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Capítulo IV – Conclusão

4.1. Discussão dos resultados

Aprimorar os conhecimentos sobre as crenças dos pais tem implicações educacionais importantes, na medida em que estas se revelam como um dos determinantes na atitude dos filhos. Desta forma, era objetivo primordial desta investigação contribuir para o conhecimento da atitude mental dos pais bem como das suas conceções sobre dificuldades na aprendizagem na população portuguesa.

Através da análise preliminar feita às respostas à questão aberta “O que é para si uma dificuldade de aprendizagem?”, foi possível identificar os quatro tipos de conceções propostas por Gonçalves (2002) – dificuldades funcionais, dificuldades disfuncionais, dificuldades interdependentes e dificuldades processuais.

Quando realizada a análise descritiva das respostas ao Questionário sobre Crenças de Dificuldades na Aprendizagem, percebeu-se que os itens com respostas mais elevadas (mais próximas de 6 numa escala de 1 a 6) correspondiam aos itens que definem “Dificuldade na Aprendizagem” como uma dificuldade funcional.

Já na análise descritiva realizada às respostas ao Questionário sobre Atitude Mental, foi possível verificar que os itens com respostas mais elevadas (mais próximas de 6 numa escala de 1 a 6) dizem respeito aos itens que defendem que as caraterísticas podem ser desenvolvidas com tempo e persistência.

O presente estudo teve como um dos objetivos, criar e analisar o Questionário sobre Atitude Mental de forma a perceber o modo como os pais percecionam as caraterísticas. Esta necessidade surge devido à escassez de instrumentos existentes adaptados apenas a esta população. As análises realizadas para a validação da escala construída permitem concluir que a mesma apresenta propriedades psicométricas adequadas. A estrutura dos dois fatores, correspondentes aos dois tipos de atitude mental –atitude mental estática e atitude mental dinâmica – foi confirmada pelos resultados da análise fatorial exploratória. Nesta análise, os 8 itens da escala total apresentam cargas fatoriais em relação aos fatores para os quais foram elaborados. Os índices de consistência interna (alfa de Cronbach) estão de acordo com os critérios de aceitabilidade. Os resultados encontrados nesta análise acompanham os de Fontaine e Faria (1989) que haviam construído uma escala com os mesmos dois fatores e, ainda, os de Dweck (2006) que defende a existência de dois tipos de Atitude Mental. Identificam-se, após a análise a

28 este questionário, a presença de dois tipos de atitude mental, respondendo assim, a um dos objetivos do estudo.

Outro dos objetivos deste estudo passava pela adaptação da versão online do Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem de Gomes (2014), originalmente criado por Gonçalves (2002) e revisto por Gonçalves & Agostinho (2013 citado por Gomes, 2014), a uma amostra de pais. Após a realização da análise fatorial exploratória, foi possível identificar os quatro fatores encontrados por Gomes (2014), que correspondem aos 4 tipos de conceções de dificuldades na aprendizagem. Foram eliminados 5 itens por apresentarem cargas fatoriais muito reduzidas (<0.4) e 3 itens por apresentarem cargas fatoriais semelhantes em 2 componentes em simultâneo. Os índices de consistência interna (alfa de Cronbach) estão de acordo com os critérios de aceitabilidade, à exceção do fator 4 – Dificuldades Processuais. Identificam-se também neste questionário, os quatro tipos de conceção de dificuldades na aprendizagem mencionados, respondendo, desta forma, a outro dos objetivos deste estudo.

Outro objetivo prendia-se com a análise da correlação entre os fatores identificados em ambos os questionários. Através da análise realizada à correlação entre os quatro fatores encontrados no Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem e os dois fatores encontrados no Questionário sobre Atitude Mental, percebeu-se que a mesma coincide com os dados encontrados na literatura. Ou seja, quando se acredita que as nossas caraterísticas correspondem a traços dinâmicos, as dificuldades na aprendizagem são vistas maioritariamente como um processo funcional. Já quando se acredita que as nossas caraterísticas correspondem a traços estáticos, as dificuldades na aprendizagem tendem a ser percecionadas como uma deficiência ou patologia (Conceção Disfuncional) e como uma desadaptação e diferença (Conceção Interdependente).

Em suma, pode-se concluir que este trabalho, apesar de se tratar de um estudo exploratório, traz alguns benefícios para o estudo das conceções sobre as dificuldades na aprendizagem bem como para o estudo da atitude mental. Permitiu a adaptação do Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem a uma nova população, utilizando a versão online e as vertentes quantitativa e qualitativa e, ainda, a formulação de um conjunto de questões (Questionário sobre Atitude Mental) de forma a perceber o modo como as pessoas percecionam as suas caraterísticas. Tornou-se, também, no primeiro estudo a englobar estas duas vertentes – conceções de dificuldades na aprendizagem e atitude mental, numa amostra constituída apenas por pais. Estudar as

29 conceções dos pais, possibilitou a ampliação dos conhecimentos prévio sobre esta temática para uma população essencial no estudo da mesma. No entanto, por ser um tema tão relevante e tão abonado de pareceres científicos e de senso comum, há ainda muito por estudar ao nível das conceções.

Acima de tudo, importa referir que, mais importante do que perceber se um aluno tem ou não dificuldades na aprendizagem, é analisar o contexto situacional, social e pessoal (Gonçalves, 2002). Assim, o foco deve estar no conhecimento das conceções pessoais sobre este tema, incentivando crenças mais adaptativas. É, desta forma, muito importante que as dificuldades sejam vistas como uma caraterística em desenvolvimento. E são estas dificuldades que podem ser divididas, fundamentalmente, em dois tipos: dificuldades disfuncionais, que prejudicam o processo de aprendizagem; e dificuldades funcionais que são um desafio à aprendizagem. É extremamente importante que se fomentem nos alunos conceções dinâmicas para que, ao invés de se sentirem impotentes perante as adversidades, se sintam confiantes. É neste sentido que os pais têm um papel crucial. Apesar das conceções dos filhos serem influenciadas por vários fatores, as crenças dos pais influenciam em larga medida as dos filhos e, consequentemente, a sua postura perante uma dificuldade.

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