo investir a sua energia em outros comportamentos não relacionados com a vinculação (e.g. exploração do meio), demonstrando a componente de vinculação

base segura. Estes quatro aspetos foram designados por Hazan e Zeifman (1994) como

componentes do sistema de vinculação e utilizados no seu modelo descrito mais adiante.

1.3 Modelo de Funcionamento Interno

As sucessivas interações entre a criança e o cuidador levam a que a criança crie expectativas relativamente à disponibilidade e tipos de resposta do cuidador. A regularidade do tipo de resposta do cuidador, contribuirá para a formação de uma representação dos cuidadores atuais e futuros, enquanto o facto de a criança considerar-se como alguém que recebe conforto quando necessita, contribuirá para a formação de uma representação do self. Bowlby (1982) concluiu que estas representações mentais contribuem para a formação de um modelo do self, um modelo de funcionamento interno, que influenciará as crenças e os sentimentos que a criança adotará na sua vida futura.

1.4 Tipos de Vinculação

A disponibilidade e responsividade do cuidador para com a criança, poderá visualizar-se de três formas: o cuidador aparece consistentemente para satisfazer as necessidades da criança; o cuidador consistentemente não aparece para responder às necessidades da criança; o cuidador inconsistentemente satisfaz as necessidades da criança (Hazan & Shaver, 1994). Estes três tipos de responsividade do cuidador revelaram-se estar associados a diferentes tipos de vinculação da criança ao cuidador

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(Ainsworth, Blehar, Waters, & Wall, 1978). Através de sucessivas separações entre o cuidador e a criança em ambiente laboratorial, posteriormente complementadas com observações na casa dos participantes, Ainsworth e colegas (1978) observaram existir uma regularidade de respostas que poderia ser categorizada em três tipos.

Vinculação segura. As crianças com vinculação segura ficavam aflitas quando os

cuidadores abandonavam a sala, sendo reconfortadas com o regresso do cuidador e reiniciando o comportamento de exploração do meio, tendo o cuidador por perto. No ambiente familiar, os cuidadores de crianças com vinculação segura revelavam ser consistentemente responsivos às necessidades das crianças. Este tipo de vinculação demonstra todos os componentes de vinculação, descritos anteriormente, segundo Bowlby.

Vinculação ansiosa/ambivalente. As crianças com vinculação

ansiosa/ambivalente ficavam inconsoláveis quando os cuidadores se ausentavam da sala, e não eram acalmadas pelo seu regresso, ao ponto de não retomarem outras atividades, como a exploração do meio. No ambiente familiar, os cuidadores de crianças com vinculação ansiosa/ambivalente revelavam ser inconsistentemente responsivos.

Vinculação ansiosa/evitante. As crianças com vinculação ansiosa/evitante não

ficavam aflitas quando o cuidador abandonava a sala, continuando a brincar independentemente da presença do cuidador e não estabeleciam contacto quando o cuidador retomava à sala. No ambiente familiar, os cuidadores de crianças com vinculação ansiosa/evitante, ignoravam ou evitavam responder ao desconforto das crianças.

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1.5 Estabilidade dos Modelos de Funcionamento Interno

Os modelos de funcionamento interno, como estruturas cognitivas que são, têm propriedades que lhes atribuem uma determinada estabilidade, contudo são passíveis de ser moldáveis. A variação do contexto envolvente do ser-humano é o fator responsável pela alteração, ou não, das estruturas cognitivas (Waters, 1978). Se o sujeito for exposto a contextos diferentes, a experiências diferentes, então poderá alterar as suas estruturas cognitivas através dos processos de assimilação e acomodação, de forma a adaptar-se ao meio (Piaget, 1952). Contudo, caso não exista alterações no contexto, as estruturas cognitivas manter-se-ão relativamente estáveis, passando os modelos de funcionamento interno a fazer parte da personalidade da pessoa ao longo do desenvolvimento (Caron, Lafontaine, Bureau, Levesque & Johnson, 2012).

1.6 Vinculação Após a Infância

A construção de modelos de funcionamento interno acerca do self e dos cuidadores, as pessoas com quem a criança socializa mais, passando, posteriormente, esses modelos a fazer parte da personalidade do indivíduo, evidencia a importância que os estilos de vinculação têm na formação do ser-humano.

Embora a relação de vinculação existente entre os pares tenha bases na relação de vinculação cuidador-criança, existem diferenças entre os dois tipos de vinculação (Weiss, 1982). Inicialmente, o tipo de vinculação cuidador-criança reflete uma vinculação complementar, uma vez que o cuidador cuida e conforta a criança, mas esta última não cuida e conforta o cuidador. Esta relação é baseada em dois sistemas comportamentais: o de vinculação da criança e o de prestação de cuidados do cuidador. Por outro lado, o tipo de vinculação que o ser-humano adota com os pares caracteriza-se por um tipo de

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vinculação recíproca, uma vez que os sujeitos trocam cuidados e confortos entre eles. No tipo de vinculação recíproca, é possível definir um protótipo de vinculação entre pares românticos, contendo já três sistemas comportamentais em funcionamento conjunto e coordenado: o de vinculação, o de cuidado e o acasalamento (Shaver, Hazan & Bradshaw, 1988).

Hazan e Zeifman (1994) estudaram a forma como os componentes de vinculação se transferem da relação de vinculação entre crianças e cuidadores para a relação de vinculação entre pares. Este estudo analisou jovens entre os 6 e os 17 anos, concluindo que os componentes de vinculação se transferem segundo uma hierarquia. Primeiro, transferir-se-ia o componente de procura de proximidade (a maior parte dos jovens com 6 anos já tinha transferido este componente), sendo que os jovens começam a passar muito tempo com os pares em idade de escolarização e, por esse motivo, procuram a presença dos pares. Segundo, transferir-se-ia o componente de porto seguro (na maior parte dos jovens, a transferência deu-se entre os 8 e os 14 anos), uma vez que a maior proximidade dos pares em detrimento dos pais, leva os jovens a procurar os pares em caso de suporte emocional. Terceiro, transferir-se-ia o componente de protesto de separação (na maior parte dos jovens, a transferência deu-se entre os 15 e os 17 anos), sendo coerente com a transferência anterior do componente da procura de proximidade. Por último, transferir-se-ia o componente de base segura (na maior parte dos jovens, este componente transferiu-se entre os 18 e os 20 anos), sendo que os jovens começam a confiar nos pares para contarem com eles aconteça o que acontecer. Desta forma, Hazan e Zeifman (1994) puderam concluir que as relações de vinculação entre pares só se formam totalmente no fim da adolescência, em que todos os componentes de vinculação se transferem dos pais para os pares e surge a componente sexual (e.g. sexo ou atração sexual).

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Zhang, Chan e Teng (2011) replicaram o estudo de Hazan e Zeifman (1994) à população chinesa, obtendo o mesmo resultado no que toca à transferência de componentes. Contudo, verificaram que o pai era a figura de vinculação menos importante ao mesmo tempo que era a figura de vinculação mais solicitada para dar conselhos, pelo que concluíram adicionalmente que cada figura de vinculação pode ter uma determinada função para o sujeito.

Ao estudar a associação entre variáveis da relação romântica (e.g. namoro, coabitação, casamento) e a transferência de componentes de vinculação, Feeney (2004) também comprovou a transferência faseada de componentes de vinculação ao verificar que quanto maior o envolvimento romântico, mais fraca era a relação de vinculação com os pais e com os pares. Mais especificamente, os componentes de procura de proximidade e de porto seguro eram os primeiros a serem transferidos, sendo que os componentes de protesto de separação e de base segura eram os últimos a serem transferidos dos pais para os parceiros românticos.

Markiewicz, Lawford, Doyle e Haggart (2006) replicaram igualmente o estudo de Hazan e Zeifman (1994) com participantes dos 12 aos 28 anos, examinando a mãe, o pai, os amigos e os pares românticos como figuras de vinculação. A primeira das conclusões a que os autores chegaram foi que a forma como os componentes de vinculação estavam associados às figuras variava consoante a idade do participante, ou seja, variava consoante a maturidade cognitiva e emocional do participante. As mães estavam sempre associadas ao componente de base segura e os amigos só estavam associados aos componentes de procura de proximidade e porto seguro, e não era sempre (quanto mais velho era o participante, menos componentes tinha associado aos amigos). Este facto, leva os autores a concluir que a teoria da transferência de componentes dos pais para os pares de Hazan e Zeifman (1994) não é totalmente correta, uma vez que não verificaram os componentes

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a serem totalmente transferidos. A segunda conclusão a que Markiewicz et al. (2006) chegaram estava relacionada com a importância da segurança da vinculação à mãe. Quando a vinculação à mãe era segura, esta detinha sempre o componente de base segura, só perdendo lugares na hierarquia das figuras de vinculação, consoante os jovens fossem transferindo os componentes de procura de proximidade e de porto seguro para os amigos. Quando a vinculação à mãe era insegura, assistia-se a um efeito compensatório, uma vez que o componente de base segura era transferido para o par romântico (de qualquer maneira, os autores não apoiam a teoria de que uma vinculação insegura à mãe estimule a procura precoce de relações amorosas). A terceira conclusão a que Markiewicz et al. (2006) chegaram foi que no inicio da adolescência os componentes de procura de proximidade e de porto seguro estavam mais associados aos melhores amigos, sendo que numa fase mais adiantada na adolescência até à idade adulta, os participantes associavam os componentes de procura de proximidade e de porto seguro aos pares românticos, provavelmente porque os adolescentes mais novos têm relações românticas mais curtas (Markiewicz et al., 2006).

Havendo a existência de estudos que não se apoiam totalmente quando à transferência de componentes de vinculação dos pais para os pares, Friedlmeier e Ganqvist (2006) replicaram o estudo de Hazan e Zeifman (1994), mas num registo longitudinal (entre 12 e 15 meses) à população alemã e sueca, com idades compreendidas entre 14 e 18 anos. Os autores verificaram uma transferência, componente a componente da vinculação dos pais para os pares, indo ao encontro da teoria de transferência de componentes de vinculação de Hazan e Zeifman (1994), mas verificaram igualmente que esta transferência não ocorreu segundo a ordem que era esperada (e.g. houve casos em que se transferiu primeiro o componente de base segura e só depois o porto seguro) e que a transferência de componentes ocorria dos pais para os pares, mas também ocorria no

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sentido inverso, ou seja, dos pares para os pais. Estes resultados levaram os autores a concluir que tal poderá ser devido a, no primeiro momento de avaliação, a relação de vinculação com os pares estar numa situação precoce de formação, sendo que já estaria mais estável no segundo momento de avaliação. Outra conclusão a que Friedlmeier e Ganqvist (2006) chegaram foi que os participantes que não tinham um parceiro romântico no primeiro momento de avaliação, mas que já tinham no segundo momento de avaliação, apresentavam maior transferência de componentes de vinculação dos pais para os pares, conclusão esta de acordo com outros estudos já desenvolvidos (Hazan & Zeifman, 1994; Trinke & Bartholomew, 1997; Markiewicz et al., 2006). Contudo, os adolescentes que tinham um relacionamento amoroso no primeiro momento de avaliação e não no segundo momento, não transferiam os componentes desse relacionamento para os pais, mas sim para os pares, nomeadamente os componentes de procura de proximidade e de porto seguro. Por fim, Friedlmeier e Ganqvist (2006) apoiam a teoria da função compensatória de transferência de componentes, já evidenciada no estudo de Hazan e Zeifman (1994), uma vez que verificaram que quando existia uma vinculação insegura/ansiosa à mãe, os participantes transferiam mais componentes para os pares, verificando uma função compensatória de transferência de componentes. Por outro lado, quando os participantes apresentavam uma vinculação insegura/evitante à mãe, estes apresentavam menos transferência de componentes de vinculação aos pares, não se verificando a função compensatória de transferência de componentes de vinculação.

Trinke e Bartholomew (1997) desenvolveram o Questionário da Rede de Vinculação (ANQ) que permitia identificar as múltiplas relações de vinculação que uma pessoa poderia ter, segundo uma hierarquia. A teoria de vinculação de Bowlby postula que as relações de vinculação em adultos comtemplam, a maior parte das vezes, as relações entre marido e mulher, contudo estas também podem existir com outras pessoas,

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como os pais ou os filhos, desde que contenham os componentes de vinculação (Hazan & Zeifman, 1994). Desta forma, Trinke e Bartholomew (1997), contrapondo à teoria de Hazan e Zeifman (1994) que contemplava unicamente uma relação de vinculação por pessoa, determinam que uma relação de vinculação, entre adultos, não necessita necessariamente da existência de uma componente sexual e que cada pessoa poderia ter múltiplas relações de vinculação. Ainda contrapondo à teoria de Hazan e Zeifman (1994), estes autores pediam aos participantes para identificar quais as pessoas com que contavam (base segura) e quais as pessoas com quem iriam ter quando necessitassem de conforto (porto seguro). Contudo, Trinke e Bartholomew (1997) consideraram que o estudo de Hazan e Zeifman (1994) não contemplava as relações de vinculação inseguras, pelo que o ANQ pretendia avaliar tanto as relações de vinculação seguras e como inseguras, colocando as participantes as mesmas perguntas que Hazan e Zeifman (1994), mas perguntando também com quem os participantes gostariam de contar (base segura) e com quem gostariam de ir ter quando necessitassem de conforto (porto seguro), mesmo que sentissem que não o podiam fazer. Com a aplicação do ANQ, Trinke e Bartholomew (1997) concluíram, entre outros aspetos, que: (a) os participantes identificavam, em média, 10 pessoas das quais se sentiam próximas, mas só 5 é que apresentavam todos os componentes de vinculação; (b) a ordem da hierarquia pela qual as pessoas eram geralmente identificadas, começava pela mãe ou pela(o) namorada(o) (caso existisse e a relação já tivesse um determinado tempo), seguidos do pai, irmã(o) e amigo(a) chegado(a); (c) os componentes de vinculação eram transferidos, em grande parte, segundo a ordem manutenção da proximidade (procura de proximidade e protesto de separação), porto seguro e base segura; (d) existia geralmente uma maior conexão emocional com a mãe, assim como um maior impacto perante a morte, em comparação com o pai.

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1.7 Presente Estudo

Desde a idade escolar, as crianças começam a passar os componentes de vinculação da relação que têm com os cuidadores para a relação entre pares (Hazan e Zeifman, 1994). Porém, a maior parte dos estudos sobre vinculação estão associados aos primeiros anos de vida ou então ao desenvolvimento de relações de vinculação na idade adulta (> 18 anos). Desta forma, a pertinência do presente estudo relaciona-se com a necessidade de especial atenção a esta fase de desenvolvimento do ser-humano. Erikson (1980) afirma que a construção da idade é um processo que decorre ao longo da vida, mas mais concretamente nesta fase da adolescência em que já não se é criança, mas também ainda não se é adulto. Ao mesmo tempo, a mudança de modelos dos pais para os pares é um fator de extrema relevância para se avaliar o que acontece aos componentes de vinculação associados aos pais, nesta fase da vida. Ainda pertinente, é o aumento da compreensão da influência que a qualidade da relação com os cuidadores tem na formação de relações posteriores, tendo em conta a teoria de modelos de funcionamento internos de Bowlby (1982).

Especificamente, o presente estudo tem como objetivo analisar a influência da segurança ou insegurança da relação com os cuidadores na transferência dos componentes de vinculação para os pares.Não existindo até à data um número significativo de estudos relacionando a segurança da vinculação com a transferência dos seus componentes na adolescência, e tendo em conta o estudo anterior de Calado e Carvalho (2007; ver também Calado, 2008), pretendeu-se testar as seguintes hipóteses:

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 Hipótese 1: Se os adolescentes mais novos apresentarem uma relação de vinculação segura aos pais, os jovens terão transferido menos componentes da relação de vinculação dos pais para a relação entre pares, quando comparado com jovens com vinculação insegura aos pais;

 Hipótese 2: Se os adolescentes mais velhos apresentarem uma vinculação segura aos pais, os jovens terão transferido mais componentes da relação de vinculação dos pais para a relação entre pares, quando comparado com jovens com vinculação insegura aos pais;

 Hipótese 3: Se os jovens se encontrarem numa relação amorosa, terão transmitido mais componentes da relação de vinculação dos pais para a relação com os pares, quando comparados com os jovens que não se encontram numa relação amorosa.

 Hipótese 4: Independentemente do tipo de vinculação aos pais, os jovens transferiram mais componentes de vinculação à medida que aumentam a idade;

2. Metodologia

2.1 Participantes

O presente estudo contempla uma amostra de 229 jovens com idades compreendidas entre 14 e 20 anos (M = 16.43, DP = 1.36). Esta amostra contem um grupo de 126 jovens provenientes da amostra de um estudo anterior sobre a mesma temática (Calado & Carvalho, 2007). Os outros jovens são provenientes da Escola Secundária Cacilhas-Tejo (60 jovens) e da Escola Secundária Romeu Correia (43 jovens).

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A distribuição do sexo dos jovens era maioritariamente homogénea, correspondendo a 123 raparigas (53.7%) e a 106 rapazes (46.3%). Enquanto a orientação sexual dos jovens verifica-se maioritariamente heterossexual (93.9%), sendo que uma minoria dos jovens se identifica com a homossexualidade (1.7%) e bissexualidade (4.4%). O estatuto relacional dos jovens revelou que a grande parte dos jovens não namorada (N = 160), e que 69 participantes encontravam-se numa relação amorosa (30.1%).

Como é possível analisar no quadro 1, verificou-se que a grande parte dos jovens vive com a mãe e o com o pai na mesma casa (69%), mas verifica-se que 21% dos jovens vice só com a mãe, 6.1% vive com outros cuidadores que não a mãe e o pai, 2.2% dos jovens vive com a mãe e o pai, mas em casas separadas, enquanto 1.7% dos jovens vive só com o pai.

Quadro 1

Composição do agregado familiar

Vive com a mãe e o pai

na mesma casa

Vive com a mãe e o pai, mas em casas

separadas Vive só com a mãe Vive só com o pai

Não vive com a mãe, nem com o pai, tendo outros adultos

como cuidadores

f 158 5 48 4 14

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2.2 Instrumentos

No presente estudo foram utilizados os seguintes instrumentos: Questionário Sociodemográfico, desenvolvido por mim para esta investigação; Questionário de Rede de Vinculação (ANQ), originalmente desenvolvido por Trinke e Bartholomew (1997), adaptado à população portuguesa por Rocha e Matos (2003), e ainda adaptado por mim para corresponder às exigências de confidencialidade exigidas pela Direção-Geral da Educação; Questionário de Vinculação aos Pais e aos Pares (IPPA), originalmente desenvolvido por Armsden e Greenberg (1987) e adaptado à população portuguesa por Geada (2004).

Questionário sociodemográfico

O primeiro questionário que os participantes tiveram que preencher estava relacionado com os dados sociodemográficos do participante, mais especificamente: a idade, sexo, orientação sexual, estatuto relacional, agregado familiar.

Questionário da Rede de Vinculação (ANQ)

Trinke e Bartholomew (1997) foram os responsáveis pela versão original deste questionário, Attachment Network Questionnaire, enquanto a versão adaptada à população portuguesa foi desenvolvida por Rocha e Matos (2003). O presente questionário permite identificar as pessoas mais próximas ao participante, através de uma hierarquia de 15 pessoas possíveis, discriminando entre as relações próximas e as relações de vinculação, através da identificação de componentes de vinculação associados a cada pessoa identificada pelo participante. O participante nomeia as pessoas que considera ter

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uma ligação emocional forte, quer seja positiva, negativa ou uma mistura de ambas, descrevendo dados associados a cada pessoa identificada (sexo, idade, frequência de contacto e tempo que se conhecem). Adicionalmente é pedido aos participantes que respondam a umas perguntas relativamente às pessoas que nomeou anteriormente, designadamente: (a) “Quem gostaria de procurar para lhe dar apoio e cuidados se algo de mal lhe acontece, se está em dificuldades ou se se sente ameaçado(a), (quer de facto procure ou não essa(s) pessoa(s) nessas situações)?”, representado o desejo do componente de vinculação porto seguro; (b) “Quem de facto você procura para lhe dar apoio e cuidados se algo de mal lhe acontece, se está em dificuldades ou se se sente ameaçado(a)?”, representando o uso atual do componente de vinculação porto seguro; (c) “Com quem gostaria sempre contar para estar disponível para o(a) incentivar a fazer coisas diferentes ou novas e também para o(a) ajudar a conhecer-se melhor a si próprio(a)?”, identificando o desejo do componentes de vinculação base segura; (d) “Com quem sente que de facto sempre conta para estar disponível para o(a) incentivar a fazer coisas diferentes ou novas e também para o(a) ajudar a conhecer-se melhor a si próprio(a)?”, representado o uso atual do componente de vinculação base segura; (e) “Quem é importante para si ver ou falar com regularidade?”, identificando o componente de vinculação procura de proximidade; (f) “A morte de quem teria o maior impacto ou efeito em si, independentemente do que esse efeito pudesse ser?”, identificando o impacto de morte; (g) “Quem pode fazê-lo(a) sentir-se transtornado(a)?”, representando a emoção conflitual.

A consistência interna do instrumento, consoante possíveis relações que o participante poderia ter com as pessoas identificadas no questionário, apresenta coeficientes de alfa de Cronbach que variam entre .70 e .90 de .72, associado aos melhores amigos e namorados, respetivamente (Trinke & Bartholomew, 1997).

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Questionário de Vinculação aos Pais e aos Pares (IPPA)

Armsden e Greenberg (1987) foram os responsáveis pela versão original deste instrumento, Inventory of Parent and Peer Attachment, tendo sido adaptado à população portuguesa por Geada (1997). O questionário permite avaliar o nível de segurança à mãe, ao pai, e aos amigos, contemplando 75 itens sobre comportamentos de vinculação para com as figuras nomeadas anteriormente. Estes itens são analisados consoante o grau de concordância com as afirmações apresentadas numa escala de Likert de 5 pontos: (1) nunca ou quase nunca; (2) poucas vezes; (3) bastantes vezes; (4) muitas vezes; (5) quase sempre ou sempre (Geada, 1997).

Uma vez que o propósito do estudo é avaliar o nível de segurança de vinculação à mãe e ao pai, o questionário utilizado contem unicamente 50 itens, 25 por cada cuidador. O IPPA analisa ainda a vinculação segundo três escalas, confiança, comunicação e

alienação/isolamento, avaliadas em 3 níveis (baixo, médio e alto) (Armsden &

Greenberg, 1987), mas a análise destas escalas não foi pertinente para o presente estudo, pelo que não foram utilizadas.

A consistência interna avaliada no presente questionário foi de .934 relativamente à vinculação à mãe e de .941 referente à vinculação ao pai.

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2.3 Procedimento

Inicialmente entrou-se em contacto com a Escola Secundária Cacilhas-Tejo e a Escola Secundária Romeu Correia de forma a explicar o estudo e a ter um acordo verbal em como permitiam realizar o estudo nas escolas. Posteriormente, foi pedido uma autorização à Direção-Geral da Educação, mais especificamente à Monitorização de Inquéritos em Meio Escolar (MIME), para autorizarem a aplicação dos questionários identificados às escolas referidas.

Após aprovação do MIME foi possível efetuar-se a aplicação dos questionários, sempre que acompanhados das autorizações dadas pelos encarregados de educação (Anexo A) e pelos próprios jovens (Anexo B) através dos consentimentos informados que solicitavam a colaboração confidencial e voluntária do jovem.

A amostra foi recolhida de três formas distintas. Na escola Secundária Cacilhas-Tejo, foi apresentado o estudo aos alunos em sala de aula, sendo que, posteriormente, os alunos levavam os consentimentos informados e os questionários para preencherem em casa e era combinado um dia da semana para eu ir pessoalmente buscar os questionários à aula, garantindo sempre que só eu e os alunos – e possivelmente os pais – tinham acesso aos mesmos.

Na Escola Secundária Romeu Correia os questionários foram explicados aos alunos em aula, os mesmos levavam os consentimentos para casa para assinarem e só posteriormente os questionários eram aplicados a quem trazia os consentimentos autorizados.

Outra parte da amostra foi recolhida por Calado e Carvalho (2007) na elaboração de um trabalho académico. Esta amostra foi recolhida presencialmente em três escolas do concelho de Lisboa.

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3. Resultados

3.1 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculaç ão à Mãe

Foi realizada uma regressão múltipla hierárquica, prevendo o grau de transferência de vinculação (número de componentes) a partir das variáveis segurança da vinculação ao cuidador (mãe ou pai) e idade do participante. Estas duas variáveis foram inseridas no passo 1 da regressão, e a sua interação (representada por um componente multiplicativo) foi inserida no passo 2. O quadro 2 contem os resultados destas regressões, realizadas separadamente para a segurança à mãe e ao pai, e para a transferência para o namorado(a), para os amigos e para os pares no seu conjunto.

Quadro 2

Variância explicada da transferência de componentes aos pares, tendo em conta a segurança de vinculação aos pais e a idade do participante

Passo 1 Passo 2

R2 ΔR2 Sig. ΔR2 bidade bseg binteração

Mãe Pares 0,011 0,012 0,098 -0,452 -0,096 0,005 Namoradas(os) 0,051 0,004 0,308 -0,126 -0,067 0,004 Amigos 0,001 0,019 0,037 -0.655 -0.120 0,007 Pai Pares 0,004 0,017 0,053 -0,416 -0,091 0,006 Namoradas(os) 0,042 0,001 0,702 0,303 0,014 -0,001 Amigos 0,002 0,016 0,054 -0,481 -0,091 0,006

Nota. R2 = variância explicada no passo 1 (efeitos principais); ΔR2 = aumento da variância explicada do passo 1 para

o passo 2; Sig ΔR2 = significância estatística do aumento da variância explicada do passo 1 para o passo 2; b =

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A segurança de vinculação à mãe e a idade, inseridas no passo 1, não contribuem para a variância da transferência de componentes de vinculação aos pares (R2a < 1%).

Após inserir-se na equação a interação entre a segurança da vinculação à mãe e a idade, o modelo em geral explica unicamente 1% da variância e sem significância estatística, F(3. 225) = 1.732, p = .157. No modelo final, nenhuma das variáveis apresenta significância estatística na variância da transferência de componentes de vinculação aos pares. Contudo, analisando mais especificamente a equação da regressão linear podemos verificar que o componente de interação se aproxima da significância, como previsto pelas hipóteses 1 e 2.

Tendo em conta que a equação de regressão linear se apresenta da seguinte forma (Maroco & Bispo, 2005):

Yi = α + βXi

Mais especificamente:

Transf. Vinc. Pares = α + Idade x β1 + Segurança Mãe x β2 + Interação x β3

O valor encontrado para bseg, por exemplo, corresponde ao que seria observado

em crianças com zero anos de idade. Para calcularmos o efeito da segurança em adolescentes de 14 anos, temos que somar a este o valor do coeficiente para o efeito de interação multiplicado por 14. Ou seja, teremos -0.096 + 14 × 0.005 = -0.026. Mas para uma idade de 19 anos, este valor já é quase nulo, -0.096 + 19 × 0.005 = -0.001, e para idades mais avançadas virá a tornar-se positivo. Este padrão de resultados é compatível com a nossa hipótese 1, visto que em adolescentes mais novos, mas não nos mais velhos, uma vinculação mais segura à mãe estará relacionada com uma menor transferência de componentes de vinculação para os pares.

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3.2 Transferência de Componentes de Vinculação às(aos) Namoradas(os) Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação à Mãe

Foi realizada uma análise semelhante à anterior. As variáveis independentes introduzidas no passo 1, segurança da vinculação à mãe e idade, contribuem de forma estatisticamente significativa com 4% (R2a = .042) para a variância da transferência de

componentes de vinculação às(aos) namoradas(os) (p = .003). Embora, a interação da segurança de vinculação à mãe e a idade explique muito pouca variância da transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os), quando os efeitos da segurança de vinculação à mãe e a idade estão controlados (R2

a = .004), o modelo no geral explica 4%

da variância da transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os), F(3, 225) = 4.367 (p = .005). No modelo final, nenhuma das variáveis contribui de forma significativa para a equação final da variância da transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os).

Embora a insignificância estatística dos coeficientes do modelo de regressão linear, verifica-se que o padrão de resultados é semelhante ao anterior (coeficiente de regressão negativo para a segurança da vinculação e positivo para a interação, permitindo estimar que o efeito da segurança da vinculação à mãe sobre a transferência de componentes de vinculação para o parceiro romântico será negativo até aos 16 anos e positivo a partir daí.

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3.3 Transferência de Componentes de V inculação aos Amigos Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação à Mãe

Neste caso, as variáveis independentes introduzidas no passo 1, segurança de vinculação à mãe e idade, revelaram não contribuir para a variância da transferência de componentes de vinculação aos amigos (R2a = .008; F(2, 226) = 0.114; p = .892), da

mesma forma que a introdução da interação das variáveis independentes no passo 2 não explicam nada de significativo da mesma variância (R2a = .007; F(3, 225) = 1.537; p =

.206). Contudo, quando o efeito das variáveis segurança à mãe e idade são controladas e insere-se a interação entre essas mesmas variáveis, é possível verificar que a interação explica adicionalmente 2% da variância da transferência de componentes de vinculação aos amigos. Adicionalmente, todas as variáveis contribuíram individualmente de forma significativa para a equação final (idade: p = .044; segurança à mãe: p = .035; interação entre segurança à mãe com a idade: p = 0.037).

Se fizermos uma análise mais aprofundada ao modelo de regressão linear é visível que o padrão de resultados é de novo semelhante, com um efeito da segurança da vinculação à mãe sobre a transferência de componentes de vinculação para os amigos negativo até aos 17 anos (de acordo com a hipótese 1) e positivo a partir daí (de acordo com a hipótese 2).

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3.4 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação ao Pai

As variáveis independentes selecionadas para o passo 1, segurança de vinculação ao pai e idade, assim como a introdução da interação entre essas mesmas variáveis no passo 2, não mostraram contributo explicativo das variância de transferência de componentes de vinculação aos pares (passo 1: R2a = -.005, F(2, 226) = 0.448, p = .640;

passo 2: R2a = .007, F(3, 225) = 1.569, p = .198). Contudo, quando os efeitos das variáveis

independentes estão controlados, verifica-se uma contribuição de 1.7% para a variância da transferência de componentes de vinculação aos pares, no limiar da significância estatística. Coerentemente com estes últimos dados, verifica-se que a variável segurança de vinculação ao pai e a interação entre a segurança ao pai e a idade, demonstram contribuir para a equação final, também no limiar da significância estatística (segurança ao pai: p = .056; interação entre segurança ao pai e a idade: p = .053). Apesar de não se ter alcançado a significância estatística, é visível que o padrão de resultados é de novo o mesmo. Neste caso, a transição do efeito, de positivo, para negativo, é estimada ocorrer entre os 15 e os 16 anos.

3.5 Transferência de Componentes de Vinculação às Namoradas(os) Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação ao Pai

Nos dois passos analisados verificou-se contribuição estatisticamente significante para a variância da transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(aos). No passo 1, com a introdução das variáveis independentes, segurança de vinculação ao pai e idade, estas contribuíram significativamente em 3% para a variância da transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os) (R2a = .033, F(2, 226) = 4.948, p =

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.008). No passo 2, verificou-se que a interação entre a segurança de vinculação ao pai e a idade contribuía 3% de forma significativa para a variância da transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os) (R2a = .003, F(3, 225) = 3.328, p =

.020). Por outro lado, quando os efeitos das variáveis segurança da vinculação ao pai e idade estão controlados, a interação entre as variáveis independentes não revelam qualquer contribuição para a variância da transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os). De forma individual, nenhuma variável contribuiu significativamente para a equação final.

Este caso foi aquele que mais nitidamente se afastou da significância estatística, e também o único em que não se verificou um efeito negativo da segurança da vinculação sobre a transferência dos seus componentes: o efeito surge sempre como positivo, tornando-se ligeiramente maior (não significativamente) com o aumento da idade.

3.6 Transferência de Componentes de Vinculação aos Amigos Tendo em Conta a Idade e a Segurança de Vinculação ao Pai

No passo 1, com a introdução das variáveis independentes, segurança de vinculação ao pai e a idade, não se verificou contributo para a transferência de componentes de vinculação aos amigos (R2a = -.006, F(2, 226) = 0.278, p = .757), assim

como no passo 2, com a introdução da interação entre as variáveis independentes não se verificou qualquer contribuição (R2a = .006, F(3,225) = 1.434, p = .234). Contudo, quando

os efeitos das variáveis independentes estavam controlados e introduziu-se a interação entre a segurança de vinculação ao pai e a idade, verificou-se uma contribuição de 2% para a variância da transferência de componentes de vinculação aos amigos, ainda que no limiar da significância estatística. Relativamente ao contributo que cada variável deu para

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a equação final, vale a pena referir que mesmo no limiar da significância estatística é possível ter em conta a interação da segurança ao pai com idade (p = .054) e, já passando um pouco o limiar da aceitação estatística, a segurança da vinculação ao pai (p = .065) e a idade (p = .068).

Apesar de também neste caso não se ter atingido, agora por estreita margem, a significância estatística é possível verificar que o padrão apresentado pelos coeficientes é o já atrás descrito para o efeito da segurança da vinculação ao pai sobre a transferência de componentes da vinculação para os pares: um efeito negativo (progressivamente menor) até aos 15 anos e (crescentemente) positivo a partir dos 16.

3.7 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares tendo em Conta a Existência ou Não de Namorada(o)

Para se comparar a variância de transferência de componentes de vinculação aos pares, relativamente à variável independente, estatuto romântico (namora ou não namora), utilizou-se o teste t-Student para amostras independentes. Verificou-se diferenças estatisticamente significativas na variância da transferência de componentes de vinculação aos pares tendo em conta o facto de os participantes estarem a namorar (M = 3.173, DP = 1.028) ou não estarem a namorar (M = 2.450, DP = 1.418); t (174.905), p < .001, teste bilateral). A magnitude da diferença das médias pode ser calculada através do Eta2 (η2).

𝐸𝑡𝑎2 = 𝑡

2

𝑡2+ (𝑛1 + 𝑛2 − 2)

Especificamente para a variância da transferência de componentes de vinculação aos pares tendo em conta o facto de namorar ou não, poderá deduzir-se:

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𝐸𝑡𝑎2 = 4.335

2

4.3352 + (69 + 160 − 2)= 0.076

Desta forma, poder-se-á concluir que a magnitude da diferença das médias (diferença média = 0.724, 95% IC: 0.394 a 1.054) é moderada contribuindo para 8% da variância da transferência de componentes de vinculação tendo estatuto relacional dos participantes (Eta2 = 0.076).

3.8 Transferência de Componentes de Vinculação aos Pares Tendo em Conta a Idade do Participante

Para comparar as médias de transferência de componentes aos pares, consoante a idade do participante, utilizou-se a ANOVA entre grupos. Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos: F(6, 222) = 1.234, p = .290. Contudo, através da figura 1, é possível verificar que a maior diferença entre médias de transferência de componentes de vinculação aos pares, tendo em conta a idade do participante, foi entre os 16 (M = 2.397, DP = 1.397) e os 17 anos (M = 2.944, DP = 1.265).

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Figura 1. Média da transferência de componentes de vinculação, tendo em conta o aumento da idade

3.9 Transferência de Componentes de Vinculaç ão às(aos) Namoradas(os) e Amigos Tendo em Conta a Idade do Participante

Tendo em conta a não significância estatística da transferência de componentes de vinculação para os pares, tendo em conta a idade, decidiu-se testar a transferência de componentes aos namorados e aos amigos. Através da comparação de médias da ANOVA entre grupos, verificou-se novamente a ausência de significância estatística na transferência de componentes de vinculação aos namorados (p = .094) e na transferência de componentes de vinculação aos amigos (p = .571) tendo em conta a variável idade.

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4. Discussão

Relativamente à primeira hipótese, em que se previa uma menor transferência de componentes de vinculação aos pares em idades mais baixas e com vinculação segura à mãe e ao pai, apenas se encontrou um efeito significativo da interação entre a idade e a segurança à mãe e ao pai relativamente à transferência de componentes de vinculação aos pares. Porém, se analisarmos as tendências que os coeficientes apresentam na equação da regressão linear, é possível encontrar um padrão consistente no sentido de prever um efeito negativo entre os adolescentes mais jovens. Podemos concluir que esta hipótese não foi comprovada em condições estatísticas ideais, embora se verifique uma tendência que vai ao encontro do previsto por Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997).

Quando se analisa a transferência de componentes de vinculação aos namorados, em jovens mais novos, tendo em conta a segurança de vinculação à mãe e ao pai, os modelos de regressão verificam-se significativos em relação à mãe e ao pai, embora o mesmo não se verifique para todos os coeficientes. Uma análise mais aprofundada revela uma tendência que vai ao encontro da hipótese suportada: transferir menos componentes de vinculação aos namorados quando se trata de jovens mais novos e apresentam uma vinculação segura à mãe. Contudo, no que respeita à relação com o pai, a equação da regressão linear não demonstra o padrão esperado, revelando uma maior transferência de componentes aos namorados quando os participantes são mais jovens e apresentem vinculação segura ao pai. Podemos concluir que relativamente aos namorados, a hipótese de menor transferência de componentes de vinculação aos pares foi parcialmente suportada, uma vez que há uma tendência não estatisticamente significativa na relação com a mãe que vai ao encontro da hipótese, mas o mesmo não acontece em relação ao pai.

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A transferência de componentes de vinculação aos melhores amigos, tendo em conta os jovens mais novos e a segurança de vinculação à mãe e ao pai, não revelou resultados totalmente significativos. Em relação à vinculação segura à mãe, o modelo de regressão linear não é estatisticamente significativo, mas os coeficientes adjacentes ao mesmo revelaram significância estatística e tendência a transferir menos componentes de vinculação para os amigos quando o jovem é mais novo e apresenta vinculação segura à mãe. Em relação à segurança de vinculação ao pai, embora nem o modelo de regressão nem os seus coeficientes sejam significativos, verifica-se a mesma tendência da relação com a mãe, os jovens mais novos e com segurança ao pai, transferem menos componentes de vinculação quando comparados com os jovens com vinculação insegura ao pai. Podemos concluir que em relação aos melhores amigos, a hipótese de menor transferência de componentes de vinculação aos pares, tendo em conta jovens mais novos e vinculação segura aos pais, foi parcialmente comprovada estatisticamente na relação com a mãe e, no geral, evidenciou tendências de transferência de componentes que vão ao encontro do perspetivado.

A tendência em transferir menos componentes de vinculação aos pares e em específico aos amigos, em jovens mais novos e com vinculação segura à mãe e ao pai, sugerem que uma amostra superior à apresentada reforçaria ainda mais a teoria de Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997), mas originando resultados significativos. A transferência de menos componentes de vinculação às(aos) namoradas(os), quando os jovens são mais novos e apresentam uma vinculação segura à mãe, sugerem igualmente uma amostra superior, com o objetivo de alcançar resultados estatisticamente significativos. Por outro lado, os resultados contrários em relação à segurança ao pai podem ser compreendidos à luz do papel distinto que o mesmo desempenha na relação com os filhos. Os pais interagem com os filhos de uma forma

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diferente das mães, proporcionando brincadeiras diferentes e mais aventureiras de forma a incentivar a exploração do mundo e a socialização (Paquette, 2004), pelo que esta abertura ao mundo pode ser o fator preponderante para a exploração de papéis por parte dos jovens, nomeadamente o de parceiro romântico.

No que respeita à segunda hipótese, os resultados são essencialmente o espelho dos da 1ª: verifica-se uma tendência para a relação entre vinculação segura à mãe e ao pai e transferência de componentes de vinculação para os pares ser positiva entre os adolescentes mais velhos, sendo o efeito estatisticamente significativo num caso (segurança em relação à mãe e transferência para os pares em geral), com um padrão idêntico e próxima da significância em quatro outros casos, e apenas claramente não significativa num caso (segurança em relação ao pai e transferência para o parceiro romântico).

Quando analisada a transferência de componentes de vinculação de jovens mais velhos e com vinculação segura à mãe e ao pai, a teoria de Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997) só foi suportada na transferência de componentes aos namorados, pelo que é possível prever resultados estatisticamente significativos caso a amostra fosse superior à atual. Contudo, a tendência contrária aos estudos anteriormente nomeados, vai ao encontro do identificado por Markiewicz e colegas (2006). Estes últimos verificaram uma menor transferência de componentes aos amigos à medida que os jovens aumentavam a idade, verificando também uma maior transferência de componentes às(aos) namoradas(os). A justificação dos mesmos, relacionou-se com o fato de as relações românticas serem mais duradouras no fim da adolescência e, como tal, os jovens não precisarem tanto dos melhores amigos para os componentes de procura de proximidade e de porto seguro, transferindo-os para as(os) namoradas(os).

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A hipótese relativa à maior transferência de componentes de vinculação aos pares, quando os jovens se encontravam numa relação amorosa, foi comprovada estatisticamente, suportando o corpo teórico (Hazan & Zeifman, 1994; Trinke & Bartholomew, 1997; Friedlmeier & Granqvist, 2006; Markiewicz et al., 2006). Quanto mais duradoura é a relação romântica, maior é a transferência de componentes de vinculação dos pais para os pares, facilitando a transferência de componentes de vinculação mais enraizados nas figuras primárias, como é o caso da base segura (Hazan & Zeifman, 1994; Trinke & Bartholomew, 1997; Markiewicz et al., 2006). Friedlmeier e Ganqvist (2006) verificaram, no seu estudo longitudinal, que os jovens que apresentavam namoradas(os) no primeiro momento de avaliação, mas não no segundo momento, transferiram os componentes de vinculação das(os) namoradas(os) para os pares.

A hipótese relativa a maior transferência de componentes de vinculação aos pares com o aumento da idade, independentemente da segurança aos pais, não foi suportada. Mesmo analisando mais especificamente a transferência de componentes de vinculação às(aos) namoradas(os) e aos melhores amigos, nenhuma das situações suportou a hipótese. Contudo, estes resultados vão ao encontro dos resultados do estudo de longitudinal de transferência de componentes de vinculação aos pares, levado a cabo por Friedlmeier e Granqvist (2006). Embora os autores tivessem identificado uma transferência componente a componente de vinculação dos pais para os pares, suportando a teoria de Hazan e Zeifman (1994) e Trinke e Bartholomew (1997), identificaram também que os mesmos componentes eram transferidos posteriormente dos pares para os pais. Pode colocar-se a hipótese de ter acontecido a mesma situação reportada no estudo de Friedlmeier e Ganqvist (2006), proporcionando mais uma evidência de que os componentes de vinculação não se transferem num único sentido, dos pais para os pares, mas também dos pares para os pais. Este fenómeno pode estar relacionado com um estado

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inicial de maturação das relações de vinculação entre pares (Friedlmeier & Ganqvist (2006), originando a que existam recuo-os no que toca à formação destas relações. Os mesmos autores verificaram que os jovens que deixavam de ter namorada(o) transferiam os componentes de vinculação dessa relação para os pares, pelo que se poderá supor a possibilidade de, caso os jovens não tenham relações entre pares satisfatórias, estes transferirem os componentes de vinculação, de novo, paras as figuras de vinculação primárias.

Ainda sobre a inconsistência de transferência de componentes de vinculação aos pares, tendo em conta o aumento da idade, os dados enquadram-se na teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson (1980). A amostra do presente estudo contempla jovens que se inserem no estádio de Identidade VS Difusão, caracterizado por uma fase de descoberta do jovem sobre a sua identidade. Nesta fase, o jovem já não é criança, mas também ainda não é adulto, pelo que tenta compreender qual o seu papel no mundo, adotando diferentes papéis socias. Compreende-se que a transferência de componentes de vinculação dos pais aos pares, pode estar inserida num mundo caótico de compreensão da própria identidade, em que os modelos deixam de ser os pais para passar a ser os pares, e em que é necessário recorrer a diferentes papéis até encontrar um em que o jovem se sinta confortável.

O estudo pode apresentar algumas limitações no que diz respeito à dimensão da amostra para alcançar diferenças estatisticamente ideais. Um estudo longitudinal sobre a temática ajudaria a compreender melhor o fenómeno de transferência de componentes de vinculação.

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(42)

35

ANEXO A

(43)

36 Influência da segurança de vinculação aos pais na transferência de

componentes de vinculação aos pares na adolescência Consentimento Informado

Caro Encarregado de Educação

O meu nome é Miguel Nascimento e sou finalista do 5º ano do Mestrado Integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. No âmbito da elaboração da minha dissertação de mestrado, sob a orientação do Professor João Moreira, peço a colaboração do seu educando através da resposta a dois questionários que permitem avaliar a influência que a qualidade da relação com os pais tem na transferência de fontes de apoio emocional aos pares, na idade da adolescência. A resposta aos dois questionários não deverá demorar mais de 30 minutos.

As respostas do seu educando serão apenas destinadas a fins de investigação, pelo que não serão utilizadas para qualquer avaliação individual. Toda a informação apresentada nos questionários será disponibilizada unicamente a mim e ao meu orientador, não sendo partilhada com mais ninguém, nem a alguma instituição, como por exemplo a escola. Desta forma, o seu educando não deverá inserir o seu nome em nenhum espaço nos questionários ficando, assim, garantido o anonimato das respostas. A participação do seu educando nesta investigação é completamente voluntária, pelo que pode desistir a qualquer momento, sem qualquer tipo de penalização.

Agradecemos a colaboração do seu educando, uma vez que está a ajudar no aumento do conhecimento sobre a formação das relações ao longo da vida. Esta informação ser-nos-á útil para compreendermos de que forma a relação com os pais influencia as relações que os jovens têm na adolescência.

Caso necessite alguma informação complementar, poderá contactar-me através do e-mail: m.nascimento11@gmail.com. Para obter um resumo do estudo, assim como dos seus resultados, poderá contactar-me através do mesmo e-mail, a partir de Novembro de 2016.

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Figura 1. Média da transferência de componentes de vinculação, tendo em conta o aumento da idade

Referências

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