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4. Resultados e discussão

4.2 Discussão

Após a análise dos resultados observamos que alguma literatura defende que os diferentes sistemas de saúde na Europa e, consequentemente, a forma de financiamento não interferem significativamente nos resultados em saúde (Gaeta et al., 2017) o que foi coincidente com o nosso estudo uma vez que esta variável independente não foi significativa. Assim, parece que nenhum sistema de saúde apresenta um efeito protetor apesar das diferenças existentes entre eles. Olhando para a fórmula podemos observar logo que a significância da variável V1 (tipos de sistemas de saúde) não é estatisticamente significativa, mesmo antes de a tornar em variável dummy (tabela 4).

Relativamente ao Government Response Stringency Index, uma medida que os autores de Oxford usaram para estimar as medidas de mitigação adoptadas pelos diferentes países, podemos observar que a adoção destas medidas de mitigação não está diretamente relacionada com a diminuição do número de casos conforme seria de esperar. Assim, surpreendentemente, estas medidas de contenção aplicadas precocemente à população não revelaram ser um fator protetor de mitigação da pandemia. Este Government Response Stringency Index recolhe informações disponíveis publicamente sobre 17 indicadores de respostas dos governos: 8 são indicadores de política como informações sobre políticas de contenção e encerramento, como fechar as escolas e restrições de movimento; 4 são indicadores de políticas económicas, como apoio à renda aos cidadãos ou fornecimento de ajuda externa; 5 são indicadores de políticas do sistema de saúde, como o regime de testes COVID-19 ou investimentos de emergência em saúde (Hale, 2020). A variação da data de fecho das escolas, creches, espaços públicos e o cancelamento de eventos pode ter estado relacionada com a proximidade geográfica aos países onde os números foram maiores e onde a pressão nos sistemas de saúde chamaram a atenção dos media internacionais.

Os gastos em saúde per capita estão associados a um maior número de casos de COVID- 19/100000 habitantes de forma estatisticamente significativa (p=0,041). Existem várias hipóteses que podem explicar este aumento. Desde logo o provável contacto mais precoce com o sistema de saúde que faz aumentar o diagnóstico. Este aumento do número de diagnósticos, por sua vez, pode ser por: maior número de atendimentos médicos em cuidados primários e secundários; aumento do número de testes realizados; rendimento per capita ser superior e permitir uma melhor educação para a saúde; melhores infraestruturas em saúde. Contudo, um contacto demasiado precoce e a opção inicial e politicamente definida de

critérios de internamento muito abrangentes podem ter sido motivos de sobrecarga dos sistemas de saúde, em países como em Itália e Espanha, que tiveram uma pressão avassaladora. No caso específico da pandemia COVID-19 a existência de um organismo europeu autónomo e soberano que permitisse fazer recomendações formais e vinculativas aos governos e respetivos ministérios da saúde nacionais ajudaria a uma resposta concertada, rápida, eficaz e coordenada que permitiria ganhos na saúde de todos os cidadãos da UE e poupanças nas despesas em saúde per capita, principalmente em contextos de pandemia. Um raciocínio que podemos fazer é de pensar que num espaço pequeno como as ilhas onde é mais fácil de controlar os fluxos de entrada e saída de pessoas. Todavia, se pensarmos em países, onde não existe um controlo de fronteiras como na UE e em que os fluxos populacionais podem ser por via marítima, aérea e terrestre com fronteiras com milhares de quilómetros, é impossível cumprir efetivamente as medidas de isolamento. Assim, medidas avulsas dos estados deixam de ter impacto se desinseridas de uma política comum ajustada. (Santos, 2020). Apesar das diferenças socioculturais existentes entre os vários países, um organismo como o anteriormente proposto, ajudaria a eliminar desigualdades no acesso à saúde uma vez que poderia criar orientações para a organização de sistemas de saúde semelhantes entre eles. Isto é particularmente visível na recomendação da OCDE que refere que os países devem reconfigurar os seus sistemas de saúde para fornecer cuidados mais eficazes e de alta qualidade, evitando o uso desnecessário de hospitais e serviços especializados. Esta reconfiguração podia passar pelo investimento uniforme e reforçado nos cuidados de saúde primários dos países europeus uma vez que estes são o principal ponto de contato para pacientes e podem tornar os sistemas de saúde mais eficientes, eficazes e equitativos em todos os países da UE. A modernização dos cuidados de saúde primários é fundamental para tornar os sistemas de saúde mais resilientes a situações de crise, mais pró- ativos na deteção de sinais precoces de epidemias e mais preparados para agir precocemente em resposta a picos de demanda por serviços de saúde (OECD, 2020e). No caso da pandemia COVID-19, começamos a perceber que não é uma doença hospitalar. A maioria das pessoas com contacto com o vírus SARS-CoV-2 são assintomáticas ou desenvolvem sintomas ligeiros, indicando claramente que esta é uma doença da comunidade em que poucos doentes irão necessitar de cuidados hospitalares. A falha dos Cuidados de Saúde Primários, como vimos acontecer nos primeiros meses em Itália e em Espanha, leva inevitavelmente ao colapso dos serviços de saúde com significativo prejuízo da população

habitantes terá influência na qualidade da resposta e diminuição da pressão nos sistemas de saúde, mas aparentemente não foi um dos principais influenciadores de mitigação da infeção por COVID-19, pelo menos no modelo estudado.

Apesar de não demonstrado nesta dissertação também foi estudado como outcome o número de óbitos por 100000 habitantes, não diferindo nas conclusões de forma estatisticamente significativa.

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