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Durante uma partida de futebol, todas as qualidades físicas básicas são utilizadas em maior ou menor intensidade (Bruggemann,1994), e uma das principais características é a de apresentar momentos de alta intensidade, intercalados com momentos de baixa intensidade,com freqüentes alterações no tipo e duração do deslocamento (Ekblon, 1986). Durante um jogo as atividades podem variar, de uma seqüência de piques a uma recuperação com o jogador trotando, andando ou até mesmo parado.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração, diz respeito à dificuldade de um maior controle quanto aos efeitos da carga de treinamento. Podemos observar, que em qualquer tipo de atividade sem o controle fisiológico adequado, muitas vezes a carga do treinamento estará em desacordo com o objetivo programado para a sessão de treinos.

Vários parâmetros fisiológicos podem ser utilizados na sua percepção; geralmente tem-se utilizado o limiar anaeróbio, freqüência cardíaca, ventilação pulmonar, verificação do nível de lactato,consumo de oxigênio e índice de percepção subjetiva de esforço (Fox e Mathews, 1986). Dentre os indicadores citados, diversos autores como Araújo (1986), Voguel et al (1994), preconizam a utilização de um método fácil para mensurar a intensidade de esforço que é o da freqüência cardíaca.

Em um estudo realizado por Balsom et al, (1995), com o objetivo de investigar a intensidade do exercício em pequenos jogos (3 jogadores de cada lado) em 8 diferentes relações de trabalho/repouso (8 pequenos jogos), e comparar as intensidades de quatro desses jogos com a corrida contínua sem bola. Determinou-se que a intensidade (estimada a partir das medições da freqüência cardíaca) de jogar “pequenos jogos” (3x3) com as relações selecionadas de

trabalho/repouso era suficientemente intensa para aperfeiçoar o desempenho de um jogador de futebol. Nos jogos 1 a 4 (1º e 2º com período de trabalho de 3 minutos por 2 de recuperação, 3º com 30 segundos de trabalho por 15 de recuperação, 4º com 30 segundos de trabalho por 20 de recuperação), a resposta média de freqüência cardíaca era maior que 85% da FCMax. O valor médio mais alto registrado foi de 95% no jogo que tinha períodos de trabalho de 3 minutos com 2 minutos de intervalo para repouso. Nos jogos 5 a 8 (5º com 30 minutos de trabalho sem repouso, 6º com 8 minutos de trabalho por 2 minutos de repouso, 7º com 4 de trabalho por 2 de repouso e 8º com 2 minutos de trabalho por 30 seg. de repouso) a resposta da freqüência cardíaca em todas as quatro ocasiões foi maior que 90% da FCMax dos jogadores. Além do mais, as freqüências cardíacas registradas durante os pequenos jogos eram de magnitude similar, e em alguns casos maior, que aquelas observadas durante a corrida contínua sem bola. Em termos de desenvolvimento do sistema de transporte de oxigênio, os dados desse estudo claramente sugerem que o treinamento, para desempenho na forma de pequenos jogos é comparável à corrida contínua sem bola. Mais que isso, como previamente mencionado, o treinamento de resistência na forma de “pequenos jogos” é ótimo no que se refere às adaptações musculares locais (periféricas). Outro interesse adicional foi a descoberta que, durante 30 minutos contínuos de um “pequeno jogo” (quinto jogo), foi observado que cada jogador teve contato com a bola em mais de 100 diferentes ocasiões. Assim, é claro que, além de ser eficiente como forma de treinamento de resistência específico para o futebol, os pequenos jogos podem simultaneamente ser empregados como um método para aperfeiçoar as habilidades com a bola e a consciência tática.

Seliger em 1968 encontrou valor médio de 165 bpm aproximadamente 80% da FCmáx; Bangsbo em 1992 verificou, ao analisar 6 jogadores dinamarqueses, valor médio de 164 BPM no primeiro tempo sendo que no 2º tempo houve um decréscimo de 10 BPM evidenciando uma possível diminuição do trabalho realizado. Sendo portanto dados muito próximos aos resultados obtidos em nossa pesquisa, no qual a freqüência cardíaca média durante o jogo foi de 166 + 9.03 bpm, o que corresponde a 86% da freqüência cardíaca.

Rhode e Espersem (1988) analisando jogadores dinamarqueses, reportaram valores de freqüência cardíaca, durante 11% do tempo, inferiores a 73% da máxima, durante 63% do jogo entre 73 e 92% e 26% da partida valores superiores a 92% da FCmáx, dados compatíveis ao nosso estudo onde pudemos observar que em 34,2% da partida os atletas permaneceram com valores acima de 87% da freqüência cardíaca máxima (FCmáx), e no restante da partida com valores inferiores a 77% da FCmáx.

O limiar anaeróbio pode ser considerado como um indicador de intensidade do exercício, considerando que a FC de limiar é a zona de transição do metabolismo, essencialmente aeróbio para uma situação de solicitação também anaeróbia com concomitante aumento do lactato sanguíneo, ventilação, eliminação de Co2 e decréscimo da concentração de bicarbonato (Hoogeveen e Hoogsteen, 1999).

Um exemplo de aplicação desse nosso estudo é um treinamento que é chamado de C.C.V.V. (corrida com variação de velocidade),método de esforço variado para desenvolvimento das capacidades de resistência de futebolistas adultos ou que apresentem uma boa base de treinamento (Bosco, 1993). Esse

método baseia-se na utilização de cargas contínuas, porém variando a velocidade, sendo que o aspecto neuromuscular deve estar presente em qualquer treinamento, que consiste em estímulos realizados em máxima velocidade, nas distâncias de 10, 30 e 40 metros, repetidos após intervalos regulares de 110, 50 e 30 segundos. A recuperação deve ser realizada com o jogador correndo numa velocidade onde a sua freqüência cardíaca se mantenha acima de 150 bpm. O método original sugere que o tempo máximo de execução do treinamento seja de 48 minutos. Usando um pouco de criatividade, o preparador físico pode elaborar um treinamento ainda mais adequado para as necessidades de seu grupo,reorganizando as distâncias e a FC., o que o certamente irá contribuir de forma significativa para a melhora da performance competitiva de seu grupo. Através da análise dos dados, podemos observar uma forte tendência do jogo caracterizar diferentes impactos fisiológicos nos indivíduos, evidenciando que para alguns atletas a disputa da partida de futebol parece ser mais intensa, visto a alta variabilidade do tempo ocupado acima e abaixo da FC de limiar anaeróbio, fenômeno que não parece estar diretamente ligado à função tática do atleta.

Com relação ao comportamento da FC durante o jogo, é possível notar que ela oscila durante todo o tempo, demonstrando a característica intermitente da modalidade.

As demandas fisiológicas durante uma atividade de caráter intermitente, não dependem unicamente da duração e velocidade de corrida, mas sim a densidade de trabalho físico, a proporção dos tempos de descanso através do jogo é de suma importância para a determinação da carga fisiológica (Mc lean et al, 1991).

Os dados apresentados no presente trabalho, tornam-se extremamente importantes na medida que foram coletados durante o jogo de futebol, possibilitando assim, uma melhor compreensão da carga fisiológica induzida pela prática desta modalidade, o que é de suma importância para a programação e monitorização das cargas de treinamento.

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