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CAPÍTULO 2 - MÉTODOS DE POTENCIAL DE USO CONSERVACIONISTA,

2.4. Discussão

(chapadas) onde se encontram os latossolos de baixa erodibilidade e em baixo declive, os índices de potencial erosivo são mais baixos (ANJINHO et al. 2021).

O uso e ocupação da terra indicam que a porção cimeira rio Jequitinhonha apresenta-se bem conservada (~82% de classes nativas; ~18% de classes antropizadas). Estes dados são semelhantes a bacias adjacentes como do rio Preto e ribeirão Santana, no Alto Araçuaí (GORGENS et al. 2021; MUCIDA et al. 2022). A classe antropizada mais expressiva é a silvicultura, vinculada a empresas florestais, com tecnologia e maior capital, ocupando áreas mais planas (chapadas). Este setor teve uma evolução expressiva no uso da terra entre 2007-2018 na região do Alto Jequitinhonha (BORGES, LEITE, LEITE, 2007-2018). A agropecuária é a segunda classe mais expressiva, e caracteriza-se pela predominância da agricultura familiar (IBGE 2017; CRUZ et al. 2020). Este sistema é caracterizado por pequenas propriedades rurais, com alta variedade de produção em pequena escala (IBGE 2017; ANTUNES, REDIN 2022).

A metodologia PUC indica que cerca de 14% da área de estudo apresenta PUC alto e muito alto, ou seja, com aptidão para uso, em especial nas porções centro-norte. O PUC médio representa cerca de 31% da área e o uso da terra depende de práticas conservacionistas. Áreas com predominância de afloramentos rochosos (quartzitos), Neossolo e Cambissolo em declividades maiores condicionam um menor potencial de aptidão para uso da terra (baixo e muito baixo), compreendendo cerca de 55% da área total. Estas características conferem menor estabilidade às áreas e restrições de uso devido ao escoamento superficial e perda de nutrição dos solos (WANG et al. 2019; PISSARRA et al. 2022).

Na análise do conflito entre o PUC e o uso e ocupação da terra, denominado PUCconflito, os dados indicaram que a porção cimeira se encontra bem conservada. As classes de uso agropecuária e silvicultura ocorrem em aproximadamente 96% de áreas de maior aptidão PUC (PUC igual ou maior que 3). Entretanto, evidenciou-se incompatibilidade (PUC baixo e muito baixo) e necessidade de práticas conservacionistas (PUC médio) para uso de cerca de 5,5% da área total. O conflito vinculou-se a áreas de PUC médio, baixo e muito baixo com uso da terra solo exposto e agropecuária predominantemente, como observado em estudo de Martins (2022) para bacias hidrográficas do Alto Araçuaí, além de silvicultura. Este tipo de informação é importante na gestão do território (SCHUSSEL, NASCIMENTO 2015) com ações que minimizem a intensificação de processos erosivos (COSTA et al. 2019). O fato de a maior parte dos usos antrópicos estarem em regiões de PUC médio, alto e muito alto não significa que

deva-se abster de ponderar uso sustentáveis, uma vez que pressões antrópicas podem gerar impactos negativos nos solos e recursos hídricos ao longo do tempo (COSTA et al. 2019).

Dados obtidos pela FAP indicam predominância de mais de 60% de fragilidade ambiental alta ou muito alta, o que demonstra expressiva vulnerabilidade natural para a região. As informações obtidas para a FAP não acompanham os dados do PUC. Apesar de o PUC objetivar o estudo de aptidão agrícola em bacias e a FAP, o estudo da fragilidade de um ambiente, ambas metodologias se utilizam de pesos para variáveis físicas. FAP, neste trabalho, detalhou estudo de França (2018) e apresenta duas variáveis não consideradas no PUC: pluviosidade e hierarquia fluvial. O peso para a declividade tanto no PUC (50%) quanto na FAP (~46%) foi similar mantendo pesos de Costa et al. (2017) e França (2018). No PUC, solos possuem peso de 39% e litologias de 11% (COSTA et al. 2017). Na FAP solos e litologia somam juntos cerca de 10% do peso e pluviosidade conta com 28% do peso e hierarquia fluvial com 16%.

(FRANÇA 2018).

No que concerne à adição de variáveis, a pluviosidade é um fator ambiental utilizado em trabalhos que objetivam a vulnerabilidade de bacias hidrográficas (CUNHA et al. 2011). Essa variável é considerada o principal fator erosivo em regiões tropicais ou subtropicais úmidas devido a ação das chuvas (PANAGOS et al. 2017). A pluviosidade na região atinge valores de 1400 mm e erosividade média de 3.632,833 MJ.mm/ha.h.ano variando de 2.182 MJ.mm/ha.h.ano a 5.392 MJ.mm/ha.h.ano, semelhante aos valores encontrados para a América do Sul (> 3.700 MJ.mm/ha.h.ano) (PANAGOS et al. 2017). Já a hierarquia fluvial auxilia no entendimento dos setores de desenvolvimento das bacias de drenagem onde processos morfodinâmicos associados à dissecação do relevo são mais intensos (FONSECA, AUGUSTIN 2014; LOPES et al. 2016). Essa variável vem sendo utilizada em diversos estudos de fragilidade (VITTE, MELLO 2013, FRANÇA et al. 2020, 2022). É, ainda, considerada em estudos morfométricos de bacias em análises para a fragilidade ambiental (AMORIM et al. 2021;

MONDAL, MAITI 2013).

Além disso, o uso da pluviosidade associada às ordens hierárquicas fluviais pode revelar, com apoio de medições de campo em escala local, o excesso de sedimentos em riachos e dados de paisagem em escala de bacia. Esta é uma forma eficiente e econômica para avaliar a fragilidade ambiental em drenagens de uma bacia hidrográfica e pode ser usado para prever quais corpos d'água são mais propensos a serem adversamente afetados pela futura erosão da paisagem e sedimentação de corpos d'água (MACEDO et al. 2018; PISSARRA et al. 2022). No Brasil,

onde os recursos de água doce e seus serviços ecossistêmicos são abundantes, mas ameaçados por pressões antrópicas, o uso da fragilidade ambiental pode ser usado para aplicações econômicas e zoneamentos como políticas públicas (MANFRÉ et al. 2013).

Portanto, entende-se o porquê de os dados da FAP demonstrarem maior percentual de área que necessita de atenção quanto ao uso e manejo, devido a uma maior fragilidade potencial. Estudos indicam que modelos da FAP e FAE elaborados com mais variáveis ambientais apresentam resultados mais detalhados (FANG et al. 2019; MACEDO et al. 2018; MOROZ-CACCIA GOUVEIA; ROSS 2019). Entende-se ainda que, ao utilizar dados vinculados ao clima (pluviosidade), obteve-se uma visão mais assertiva quanto a influência de agentes erosivos na área abordada (CALDERANO et al. 2018).

As informações de FAE - composição da FAP e do uso da terra indicam uma diminuição expressiva das fragilidades alta e muito alta e aumento percentual de classes média e baixa.

Esta informação indica que classes nativas preservadas como Cerrado e Floresta diminuem a fragilidade emergente a partir de pesos internos na camada de uso e ocupação da terra (MACEDO et al. 2018; CAMPOS et al. 2019).

O Potencial Natural de Erosão (PNE) tem sido usada para o entendimento da em escalas de bacias hidrográficas ou mesmo Estados (RAIMO et al. 2022). PNE apresentou perdas de solos muito baixa a baixa computando cerca de 95% para a área. Valores mais elevados localizam-se no sul e centro sul da área, devido aos maiores valores de erosividade das chuvas, erodibilidade dos solos e ao fator LS. A EUPS mostrou que a região analisada possui um potencial a perda de solo predominantemente baixo a baixo-moderado. Dados semelhantes foram encontrados para a Bacia do rio Araçuaí (SANTOS NETO, 2017), adjacente a área de estudo. Entretanto, valores mais elevados ocorrem na área.

A Equação Universal de Perda de Solo é uma metodologia mais usado no mundo e no Brasil para previsão de erosão (ALVES et al. 2022, WEILER et al. 2021, AVANZI et al. 2013) para estimar as taxas médias anuais de perda de solo para diferentes solos e condições climáticas (BESKOW et al. 2009). O fato de a PNE e EUPS levarem em consideração processos como a erosividade e erodibilidade as tornam mais interessante para uma análise de vulnerabilidade quanto aos processos erosivos (MANNIGEL et al. 2008), quando comparada a fatores ambientais “estáticos”, como aqueles utilizados no PUC, FAP e FAE.

Por outro lado, a equação possui limitações, a despeito de sua base empírica, é um modelo simples, que serve de para quantificar o processo erosivo e entender melhor a região, não sendo possível fazer afirmações se a cobertura do solo é a mais indicada no que diz respeito a aptidão (DEMARCHI; PIROLI; ZIMBACK, 2019). No caso da bacia do rio Jequitinhonha, dados isotópicos de 10Be em bacias na região indicam valores inferiores a 5 m Ma–1, considerados valores baixos de taxa de desnudação, devido a presença de litologias quartzíticas resistentes (BARRETO et al. 2013). Entretanto, a porção central e norte, onde há agropecuária e silvicultura, pode apresentar perda média de solo variando de taxa moderada a alta em regiões do Cerrado (GOMES et al. 2017) indicativos de necessidade de implementação de técnicas de manejo e práticas de conservação mais eficazes.

No âmbito geral, a porção cimeira da bacia do rio Jequitinhonha apresentou informações que indicam uma boa qualidade ambiental da área, uma vez que classes antrópicas do uso e ocupação da terra somam menos de 20%. Além disso, o potencial de erosão do solo na região é baixo. Os dados indicaram baixo percentual de uso em áreas não aptas a atividades agrícolas e de maior fragilidade. De forma geral, os métodos que levam em consideração variáveis ambientais indicam que um aumento no uso da terra poderá aumentar o conflito ou a fragilidade emergente, seja pela baixa aptidão agrossilvipastoril seja pela tendência de fragilidade ambiental mais alta predominante.

O mapeamento mais detalhado dos solos em Minas Gerais deve ser uma prioridade para zoneamentos e políticas públicas, uma vez que as metodologias estudadas ou outros modelos como, por exemplo, de capacidade do uso do solo (TAVEIRA et al. 2018, 2021) dependem dos solos. No Estado, o mapeamento encontra-se em escala muito regional (1:650.000) e nos três estudos apresentados há uma dependência direta das classes de solos para a aptidão de uso, fragilidade e potencial de erosão. O PUC, em particular, pondera um peso de 39% aos solos nessa escala (COSTA et al. 2017), peso bastante distinto comparado ao estudo da fragilidade (FRANÇA 2018), exatamente por esta razão. Alguns mapeamentos têm sido feitos com finalidades específicas e de maneira digital, como a potencial agrícola ou estimar a capacidade de armazenamento de carbono (DÍAZ-GUADARRAMA et al. 2022). Apesar disso, há uma necessidade de mapeamento sistemático, uma vez que vários fatores, como substrato rochoso, topografia, organismos vivos, clima e o próprio tempo condicionam a pedogênese.

O mapa da diferença entre PUC vs FAP evidenciou que na maior parte da área as metodologias apresentam uma boa relação, ou seja, os resultados em ambas tendem a mesma direção. No

entanto, em mais de 13% dos casos as metodologias divergem totalmente, ou seja, o PUC tem como resposta que determinada área possui um potencial alto ou muito alto, mas está localizado numa região de fragilidade alta ou muito alta. Esta situação mostra que em alguns casos as camadas adicionais da FAP expuseram possíveis riscos que se utilizar determinados locais pode trazer em médio e longo prazo.

Tal conflito não foi observado na relação PUC vs PNE, indicando que na maior parte da área de estudo a chance de as metodologias apresentarem resultados totalmente conflitantes é de apenas 1,69%. No entanto, é possível observar que mais de 98% da região está classificada com um PNE muito baixo o que já demonstrava uma pouca sensibilidade da metodologia para a área de estudo.

Quando inserimos a camada referente ao uso e ocupação do terreno no PUC e FAP e analisamos os mapas de diferença PUCconflito vs FAE observou-se que a relação “Média” representa mais de 54% da área, indicando que um PUCconflito compatível, ou seja, o potencial está em acordo com o uso do terreno, apresenta uma fragilidade emergente alta e muito alta. Tal fato, associado aos mais de 33% de regiões que não apresentam conflito entre as metodologias, mas mostram áreas com alta FAE, demonstra que uma grande parte da região está tendo uma potencialização dos processos naturais em virtude da ação antrópica e como ponderado por Vick et al. (2021) isso pode acarretar em sedimentação de canais e secas.

Ao acrescentarmos o uso e ocupação do terreno na PNE, gerando a EUPS, o mapa de diferença traz resultados interessantes. Onde em mais de 14% dos casos em que o PUCconflito mostra uma área de incompatibilidade entre seu potencial e seu atual uso, o que indicam locais aonde o poder público deve concentrar ações de recuperação ambiental, apresentam uma perda de solo de baixa a moderada. Estes são resultados conflitantes, que indicam que, neste caso, a EUPS é a metodologia mais permissiva entre as duas.

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