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De acordo com os resultados apresentados nos questionários, após a escolha do curso, mesmo com mudanças ao longo do tempo, percebe-se que as mulheres não são incentivadas a escolher as áreas de exatas e tecnológicas, pois segundo as respostas do questionário aplicado, 74% das alunas não foram incentivadas na escolha do curso, mesmo sendo campos onde os ganhos financeiros são maiores.

Figura 1 – Gráfico sobre os maiores incentivadores das alunas de graduação

Ao entrarem na universidade, as alunas se deparam com dificuldades, entre eles, o principal apontado foi a deficiência do ensino básico, com 29%. Sobre isso, a UFRN oferece através da Coordenadoria de Apoio Pedagógico e Ações de Permanência e da Coordenadoria de Atenção à Saúde do Estudante (Case), apoio psicológico e social, através de projetos e auxílios, como o projeto Hábitos de Estudo (PHE), onde os estudantes são orientados quanto a organização e gestão de tempo, entre outros. Quanto as dificuldades financeiras, a universidade dispõe de auxílios como: transporte, óculos, alimentação, residência para alunos vindos do interior, bolsas acadêmicas para alunos de baixa renda e creche, destinado para ambos os gêneros, se houver comprovação que os pais exercem funções e não podem ficar com a criança.

Figura 2 – Gráfico sobre os desafios enfrentados pelas discentes durante o curso na UFRN

Outro ponto abordado sobre a permanência da mulher nas áreas de exatas e tecnológicas está relacionado ao preconceito. Como já foi falado, ainda são áreas majoritariamente masculinas, há relatos sobre casos de abusos entre os próprios alunos e entre professor-aluno, porém isso não foi refletido nas respostas dos formulários, como mostra a imagem abaixo (Figura 3), porém não verbalizar, não invalida a existência do preconceito.

Figura 3 – Gráfico sobre a forma de tratamento entre os gêneros na visão das estudantes entrevistadas

Fonte: Questionário aplicado em junho/2017

Uma questão inerente ao ser mulher ficou de fora do nosso questionário, porém através de uma pesquisa empírica, percebemos que muitas alunas acabam evadindo dos seus cursos ao engravidarem, entre os motivos estão: preconceito, desentendimentos com seus orientadores, ou por não conhecer o artigo 263 do Regulamento dos

Cursos de Graduação da UFRN, onde prevê “à aluna gestante, durante 90 (noventas) dias, a partir do 8º (oitavo) mês de gestação, desde que comprovado por atestado médico”, um direito que são de todas, mas muitas desconhecem e acabam sendo jubiladas da instituição.

SER MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

Aplicando questionários com as professoras dos cursos de exatas e tecnológicas, perguntou-se da influência da escolha da carreira na decisão de ter filhos e 45% afirmou que não houve influência da profissão na decisão. Esse fato está ligado às legislações que protegem a mulher caso essa decida ter filhos, bem como a licença maternidade e a segurança de que a mesma não pode ser demitida durante a gravidez e o período de licença, bem como essas mulheres podem simplesmente não ter vontade de ter filhos, sendo uma realidade muito comum no Brasil que tem as taxas de natalidade em queda.

Figura 4 – Gráfico sobre a influência da escolha de carreira na decisão de ter filhos

Outro tópico tratado na pesquisa foi a diferença salarial e as oportunidades existentes para homens e mulheres no mercado de trabalho, em 73% das entrevistadas afirmam existir tais desi- gualdades, assim como ilustra o gráfico abaixo (Figura 5). Com isso, apesar do número de mulheres em altos cargos de empresas brasileiras vir crescendo nos últimos anos, é notório que nas empresas ainda existem mais homens como chefes. Esse fato decorre de uma sociedade ainda machista e patriarcal que acha que o homem tem mais autoridade sobre seus subordinados e é mais respeitado. Entretanto, isso essa falsa verdade é confrontada quando se percebe que a mulher é mais bem preparada devido aos anos a mais de estudo, segundo dados do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE).

Figura 5 – Gráfico sobre a diferença salarial e de oportunidades entre os gêneros

Outro ponto questionado foi a conquista da autonomia, em que 55% respondeu que a escolha da carreira teve influência direta na aquisição dessa autonomia, como mostra o gráfico abaixo (Figura 6). A partir disso, a mulher deixou a função enraizada historicamente de ser dependente do parceiro e conquistou a autonomia e passou a participar do sustento do lar.

Figura 6 – Gráfico sobre a influência da carreira na conquista da autonomia

Fonte: Questionário aplicado em junho/2017.

Apesar de a mulher ter conquistado o espaço no mercado antes reservado aos homens e estar ocupando cargos de alto escalão, ela ainda enfrenta o preconceito de gênero no campo do trabalho, assim como mostra o gráfico abaixo (Figura 7). Esse preconceito vai desde o desrespeito a desigualdade salarial ainda existente de

forma muito clara e mesmo sendo competentes ainda são taxadas como sexo frágil.

Figura 7 – Gráfico sobre discriminação de gênero no mercado de trabalho

Fonte: Questionário aplicado em junho/2017.

Ainda relacionando com a discriminação de gênero no mercado de trabalho mostrado no gráfico anterior, as mulheres entrevistadas responderam sobre a diferenciação nos postos de trabalho em relação aos gêneros tratado no gráfico abaixo (Figura 8), em que 76% responderam que existe essa distinção, vindo inclusive do salário em que, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a mulher recebe cerca de 76% do salário do homem, trabalhando 5 horas a mais e realizando a mesma função.

Figura 8 – Gráfico sobre distinção entre os postos ocupados por homens e mulheres

Fonte: Questionário aplicado em junho/2017

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesqu isar e refletir sobre a inserção femininas nas áreas de exatas e tecnológicas, traz uma concepção que o papel da mulher vai muito além dos muros de uma sala de aula, o ser mulher, além das questões biológicas, envolve questões sociais e culturais, como o acesso ao estudo em áreas ditas “masculinas”, permanência, preconceito, dupla jornada, filhos, etc. Essas questões, como foi analisado na pesquisa, são cheias de contradições e acabam sendo tratadas com indiligência pela sociedade, que se omite.

Trazer à tona as questões d e gênero dentro das instituições de ensino, é urgente e prioritário, porém empoderar a mulher desde a educação básica trará reflexos mais eficientes, pois houve um aumento da presença de mulheres nos campos de exatas e

tecnológicas, porém ele acaba sendo diluído no todo, caso não exista uma representatividade constante, e uma distribuição homogênea nos diversos cursos oferecidos nas universidades.

Conclui-se que a relevância dessas informações ocorre pelo

papel exercido pelas universidades: de disseminação de valores culturais e formação crítico reflexiva, porém com um espaço mais propício para o estímulo a igualdade gênero e oportunidades. É de importância a discussão sobre o tema, nos mais diversos espaços, além de incentivos educacionais, sociais e apoio psicológico. Além de grupos de ensino, coletivos de mulheres e incentivo a mulheres nas áreas tecnológicas, como o Django Girls, Pyladies, Code Girls, MUTE e outros, a fim de que cada vez mais mulheres conheçam sobre o assunto e busque ocupar seus lugares frente a maciça presença masculina em diversos ambientes.

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