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Criatividade no Ensino Superior: O Caso do Instituto Politécnico de Lisboa M ARGARIDA P ITEIRA

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De acordo com o modelo teórico proposto, a proposição 1 procurou descrever o potencial criativo. Nesta dimensão foram identificados pelos entrevistados as seguintes categorias: formas de comunicar dos feitos criativos; estabelecimento de parcerias; desenvolvimento de produtos/projetos orientados para na comunidade e associados a projetos; capacidade de colaboração inter-institucional, entre as UOs, aprovei- tando a diversidade e a complementaridade de valências; estratégias de internacionalização; corpo docente de qualidade, doutorado e em exclusividade; a atração de alunos com qualidade; programas curriculares ori- entados para as competências criativas; e, a orientação para o conhecimento aplicado. Estes indicadores corroboram o modelo dos 6 P`s (Runco, 2004, 2007a and b): a importância das pessoas (alunos e docentes), a orientação para o processo no desenvolvimento de novos produtos, serviços e projetos, e a relevância das questões ambientais/contexto e de pressão, como por exemplo a necessidade de internacionalização e de parcerias.

A proposição 2, que discutiu a criatividade relacionada com o desempenho, via produtos, persuasão e reputação e interações (Runco, 2004, 2007a and b), entendida como a dimensão mais visível da criatividade, foi também a mais mencionada por todas as fontes. No caso dos mass media e websites, os indicadores sali- entes foram os produtos, processos, serviços, sistemas e projetos considerados inovadores, e disseminados na sociedade, com impacto externo ao próprio do IPL, quer numa vertente comercial, quer social. Adicional- mente, foram amplamente focados os prémios ganhos, as menções honrosas e reconhecimento dos feitos inovadores das UOs no seu exterior; quer nacionalmente, quer em concursos internacionais, assim como os projetos com potencial de negócio, apresentados pelos estudantes ao concurso Poliempreende. Este concur- so de empreendedorismo é exclusivamente orientado para os estudantes do IPL. Há uma preocupação em divulgar os outputs dos desempenhos criativos, verificando-se uma diversidade de notícias das coisas novas desenvolvidas e comercializadas pelas UOs. Nas entrevistas, os dados são também bastante profícuos em exemplos, nesta dimensão. Os produtos emblemáticos desenvolvidos pela escola de engenharia são os mais referenciados; seguidos da grande capacidade da escola de comunicação social em vencer concursos e das

numerosas solicitações externas para desenvolver serviços de comunicação; bem como a referência à escola de cinema pelo seu mediatismo em concursos internacionais, como pelos produtos desenvolvidos pelos seus docentes. No entanto, quanto aos dados das entrevistas, a UO que apresenta, em geral, maior desempenho criativo, destacando-se de todas as outras é a de engenharia (ISEL), seguida pelas de Comunicação Social (ESCS) e Teatro e Cinema (ETC); e, com valores mais medianos encontra-se a de Tecnologias da Saúde (ESTeSL).

Na tentativa de responder à proposição 3, que visou discutir a criatividade em função do equilíbrio entre o potencial existente e o desempenho produzido nas UOs do IPL é, ponto assente, a existência de po- tencial criativo em todas estas. Também a relação existente entre estas duas dimensões foi positivamente avaliada pelos interlocutores institucionais entrevistados. Todas as UOs produzem outputs criativos, se bem que são mais visíveis numas que outras. Salienta-se que esta visibilidade está condicionada pela própria área e especificidades de ensino das UOs; bem como na estratégia de comunicação dos feitos criativos. Há UOs que apostam mais na comunicação, marketing e divulgação dos outputs, que outras.

Tendo em conta os indicadores de potencial e desempenho criativos, procuraram-se identificar as UOs mais criativas, sublinhando os níveis de criatividade, materializado em produtos, serviços e projetos de sucesso, e comunicados eficazmente. Desta análise, os mass media e websites destacam a ESCS, ISEL e ESTC, com uma sublinhado para a ESTeSL. O score geral, contemplando todos as (sub)categorias e indicadores des- ta fonte indicam ESCS como a mais criativa, seguida pelo ISEL e ESTC. Em relação à perceção dos decision ma- kers do IPL, ou seja pelo staff da Presidência, não houve dispersão dos dados, todos concordaram que as UOs mais criativas são o ISEL e ESCS. Quando incidindo na análise para o conjunto de todas as (sub)categorias e indicadores, elencadas por esta fonte, as UOs com maiores scores de frequências relativas são ESCS, ISEL e ESTC. A Escola da Educação merece sublinhado, apresentando o 4º melhor score neste tópico. Em suma, as- sumindo o cruzamento das fontes (mass media, websites e entrevistas), os scores que indicam os níveis gerais de criatividade apontam como escolas mais criativas a ESCS, ISEL, e ESTC. Saliente-se, de acordo com os da- dos, a emergência da ESTeSL, que neste item assume a 4ª posição. Futuramente poderá vir a constituir-se um estudo de caso no que concerne ao desenvolvimento de novos produtos, pelo conhecimento científico apli- cado, assim como na relação inter-escolas, via a complementaridade de valências (com a engenharia, por exemplo).

Em termos de promoção de estratégias futuras de inovação, e relembrando alguma literatura da área, que defende a criatividade como uma variável estratégica (e.g. Piteira, 2016; 2014), o IPL, como entidade de ensino, tendo conhecimento do potencial criativo das suas UOs, e fazendo uma objetiva avaliação do seu de- corrente desempenho criativo, poderá (re)defnir estratégias de inovação futuras mais eficazes para o seu de- senvolvimento e impacto no seu meio societal. Aprender com o que as suas 8 UOs fazem de melhor, gerando e partilhando conhecimento é uma grande mais valia que, certamente, gerará valor acrescentado. A diversi- dade de conhecimento e a antiguidade de experiências e saberes que as escolas transportam da sua reputa- ção histórica é um grande potencial, que contribuirá para a diferenciação; e, consequentemente traduzida em inovação no próprio ensino.

CONCLUSÃO

Qual o estado criativo do IPL, de acordo com o potencial e desempenho criativo das suas escolas (Unidades Orgânicas - UOs), no sentido de se definirem estratégias mais eficazes de inovação? Este foi o mó- bil da presente investigação. O Projeto CREATUS veio demonstrar a existência de um potencial criativo bem forte entre as 8 UOs do IPL. O grande desafio será traduzi-lo em desempenho, isto é, transformar o potencial existente em desempenho; e, consequente operacionalizar estratégias de inovação mais impactantes nas suas UOs.

É certo que transformar criatividade em inovação é um processo muito complexo. Mais ainda, quando a diversidade (refletida nas especificidades de ensino de cada uma das UOs) é a principal caraterística. Por conseguinte, a sua existência é um driver determinante, se a sua gestão for bem feita e de forma eficaz. O, até aqui, apresentado visou demonstrar que ter consciência do estado criativo, através do potencial e do de- sempenho, é relevante para a implementação futura de estratégias, para uma inovação mais eficaz; apren- dendo a melhorar, via correções de potenciais limitações. O ensino superior não está imune às pressões para inovar, e tem dupla responsabilidade em saber gerir e gerar criatividade, que se traduza em conhecimento. Só assim, ao conhecer o seu potencial e a transformação deste em desempenho, estará a cumprir a sua mis- são para com a sociedade. Será esta uma forma de se diferenciar, através da produção de novos conheci- mentos, ensinando e formando. A par disso, assumirá um papel mais ativo, quer na criação de novos proble- mas, quer na sua resolução; deixando de ser um mero “agente-papagaio” na transmissão de obsoletos co- nhecimentos.

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